Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas Gabinete do Desembargador Sabino da Silva Marques
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- Neuza Morais Sanches
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1 fls. 99 Primeira Câmara Criminal Habeas Corpus Processo nº Impetrante: Antonio Adalberto Magalhães Martins Paciente: Hamilton Alves Villar Advogado: Dr. Antonio Adalberto Magalhães Martins Impetrado: Juízo de Direito da Comarca de Careiro Procurador de Justiça: Dr. Carlos Lélio Lauria Ferreira EMENTA: HABEAS CORPUS PREVENTIVO. INEXISTÊNCIA DE FUNDADO RECEIO DA RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA ORDEM. I - Quando se trata de habeas corpus preventivo, como é o caso dos autos, deve estar caracterizada a premência de sofrer uma violência ou coação na sua liberdade de locomoção seja por ilegalidade seja abuso de poder. II Ordem denegada. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , em epígrafe, ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores que compõem a Primeira Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, por unanimidade, em consonância com o parecer do Graduado Órgão do Ministério Público, denego a ordem cassando a medida liminar anteriormente concedida, nos termos do voto do relator que passa a integrar o presente. PUBLIQUE-SE. Sala das Sessões da Primeira Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, em Manaus/AM, data do sistema. PÁGINA 1 DE 6 Desembargador Presidente Sabino da Silva Marques Desembargador Relator
2 fls Relatório Trata-se de Habeas Corpus Preventivo, com liminar (inaudita altera pars) impetrado por Antônio Adalberto Magalhães Martins, Advogado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Amazonas - nº , em favor de Hamilton Alves Villar, indicando como autoridade coatora o Juízo de Direito da Vara Única da Comarca do Careiro Amazonas Relata que existe hoje um fato corrente na cidade que a autoridade coatora, manifestou em variadas situações que irá mandar prender o Ex-Prefeito Hamilton Alves Vilar, ora paciente, assim que o mesmo perder o foro privilegiado, pois este era Prefeito Municipal do município de Careiro, onde a autoridade coatora é a juíza da Vara única Comarca da municipalidade Relata ainda que apesar de hoje não existir inquérito, processo ou acusação ao prefeito que ele tenha tomado conhecimento, a juíza tomou variadas medidas durante a campanha eleitoral ao qual o impetrante concorreu e foi vencido com a efetiva participação da juíza no pleito, conforme pode ser comprovado por uma gravação, degravação em anexo, em que a juíza, no dia anterior a realização do pleito, se manifestou acerca da situação de pendência de julgamento do registro da candidatura do impetrante deixando claro para as pessoas não votarem no impetrante Acrescenta que, além desta situação a magistrada realizou diversas buscas em residências de correligionários da campanha, vereadores, advogados, e outras pessoas com ligações familiares com o impetrante à época candidato, com o fito de desqualificar e prejudicar a companha do impetrante, resultado este que foi efetivado com a derrota do mesmo no pleito realizado em 02 de outubro do ano findo de Assevera que mais recentemente durante o período de 20 de dezembro até 29 de dezembro de 2016, a perseguição continuou com atos que visavam prejudicar a atuação do impetrante como a concessão de tutela antecipada de bloqueio de valores da prefeitura primeiramente no dia 21/12/2016, realizada mediante um pedido do prefeito eleito que não possuía legitimidade para tal ação, e ainda sob o argumento de não pagamento de folhas salariais que a magistrada sabia que já tinham sido pagas Segue dizendo que esses valores bloqueados se destinariam a conclusão dos pagamentos da segunda parcela do decimo e dos pagamentos do mês de dezembro que deveriam ser pagos até o dia 28 do mês, portanto os pagamentos definitivamente não estavam com atraso que justificassem a intervenção da magistrada. Esta ação de bloqueio da magistrada foi suspensa por decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas, que identificou irregularidades na sua concessão e mandou desbloquear os valores Após isto, em 28/12/2016, deliberando em uma ação patrocinada novamente pelo prefeito eleito e sem legitimidade, protocolada as 15:09 horas, manifestou-se no mesmo sentido de bloquear às contas da Fazenda Pública Municipal de Careiro/AM, bloqueio este que fora concedido às 16:52, portando menos de duas PÁGINA 2 DE 6
3 fls. 101 horas após a mesma ser ajuizada, tela em anexo, decisão esta novamente teratológica e objeto de agravo da Prefeitura Municipal tendo sido novamente suspensa Ressalta que é também voz corrente na cidade que a magistrada reuniu-se por diversas vezes com o prefeito eleito que patrocinou as ações de bloqueio concedidos pela mesma, e que esta encontra-se profundamente irritada com os desbloqueios ocorridos, e que inclusive verbera a possibilidade de ordenar prisões em face de alguns advogados e parentes ligados ao paciente, reafirmando as ameaças anteriormente ocorridas, demonstrando total parcialidade nos seus atos Diz mais que outro fato que demonstra claramente as intenções direcionadas ao impetrante por parte da magistrada é o descumprimento de decisão do Tribunal de Justiça pois mesmo tendo sido notificada da decisão, somente realizou o desbloqueio ordenado pelo Tribunal de Justiça no dia 28/12/2016, quando a decisão tinha sido proferida em 25/12/16 e comunicada ao Juízo em 26/12/ Alega que os fatos mencionados acima são demonstrativos da evidência, de que o justo receio se encontra presente, não fosse assim, não iria cogitar da medida, principalmente porque: a) Trata-se de um ex prefeito do município do Careiro que acaba de perder o foro privilegiado inerente ao cargo ocupado e que passa a ficar a mercê das investidas da magistrada, mesmo estando ciente que não existe nenhum procedimento judicial de seu conhecimento; b) Consta da ilibada conduta, primariedade, sem antecedentes, conforme pode-se comprovar pela juntada das inclusa certidão de ações criminais Argumenta que pela descrição dos fatos a medida protetiva é cabível face a reiterada prática do juízo do Careiro caracterizando uma perseguição injusta e que em razão dos poderes da autoridade coatora poderá redundar em um cerceamento de liberdade do paciente, podendo criar em razão do cargo ocupado nos últimos quatro anos de possíveis alegações de existência de crime e de indícios mínimos de autoria, ainda que não se tenha apontado caracteres nesse sentido, nem exista processo em andamento, de forma a subsidiar o fumus boni iuris ou fumus delicti, este, por si só não está apto a servir de sustentação para a decretação de custódia cautelar, pois como se disse antes, deverá haver conjugação entre os chamados requisitos e pelo menos um dos pressupostos apresentados no art.312, do CPP Requer, ao final, seja concedido liminarmente o pedido de ordem de habeas corpus preventivo, tomando-se por base a relevância dos fundamentos apresentados, bem como a urgência do pleito, em razão da desnecessidade da custódia cautelar, expedindo-se o competente SALVO CONDUTO, vez que estão preenchidos o periculum in mora e do fumus boni iuris. Após o processamento, seja concedida em definitivo a ordem A ação constitucional em foco, foi impetrada em sede de Plantão Judicial do Segundo Grau, tendo, o E. Desembargador Ari Jorge Moutinho da Costa concedido a medida liminar, sendo expedido respectivo Salvo Conduto (fls. 29/34) Distribuídos os autos, a relatoria recaiu na pessoa da E. Desembargadora Carla Maria Santos dos Reis que requisitou informações da PÁGINA 3 DE 6
4 fls. 102 autoridade apontada como coatora e, após, ordenou o encaminhamento para o Graduado Órgão do Ministério Público A MMª. Juíza de Direito, apontada como autoridade coatora, apresentou as informações, fls. 46/ Instado a se manifestar, o Graduado Órgão do Ministério Público opinou pela denegação da ordem Após regular inclusão em pauta, o impetrante juntou nova documentação que, após apreciação e, tratando-se de situação de caráter preventivo, entendi que merecia nova vista ao Graduado Órgão do Ministério Público, razão pela qual retirei o feito de pauta Os autos seguiram com nova vista ao Graduado Órgão do Ministério Público que considerando a ausência de fundado receio de que o Paciente possa vir a sofrer coação ilegal ao seu direito de ir, vir e ficar, e inexistindo qualquer alteração fática a mudar a situação já analisada, ratificou o Parecer n , razão pela qual promovo pelo conhecimento do writ, e, no mérito, pela denegação. PÁGINA 4 DE É o relatório, passo ao voto. 02. VOTO Trata-se, de Habeas Corpus Preventivo, com pedido de liminar impetrado por Antônio Adalberto Magalhães Martins, Advogado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Amazonas - nº , em favor de Hamilton Alves Villar, indicando como autoridade coatora o Juízo de Direito da Vara Única da Comarca de Careiro Amazonas Sabe-se que o habeas corpus, enquanto garantia fundamental do nosso Estado de Direito está previsto constitucionalmente no art. 5., inciso LXVIII, da Constituição, nos seguintes termos conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder Sobre a temática do habeas corpus Dirley da Cunha Júnior, citado por Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar ensina que é uma ação constitucional de natureza penal destinada especificamente à proteção da liberdade de locomoção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de poder. (in: Curso de Direito Processual Penal. Salvador: JusPODIVM, p. 1574) E continua lecionando que: A Constituição do Brasil de 1988 prevê o habeas corpus como garantia fundamental, afirmando que será ele concedido "sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (art. 5º, LXVIII). O habeas corpus pode ser impetrado, então, em caráter preventivo ou repressivo (liberatório). Preventivamente será
5 fls. 103 ajuizado quando o cerceio de liberdade estiver em vias de se concretizar. Repressivamente, quando a violação da liberdade de locomoção já tiver se concretizado. ( Ibidem. P.1576) Quando se trata de habeas corpus preventivo ou suspensivo, como é o caso dos autos, deve estar caracterizada a premência de sofrer uma violência ou coação na sua liberdade de locomoção seja por ilegalidade seja abuso de poder. Nesse sentido: PÁGINA 5 DE 6 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. INVESTIGAÇÕES PELA PRÁTICA DE CRIMES TRIBUTÁRIOS E ECONÔMICOS. PRETENDIDA EXPEDIÇÃO DE SALVO-CONDUTO VISANDO IMPEDIR A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. INQUÉRITO AINDA NÃO ENCERRADO. INEXISTÊNCIA DE NOTÍCIA DE REPRESENTAÇÃO PELA SEGREGAÇÃO PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE AMEAÇA CONCRETA AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO. INCABIMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL PARA O FIM PRETENDIDO. ARESTO RECORRIDO ACERTADO. RECLAMO IMPROVIDO. 1. Somente é cabível o habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de ofensa à liberdade de locomoção iminente. 2. A mera suposição, sem indicativo fático, de que a prisão poderá ser determinada, não constitui ameaça concreta à liberdade de locomoção, capaz de justificar o manejo de habeas corpus para o fim pretendido. 3. Inviável utilizar o remédio constitucional para obstar eventuais ilegalidades ou constrangimentos ainda não acontecidos e sem comprovação (fundado receio) de que realmente ocorrerão, concedendo-se ao paciente, ora recorrente, em caráter definitivo e permanente, salvo-conduto relativamente a inquérito que ainda não findou ou mesmo a ação penal, ainda não deflagrada. 4. Situações posteriores podem vir a ocorrer que justifiquem a segregação cautelar, nos termos do art. 312 do CPP, ou mesmo a imposição de medidas diversas, previstas no art. 319 do CPP. 5. Recurso ordinário improvido (STJ, RHC / MA, Quinta Turma: Desembargador Convocado: Leopoldo de Arruda Raposo, DJe 17/08/2015). RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRETENDIDA EXPEDIÇÃO DE SALVO-CONDUTO PARA GARANTIR AOS RECORRENTES O EXERCÍCIO DO DIREITO À MANIFESTAÇÃO SEM SER PRESO OU SOFRER REVISTA PESSOAL FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS. AUSÊNCIA DE AMEAÇA CONCRETA AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO. DESCABIMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL PARA O FIM POSTULADO. RECURSO IMPROVIDO. 1. Somente é cabível o habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de ofensa à liberdade de locomoção iminente. 2. Inviável utilizar o habeas corpus para obstar eventuais ilegalidades ou constrangimentos ainda não acontecidos e sem comprovação (fundado receio) de que realmente ocorrerão, sobretudo quando se
6 fls. 104 postula expedição de salvo-conduto para assegurar o exercício de direitos que já estão protegidos constitucionalmente. 3. A mera suposição, sem indicativo fático, de que a prisão poderá ser determinada, não constitui ameaça concreta à liberdade de locomoção, capaz de justificar o manejo de habeas corpus para o fim pretendido. 4. Recurso improvido. (STJ,RHC 46458/SP. Quinta Turma: DJe 19/08/2015) Como se percebe, para que seja concedido o Salvo Conduto deve se fazer presente um fundado receio de ofensa a liberdade de locomoção. No caso dos autos, observa-se que não foram trazidos elementos que demonstrem essa situação, o deferimento ou indeferimentos de medidas no âmbito da Justiça Eleitoral ou da Justiça Comum em seu desfavor não são suficientes para demonstrar que haverá prisão do paciente Acrescente-se que, o impetrante relata na peça inicial que existe hoje um fato corrente na cidade que a autoridade coatora acima qualificada, manifestou em variadas situações que irá mandar prender o Ex-Prefeito Hamilton Alves Vilar, ora paciente, assim que o mesmo perder o foro privilegiado, pois este era Prefeito Municipal do município de Careiro, onde a autoridade coatora é a juíza da única Comarca da municipalidade. Estas manifestações podem ser comprovadas pelas testemunhas que iremos arrolar neste processo Em seguida afirma que desconhece existir qualquer Inquérito Policial ou mesmo processo contra a sua pessoa, entretanto, como se vê nada trouxe de concreto para demonstrar a existência de fundado receio na restrição de sua liberdade de ir e vir, trata-se apenas de meras conjecturas que não restaram comprovadas de plano Ante o exposto, em consonância com o parecer do Graduado Órgão do Ministério Público, denego a ordem cassando a medida liminar anteriormente concedida, comunicando-se, imediatamente, ao juízo competente o inteiro teor dessa decisão. PÁGINA 6 DE É como voto. Manaus, data do sistema. Sabino da Silva Marques Relator assinado digitalmente
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