PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO (AGTR) Nº /SE ( ) AGRTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : LAERT NASCIMENTO ARAÚJO E OUTROS AGRDO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 3ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - SE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO) RELATÓRIO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO): Cuida-se de agravo de instrumento interposto pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL CEF contra decisão da lavra do MM. Juiz Federal da 3ª Vara da Seção Judiciária de Sergipe que, em ação civil pública, deferiu medida liminar para determinar o seguinte: a) que a CAIXA suspenda todos os eventuais procedimentos administrativos de reintegração de posse em curso que tenham como fundamento o não pagamento da taxa de condomínio e/ou IPTU, referentes aos imóveis financiados pelo Programa de Arrendamento residencial - PAR; b) que sejam sobrestadas todas as ações judiciais de reintegração de posse propostas pela CAIXA, ajuizadas em virtude de inadimplência no pagamento da taxa condominial e/ou IPTU, para a configuração do esbulho, até o provimento meritório do presente feito. Alega a CEF que, na qualidade de agente operacional do Programa de Arrendamento Residencial - PAR (Lei n.º /01), em nome do Fundo de Arrendamento Residencial - FAR, firma contratos por instrumento particular de arrendamento residencial com opção de compra, tendo como objeto os recursos do FAR, com os candidatos ao arrendamento. Diz que ao contrato de arredamento aplica-se, no que couber, a legislação atinente ao arredamento mercantil, por força do art. 10, da Lei n.º /01, sobretudo pelo fato de não ocorrer nesses contratos transferência de domínio, com o diferencial de poder o arrendatário optar pela compra do bem ao final do prazo contratual. Esclarece que o arrendamento não se confunde com o contrato de compromisso de compra e venda, que os arrendatários não são proprietários dos imóveis arredados, nem promitentes compradores, sendo que a eles compete não só o uso do imóvel, mas também o zelo pela sua conservação, bem como o pagamento dos encargos, taxas e impostos a ele inerentes, conforme estabelece o contrato a Portaria 258/2008, do Ministério das Cidades. AGTR nº SE 1 CRADS

2 Afirma que a tese da Defensoria Pública da União - DPU, autora da ação civil pública, é a de que as taxas de condomínio e/ou de impostos não integram o contrato de arrendamento e não podem dar azo à rescisão do contrato, o que não se sustenta porque não se trata de financiamento, muito menos concedido pela CAIXA. Esclarece que os imóveis pertencem ao FAR e as taxas e/ou impostos, independentemente de terem destinações específicas com relação à arrecadação, são diretamente vinculadas ao imóvel objeto do arrendamento o qual é usufruído pelo arrendatário. Por derradeiro, diz que a decisão requestada emprestou interpretação equivocada ao art. 9º da Lei do Programa, uma vez que ele não prevê como única hipótese da rescisão o inadimplemento das prestações, mas também trata dos "encargos em atraso". Liminar de efeito suspensivo deferida. Pedido de reconsideração, ora julgado prejudicado. Contrarrazões apresentadas. Perecer do Ministério Público Federal. É o relatório. AGTR nº SE 2 CRADS

3 AGRAVO DE INSTRUMENTO (AGTR) Nº /SE ( ) AGRTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : LAERT NASCIMENTO ARAÚJO E OUTROS AGRDO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 3ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - SE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO) VOTO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO): Trago à colação excerto da decisão na qual foi deferida a atribuição de efeito suspensivo: (...) O primeiro ponto que merece censura é o da abrangência territorial da ação civil pública intentada na Justiça Federal de Sergipe. Ora, o artigo 16 da Lei n /85, com a redação dada pela Lei 9494/97, assim dispõe: A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. A jurisprudência já é assente quanto ao alcance dos efeitos da decisão/sentença judicial às pessoas domiciliadas no âmbito de competência territorial do juízo originário. Daí é que à decisão agravada não se poderia emprestar essa amplitude de atingir pessoas domiciliadas fora da jurisdição do magistrado singular. O segundo ponto é sobre a interpretação restritiva que a Defensoria Pública da União pretendeu emprestar ao art. 9º da Lei /2001. Explico. Transcrevo, de início, a norma inserta no referido dispositivo: Na hipótese de inadimplemento no arrendamento, findo o prazo da notificação ou interpelação, sem pagamento dos encargos em atraso, fica configurado o esbulho possessório que autoriza o arrendador a propor a competente ação de reintegração. AGTR nº SE 3 CRADS

4 À primeira vista, entendo que a lei não restringe a inadimplência às prestações de arrendamento, tanto que ela trata de inadimplemento do arredamento e dos encargos em atraso.na lei não existem palavras inúteis. Quando o dispositivo inicia tratando de inadimplência no arrendamento, ele parece se referir às prestações propriamente ditas e, mais além, em encargos em atraso, ele autorizaria a reivindicação do imóvel por inadimplência dos demais encargos previstos no contrato. A finalidade eminentemente social do contrato de arrendamento residencial não dispensaria a responsabilidade do arrendatário de adimplir os encargos contratuais, dentre eles, o pagamento das taxas de condomínio e do IPTU. O arrendatário não detém direito real sobre o imóvel, mas apenas opção de compra ao final do contrato. Esses bens imóveis integrantes do PAR, enquanto não alienados, são mantidos sob a propriedade fiduciária da CAIXA, que os pode reivindicar por inadimplemento contratual. O direito de uso desses imóveis pelos arrendatários também inclui o de zelar pela conservação dos condomínios nos quais inseridos e o de recolher os impostos devidos à municipalidade, tal qual o fazem os locatários nos contratos de locação. Transferir essa obrigação para o proprietário fiduciário poderia inviabilizar esse programa residencial, pois ficariam esses condomínios reféns de arrendatários inadimplentes contumazes. Não vejo, neste primeiro momento, qualquer dissonância dessas cláusulas contratuais que autorizam a reivindicação do imóvel pela CAIXA à legislação instituidora do PAR. Este Tribunal, aliás, vem admitindo ações de reintegração de imóveis regidos pelo PAR por inadimplência de taxas de condomínio e do IPTU. Confira-se: CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CEF. CONTRATO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DESCUMPRIMENTO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. ARRENDATÁRIO NÃO RESIDENTE NO IMÓVEL. TAXAS CONTRATUAIS E DE IPTU NÃO ADIMPLIDAS. RESCISÃO DO CONTRATO. POSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Consta nos autos notificação de desocupação do imóvel, considerando que o arrendatário não estava neste residindo, mas sim a Sra. Rosa de Fátima Pitanga Rodrigues, a AGTR nº SE 4 CRADS

5 qual não firmou o Contrato Particular de Arrendamento Residencial com a Caixa Econômica Federal - CEF, ora agravada. 2. Há, ainda, um documento relatando que o agravante está inadimplente de 07 taxas de arrendamento, bem como não houve recolhimento do IPTU do imóvel. 3. Tais fatos ensejam o descumprimento do instrumento contratual, nos termos das cláusulas 3ª e 6ª, sendo, portanto, legítima a rescisão do negócio jurídico firmado entre as partes, bem como a reintegração de posse do imóvel em favor da Caixa Econômica Federal.4. Agravo de instrumento improvido.(ag , DJe 19/01/2012) DIREITO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE ARRENDAMENTO IMOBILIÁRIO. INADIMPLÊNCIA DE ENCARGOS. IMISSÃO DA PROPRIETÁRIA NA POSSE DO IMÓVEL. - Cuida-se de agravo de instrumento em ação de reintegração de posse proposta pela CAIXA em face da inadimplência dos encargos de contrato de arrendamento imobiliário realizado com a agravante. A agravante, alegando estar adimplente, impugna a decisão que concedeu liminar para imitir a autora na posse do imóvel. - Embora a agravante apresente o pagamento de todas as outras as obrigações decorrentes do arrendamento (água, luz, IPTU, taxa de arrendamento), não trouxe comprovantes de adimplemento das taxas condominiais. Na verdade, em sua contestação à pretensão exordial da CAIXA, reconhece estar devendo o condomínio e que está litigando judicialmente contra ele. - Ocorre que o fato de a agravante estar processando o Condomínio, em razão de sua insatisfação com a administração do mesmo, não a exime do pagamento das taxas condominiais, que poderiam, inclusive, estar sendo consignadas em Juízo, para descaracterizar o inadimplemento. - Dessarte, a inadimplência das taxas condominiais, que se verifica de plano no caso dos autos, justifica, por força do contrato, a rescisão do arrendamento e a imissão da posse da arrendadora.- Agravo não provido.(ag , DJe 07/10/2010) ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PARCELAMENTO DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL-PAR. INADIMPLEMENTO. TAXAS DE OCUPAÇÃO, DE CONDOMÍNIO E IPTU. EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE DESOCUPAÇÃO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LEI Nº /2001. COBERTURA SECURITÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. DOENÇA PREEXISTENTE AO CONTRATO. AUSÊNCIA DE COBERTURA. PERDAS E DANOS EM FAVOR DA CEF. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. AGTR nº SE 5 CRADS

6 instrumento. PODER JUDICIÁRIO APELAÇÕES IMPROVIDAS. - Ação de reintegração de posse em que provas carreadas aos autos demonstraram a consolidação da propriedade em nome da Caixa Econômica Federal. O contrato de mútuo celebrado não restou cumprido diante do longo período de inadimplemento das prestações, das taxas condominiais e do IPTU, o que ensejou a rescisão do negócio jurídico firmado entre os contratantes. - Irreprochável a sentença que determinou a reintegração de posse do imóvel em favor da Caixa Econômica Federal - CEF, por inadimplência de taxas de arrendamento, condomínio e IPTU, o que denota descumprimento de cláusulas contratuais decorrente do Programa de Arrendamento Residencial - PAR (Lei nº /2001). Precedentes: AC , Desembargador Federal Leonardo Resende Martins, TRF5 - Quarta Turma, 08/04/2010 e AC , Desembargador Federal Francisco Wildo, TRF5 - Segunda Turma, 20/05/ Dos documentos colacionados aos autos infere-se que a invalidez do particular ocorreu antes do pacto firmado com o agente financeiro. In casu, o reconhecimento de sua invalidez se deu em 1993, enquanto que o contrato foi firmado em 2007 A cláusula 8ª do contrato, parágrafo terceiro, que cuida da cobertura securitária prevê de forma expressa de que não haverá cobertura se a doença comprovadamente for existente antes da data de assinatura do contrato, conforme ocorre na presente hipótese. - A indenização por perdas e danos depende de comprovação da ação ou omissão ilícita, do nexo causal e dos prejuízos sofridos, entretanto, a Empresa Pública autora não trouxe aos autos qualquer prova que configurasse o evento danoso alegado na exordial. - Apelações improvidas.(ac , DJe 27/01/2011). (...). Com estas considerações, DOU PROVIMENTO ao agravo de É como voto. Recife, 17 de outubro de Desembargador Federal MANUEL MAIA RELATOR - CONVOCADO AGTR nº SE 6 CRADS

7 AGRAVO DE INSTRUMENTO (AGTR) Nº /SE ( ) AGRTE : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ADV/PROC : LAERT NASCIMENTO ARAÚJO E OUTROS AGRDO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO ORIGEM : 3ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - SE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO) EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVILPÚBLICA. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL PAR. LEI N.º /01. PORTARIA N.º 258/2008 DO MINISTÉRIO DAS CIDADES. TAXAS CONDOMINIAIS E IPTU. INADIMPLEMENTO PELO CONTRATANTE. REIVINDICAÇÃO DO IMÓVEL PELA CEF. POSSIBILIDADE. 1. Agravo de instrumento contra decisão proferida em ação civil pública que determinou a suspensão, pela CEF, de quaisquer procedimentos de reintegração de posse e que sejam sobrestadas as ações judiciais já intentadas tratando-se de inadimplemento de IPTU ou taxa de condomínio de imóveis financiados pelo Programa de Arrendamento Residencial PAR. 2. A finalidade eminentemente social do contrato de arrendamento residencial não tem o condão de dispensar a responsabilidade do arrendatário de adimplir os encargos contratuais, entre eles o de realizar o pagamento das taxas de condomínio e do IPTU. 3. Não há como admitir que o cumprimento de tais obrigações passe à responsabilidade do proprietário fiduciário, no caso a CEF, uma vez que medida desse jaez inviabilizaria a manutenção do programa residencial, uma vez que os condomínios passariam à condição de reféns de inadimplentes contumazes. 4. Em atenção às regras que disciplinam o programa de arrendamento residencial, em particular a Lei n.º /01 e a Portaria n.º 258/2008, do Ministério das Cidades, não há como deixar de autorizar a reivindicação do imóvel pela CEF, em razão de inadimplência quanto ao pagamento de taxas condominiais e do IPTU. Precedentes deste Regional. 5. Agravo de instrumento provido. A C Ó R D Ã O Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. AGTR nº SE 7 CRADS

8 Recife, 17 de outubro de Desembargador Federal MANUEL MAIA RELATOR - CONVOCADO AGTR nº SE 8 CRADS