As técnicas operatórias para abordagem de hemorragias
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- Otávio Geraldo Bergler Peixoto
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1 DOI: / Artigo Original O adesivo biológico de colágeno, fibrinogênio e trombina é eficaz no tratamento de lesões hepáticas experimentais The collagen, fibrinogen and thrombin biological adhesive is effective in treating experimental liver injuries Frederico Michelino de Oliveira 1 ; Marcus Vinícius H. de Carvalho 1 ; Evaldo Marchi 1 ; Clóvis Antônio Lopes Pinto 2. R E S U M O Objetivo: avaliar a eficácia de um adesivo a base de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina, no trauma hepático experimental em ratos. Métodos: toram incluídos no estudo 30 ratos Wistar, igualmente divididos aleatoriamente em três grupos: A, B e C. Todos foram submetidos à lesão traumática hepática padronizada. No grupo A, a lesão foi tratada com o adesivo, no grupo B, com sutura convencional com fio absorvível, e no grupo C, não houve tratamento da lesão. Foram analisados o tempo de hemostasia, mortalidade, ocorrência de aderências e eventuais alterações histológicas. Resultados: os resultados mostraram que não houve diferença estatística em relação à mortalidade (p=0,5820). O grupo tratado com adesivo apresentou os menores tempos de hemostasia (p=0,0573 e odds ratio 13,5) e menor ocorrência de aderências (p=0,0119). Microscopicamente as alterações histológicas dos grupos A e B foram semelhantes, com a formação de granuloma de corpo estranho separando o material do adesivo e do fio de sutura do estroma hepático. Conclusão: o adesivo de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina foi eficaz no tratamento do trauma hepático experimental, proporcionado menor ocorrência de aderências entre o fígado e as estruturas vizinhas. Descritores: Ferimentos e Lesões. Fígado. Hemostáticos. Trombina. Adesivos Teciduais. INTRODUÇÃO As técnicas operatórias para abordagem de hemorragias hepáticas incluem compressão local, cauterizações, ligaduras, suturas, ressecçõese drenagem 1,2. Nas lesões hepáticas complexas acompanhadas de instabilidade hemodinâmica está indicada a laparotomia para controle da hemorragia com eventual manobra de Pringle 2-4, ligadura de vasos e ductos lesados, como descrito por Patcher 2, e até mesmo cirurgia de controle de danos 5. O desenvolvimento de uma extensa variedade de agentes hemostáticos e adesivos teciduais ocorrida nos últimos anos 6 oferece aos cirurgiões a oportunidade de utilização desses produtos com o objetivo de atingir mais rápida e facilmente o controle da hemorragia. A gravidade e a dificuldade na condução de certos casos de trauma hepático motivam a procura de novas alternativas terapêuticas, principalmente para o controle hemorrágico. A eficiência dos novos agentes hemostáticos objetivou a hipótese de testar a eficácia do adesivo de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina, comparando com a sutura convencional, no tratamento da lesão traumática hepática experimental. MÉTODOS Este estudo experimental foi realizado no Laboratório de Técnica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí-SP e foi aprovado pelo Comitê de Ética para Uso de Animais sob número 81/110. Foram incluídos 30 ratos Wistar, machos, adultos com média de idade de 3,55 meses, pesando em média 442,80g (342g-527g). Os animais foram divididos aleatoriamente em três grupos: A, B e C, com dez indivíduos em cada grupo. Todos os ratos receberam medicação pré-anestésica com atropina, na dose de 0,05mg/Kg subcutâneo, em região dorsal e acepromazina (Acepran 1% - Univet, São Paulo) 1mg/kg pela mesma via. Após 15 minutos da aplicação da medicação pré-anestésica, receberam associação de tiletamina e zolazepan (Zoletil 50 Virbac, São Paulo) 20mg/Kg intramuscular. O procedimento operató- 1 - Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina de Jundiaí FMJ, Jundiaí-SP, Brasil; 2 - Departamento de Morfologia e Patologia Básica, Faculdade de Medicina de Jundiaí FMJ, Jundiaí-SP, Brasil.
2 Michelino 111 Figura 1. A) Ferimento hepático (Aumento 2x); B) Aspecto final do adesivo, indicado pela seta, sobre a lesão hepática (Aumento 2x) rio foi iniciado após plena ação das drogas anestésicas, monitorados pela supressão dos reflexos córneo-palpebrais e de flexão dos membros. Todos os ratos foram submetidos à laparotomia sob técnica asséptica, iniciada a partir do apêndice xifóide, com aproximadamente 3cm de extensão. Após a abertura da parede abdominal, foi colocado um pequeno afastador ortostático e identificado o fígado, órgão escolhido para realização de traumatismo padronizado com instrumento cirúrgico de biópsia (Punch Keyes ABC Instrumentos Cirúrgicos, Brasil) de 5mm de diâmetro, introduzido 5mm em profundidade no parênquima (Figura 1A). A partir de então os animais foram tratados de acordo com o grupo ao qual pertenciam. No Grupo A, após um minuto de sangramento, foi realizado tratamento da lesão utilizando adesivo cirúrgico de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina (Tachosil Nycomed, Austria), previamente ativado em soro fisiológico 0,9% (Figura 1B) e posterior limpeza da cavidade e fechamento da parede abdominal. No Grupo B, após um minuto de sangramento, foi realizado tratamento da lesão com sutura do parênquima hepático, utilizando fio de poliglactina-910, 3-0 (Vicryl Ethicon, USA) e posterior limpeza da cavidade e fechamento da parede abdominal. O Grupo C, grupo controle, não foi realizado qualquer tratamento da lesão hepática, sendo feito apenas o fechamento da parede abdominal. Nos experimentos realizados nos grupos A e B foram anotados os tempos de hemostasia, para posterior análise. No pós-operatório, todos os ratos receberam analgesia com dipirona em gotas adicionada à água e dieta com ração apropriada à vontade. Após oito semanas, os ratos sobreviventes foram submetidos à eutanásia em câmara de gás carbônico, com imediata necropsia para observação das condições intra-abdominais e remoção dos fígados para análise histológica. Os parâmetros objetos de estudo foram o tempo de hemostasia, a ocorrência de óbitos, a ocorrência de aderências e as eventuais alterações histológicas. O tempo de hemostasia foi o tempo necessário para o controle da hemorragia, sendo anotado apenas nos grupos A e B. Para o grupo C, o tempo de hemostasia não foi anotado, sendo realizado o fechamento imediato da parede abdominal após o ferimento hepático. Na concepção do presente estudo foi tomada a decisão de no grupo controle não interferir de nenhum modo na hemostasia do ferimento provocado. Havia o receio de que, durante a observação do sangramento para anotar o tempo de hemostasia, diante de um sangramento mais volumoso, o pesquisador se sentisse motivado a interferir com compressão com gases ou absorvendo o sangue com gases. Atitudes como essas iriam interferir nos resultados com tendência a diminuir o grau de aderências. As aderências foram classificadas em cinco graus, adaptando a classificação descrita em 1964 por Mazuji et al. 7. Grau zero - ausência de aderência; Grau I - aderência do local do ferimento hepático à parede abdominal, pequena e irregular; Grau II - aderência do local
3 112 Michelino Figura 2. Distribuição dos tempos de reparo das lesões entre os grupos A e B. Na vertical o número de ratos e na horizontal os tempos de reparo em minutos. do ferimento hepático à parede abdominal e ao omento, de média intensidade e de fácil separação; Grau III - aderência do local do ferimento hepático à parede abdominal, ao omento e à alça intestinal, intensa e de difícil separação; Grau IV - aderência do local do ferimento a qualquer outra região, muito intensa, homogênea e de difícil separação. Após análise das aderências, os fígados dos ratos foram removidos e colocados em formol a 10% com posterior preparo de lâminas com as colorações hematoxilina-eosina e picrosirius, para análise microscópica. A análise estatística foi realizada com apresentação de tabelas de distribuição de frequencias absolutas (n) e relativas (%) para todas as variáveis. Foram analisadas as variáveis óbito, tempo de hemostasia e ocorrência de aderências pelo teste exato de Fisher. Para a variável qualitativa óbito, a comparação foi feita através do teste exato de Fisher, pois as condições de aplicação do teste do qui-quadrado não foram satisfeitas. Para a variável tempo de hemostasia, comparamos a ocorrência do menor tempo, que foi dois minutos entre os dois grupos (adesivo e sutura), utilizando o teste exato de Fisher, por se tratar de variável qualitativa, além disso utilizamos o cálculo do oddis ratio com seu respectivo intervalo de confiança. O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi 5%. Figura 3. Ocorrência de óbito. Distribuição dos óbitos entre os grupos A, B e C. Na vertical o número de óbitos e na horizontal os grupos. RESULTADOS Tempo de Hemostasia A média geral foi 3,5 minutos, com o menor tempo de dois minutos e o maior tempo de dez minutos. No Grupo A, o tempo médio foi 2,4 minutos, com o menor tempo de dois minutos e o maior tempo de cinco minutos. No Grupo B, o tempo médio foi 4,2 minutos, com o menor tempo de dois minutos e maior tempo de dez minutos. A distribuição da ocorrência dos tempos de hemostasia de cada grupo está representados na figura 2. Quando agrupamos e analisamos os resultados com tempo igual a dois minutos e tempo maior do que dois minutos, nos grupos A e B (Tabela 1), obtivemos uma significância limítrofe entre eles com o teste exato de Fisher (p=0,0573), e quando calculamos o oddis ratio chegamos a um resultado de 13,5 (intervalo de 1,20 a 15,2), o que significa que os animais do grupo B têm 13,5 vezes mais chances de terem tempo de hemostasia maior do que dois minutos. Portanto, este dado apresenta significado estatístico. Óbito O grupo A apresentou mortalidade de 10% (1/10 animais), o grupo B apresentou mortalidade de Tabela 1. Distribuição dos tempos de hemostasia iguais a dois minutos e maiores do que dois minutos nos grupos A e B em números absolutos e percentagem (entre parênteses) 2 minutos > 2 minutos Total Grupo A 6 (60%) 4 (40%) 10 (100%) Grupo B 1 (10%) 9 (90%) 10 (100%) Total 7 (35%) 13 (65%) 20 (100%) Tempo de hemostasia - animais do Grupo A versus Grupo B - análise pelo teste exato de Fisher p=0,0573, e Oddis Ratio=13,5.
4 Michelino 113 Tabela 2. Distribuição da ocorrência de óbitos em cada grupo em números absolutos e porcentagens. Grupo A Grupo B Grupo C Total Óbito (n) Óbito (%) 10 33, ,67 33,3% (3/10 animais), o grupo C apresentou mortalidade 40% (4/10 animais). A mortalidade geral foi 26,67% (8/30 animais). A tabela 2 e a figura 3 mostram a distribuição do número de óbitos em cada grupo. Quando comparamos, pelo teste exato de Fisher, os grupos A com o grupo B (p=0,5820), o grupo A com o grupo C (p=0,3034) e o grupo B com o grupo C (p=1,0000) não identificamos diferença com significado estatistico. Aderências O grupo A apresentou três ratos com aderências de Grau 0 e seis ratos com Grau I. O grupo B apresentou dois ratos com aderências de Grau I, três com Grau II e dois com Grau III. O grupo C apresentou um rato com aderência de Grau I, quatro com Grau II e um com Grau III. Nenhum rato apresentou aderência de Grau IV. A tabela 3 mostra a distribuição da ocorrência dos graus de aderências em cada grupo do estudo. Quando realizamos a análise estatística da variável aderência, verificamos que o grupo A apresenta menor ocorrência em relação ao grupo B, com significado estatístico e analisado pelo teste exato de Fisher (p=0,0119). Resultado semelhante ao encontrado quando comparamos o grupo A com o grupo C (p=0,0069). Quando comparamos o grupo B com o grupo C não encontramos diferença estatística significativa (p=1,0000). Alterações histológicas As alterações histológicas encontradas nas lâminas dos fígados dos ratos do grupo A foram reação do tipo corpo estranho com formação de paliçada de histiócitos, separando material amorfo (adesivo) do estroma de células hepáticas (Figura 4) e infiltrado plasmocitário e extravasamento de bilirrubina por lesão ductal. Também foi observado intenso depósito de colágeno (Figura 5), com densa fibrose. As alterações histológicas encontradas nas lâminas dos fígados dos ratos do grupo B foram reação inflamatória tipo granuloma de corpo estranho ao redor dos fragmentos de fio cirúrgico, com células gigantes multinucleadas e fibrose ausente. As lâminas dos ratos do grupo C mostraram extravasamento de hemácias, sem formação de tecido inflamatório. DISCUSSÃO A lesão hepática criada tentou reproduzir lesões intermediárias que corresponderiam a lesões de grau III, se comparadas à classificação de trauma hepático da American Association for the Surgery of Trauma (AAST) 1,3,8. Para a escolha do adesivo tecidual, procuramos um produto que pudesse aproveitar as propriedades de barreira ao sangramento, oferecidas pelos agentes hemostáticos mecânicos associadas à ação direta na coagulação sanguínea, oferecida pelos agentes hemostáticos ativos. Assim a escolha recaiu sobre uma combinação de produtos, já disponível no mercado, representado pela Tabela 3. Distribuição dos graus de aderências - animais dos grupos A, B e C. ADERÊNCIAS Grupo A Grupo B Grupo C Grau zero Grau I Grau II Grau III Grau IV 0 0 0
5 114 Michelino Figura 4. Fotomicrografia de corte histológico corado com hematoxilina-eosina, mostrando fígado de rato do grupo A. A seta preta aponta para o material amorfo do adesivo; a seta verde aponta para área de processo inflamatório tipo granuloma de corpo estranho, com histiócitos distribuídos em paliçada, separando o material do adesivo do estroma hepático. combinação de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina Trata-se de um produto totalmente biológico, sem o uso de componentes sintéticos. Este adesivo foi avaliado em estudos clínicos como suporte à hemostasia em distintos tipos de cirurgia, na maioria das vezes em situações eletivas, principalmente em órgãos parenquimatosos, mostrando efetividade no controle do sangramento Frilling, em 2005, relatou superioridade do uso do adesivo em comparação ao feixe de argônio durante ressecção hepática em relação ao tempo para ocorrer hemostasia 12. Achado semelhante obtivemos em nosso estudo quando avaliamos o tempo de reparo da lesão com o uso do adesivo, em relação à sutura convencional. O menor tempo de hemostasia obtido, refletindo o fácil manuseio e a eficácia do material no controle da hemorragia, fato já identificado com o uso do colágeno isoladamente, como demonstrado por Mantovani et al. 14 ou quando associado ao fibrinogênio e trombina, conforme demonstram estudos experimentais utilizando cães 9 e porcos 10. Vale ressaltar que, em alguns ratos submetidos ao tratamento da lesão por sutura, o tempo alargado de obtenção da hemostasia se deu pela dificuldade de manipulação do tecido hepático, muito friável. Assim como o adesivo de colágeno, fibrinogênio e trombina, outros agentes hemostáticos também são citados como eficazes no controle dos mais diversos tipos de hemorragias. de la Garza e Rumsey, em 1990, mostraram eficácia no controle da hemorragia, com o Figura 5. Fotomicrografia de corte histológico da reação bioquímica de Tricrômio de Masson, mostrando fígado de rato do grupo A. A seta amarela aponta para fibras de colágeno, coradas em vermelho que permeiam células inflamatórias linfomononuclearese células gigantes multinucleadas; a seta preta apontapara o parênquima hepático. uso de cola de fibrina, em dois pacientes vítimas de trauma hepático 15. No mesmo ano, Ochsner et al. utilizaram este produto em 26 pacientes vítimas de traumatismos hepáticos e esplênicos também com eficaz controle da hemorragia 16. Diversos estudos experimentais mostram a efetividade do uso adesivos de fibrina no controle da hemorragia hepática em cães 17, porcos 18,19, ratos 20 e coelhos 21, com boa aderência ao fígado lesado, pouca reação inflamatória local e poucas complicações. Em nosso estudo obtivemos achados semelhantes aos dos estudos citados. A ocorrência de aderências, que pode ser classificada como uma complicação do tratamento operatório, foi estatisticamente menor no grupo tratado com o adesivo em relação ao grupo tratado com sutura (p=0,0119). Isto pode ter ocorrido devido ao fato de que os animais do grupo tratado com sutura apresentaram maior sangramento e hematoma no local do ferimento, refletindo em maior reação inflamatória e com consequente aderência. Frena e Martin 13, em 2006, verificaram ausência de fistulas biliares com o uso deste produto em hepatectomias eletivas em humanos, fato que também ocorreu em nosso estudo, mesmo se tratando de um traumatismo hepático, o que aumenta a chance do aparecimento deste tipo de complicação. A mortalidade encontrada no grupo tratado com o adesivo (10%) não apresentou diferença estatística significativa em relação ao grupo tratado com a sutura (33,3% / p=0,5820) e ao grupo controle (40% / p=0,3034). Em estudo de 1000 pacientes vítimas de trauma hepático conduzido por Feliciano et al., entre 1979 e
6 Michelino , a mortalidade encontrada foi 10% 22 e, em outro estudo conduzido por Saaiq et al. em Islamabad, no Paquistão, entre 2003 e 2010, a mortalidade foi 9,73% 23. Desta maneira, a mortalidade com o uso experimental do adesivo é semelhante às encontradas em tratamentos de traumatismos hepático realizados convencionalmente em humanos. A presença de reação inflamatória do tipo corpo estranho encontrada na análise histológica dos fígados dos ratos tratados com o adesivo de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina foi semelhante às alterações encontradas em estudos que utilizaram cola de fibrina em ratos 24, adesivo de fibrina em coelhos 21 e malha de ácido poliglicólico em porcos 25. Não encontramos achados histológicos sugestivos de necrose do tecido hepático ou degeneração vacuolar, como já descrito com o uso do cianoacrilato 26, nem a presença de abscessos próximos às áreas de utilização do adesivo. O intenso depósito de colágeno identificado próximo às áreas do uso do adesivo (Figura 5) é um fato importante, se levarmos em consideração que o colágeno é essencial para o processo de reparação de tecidos lesados 24. O tratamento conservador do trauma hepático isolado tem sido cada vez mais realizado nas últimas décadas, chegando a atingir níveis de 80% nos dias atuais 27. Este fato associado ao desenvolvimento de terapias menos invasivas, como a angiografia com embolização 28,29, diminui a necessidade de cirurgia para o controle da hemorragia hepática. Porém, em situações de instabilidade hemodinâmica ou de traumatismos associados em outros órgãos, sobretudo em vísceras ocas, a necessidade de tratamento operatório é quase sempre mandatória 1,3,8,22,27,28. A abordagem operatória do fígado pode ser procedimento complexo, requerendo grande habilidade e experiência do cirurgião 2. O estudo realizado mostrou que o adesivo de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina foi eficaz no tratamento de lesões hepáticas traumáticas em ratos e tem potencial para ser utilizado por cirurgiões durante a mesma abordagem em humanos. A facilidade de manuseio do adesivo em relação à sutura do tecido hepático, levando a um menor tempo de controle da hemorragia e a baixa ocorrência de complicações são os principais pontos favoráveis para a utilização deste material. Concluímos que o adesivo de colágeno associado ao fibrinogênio e trombina foi eficaz no tratamento do trauma hepático experimental, abrindo perspectivas para sua utilização nos traumatismos hepáticos em humanos. ABSTRACT Objective: to evaluate the effectiveness of a collagen-based adhesive associated with fibrinogen and thrombin in experimental liver injuries in rats. Methods: we randomly divided 30 Wistar rats into three groups: A, B and C. All underwent a standard liver traumatic injury. In group A, the lesion was treated with the adhesive; in group B, with conventional, absorbable suture; group C received no treatment. We analyzed the time of hemostasis, mortality, occurrence of adhesions and any histological changes. Results: there was no statistical difference in relation to mortality (p=0.5820). The adhesive treated group showed the lowest hemostasis times (p=0.0573, odds ratio 13.5) and lower incidence of adhesions (p=0.0119). The histological alterations of the Groups A and B were similar, with foreign body granuloma formation separating the adhesive material and the hepatic stroma suture. Conclusion: the collagen adhesive associated with fibrinogen and thrombin was effective in treating experimental hepatic injury, providing a lower incidence of adhesions between the liver and surrounding structures. Keywords: Wounds and Injuries. Liver. Hemostatics. Thrombin. Tissue Adhesives. AGRADECIMENTO Agradecemos à Professora Sirlei Siani Morais pela realização da análise estatística deste estudo. REFERÊNCIAS 1. Piper GL, Peitzman AB. Current management of hepatic trauma. Surg Clin North Am. 2010;90(4): Feliciano DV, Pachter HL. Hepatic trauma revisited. Curr Probl Surg. 1989;26(7): Moore EE. Edgar J. Poth Lecture. Critical decisions in the manegement of hepatic trauma. Am J Surg. 1984;148(6): Pringle JH. V. Notes on the arrest of hepatic hemorrhage due to trauma. Ann Surg. 1908;48(4): Weber DG, Bendinelli C, Balogh ZJ. Damage control surgery for abdominal emergencies. Br J Surg. 2014;101(1):e
7 116 Michelino 6. Achneck HE, Sileshi B, Jamiolkowski RM, Albala DM, Shapiro ML, Lawson JH. A comprehensive review of topical hemostatic agents: efficacy and recommendations for use. Ann Surg. 2010;251(2): Mazuji MK, Kalambaheti K, Pawar B. Preventive of adhesions with polyvinylpyrrolidone. Preliminary report. Arch Surg. 1964;89: Rasslan S, Monteiro RP. Tratamento não-operatório do trauma hepático. Rev Col Bras Cir. 1999;26(6): Schelling G, Block T, Gokel M, Blanke E, Hammer G, Brendel W. Application of a fibrinogen-thrombin- -collagen-based hemostyptic agent in experimental injuries of liver and spleen. J Trauma. 1998;28(4): Grottke O, Braunschweig T, Daheim N, Coburn M, Grieb G, Rossaint R, et al. Effect of TachoSil in a coagulopathic pig model with blunt liver injury. J Surg Res. 2011;171(1): Erdogan D, van Gulik TM. Evolution of fibrinogen- -coated collagen patch for use as a topical hemostatic agent. J Biomed Mater Res B Appl Biomater. 2008;85(1): Frilling A, Stavrou GA, Mischinger HJ, de Hemptinne B, Rokkjaer M, Klempnauer J, et al. Effectiveness of a new carrier-bound fibrin sealant versus argon beamer as haemostatic agent during liver resection: a randomised prospective trial. Langenbecks Arch Surg. 2005;390(2): Frena A, Martin F. How to improve bilio-stasis in liver surgery. Chir Ital. 2006;58(6): Mantovani M, Vidal BC, Concon Filho A. Tamponamento das lesões hepáticas transfixantes com colágeno tipo I. Acta cir bras. 1998;13(2): de la Garza JL, Rumsey E Jr. Fibrin glue and hemostasis in liver trauma: a case report. J Trauma. 1990;30(4): Ochsner MG, Maniscalco-Theberge ME, Champion HR. Fibrin glue as a hemostatic agent in hepatic and splenic trauma. J Trauma. 1990;30(7): Kram HB, Reuben BI, Fleming AW, Shoemaker WC. Use of fibrin glue in hepatic trauma. J Trauma. 1988;28(8): Feinstein AJ, Varela JE, Cohn SM, Compton RP, McKenney MG. Fibrin glue eliminates the need for packing after complex liver injuries. Yale J Biol Med. 2001;74(5): Delgado AV, Kheirabadi BS, Fruchterman TM, Scherer M, Cortez D, Wade CE, et al. A novel biologic hemostatic dressing (fibrin patch) reduces blood loss and resuscitation volume and improves survival in hypothermic, coagulopathic swine with grade V liver injury. J Trauma. 2008;64(1): Jakob H, Campbell CD, Stemberger A, Wried-Lübbe I, Blümel G, Replogle RL. Combined application of heterologous collagen and fibrin sealant for liver injuries. J Surg Res. 1984;36(6): Taha MO, De Rosa K, Fagundes DJ. The role of biological adhesive and suture material on rabbit hepatic injury. Acta Cir Bras. 2006;21(5): Feliciano DV, Mattox KL, Jordan GL Jr, Burch JM, Bitondo CG, Cruse PA. Management of 1000 consecutive cases of hepatic trauma ( ). Ann Surg. 1986;204(4): Saaiq M, Niaz-ud-Din, Zubain M, Shah SA. Presentation and outcome of surgically managed lives trauma: experience at a tertiary care teaching hospital. J Pak Med Assoc. 2013;63(4): Fontes CER, Taha MO, Fagundes DJ, Ferreira MV, Prado Filho OR, Mardegan MJ. Estudo comparativo do uso de cola de fibrina e cianoacrilato em ferimento de fígado de rato. Acta Cir Bras. 2004;19(1): Bakker FC, Wille F, Patka P, Haarman HJ. Surgical treatment of liver injury with an absorbable mesh: an experimental study. J Trauma. 1995;38(6): Silveira LMG, Matera A, Cortopassi SRG, Ferrigno CRA, Xavier JG, Cunha F. Comparação entre os efeitos da associação gelatina-resorcina-formaldeído e do n-butil- -2-cianoacrilato na síntese do parênquima hepático de coelhos. Braz J Vet Res Anim Sci. 2005;42(4): Ahmed N, Vernick. Management of liver trauma in adults. J Emerg Trauma Shock. 2011;4(1): Bouras AF, Truant S, Pruvot FR. Management of blunt hepatic trauma. J Visc Surg. 2010;147(6):e Misselbeck TS, Teicher EJ, Cipolle MD, Pasquale MD, Shah KT, Dangleben DA, et al. Hepatic angioembolization in trauma patients: indications and complications. J Trauma. 2009;67(4): Recebido em: 10/10/2015 Aceito para publicação em: 17/03/2016 Conflito de interesse: nenhum. Fonte de financiamento: nenhuma. Endereço para correspondência: Marcus Vinícius H. de Carvalho marcus.carvalho@sbccv.org.br
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