: MIN. MARCO AURÉLIO DECISÃO

Transcrição

1 MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA MATO GROSSO RELATOR AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) ADV.(A/S) : MIN. MARCO AURÉLIO :ESTADO DE MATO GROSSO :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO :UNIÃO :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO DECISÃO SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO GOVERNO FEDERAL E CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIOS INSCRIÇÃO DE UNIDADE DA FEDERAÇÃO AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL LIMINAR DEFERIDA. 1. O Gabinete prestou as seguintes informações: Esta ação cível originária foi ajuizada, com fundamento no artigo 102, inciso I, alínea f, do Diploma Maior, pelo Estado de Mato Grosso contra a União e a Caixa Econômica Federal, com pedido de antecipação de tutela, visando retirar a restrição alusiva ao ente público do Cadastro Único de Convênios CAUC e do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal SIAFI, referente ao Contrato de Repasse nº

2 /2005, até o exame definitivo do processo. Ao final, busca a confirmação da liminar com o levantamento do óbice cadastral até a instauração e o julgamento de tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. O autor relata haver celebrado com a União, em 11 de agosto de 2005, o citado contrato de repasse, intermediado pela Caixa Econômica Federal, tendo por objeto o apoio à implantação e ampliação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários em municípios com população superior a 30 mil habitantes sistemas de esgotos sanitários Cáceres/MT. Refere-se à assinatura de diversos aditamentos, prorrogando-se a vigência do ajuste até 31 de julho de Consoante sustenta, em 18 de setembro de 2006, foi firmado entre a Secretaria de Estado de Infraestrutura SINFRA/MT e a empresa CONCREMAX Concreto, Engenharia e Saneamento Ltda. o Contrato nº 324/2006, visando implementar a execução da obra de infraestrutura urbana objeto do mencionado repasse. Anota a formalização, no decorrer dos anos, de diversos aditivos contratuais, atinentes tanto ao valor atualmente de R$ ,74 (dois milhões, quatorze mil, trezentos e quinze reais e setenta e quatro centavos), com saldo de R$ ,30 (duzentos e vinte e sete mil, quinhentos e quarenta e sete reais e trinta centavos) a ser liquidado quanto ao prazo de vigência previsto até 2 de janeiro de Em razão do período chuvoso, informa ter sido determinada, em 10 de outubro de 2012, a paralisação dos serviços, de modo que, reiniciada a contagem, a empresa ainda dispõe de sessenta dias para a conclusão do serviço. Sem que expirada a validade do contrato de repasse, a ocorrer em 31 de julho de 2013, narra ter o Superintendente Regional da Caixa Econômica Federal em Mato Grosso expedido notificação ao Secretário de Estado das Cidades, em 20 de março de 2013, estabelecendo o recolhimento de R$ 2

3 ,25 (seiscentos e sessenta e seis mil, duzentos e quarenta e dois reais e vinte e cinco centavos) aos cofres públicos da União, em trinta dias, atualizados monetariamente até a data do depósito e acrescido, se fosse o caso, dos rendimentos da aplicação financeira. Na hipótese de não ser efetuado o pagamento, alertou-se para a instauração de processo de tomada de contas especial, nos termos da Instrução Normativa/STN/MF nº 01/97 e da Instrução Normativa TCU nº 35/00, para análise, certificação das contas e posterior envio ao Tribunal de Contas da União, para julgamento, podendo ser providenciada a inclusão do débito no Cadastro Informativo de créditos não quitados no Setor Público Federal (CADIN), [...] após o trânsito em julgado do processo. Ressalta terem as rés inscrito o nome do autor no CAUC e no SIAFI antes da instauração da tomada de contas especial, causando-lhe prejuízos e impedindo-o de ultimar convênios e contratos de empréstimo, notadamente para financiar as obras de mobilidade urbana preparatórias e indispensáveis para que Cuiabá receba a Copa do Mundo de Defende não estar em jogo o mérito da prestação de contas do contrato de repasse, mas apenas a inscrição nos mencionados cadastros públicos. Sustenta violação aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Conforme frisa, o processo administrativo de tomada de contas especial sequer foi iniciado em virtude de o prazo de vigência do contrato de repasse, a ocorrer em 31 de julho de 2013, ainda não ter findado. Enquanto não principiada e julgada a tomada de contas, entende impossível identificar-se o responsável por eventual lesão ao erário. Dessa forma, alega a inconstitucionalidade do lançamento da restrição no nome do ente federado. 3

4 Aponta estar a matéria legitimidade da inscrição no SIAFI antes do julgamento de tomada de contas especial submetida ao regime da repercussão geral no âmbito do Recurso Extraordinário nº /PI, relatora ministra Rosa Weber, consistindo no Tema nº 327. Cita jurisprudência do Supremo no sentido da impossibilidade de restringir-se direitos dos poderes regionais sem o necessário respeito ao devido processo legal. Diz impróprio atribuir-lhe qualquer demora na instauração da tomada de contas, uma vez que se cuida de ato da competência da autoridade convenente, além de o contrato de repasse ainda não ter chegado a termo. Por fim, articula com ofensa ao princípio da proporcionalidade em sentido estrito. Entende que a inclusão da restrição constitui meio gravoso, considerada a impossibilidade de se antever o resultado de eventual julgamento formalizado no processo administrativo de tomada de contas. Sob o ângulo do risco, enfatiza o prejuízo quanto à celebração de convênios, recebimento de repasses voluntários e contratação de empréstimos. Anoto que, na autuação, consta apenas a União como ré. O processo está concluso para apreciação da medida acauteladora. 2. Noto a indevida inclusão da Caixa Econômica Federal no polo passivo da demanda. Conforme se verifica da inicial, a inscrição nos cadastros de inadimplência decorre do suposto descumprimento de obrigações pactuadas entre União e estado-membro. A relação jurídica controvertida se dá apenas entre os entes políticos, tendo a empresa pública papel de agente operador, como revela o instrumento de 4

5 repasse juntado ao processo. Com efeito, nos termos do artigo 2º, alínea i, do Decreto-Lei nº 759/69, introduzido pelo Decreto-Lei nº 1.259/73, norma que autorizou a instituição da Caixa Econômica Federal, cabe ao ente realizar, na qualidade de Agente do Governo Federal, por conta e ordem deste, e sob a supervisão do Conselho Monetário Nacional, quaisquer operações ou serviços nos mercados financeiro e de capitais, que lhe forem delegados, mediante convênio. Dessa forma, reconheço a ilegitimidade passiva da empresa pública, extinguindo o processo, em relação a ela, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil. No mais, a inserção de unidade da Federação no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal SIAF e no Cadastro Único de Convênios CAUC, como inadimplente, consubstancia ato que implica consequências gravosas para o ente público, entre as quais a proibição de recebimento de transferências voluntárias da União. Logo, há de observar as garantias constitucionais do devido processo legal, em especial a do contraditório e da ampla defesa. É tempo de atentar para os reiterados pronunciamentos do Supremo nesse sentido, implementando a glosa na espécie. 3. Consertem a autuação, expungindo da relação processual a Caixa Econômica Federal CEF. 4. Defiro a liminar pretendida, afastando a eficácia do lançamento da restrição em nome do Estado de Mato Grosso no Cadastro Único de Convênios CAUC e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal SIAFI em decorrência do Contrato de Repasse nº /2005, até que iniciada e julgada eventual tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. 5

6 5. Ao Plenário, para submissão desta medida. 6. Citem a União. 7. Vindo ao processo a manifestação, colham o parecer da Procuradoria Geral da República. 8. Publiquem. Brasília residência, 30 de maio de Ministro MARCO AURÉLIO Relator 6