PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº CE ( ) AGRTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL AGRDO : CARLOS FLÁVIO OLIVEIRA SILVEIRA ADV/PROC : JOÃO OLIVARDO MENDES ORIGEM : 18ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) - CE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI RELATÓRIO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (RELATORA): Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão do MM. Juiz Federal da 18ª Vara Federal do Ceará que reconheceu a ilegitimidade do Ministério Público Federal para figurar no polo ativo de ação civil pública, na qual requer a condenação do agravado para que proceda a regularização de imóvel residencial de sua propriedade construído em descompasso com a normatização específica do IBAMA na Vila de Jericoacoara-CE, bem como para que repare o dano ambiental causado pelo impacto provocado pela obra irregular. Entendeu o Magistrado de 1º Grau que não havia interesse federal no feito, motivo pelo qual determinou a remessa dos autos ao Juízo de Direito de Jijoca de Jericoacoara-CE, como preconiza o art. 113 do CPC, para que se possibilite ao Ministério Público Estadual assumir, se assim entender, a titularidade da presente ação perante o juízo competente. Decisão terminativa às fl. 97, negando seguimento ao agravo de instrumento. Agravo regimental manejado pelo MPF às fls. 99/102. Reconsideração, com apreciação do recurso. Liminar deferida, para que os autos permaneçam na Justiça Federal, com o seu regular processamento, até o julgamento do mérito do presente recurso. É o relatório. Peço inclusão do feito em pauta para julgamento. 1

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº CE ( ) AGRTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL AGRDO : CARLOS FLÁVIO OLIVEIRA SILVEIRA ADV/PROC : JOÃO OLIVARDO MENDES ORIGEM : 18ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) - CE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI VOTO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (RELATORA): Revejo posicionamento anteriormente adotado para observar que a relevância da fundamentação não se encontra evidenciada no caso dos autos. O Ministério Público Federal ingressou com a presente ação civil pública com o fim de proceder a regularização de imóvel residencial de propriedade do agravado, supostamente construído em descompasso com a normatização específica do IBAMA na Vila de Jericoacoara-CE, alegando encontrar-se tal construção situada dentro da Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Jericoacoara. O art. 2º, XVIII, da Lei nº 9.985/2000 define como Zona de Amortecimento "o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade". Por sua vez, a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 10, caput e 4º, dispõe que: Art A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (...) 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. Já a Resolução nº 237 do CONAMA preceitua, em seus artigos 5º e 7º: Art. 5º. Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades: 2

3 I- localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; Art. 7º. Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de competência, conforme estabelecidos nos artigos anteriores. Na situação em tela o referido imóvel está situado na Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Jericoacoara, que é quem se consubstancia em Unidade de Conservação Federal (art. 2º, XVIII, da Lei n /2000), como visto, de proteção integral e administrado pelo IBAMA. Desse modo, embora se possa falar em dano ambiental local, sua relevância não é federal, posto que não se trata de dano ambiental à propriedade da União, suas autarquias ou fundações, nem em unidade de conservação federal (Parque Nacional de Jericoacora), nem há que se falar em lesão ao patrimônio da União a justificar a intervenção do MPF. Outrossim, mister se faz destacar que consta no Termo de Ajustamento de Conduta (80/81v), celebrado entre o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente, o Município de Jijoca de Jericoacoara/CE e o Ministério Público Federal no Estado do Ceará, em sua Cláusula Quinta (Das obrigações do SEMACE), a obrigação de observar as cláusulas do TAC e demais disposições legais aplicáveis, na apreciação dos pedidos de licença para atividades, obras ou empreendimentos no entorno do Parque Nacional de Jericoacoara. Assim, cabe a órgão ambiental estadual, e não ao IBAMA, no exercício de seu mister, atuar de modo a promover a proteção do meio ambiente local contra ações perpetradas de forma nociva ao seu equilíbrio, nos termos da lei, aliás, no exercício do poder de polícia pertinente à sua atividade. Desse modo, impõe-se reconhecer a competência da Justiça Estadual para o julgamento da lide. Neste sentido, trago à colação os seguintes julgados desta Egrégia Corte, de cuja fundamentação compartilho: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AMBIENTAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE O IBAMA E O SEMACE. LICENÇA DE INSTALAÇÃO. LEI Nº 6.938/81 E RESOLUÇÃO Nº 237 DO CONAMA. COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO ESTADUAL. 1. Nos termos do art. 10, parágrafo 4º, da Lei nº 6.938/81, e dos arts. 5º e 7º, da Resolução nº 237/CONAMA, o prévio licenciamento de empreendimentos que possam de alguma forma produzir degradação ambiental compete, em princípio, ao órgão estadual competente, apenas cabendo ao IBAMA o licenciamento de atividades que possam ocasionar significativo impacto ambiental, do que não se observa no caso. 2. Não obstante, a agravante comprovou que protocolou pedido de renovação de licença de instalação junto ao SEMACE, encontrando-se sob análise técnica, não se podendo afirmar que o empreendimento não possui licença, porquanto não houve apreciação pela Administração estadual, demora pela qual a recorrente não pode ser penalizada. 3. Agravo de instrumento provido. (AGTR /CE, DJE 19/05/2011, Relator Des. Federal Frederico Dantas (Substituto)) 3

4 PROCESSO CIVIL. ACP. ANÁLISE LEGITIMIDADE DO IBAMA. CONSTRUÇÃO CIVIL EM PROPRIEDADE PRIVADA. DANO A REMANESCENTES DE MATA ATLANTICA. CRITÉRIOS DIFERENCIADOS PARA FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA FEDERAL. TESE DO RAIO DE ABRANGÊNCIA DA ATIVIDADE IMPACTANTE OU TESE DA DOMINIALIDADE DO BEM IMPACTADO. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO IBAMA. 1. Apelação interposta pelo IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, contra sentença proferida que reconheceu a ilegitimidade do IBAMA, para figurar no pólo ativo da Ação Civil Pública que objetivava a condenação dos réus em danos morais ambientais e a recuperação ambiental da área degradada, relativa à construção do Condomínio Bosques das Águas, construído em Aldeia-PE. 2. Consoante art. 225, parágrafo 4º, da Constituição Federal, o legislador constitucional atribuiu o caráter de patrimônio nacional à Mata Atlântica. Porém, isto não implica dizer que a mesma é propriedade da União, tanto assim, que não foi listada, no art. 20 da Carta Magna, como bem da União. Trata-se de patrimônio comum a todos os brasileiros, cabendo-lhes, por ele, zelar. 3. Os critérios para fixação da competência no tocante às ações coletivas de proteção ao meio ambiente são: que leva em consideração a titularidade do bem lesado e o que leva em consideração o raio de influência do impacto ambiental.. Critérios não preenchidos no caso dos autos, por se tratar de dano local, em propriedade privada, com um raio de influência de impacto insuficiente para a fixação da competência federal. 4. Apelação não provida. (AC , DJE 2/12/2010, Relator Desembargador Federal Francisco Barros Dias) AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. LICENCIAMENTO DE EMPREENDIMENTO. RESPONSABILIDADE DO ÓRGÃO ESTADUAL. DANO QUE NÃO AFETA PROPRIEDADE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I - Nos termos do art. 10, parágrafo 4º, da Lei nº 6.938/81, e dos arts. 5º e 7º, da Resolução nº 237/CONAMA, o prévio licenciamento de empreendimentos que possam de alguma forma produzir degradação ambiental compete, em princípio, ao órgão estadual que detenha poder para tanto, apenas cabendo ao IBAMA o licenciamento de atividades que possam ocasionar significativo impacto ambiental, do que não se observa no caso. II A apreciação de eventual ausência da licença de instalação junto ao órgão estadual, bem como a apreciação de diversas outras irregularidades não compete, a princípio, ao IBAMA. III Agravo regimental desprovido. AGTR Nº /CE, DJE 18/11/2011, Relator Des. Federal Edilson Pereira Nobre Júnior) Diante do exposto, nego provimento ao agravo de instrumento. É como voto. 4

5 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº CE ( ) AGRTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL AGRDO : CARLOS FLÁVIO OLIVEIRA SILVEIRA ADV/PROC : JOÃO OLIVARDO MENDESORIGEM : 18ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) - CE RELATORA : DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE. ZONA DE AMORTECIMENTO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE INTERESSE DO IBAMA. FISCALIZAÇÃO DA SEMACE. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LOCAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I - Cuida-se de agravo de decisão que reconheceu a ilegitimidade do Ministério Público Federal para figurar no polo ativo de ação civil pública (determinando a remessa dos autos ao Juízo de Direito de Jijoca de Jericoacoara-CE), ação principal na qual requer a condenação do agravado para que proceda a regularização de imóvel residencial de sua propriedade construído em descompasso com a normatização específica do IBAMA na Vila de Jericoacoara-CE, bem como para que repare o dano ambiental causado pelo impacto provocado pela obra irregular. II A referida construção encontra-se situada na Zona de Amortecimento do Parque Nacional de Jericoacoara, este último considerado Unidade de Conservação Federal (art. 2º, XVIII, da Lei n /2000), de proteção integral, administrada pelo IBAMA. III - Embora se possa falar em dano ambiental local, sua relevância não é federal, posto que não se trata de dano ambiental à propriedade da União, suas autarquias ou fundações, nem em unidade de conservação federal (Parque Nacional de Jericoacora). Logo, não há lesão ao patrimônio da União que justifique a intervenção do MPF. IV O Termo de Ajustamento de Conduta, celebrado entre o IBAMA, a SEMACE, o Município de Jijoca de Jericoacoara/CE e o MPF no Estado do Ceará, em sua Cláusula Quinta, estabelece como da SEMACE, a obrigação de observar as cláusulas do TAC e demais disposições legais aplicáveis, na apreciação dos pedidos de licença para atividades, obras ou empreendimentos no entorno do Parque Nacional de Jericoacoara. É de se reconhecer a competência da Justiça Estadual para o julgamento da lide. V - Agravo de instrumento improvido. 5

6 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO, em que são partes as acima mencionadas. ACORDAM os desembargadores federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por maioria, em negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado. Recife, 13 de dezembro de Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI Relatora 6