VOCABULÁRIO DO CAPIM DOURADO- ANÁLISE DOS CAMPOS SEMÂNTICOS CULTIVO, EXTRAÇÃO E MANUSEIO: UM ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO.
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- Heloísa Fernandes Mascarenhas
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1 VOCABULÁRIO DO CAPIM DOURADO- ANÁLISE DOS CAMPOS SEMÂNTICOS CULTIVO, EXTRAÇÃO E MANUSEIO: UM ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO. Alexia Lorrayne Martins da Silva 1 ; Greize Alves da Silva Poreli 2 RESUMO: Uma das preocupações da Linguística Moderna é desvendar a complexidade da língua utilizada por diferentes povos e suas variações em três aspectos: fonético-fonológico, semântico-lexical e morfossintático. Dentro desses contextos, o que mais imprimi as características socioculturais na língua é o Léxico - o repertório de palavras que existe numa determinada língua e expressa a recorrência de um povo na busca por termos que designem seus referentes; trata-se de um componente da língua que, inicialmente, configura a realidade e conserva o saber linguístico de uma comunidade. O presente estudo teve por objetivo descrever e analisar o vocabulário utilizado no cultivo, extração e comercialização do capim dourado. Este projeto propôs uma análise acerca do vocabulário (o linguajar, variações linguísticas, etc.) do povo da região do Jalapão TO, em meio à cultura deste artesanato que se trata da fonte de renda predominante das comunidades dessa região. Esse comércio prevalece até os dias atuais e é importado para o mundo todo. Destacamos a contribuindo deste trabalho para a descrição do caráter multidialetal da realidade tocantinense, ao descrever a realidade dialetológica/sociolinguística utilizado no manejo do Capim Dourado. Palavras-chave: Léxico; Capim Dourado; Jalapão. INTRODUÇÃO Uma das preocupações dos linguistas nos dias atuais é desvendar a complexidade linguística utilizada por diferentes povos. Dentro desse prisma, é papel da Linguística Moderna descrever e analisar os mecanismos variacionistas nos três aspectos em que as línguas naturais variam, a saber: fonético-fonológico, semânticolexical e morfossintático. No entanto, dentre esses três níveis linguísticos, o que mais imprimi as características socioculturais na língua é o Léxico, pois se trata do repertório de palavras que expressa a recorrência de um povo na busca por termos que designem seus referentes. Diante dessa importância, o presente estudo tem por objetivo descrever e analisar o vocabulário utilizado no cultivo, extração e comercialização do Capim Dourado. 1 Aluna do Curso de Letras; Campus de Porto Nacional; alexialorayne@hotmail.com PIBIC. 2 Orientadora do Curso de Letras; Campus de Porto Nacional; greize_silva@yahoo.com.br Página 1
2 O Capim Dourado é uma arte trazida, provavelmente, pelos índios Xerente e aprendida pelas comunidades quilombolas de Mumbuca, Jalapão, Tocantins, em meados de 1920, e desde então é repassada a cada geração e constitui importante fonte de renda para as famílias da região. Syngonanthus nitens é o nome científico do Capim Dourado; são pequenas hastes douradas que são costuradas com a fibra de outra importante planta da região: o buriti. Por se tratar de uma planta típica das veredas, o capim é colhido entre 20 de setembro até o mês de novembro, o início das chuvas na região. A fonte de renda predominante na região do Jalapão gira em torno da produção do artesanato do capim dourado que atualmente é uma arte comercializada para os seguintes países: França, Alemanha, Espanha, Itália, Áustria, Suíça, Portugal, Grécia, Estados Unidos, Japão, Honduras, México e Porto Rico. O corpus do trabalho constitui-se de registros orais coletados no Povoado do Mumbuca, município de Mateiros, junto a informantes jalapoeiros, residentes nas regiões de cultivo e também artesãos que buscam nesse trabalho sua fonte de renda. Assim, por meio da apreciação do material coletado, analisamos o repertório vocabular utilizado no cultivo do capim dourado e com isso descrevemos a riqueza cultural e linguística da região. MATERIAL E MÉTODOS As leituras para o presente estudo foram constituídas de diversas áreas, tais como: Dialetologia, Lexicologia, Lexicografia, Sociologia e Botânica. Concomitante com as leituras, elaboramos um questionário que foi aplicado junto a seis (06) artesãs. A viagem para aplicação dos inquéritos foi realizada em abril de O questionário é composto de 29 perguntas à respeito do cultivo e extração, manuseio e venda do Capim Dourado. Após o retorno da equipe, fizemos a catalogação do material e transcrevemos as entrevistas. A transcrição dos dados foi realizada digitalmente em Word e quando necessário, recorreremos à transcrição fonética com a fonte SILDOULOSIPA para identificar nuances de pronúncia. Após a fase de transcrição, analisamos os dados com o auxílio de tabelas e catalogamos os termos coletados, à luz da Lexicologia, Lexicografia e Sociolinguística. Para descrever as lexias coletadas, recorremos aos dicionários da Página 2
3 língua portuguesa Houssais (2001) e Luft (2000); também consultamos o dicionário etimológico de Antenor Nascentes (1955). RESULTADOS E DISCUSSÃO As línguas, em sua complexidade, necessitam de um lugar para serem contornadas, um ambiente na qual palavras possam surgir, e modificar-se ao longo do tempo, em um processo cultural-social-econômico. Assim também ocorreu com o léxico do português lusitano e brasileiro. Mario Vilela nos diz: O léxico do português atual é o resultado de um fio condutor essencial, o que provém do latim, e de vários elementos, onde há empréstimos múltiplos e variados condicionamentos socioculturais (VILELA, 1994, p. 12). Léxico pode ser definido como o repertório de palavras de uma determinada língua. Esse saber linguístico é repassado de povo para outro, de uma cultura para outra, tornando-se uma marca, o espelho de uma comunidade: O léxico está associado ao conhecimento, e o processo de nomeação em qualquer língua resulta de uma operação perspectiva e cognitiva. Assim, no aparato linguístico da memória humana, o léxico é o lugar do conhecimento, sob o rótulo sintético de palavras os signos linguísticos (BIDERMAN, 1996, p. 28). Em nosso trabalho por meio das entrevistas coletadas, pudemos verificar as seguintes lexias: Apanhar, Balaio (balainho), Bolsa de trança, Cabaço, Capim manteiga, Capim grosso, Cabecinha, Balaio (balainho), Bolsa de trança, Cabaço, Capim manteiga, Capim grosso, Cabecinha, Curicaca, Flor (florzinha), Flor do campo, Frito Gordo, Frito, Haste, Jalapa, Mandala, Mandalinha, Molho, Mumbuca, Óleo do buriti, Olho do buriti, Pãozeira, Ouro do cerrado,pé (pezinho), Pubar, Roseta (rosetinha),sapata (sapatinha), Sebereba, Seda, Suplá, Ziato, Veredae e Trançado 3. Pudemos notar que significativa a quantidade de lexias coletadas foram citadas pelos informantes no diminutivo, como por exemplo: mandalinha, pezinho, sapatinha, dentre outras. A utilização dos formadores do diminutivo (-inha, -inho) podem evidenciar a visão que os artesãos têm do capim dourado, pois os diminutivos dão o aspecto frágil e delicado ao material. Ex.: Rosetinha: (-rosa) + (-eta) + (-inha). É importante destacar que linguistas (CHAMBERS, 2002) analisam a utilização de 3 Todas essas lexias foram analisadas e encontram-se descritas no relatório final do trabalho. Página 3
4 diminutivos e, segundo ele, trata-se de um aspecto típico do falar feminino. Dentro desse prisma, é relevante destacar que todos os informantes entrevistados eram mulheres. As análises evidenciam um aspecto peculiar quanto à formação dos vocábulos descritos. Os informantes apropriam-se de palavras já conhecidas na língua, subtraem suas principais características e aplicam em seu vocabulário. Percebemos que na expressão capim manteiga, a característica da manteiga é atribuída ao capim, por ser frágil, liso e maleável. Outro exemplo está em Ouro do cerrado, expressão na qual os falantes do povoado designam o Capim Dourado: É o ouro do cerrado. É, o capim dourado. [...] Ele vem tão lindo, ele vem. Não parece, né, de sê... do mato do cerrado não. Este que, por sua vez, se assemelha ao ouro por sua preciosidade na região, e, contudo, por possuir cor dourada. Destacam-se a utilização de termos que se assemelham à estrutura humana, ou seja, termos que empregam processos metonímicos, tal como cabecinha, por estar na ponta do capim dourado e que nos faz lembrar uma cabeça. O mesmo pode ser visto nas palavras sapata (sapatinha) e pezinho, que ficam na parte de baixo do Capim Dourado, na qual fica fixa a haste do capim, partes que pela estrutura da planta, se assemelham aos pés e sapatos. Lexias verbais também estão presentes no vocabulário do Capim Dourado, tais como apanhar e pubar (verbos transitivos). Os informantes entrevistados dizem panhá: Porque a minha vó, éh, ela foi na... na veredas, né, panhá buriti [...]. Os falantes do povoado não deixaram de lado suas raízes linguísticas, panhá, por sua vez, é uma palavra que foi repassada de geração a geração (por moradores antigos que não tiveram acesso à escolarização) e é ainda dita pelos habitantes do povoado, assim como pubar, que é o mesmo que amolecer. Notamos também vocábulos que podem ser consideradas lexias complexas, como olho de buriti e óleo do buriti; que segundo Pottier (1972) é uma sequência de duas ou mais unidades em vias de lexicalização; é um sintagma que está se tornando uma lexia composta. A lexia sebereba é o nome que se dá à vitamina do buriti: Nós usa o buriti pra comê [...], a sebereba com farinha é bom demais, com rapadura. Habitantes da região Página 4
5 costumam chamar os rios e córregos, quando estão com a água suja e barrenta, de sebereba pela cor amarelada semelhante à vitamina do buriti. Em suma, o trabalho possibilitou um maior contato a realidade dialetológica do Tocantins, por meio das pesquisas acadêmicas, científicas e in loco. Pudemos com isso nos aproximar do universo linguístico dos jalapoeiros, do seu falar, da sua cultura. A partir das informações coletadas pudemos analisar e refletir sobre o vocabulário do capim dourado, atuando como inquiridor da pesquisa em campo e, sobretudo, verificamos como o pesquisador vê a língua como instrumento de comunicação diversificado. LITERATURA CITADA BIDERMAN, Maria Thereza Camargo. Léxico e Vocabulário Fundamental. Alfa, São Paulo, 40, 1996, p CHAMBERS, J.K. Patterns of Variation including Change. The Handbook of Language Variation and Change. Malden/Oxford: Blackwell, 2002, p DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 1973 HOUAISS, Antonio. Dicionário eletrônico da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva: ISQUERDO, A. N. As ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. 2ª ed. Campo Grande: Editora da UFMS, 2001, p LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática, POTTIER, Bernard. Estruturas lingüísticas do português. Trad. Albert Audubert, Cidmar Teodoro Pais. São Paulo: Difusão Européia do livro, 1972). VILELA, Mário. Estudos de Lexicologia do Português. Coimbra, Livraria Almedina, 1994 AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da Universidade Federal do Tocantins - UFT, por meio de seu Programa de Iniciação Científica (PIBIC). Agradeço à minha orientadora MSc. Greize Alves da Silva Poreli por me incentivar/auxiliar na construção do projeto, ajudando-me e dando os suportes necessários à feitura deste trabalho. Ao Curso de Letras, campus de Porto Nacional. E aos meus pais, que sempre me incentivaram. Página 5
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