XI Congresso Brasileiro de Sociologia. Oficina Sociólogos do Futuro. A Máquina do Tempo. 1 a 5 de setembro de 2003, UNICAMP, Campinas,SP

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1 XI Congresso Brasileiro de Sociologia Oficina Sociólogos do Futuro A Máquina do Tempo Francis Moraes de Almeida 1 a 5 de setembro de 2003, UNICAMP, Campinas,SP A máquina do tempo no qual são contadas as aventuras da medicina-legal até o advento da noção de psicopata

2 Este artigo é a parte referente à construção do problema de pesquisa que orienta um projeto de mestrado em sociologia atualmente desenvolvido na UFRGS. O problema de pesquisa que lhe serve como norte indaga: quais são as práticas discursivas e não discursivas exercidas com base na categoria de personalidade criminosa pelos psiquiatras forenses que trabalham no Instituto Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso? A categoria de personalidade criminosa é tomada como parâmetro para a abordagem da formação discursiva na qual se situa a psiquiatria forense pelo fato de ter sido fundamental para a legitimação da psiquiatria enquanto disciplina científica (Harris, 1993, p. 78; Foucault, 2001, p ) e, por isso, ser indispensável ao exercício da psiquiatria forense contemporânea. Por práticas discursivas entendem-se aquelas práticas referentes ao âmbito do saber, que podem apresentar regularidades em suas formações de objetos, modalidades enunciativas, conceitos e estratégias (Foucault, 2000a, p. 43) de modo a constituírem uma formação discursiva. Por formação discursiva compreende-se, de acordo com a definição de Michel Foucault: (...) o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma alocução, um sermão, um panfleto, uma exposição, um programa etc.) a partir de uma posição dada numa conjuntura determinada (Foucault, 2000a, p. 137). À psiquiatria forense, considerada enquanto disciplina 1 situada numa formação discursiva historicamente dada compete o que pode e deve ser dito de modo a ser legitimamente reconhecido como sendo do âmbito da psiquiatria forense (modalidade enunciativa) sobre a doença mental em sua relação com a criminalidade (objeto) através da aplicação do diagnóstico vigente na época ou conjuntura determinada monomania, degeneração, TASP, etc (conceito) que, por sua vez, está calcado em uma teoria que define uma linha de ação, como o cumprimento de medida de segurança (estratégia). 1 Segundo Foucault: A formação discursiva cuja existência a disciplina psiquiátrica permite demarcar não lhe é coextensiva; ao contrário, ela a excede amplamente e a cerca de todos os lados (Foucault, 2000a, p. 202), uma vez que não coincide com a formação discursiva na qual se situa: A disciplina é um princípio de controle da produção do discurso. Ela lhe fixa limites pelo jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras (Foucault, 2000b, p. 36).

3 Todos estes componentes da formação discursiva se formam no jogo com as práticas não-discursivas (instituição manicômio judiciário, etc) de acordo com a concepção arqueogenealógica de Foucault, segundo a qual: Temos que admitir que o poder produz saber (...); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder (Foucault, 1999, p. 27). Por mais que se possa objetar o referencial de base deste projeto, uma vez que Foucault, como é sabido, não procurou fazer sociologia com seus escritos, parece adequado empregar sua teoria para a construção da história da emergência do problema social que serve como base para a elaboração do problema do qual trata o projeto sobre o qual versa este artigo, como recomenda a literatura sociológica contemporânea (Bourdieu, 1998, p ; Lenoir, 1998, p. 73, Santos, 1995, p ). Neste caso, o problema social em questão é a categoria de personalidade criminosa, institucionalizada nos conceitos que historicamente a encarnaram na psiquiatria forense. O objetivo deste procedimento metodológico é evitar deixar impensado o préconstruído com o qual se defronta este projeto já que trata de uma disciplina e uma categoria tão institucionalizadas como o são a psiquiatria forense e a personalidade criminosa. Desta forma, evita-se realizar uma adequação ingênua do problema sociológico ao objeto jurídico do qual ele trata, seguindo as advertências de Lenoir (1998, p ) Partindo disto, nas páginas seguintes busca-se mostrar sinteticamente como a psiquiatria forense e a categoria de personalidade criminosa, seu objeto científico privilegiado, se configuram historicamente e dão origem à instituição do manicômio judiciário. 1. Como criar um monstro do soberano onipotente ao paradoxo dos crimes sem razão Durante meados do século XVIII praticamente toda a Europa ainda vivia sob o espírito do Absolutismo, que já dava mostras de decadência e, anos após, sofreria um abalo

4 derradeiro com a Revolução Francesa. Neste período, os reformadores do direito penal militavam pelo fim do suplício, que ante seus olhos iluministas era uma barbárie injustificável. Nesta época o rei despótico é a encarnação da lei, sua vontade é a própria lei. Uma contravenção legal, um crime é uma ofensa à vítima tanto quanto ao próprio rei e é neste sentido que o suplício se coloca como um meio de permitir ao rei vingar-se da afronta pessoal que o crime representa para ele, mais do que simplesmente reparar o dano feito a seu reino: Sua finalidade [do suplício] é menos de estabelecer um equilíbrio que de fazer funcionar, até um extremo, a dissimetria entre o súdito que ousou violar a lei e o soberano todo-poderoso que faz valer sua força (Foucault, 1999, p. 42). Por mais que não fosse a pena mais freqüentemente aplicada (idem, p. 30), era a mais visível e simbolicamente importante porque reafirmava o poder sem limites do soberano que permite anular o crime ao repetir seu horror (idem, p. 47). A lógica que regia este poder soberano, como o denomina Foucault, se orienta segundo o princípio de que: Em toda infração há um crimen majestatis, e no menor dos criminosos um pequeno regicida em potencial. E o regicida, por sua vez, não é nem mais nem menos que o criminoso total e absoluto, pois em vez de atacar, como qualquer delinqüente, uma decisão ou uma vontade particular do poder soberano ele ataca seu princípio na pessoa do príncipe. (Idem, p. 46). Desta forma, partindo da premissa que o suplício é um exercício do poder sem limites do soberano, não há crime que não possa ser supliciado. Até o regicídio, o mais extremo dos crimes, pode ser sujeitado ao mais atroz dos suplícios, como aquele ao qual foi submetido o assassino de Guilherme de Orange, em 1584, supliciado em praça pública durante dezoito dias (Foucault, 2001, p ). Através da repetição da atrocidade, mesmo em se tratando do próprio regicídio, o poder soberano é restabelecido ritualmente. Neste contexto não há crime monstruoso nem reflexão sobre a natureza do crime porque: Não há mecânica do crime que seria da alçada de um saber possível; não há mais do que uma estratégia de poder, que exibe sua força em torno e a propósito do crime (Idem, p. 106).

5 Contudo, desde os últimos anos do século XVII até o início do século XIX, segundo Foucault, configura-se um mecanismo de poder que não pode ser compreendido nos termos da soberania (Foucault, 2000b, p. 188). Trata-se de um poder disciplinar, ao qual corresponde uma articulação de saber-poder distinta do inquérito, que permitia ao poder soberano produzir a verdade sobre o crime através do suplício (Foucault, 1999, p. 41). Esta nova articulação era o exame. Note-se que o inquérito visava produzir a verdade sobre o crime (levando o criminoso à confissão e remissão públicas através do suplício), enquanto o exame vai construir a verdade sobre o criminoso (desvendando a racionalidade de seu ato), pois agora o que está em causa é o interesse ou razão do crime 2 (Foucault, 2001, p. 111), uma vez que este é entendido como uma ação racional como qualquer outra, calculada de acordo com o critério minimax de custos e benefícios. Dentro da lógica deste novo mecanismo de poder é que pode surgir o questionamento sobre a racionalidade do crime 3, o que não deve ser confundido com a intenção do criminoso, como bem adverte Foucault: A questão quer vai ser levantada não é portando o entorno do crime, nem mesmo a intenção do sujeito, mas a racionalidade imanente à conduta criminal, sua inteligibilidade natural (Idem, ibidem). Com a instituição deste poder disciplinar é que se torna possível a emergência dos chamados crimes sem razão, que perplexificaram os tribunais nas primeiras décadas do século XIX e levaram os juízes a pedir socorro aos médicos, pedindo por uma análise científica, médica, psiquiátrica dos motivos do crime (Idem, p. 147). Sendo assim, já não era mais possível punir um crime sem que seu autor respondesse dentro da racionalidade que lhe era pressuposta. Para que as engrenagens do sistema penal não emperrassem foi preciso que os psiquiatras inventassem uma racionalidade fora da razão, um motivo que tornasse inteligíveis estes crimes até então indecifráveis, uma verdade sobre esses criminosos que permitisse decifrá-los. Com o 2 O mais ilustre dentre os reformadores do direito penal, Cesare Beccaria escreveu quanto à eficácia das penas: Para que uma pena produza seu efeito, basta que o mal que ela mesma inflige exceda o bem que nasce do delito e nesse excesso de mal deve ser levado em conta a infalibilidade da pena e a perda do bem que o delito devia produzir (Beccaria, 1999, p. 92). 3 Nas palavras de Foucault: A racionalidade do crime entendida portanto como mecanismo decifrável dos interesses é requisitada pela nova economia do poder de punir, o que não acontecia de forma alguma no sistema antigo, em que se prodigalizavam as despesas sempre excessivas, sempre desequilibradas, do suplício (Foucault, 2001, p. 143)

6 surgimento desta verdade foi lançada a pedra angular da loucura-criminal e se iniciou o processo que culminou no conceito de psicopata. Para tanto, contudo, era preciso resolver a questão de que: Havendo-se convertido, então, a razão do crime na razão de castigar, como castigar um crime sem razão? (Foucault, 1990, p. 246). 2. O alienista Esquirol e a monomania homicida contra os crimes sem razão Até o início do século XIX, a loucura era concebida em função de um critério sintomático baseado no delírio que aparece como característica principal da mania e cuja amplitude permitia diferenciá-la da melancolia no esquema classificatório de 1809 de Pinel (Pessotti, 1999, p. 58). Neste esquema, a mania era definida por um delírio geral, enquanto a melancolia seria marcada por um delírio parcial no qual certas idéias fixas exerceriam papel determinante. Contudo há ambigüidades evidentes no esquema de Pinel quando são consideradas as manias raciocinantes, descritas pelo autor no trecho seguinte: (...) muitos alienados que não apresentavam qualquer lesão do intelecto eram totalmente tomados por um instinto furioso (...) um exemplo de furor maniacal sem delírio (...) de mania sem delírio (...) conflito interno entre uma razão lúcida e uma sanguinária crueldade (Pinel apud Pessotti, 1999, p. 59). Esta breve descrição é importante porque demonstra uma inconsistência no esquema classificatório das alienações mentais de Pinel à qual ele não aludiu ao definir a demência, categoria fundamental no artigo 64 do Código Penal francês, que reconheceu a irresponsabilidade penal dos alienados 4. Tal deficiência do esquema de Pinel foi complementada por seu discípulo Esquirol, contudo após anos de relutância, pois em seu esquema de 1816/1818 aquelele admitia as monomanias enquanto patologias de delírio parcial, mas negava a possibilidade da completa ausência de delírio até a sua classificação 4 O texto do artigo reza: não há crime nem delito quando o acusado estava sob estado de demência no momento da ação, ou quando foi levado a praticá-la por uma força à qual não pôde resistir (citado por Darmon, 1991, p. 122).

7 de 1838, quando reconheceu três subclasses da monomania: a intelectual, a afetiva ou raciocinante além da instintiva, descritas adiante. A monomania intelectual era a mais próxima da classificação enquanto delírio parcial e consistia num quadro no qual: A desordem intelectual é concentrada num único objeto ou numa série de objetos circunscritos; os doentes partem de um princípio falso, do qual tiram as conseqüências legítimas que modificam suas afeições e os atos de suas vontades; fora desse delírio parcial, eles sentem, raciocinam, agem como todo mundo; ilusões, alucinações associações viciosas de idéias, convicções falsas, errôneas, bizarras são a base desse delírio que eu gostaria de chamar monomania intelectual (Esquirol apud Darmon, p grifos nossos). Já na monomania afetiva ou raciocinante, não há delírio e, portanto: Os monomaníacos não perdem a razão, mas seus afetos, seu caráter, são pervertidos; por motivos plausíveis, por explicações muito racionais, eles justificam o estado atual de seus sentimentos e desculpam a esquisitice, a inconveniência de sua conduta (Esquirol apud Dutra, 2002, p. 25). Por fim, merece destaque a monomania instintiva, que originou apaixonadas controvérsias nos tribunais na época de sua formulação, pois é a que melhor responde ao clamor dos juízes por uma razão para os ditos crimes sem razão que os perplexificavam. Nesta monomania: A vontade está lesada; o doente, fora das vias ordinárias, é levado a atos que a razão ou o sentimento não determinam, que a consciência reprova, que a vontade não tem mais força de reprimir; as ações (delituosas) são involuntárias, instintivas, irresistíveis... (Idem, ibidem grifos nossos). Apesar da quebra implicada pela introdução desta concepção de loucura sem delírio, que foi apropriada com diferentes nomes por outros alienistas europeus 5, ela respondia a um ponto já esboçado no artigo 64 do Código Penal francês, mas ainda não explorado: a segunda circunstância da irresponsabilidade penal, que não implica necessariamente a

8 demência, prevista na passagem (...) quando foi levado a praticá-la [a ação que poderia ser caracterizada como crime ou delito] por uma força à qual não pôde resistir (apud Darmon, 1991, p. 122). Essa possibilidade de que o indivíduo tivesse sua conduta determinada a despeito de sua vontade, impelido por uma força irresistível, contradiz o princípio do livre arbítrio do qual partia o direito penal clássico dos reformadores enquanto abre o caminho para o instinto enquanto mote dos crimes sem razão. Evidentemente a categoria das monomanias instintivas responde a este trecho do artigo 64, mas ela não impele inevitavelmente a atos criminosos, há uma importante subcategoria da monomania instintiva que responde ainda mais diretamente à demanda dos tribunais. Trata-se da monomania homicida, o diagnóstico por excelência dos crimes sem razão que resultavam em morte. Segundo Esquirol consistia em: (...) uma espécie de monomania homicida na qual não se pode observar nenhuma desordem intelectual ou moral (afetiva); o assassino é levado por um poder irresistível, por um arrebatamento que ele não pode vencer, por uma impulsão cega, por uma determinação impensada, sem interesse, sem motivo, sem erro, a um ato atroz e contra as leis da natureza (Esquirol apud Dutra, 2002, p. 26). O instinto surge então como forma de concatenação entre o sistema penal e o saber psiquiátrico e permite tornar inteligível o escândalo jurídico que eram os crimes sem razão (Foucault, 2001, p ). Contudo, na mesma medida em que define a monomania enquanto uma loucura lúcida ou sem delírio, uma alienação que tinha como único sintoma o próprio crime (Foucault, 1990, p.239), o instinto opera uma mudança no próprio mecanismo de saber-poder que fez funcionar. Em uma palavra, ao ser reconhecida enquanto categoria a monomania deixa de ser necessária ao mecanismo médico-legal. Isto ocorre da seguinte forma. Primeiro, ao criar o amálgama diagnóstico do loucocriminoso na forma da monomania homicida, a psiquiatria adquire seu estatuto de ciência, entronizando-se enquanto único modo de decifrar a racionalidade dos crimes sem razão (Foucault, 2001, p ). Segundo, no mesmo ano de 1838 no qual Esquirol formula a categoria de monomania homicida, é promulgada a lei que institui os 5 As monomanias afetivas ou raciocinantes correspondiam, no alienismo inglês, à moral insanity diagnosticada por Pritchard em 1835 (Carrara, 1998, p. 73) ou à loucura parcial de Trélat, elaborada em

9 estabelecimentos para o tratamento de doentes mentais na França (que após foi declarada nos demais países europeus), sendo que a internação era realizada pela autoridade prefeitoral com o aval (não determinante, deve-se frisar) dos médicos e na intenção de manter a segurança e ordem públicas (Idem, p ). Desta mudança política decorrem modificações na teoria psiquiátrica que serão detalhadas adiante. 3. O médico e o monstro da abolição das loucuras parciais à degeneração Após a morte de Esquirol, em 1840, seus discípulos Morel e Falret atacaram a monomania enquanto loucura parcial, advogando que o sintoma não era a própria demência, mas uma manifestação de uma mente completamente arruinada pela alienação, a despeito da aparente fachada de sanidade de seus portadores ( Darmon, 1991, p. 126). Ao invés de levar os supostos alienados ao cadafalso, esta doutrina negava a existência das monomanias (que nem por isso deixaram de povoar os tribunais) para defenderem que: (...) o alienado menos sintomático deveria ser colocado no mesmo plano que o alienado mais extravagante, já que, a despeito das aparências, não fora apenas uma parte, mas a totalidade de suas funções cerebrais que havia sido atingida (Idem, p. 127). Contudo, Falret e Morel não concordavam incondicionalmente, possuindo diferenças bastante significativas quando o assunto era distinto da crítica a Esquirol. Falret defendia a tese a existência de um fundo doentio do qual a monomania e demais loucuras parciais não eram mais do que mera manifestação, baseando-se, contudo, na estrita observação clínica: Mas, sem entrarmos por essa estrada perigosa da fisiologia patológica, nos bastará permanecer no terreno da observação clínica, para mostrar que existe um distúrbio geral em todas as alienações parciais, seja monomaníacas, seja melancólicas, que na aparência se limitam a uma série de idéias, à lesão de uma única faculdade ou de um único sentimento (Falret apud Pessotti, 1999, p. 78) 1842 (Foucault, 2001, p. 197).

10 Todavia, Falret não ignorava a preeminência da monomania no esquema de seu mestre e dedicou toda uma obra, intitulada De la non Existence de la Monomanie (Da não existência da monomania), em 1854 à sua refutação, embasada no argumento da inespecificidade do diagnóstico montado por Esquirol, que compreendia demasiadas subcategorias sob critérios sintomáticos amplos demais (Idem, p. 80). Já Morel deve o seu repúdio à responsabilidade parcial e loucura parcial presentes na teoria de seu mestre Esquirol a sua concepção de um eu indivisível (seguramente baseada no fundo religioso de sua escatológica teoria da degenerescência), fundamentando no diagnóstico de degeneração a prova da refutação das formas parcias de concepção do psiquismo humano (Harris, 1993, p. 68). Morel compartilhava com Falret a defesa da tese do fundo doentio comum a diferentes alienações classificadas erroneamente segundo critérios estritamente diagnósticos, contudo diferia dele por enveredar pela estrada perigosa da fisiologia patológica, uma vez que seu critério de classificação era exclusivamente etiológico. Contudo, a degenerescência, pedra angular de sua classificação, é mais um princípio indutivo do que uma teoria deduzida rigorosamente de fatos comparáveis, como o desejaria uma abordagem positivista, o que equivaleria a afirmar que toda a loucura possui uma causa orgânica (eis o fundo doentio comum) por mais que apenas hipotética (Idem, p. 85). Antes do Traité des Dégénérescences (Tratado das Degenerescências), obra principal de Bénédict-Augustin Morel (1857), o conceito de degeneração era usado para indicar variações étnicas e raciais despidas de qualquer conotação patológica (Carrara, 1998, p.82). A idéia de degeneração em psiquiatria partia das premissas de que o homem é uma unidade a um só tempo física e moral e da crença na hereditariedade mórbida, que se referia tanto a caracteres físicos quanto morais (Idem, p. 83). Por mais que a idéia da predisposição hereditária já fosse popular entre os psiquiatras do século XIX, foi com Morel que ela passou a ser mais do que isto, engendrando verdadeiros tipos antropológicos detentores de organismos constitucionalmente e funcionalmente mal conformados (Idem, p. 83). Desta forma, Morel (...) imaginou um sistema classificatório em que todos os distúrbios mentais eram meras manifestações do substrato patológico de degeneração latente. (Harris, 1993, p. 63).

11 A construção teórica de Morel partia do princípio de que o homem havia sido criado à imagem e semelhança de Deus, portanto perfeito. Contudo, após o pecado original a humanidade iniciou a sua longa descida na espiral descendente da degeneração que a afastava cada vez mais da perfeição inicial, o que permite considerar Morel como um antievolucionista (quer em termos lamarkianos, quer em termos darwinistas), na melhor das hipóteses um escatologista (Dutra, 2002, p. 28; Carrara, 1998, p. 85). A importância da classificação psicopatológica de Morel para a psiquiatria foi o fato dela se pautar não mais pelos sintomas das afecções mentais, como o faziam as classificações anteriores, de Pinel e Esquirol, procurando critérios anatomopatológicos para a doença mental que não se restringiam à busca por lesões em seu sistema, mas consideravam-no enquanto caracterialmente mal formado: Lábios leporinos, dedos supranumerários, deformações cranianas, etc., parecem ter se transformado no pórtico através do qual a degeneração permitiu que a psiquiatria entrasse na comunhão das chamadas ciências positivas (Carrara, 1998, p. 89). É importante observar que o sucesso e a amplitude que a teoria da degeneração de Morel alcançou só foram possíveis devido à atmosfera propícia à aceitação de idéias neolamarkistas sobre fatores hereditários e a transformação das espécies (Harris, 1993, p. 70). Além disto, no tocante a este aspecto específico do evolucionismo a hereditariedade das características adquiridas o darwinismo britânico e o neolamarkismo francês estavam praticamente de acordo (Idem, p. 71), pois lhe conferiam uma grande importância, o que explica a boa acolhida da teoria da degeneração de Morel fora da própria França. Contudo, quanto ao postulado básico do evolucionismo darwinista, a seleção natural o neolamarkismo reagia violentamente, pois enfatizava (...) a idéia de Milne-Edwards sobre a divisão fisiológica de trabalho, a solidarité dos elementos constituintes do organismo e a capacidade que têm de se adaptar ao meio que solicita a atividade primordial (Harris, 1993, p. 72). Um elemento novo introduzido pelo conceito de degeneração é o de que ela estabelece uma gradação da normalidade à patologia, conquanto os degenerados fossem, independentemente de seu grau de degeneração, considerados alienados. A classificação das degenerações segundo Morel incluía quatro grupos:

12 1) primeiramente, viriam aqueles cuja loucura estaria simplesmente ligada ao temperamento nervoso dos genitores e que apresentavam apenas anomalias na esfera afetiva e intelectual. Neste grupo teriam lugar os excêntricos, os originais, os possuidores de uma idéia fixa, os portadores de problemas de caráter, com tendência marcada ao suicídio ou a atos insólitos e perigosos. Seriam, em suma, os impulsivos ; 2) num segundo grupo, colocar-se-iam aqueles com delírios do sentimento e dos atos, com conservação aparente da consciência, os que também eram denominados monomaníacos, loucos morais, perversos sexuais, etc.; 3) no terceiro grupo, estariam os indivíduos com tendência precoce para o mal, nos quais a loucura hereditária ou degeneração implicaria também um certo déficit intelectual. Segundo Morel, a presença de tais seres era mais comum nas prisões que nos asilos, não estando ainda bem marcado, nas palavras do psiquiatra, se seriam mais pertinentes à ciência ou ao direito criminal ; 4) finalmente, o quarto grupo seria formado pelos indivíduos mais profundamente degenerados e que, individualmente, testemunhavam o destino que a degeneração reservava a toada a espécie humana: são os cretinos, os imbecis e os idiotas. Tais indivíduos apresentariam em maior número e de forma bem caracterizada todos os estigmas físicos, fisiológicos e psíquicos da degeneração (Idem, p. 94). Os classificados nas três primeiras categorias seriam os chamados degenerados superiores, e os na última os degenerados inferiores. Nesta classificação é importante frisar que todos os degenerados superiores são relativamente perigosos e que na segunda categoria cabem bem os anteriormente diagnosticados como monomaníacos afetivos e instintivos, diferenciados da terceira categoria, os precocemente voltados para o mal, que parecem antever o criminoso nato de Lombroso, a ser formulado alguns anos após. Para Foucault, a abolição da loucura parcial, descrita conforme os procedimentos dissonantes de Falret e Morel desde o início desta seção, corresponde a uma das modificações teóricas que acompanha as modificações políticas do sistema de saber-poder médico-legal descritas no fim da seção anterior. A outra é a formulação do princípio de Baillarger, formulado entre 1845 e 1847, segundo o qual o eixo voluntário-involuntário será tomado como parâmetro para a doença mental, e não mais a presença de delírios (que podem ser causados por aquele) (Foucault, 2001, p ). A teoria da degeneração de Morel está visivelmente enquadrada neste princípio, bem como a classificação de Falret, de modo menos preciso, e parece indicar o caminho que será seguido pelo Homem Delinqüente de Lombroso (1876).

13 4. O último grande monstro o criminoso nato de Lombroso A idéia da criminalidade inata já estava germinando há tempos na Europa quando Lombroso deu forma a ela em fins do século XIX. Sendo assim, o criminoso nato não foi produto exclusivo do gênio de Lombroso, ele se deveu sim a todo um espírito de época, que nutria cada vez mais o otimismo crescente no futuro devido aos passos largos com os quais a ciência avançava. A descoberta da eletricidade, a invenção do telefone, os avanços da medicina, enfim, a crença no progresso da humanidade animava as mentes desta época de modo cada vez mais entusiástico. Todavia, em meio ao enlevo científico havia notícias denunciando uma onda crescente de crimes, se bem que devida mais ao surgimento da imprensa sensacionalista do que propriamente a estatísticas cientificamente confiáveis (Darmon, 1991, p. 84). O fato é que, mais do que nunca, a criminalidade se impunha como um fato a ser desvendado pela ciência positiva, levando ao extremo a tendência surgida à época da Revolução Francesa de se considerar o crime não mais como decorrente de uma patologia social, mas sim como produto da ação de pessoas doentes (Foucault, 2001, p. 114). A antropologia criminal fundada por Lombroso tomou para si este desafio da criminalidade à ciência e constituiu a chamada Escola Positivista de criminologia, que se opunha vigorosamente a seus antecessores por motivos que vale a pena precisar. Segundo o criminólogo crítico Alessandro Baratta foi com a escola positivista que a criminologia se afirmou como ciência autônoma 6, tendo como seu objeto o estudo das causas da criminalidade (Baratta, 1999, p ). Para este autor, há um ponto crucial em que a criminologia positivista diverge da posição dos reformadores, usualmente agrupados sob a designação de escola liberal clássica. A Escola Positivista não se ocupa do delito 7 6 O termo criminologia foi empregado pela primeira vez neste sentido por Garofalo, em 1890, não por Lombroso (Carrara, 1998, p. 101). 7 No português há uma tendência à criminalização das condutas, uma vez que não existe distinção entre os sentidos das palavras crime e delito, como há no Francês, entre outras línguas. Tal fato geralmente é ignorado quando se trabalha com a situação brasileira, mas deve ser considerado quando se trabalha com textos estrangeiros, pois em sua maior parte eles não consideram o delito como um ente jurídico, e sim uma contravenção menor.

14 enquanto ente jurídico como sua antecessora, mas do criminoso enquanto um indivíduo diferente (Baratta, 1999, p. 29). Um indivíduo cuja diferença o coloca fora da norma, tornando-o um anormal. Para a escola clássica, o delito enquanto comportamento era fruto do livre arbítrio do criminoso, uma ação racional dirigida para certos fins como quaisquer outras ações humanas, por isso não se apelava a causalidades patológicas para explicar o comportamento criminoso nem se atribuía uma natureza ao criminoso que permitisse considerá-lo diferente dos demais (Baratta, 1999, p. 31). Entretanto, este esquema dos reformadores não abarcava os crimes sem razão, conforme visto na segunda seção deste artigo, e é com base nesta lacuna que se pode visualizar o movimento teórico da psiquiatria no sentido de generalizar a loucura com base em sintomas cada vez mais localizados, até que reste apenas o próprio crime como sintoma, o que pode, então, torná-lo em si patológico. O elemento diferencial entre a loucura e a sanidade, entre a patologia e a normalidade é o princípio de Baillarger, proposto por Foucault e apresentado na última seção, na medida em que a ausência do livre arbítrio é a condição para que se possa encontrar determinações independentes da vontade do indivíduo criminoso para seus atos. A natureza do criminoso 8, aquilo que o torna diferente dos demais seres humanos é precisamente esta sua determinação involuntária, sua constituição viciosa, que oportunamente permite torná-lo objeto da ciência criminológica positivista. Conforme afirmado no início desta seção, havia um clima propício às idéias de Lombroso no fim do século XIX, evidente em formulações anteriores a dele, como as do anatomista Franz Josef Gall ( ), que foi um dos primeiros a defender que a pena deveria ser determinada em função do criminoso e não do delito. Além disso, Gall via a necessidade da existência de prisões que pudessem educar os educáveis e outras que 8 Segundo Foucault, uma das exigências do nascente exame quanto à criminalidade é a demonstração de que: O crime tem uma natureza e o criminoso é um ser natural caracterizado, no próprio nível da sua natureza, por sua criminalidade. Com isso, (...) é exigido, por essa economia do poder, um saber absolutamente novo, um saber de certo modo naturalista da criminalidade. Vai ser preciso fazer a história natural do criminoso como criminoso. (Foucault, 2001, p. 112). É exatamente uma apropriação naturalista do criminoso enquanto tal o que Lombroso realiza, como Carrara sustenta com base em declaração do próprio Lombroso no I Congresso de Antropologia Criminal, realizado em Roma em 1885: A nova concepção da antropologia criminal é o estudo natural do criminoso. (Carrara, 1998, p. 63).

15 servissem para a internação daqueles destinados ao crime por sua organização fisiológica viciosa (Darmon, 1991, p. 25), prenunciando, assim, a distinção entre criminosos ocasionais e criminosos natos a ser formulada por Lomobroso meio século mais tarde. Lombroso construiu a sua teoria com base em heranças como a de Gall e outros sábios de sua época, além de seguir de modo direto na esteira da teoria da degenerescência de Morel, acrescida do evolucionismo darwinista. Por certo, Lombroso não foi o único à sua época a descrever um tipo criminoso herdado destas teorias, os degeneradoshereditários de Magnan (Dutra, 2002, p. 31) eram muito similares aos criminosos natos de Lombroso, mas quis o bonde da história que a categoria menos precisa e mais espetaculosa de Lombroso fosse consagrada em lugar das demais. Ademais, Lombroso admite a similaridade do louco moral dos alienistas com seu criminoso nato (apud Darmon, 1991, p. 45), também denominado criminoso instintivo, que era (...) um subproduto do atavismo, o funesto fruto de uma espécie de seleção natural às avessas, um monstro híbrido aparentado ao homem e ao animal, portador de estigmas regressivos cujas raízes estariam perdidas num passado longínquo e obscuro (Darmon, 1991, p. 52). Este tipo regressivo, um verdadeiro fóssil vivo da barbárie no meio da civilização, não representava um tipo patológico para Lombroso, por espantoso que isso possa soar, pois ao contrário dos monomaníacos e dos degenerados, o criminoso nato pertencia ao domínio da teratologia e não da patologia no entender de Lombroso (Carrara, 1998, p. 106). Na classificação apresentada em O Homem Delinqüente Lombroso diferencia duas fontes para a criminalidade a anomalia orgânica inata e a anomalia orgânica adquirida, que mais tarde se tornariam no criminoso nato e criminoso ocasional, por força das críticas de caráter sociológico que o autor sofreu. Dentro da primeira e mais importante categoria, Lombroso identificava: 1) os epiléticos; 2) os loucos morais, incapazes de distinguir entre o bem e o mal, dentre os quais estariam os imbecis, os idiotas, os cretinos, os monomaníacos natos e os loucos atenuados; 3) os criminosos natos propriamente ditos, de todos os mais perigosos (Darmon, 1991, p. 56). Apesar das inúmeras críticas que recebeu, a teoria de Lombroso sustentou-se até o fim do século XIX graças aos esforços de Enrico Ferri para assimilar as críticas

16 sociológicas à obra de seu mestre. Mas, independentemente de sua curta duração, a antropologia criminal italiana constituiu o ápice de um processo que: De Pinel a Esquirol e de Morel a Lombroso foram justamente as conquistas da noção de irresponsabilidade que levaram a Escola Positivista a negar, numa fase de sistematização, a existência do livre arbítrio e a definir um novo sistema penal com base nesta negação (Idem, p ) Este novo sistema penal foi marcado pela orientação dos juízes de acordo com a temibilidade ou periculosidade manifesta por cada delinqüente, definida como (...) uma espécie de índice de criminalidade virtual ou índice pessoal de expectativa de realização de novos delitos (Carrara, 1998, p. 111), que deveria ser auferida por indicadores físicos e, sobretudo, psicológicos, marcando, deste modo, o entrincheiramento definitivo do discurso psi nos tribunais. Após o ocaso do criminoso nato por volta da Primeira Guerra Mundial, persistiu a noção de defesa social, inicialmente lançada pela escola positivista, mas que originou movimentos distintos com a fundação da Sociedade de Criminologia e de Defesa Social na França em 1913 e dos movimentos posteriores cuja descrição excede os fins deste trabalho. O desuso do conceito de criminoso nato, o último grande monstro da medicinalegal, marca o fim da desalienação da psiquiatria, que representa uma transformação crucial, pois agora a extensão e a generalidade do domínio psiquiátrico são máximas: Não há nada, finalmente, nas condutas do homem que não possa, de uma maneira ou de outra, ser interrogado psiquiatricamente graças a essa supressão do privilégio da loucura (...) graças a essa desalienação. (Foucault, 2001, p. 202). No momento em que deixa por completo as noções teratológicas, os monstros que construiu para se afirmar enquanto domínio de saber, a psiquiatria torna evidente a tensão sempre presente entre duas concepções de norma que a constituem: (...) a norma como regra de conduta e a norma como regularidade funcional; a norma que se opõe à irregularidade e à desordem, e a norma que se opõe ao patológico e ao mórbido (Foucault, 2001, p. 204). Através deste jogo duplo da norma, a psiquiatria deixa de ser apenas o domínio das patologias mentais para ser incorporada no mecanismo de poder do exame,

17 pois absolutamente todos são passíveis de se tornarem doentes ou desviantes, portanto passíveis de uma abordagem psiquiátrica. Nas palavras de Foucault: Em vez de encontrar em seu limite extremo, no recôndito raríssimo, excepcionalíssimo, monstruosíssimo da monomania, em vez de encontrar aí apenas o choque entre a desordem da natureza e a ordem da lei, a psiquiatria vai passar a ser, em seus embasamentos, inteiramente tramada por esse jogo entre as duas normas. Não será mais simplesmente nessa figura excepcional do monstro que o distúrbio da natureza vai perturbar e questionar o logo da lei. Será em toda parte, o tempo todo, até nas condutas mais ínfimas, mais comuns, mais cotidianas, no objeto mais familiar da psiquiatria, que esta encarará algo que terá, de um lado, estatuto de irregularidade em relação a uma norma e que deverá ter, ao mesmo tempo, estatuto de disfunção patológica em relação ao normal. (Idem, p ). Neste sentido pode-se concordar com Foucault na afirmação de que a psiquiatria se torna toda ela médico-judiciária (Idem, ibidem), pois neste ponto ela prescinde da própria patologia para codificar o perigo social dentro de seu domínio de saber 9. Com efeito, não há consenso sobre este papel político da psiquiatria antevisto por Foucault em suas formulações iniciais e generalizado para o criminoso nato de Lombroso, uma vez que este autor não é muito referido por Foucault 10. Além disso, neste artigo não será realizada uma análise detalhada sobre todas as transformações sofridas pelos diagnósticos médico-legais ao longo do século XX até que se chegasse ao conceito de psicopata nem serão feitas referências a concepções psicanalíticas sobre a passagem ao ato. No primeiro caso, julga-se que um mapeamento dos movimentos iniciais da psiquiatria, entendida como componente da articulação de saber-poder denominada exame, é suficiente para que se entenda o quadro de discussão da noção de psicopata na atualidade, discutido na próxima seção. Já em se tratando da psicanálise a opção deste trabalho por evitar a exposição de suas formulações sobre a passagem ao ato tem motivações teóricas. A primeira se trata da 9 Por mais que para Foucault a esquizofrenia seja herdeira do legado de Esquirol, deixado no início do século XIX quando a conceito de monomania permitiu classificar como doença toda uma série de perigos: (...) o perigo social será codificado, no interior da psiquiatria, como doença. Com isso, a psiquiatria poderá funcionar, de fato, como ciência médica relacionada à higiene pública. (Foucault, 2001, p. 149). 10 Uma das raras referências de Foucault a Lombroso atribui a sua teoria um papel eminentemente político na medida em que este autor compreendeu movimentos políticos como anarquismo e socialismo como sendo compostos, em sua maioria por criminosos natos (Foucault, 2001, p ).

18 teria psicanalítica não ter contribuições tão relevantes para a constituição do conceito de psicopata quanto os modelos clínicos do século XIX, a não ser que fossem consideradas as contribuições de Jacques Lacan em meados do século XX sobre a paranóia de auto-punição, opção descartada por este trabalho pelo fato dele não ser orientado pela teoria psicanalítica. A segunda razão consiste em um posicionamento teórico, calcado, sobretudo, em Michel Foucault, segundo o qual ao descrever a formulação do conceito de psicopata não se lhe atribui uma existência própria nem valor de verdade. Questionamentos sobre motivos pretensamente ocultos dos crimes sem razão e a existência ou não da psicopatia não estão entre os que este trabalho se propõe a realizar. De acordo com esta posição, a teoria psicanalítica não faz mais do que encontrar uma causalidade compreensível para a passagem ao ato em seu sistema de psiquismo humano seja ele concebido de modo mais ou menos determinista, de acordo com diferentes correntes psicanalíticas. Sendo assim, a psicanálise pode ser compreendida dentro da articulação de poder-saber do exame que serve para delinear como se forma o conceito de psicopata, ou seja, ela está no campo dos discursos psi, segundo os fins deste artigo e não é necessária uma explicitação de suas contribuições para que possa se levar a cabo os fins que o artigo se propõe a alcançar. 5. O psicopata americano O conceito de psicopata passou a ter maior notoriedade após meados da década de 50, quando casos de assassinatos decorrentes em doença mental (suposta ou constatada) começaram a se tornar notórios bem como começou a surgir com maior nitidez a categoria dos serial killers, psicopatas por excelência. A classificação das doenças mentais da American Psychiatric Association apresenta os então chamados distúrbios de personalidade sociopáticos como tendo as reações anti-sociais entre seus componentes, baseando-se em um critério estritamente sintomatológico para o seu diagnóstico (Pessotti, 1999, p ). Esta classificação data de 1952 e indica uma tendência de convenção internacional quanto à nomenclatura dos transtornos mentais que tem se intensificado nas duas últimas décadas como será visto adiante.

19 As classificações internacionais de transtornos mentais mais reconhecidas na atualidade são a décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), de 1992 e a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico: Distúrbios Mentais (DSM- IV), de A diferença crucial destas duas classificações para as anteriores se refere, primeiro, ao seu modo de elaboração, uma vez que as suas categorias de diagnóstico foram construídas de modo indutivo, partindo de observações clínicas sistemáticas, e não de uma concepção teórica qualquer de loucura que permitisse uma construção dedutiva de um esquema classificatório, como o fizeram a quase totalidade dos psiquiatras que elaboraram classificações precedentes. Segundo, ao seu emprego, uma vez que as categorias apresentadas nas duas classificações visam, em tese, a suprir a necessidade de critérios uniformes para o registro clínico-estatístico de doenças mentais, e esta função elas seguramente têm cumprido (Pessotti, 1999, p. 186). Contudo, na medida em que se propõe enquanto modelos ateóricos de classificação de doenças mentais, estas classificações são questionáveis, pois se resumem ao critério sintomatológico de diagnóstico com o objetivo de identificar afecções, em sua maior parte, de base biológica. Contudo, sem entrar nos méritos desta discussão, o maior problema no tocante ao diagnóstico específico de Transtorno Anti-Social de Personalidade (TASP), definido no DSM-IV e equivalente à concepção popularizada de psicopata, refere-se ao seu emprego, de uso jurídico corrente em casos onde não há uma razão evidente para o(s) crime(s) cometido(s). Se o objetivo destas classificações diagnósticas internacionais é estabelecer uma uniformidade relativa para os critérios de diagnóstico de transtornos mentais, seguramente não é adequado que elas sejam utilizadas apenas como manuais de classificação, como correntemente se verifica no sistema penal brasileiro (Neto, 2001).

20 Bibliografia: BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito penal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos: Instituto Carioca de Criminologia, BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma Sociologia Reflexiva. In: O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, CARRARA, Sérgio. Crime e Loucura: o aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século. Rio de Janeiro: EdUERJ; São Paulo: EDUSP, 1998 DARMON, Pierre. Médicos e Assassinos na Belle Époche. Rio de Janeiro: Paz e Terra, DUTRA, Maria Cristina Bechelany. As relações entre psicose e periculosidade: contribuições clínicas da concepção psicanalítica da passagem ao ato. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Fumec, 2002.

21 FOUCAULT, Michel. La Vida de los Hombres Infames. Buenos Aires: Editorial Altamira, Vigiar e Punir. 21 ed. Petrópolis: Vozes, A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000a.. Nietzsche, a genealogia e a história. In: Microfísica do Poder. 15 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2000b.. Os Anormais. São Paulo: Martins Fontes, HARRIS, Ruth. Assassinato e Loucura: medicina, leis e sociedade no fin de siècle. Rio de Janeiro: Renovar, LENOIR, Remi. Objeto Sociológico e Problema Social. In: MERLLIÉ, Dominique et alli. Iniciação à Prática Sociológica. Petrópolis: Vozes, PESSOTTI, Isaias. Os Nomes da Loucura. Rio de Janeiro: Ed. 34, TAVARES DOS SANTOS, José Vicente. A Aventura Sociológica na Contemporaneidade. In: Cadernos de Sociologia. Número Especial (1995). Porto Alegre: PPGS/UFRGS, 1995.

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