Roteiro dos 25 anos... Saiba mais
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- Aníbal Barreto Ferrão
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1 Roteiro dos 25 anos... Saiba mais Dois grandes eventos agitam a cidade de Brasília neste mês de maio. Para debater sobre liberdade de imprensa e de expressão em nosso País, parlamentares, ministros do Supremo Tribunal Federal, juristas, jornalistas, acadêmicos e profissionais do mercado de comunicação participam da 8ª Conferência Legislativa, marcada para o dia 14 de maio. E desde o dia 7 de maio é possível visitar a exposição A Carta da Liberdade 25 anos da Constituição na ótica da Liberdade de Expressão, que permanecerá no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados até o dia 23 de maio. CONSTITUIÇÃO CIDADÃ 25 ANOS Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Constituição de 1988, Dos princípios fundamentais, artigo 1º. Repito: essa será a Constituição cidadã, porque recuperará como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria. Deputado Ulysses Guimarães, presidente do Congresso Constituinte A CARTA DA LIBERDADE Foi em 5 de outubro de Eram 15h38 de quarta feira, um ameno dia de primavera, quando o Congresso Constituinte, em sessão solene, anunciou a promulgação da nova Carta Federal, logo batizada com o nome de Constituição Cidadã, inaugurando regime de liberdades públicas sem paralelo na história brasileira. Estava encerrada a ditadura militar, imposta à nação desde 31 de março de 1964, e com ela a longa noite da censura e do cerceamento da liberdade de expressão. O País, então com 140 milhões de habitantes, nascia para uma nova e realizadora era de democracia. Para assinalar e realçar os 25 anos que nos separam daquela data memorável, o Instituto Palavra Aberta organiza esta Exposição nos corredores do Congresso, com a síntese das conquistas do período, expressas nos temas liberdade de imprensa, liberdade de expressão e liberdade de empreender. Presentes no cotidiano, protegida das sombras de qualquer censura de natureza política, ideológica e artística graças à prática do Artigo 5º da Constituição, tornou se terreno fértil
2 para o desenvolvimento econômico, a crescente inclusão social e, sobretudo, a livre circulação da informação, o ponto de partida e de chegada do pleno exercício da cidadania. CAI A CENSURA, NASCE O DIÁLOGO É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença (...) É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Constituição de Para elaborar a Constituição Cidadã, 69 milhões de eleitores foram às urnas em novembro de 1986 para eleger o Congresso Constituinte que funcionou de 1º de fevereiro de 1987 a 5 de outubro de Reuniu 559 parlamentares, entre eles 487 deputados e 72 senadores, sob a presidência do deputado Ulysses Guimarães. Ao todo, foram 18 meses de debates para elaboração do texto constitucional, aprovado na madrugada de 2 de setembro de 1988, mas desde o início marcado por um ambiente de viva mobilização da sociedade. Das sete constituições brasileiras 2, foi a única movida pela força da liberdade e que ampliou, em lugar de reduzir, direitos do povo. Por longas duas décadas o Brasil viveu sob o signo da censura. Com o pretexto da segurança nacional, os pilares da democracia foram sendo demolidos um após outro: o direito de escolha dos governantes, o direito de reunião, o direito de habeas corpus, o direito de liberdade política, o direito à liberdade de expressão e, sobretudo, o direito à informação. Uma vasta e poderosa rede de censores foi criada com o propósito exclusivo de monitorar jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, além da criação musical, teatral e a literatura. A relação crítica sociedade governo que alimenta e renova a cidadania dissipou se. Com ela, a nossa sociedade, diversa e livre por formação e cultura, tornou se fechada e silenciosa. O quadro agravou se com o Ato Institucional Número 5, o AI 5, que ampliou os poderes do regime. O Congresso foi fechado, as liberdades individuais suspensas e a censura 1 Art. 5º, inciso IX ; art. 220, 2º. 2 Das Cartas, quatro foram aprovadas por Assembleias Constituintes, duas foram impostas - uma por D. Pedro I e outra por Getúlio Vargas - e uma ratificada pelo Congresso por exigência do regime militar. Eis as datas: 1ª 1824, Brasil Império (outorgada); 2ª 1891, Brasil República (promulgada); 3ª, começo da Era Vargas, 1934 (promulgada); 4ª 1937, ditadura do Estado Novo (outorgada); 5ª, 1946, restauração de eleições diretas(promulgada); 6ª 1967, Regime Militar (outorgada, com emenda de 1969, também outorgada, imposta à nação pelo Ato Institucional de número 5). 7ª 1988 (promulgada).
3 intensificou se, com a presença de censores nas redações, a apreensão de edições de jornais e revistas, a proibição de filmes e toda uma gama de manifestações artísticas. Censurava se da simples divulgação de um impasse na política econômica a um surto de meningite. Falar de prisões arbitrárias e de censura estava definitivamente censurado. O diálogo foi banido de cena. A Constituição de 1988 foi a resposta da sociedade à expropriação da liberdade. 3 O Brasil da democracia começou a nascer em 1985 com a eleição indireta, pelo chamado Colégio Eleitoral, de Tancredo Neves para a presidência da República. Como o presidente eleito morreu antes da posse, o vice presidente, José Sarney, assumiu em seu lugar. Pela primeira vez desde 1964, um civil exercia a presidência da República. O Congresso voltava a ter voz e derrotara o candidato do partido situacionista. Para democratizar o Brasil e livrá lo do chamado entulho autoritário faltava a base legal de uma Constituição legitima para substituir a Constituição outorgada de 1967, tornada ainda mais autoritária com o AI 5, e restaurar as eleições diretas para a Presidência da República. Estava nascendo a nova República. A censura ruía, a liberdade ganhava as ruas. A palavra de ordem era simples e objetiva: Diretas já. Pacíficas, as manifestações eram colossais. Contava se os participantes aos milhões, de um extremo a outro do País. Assistia se a emergência de uma cultura participativa de massas que rompia o silêncio e enraizavase na vida real. O CONGRESSO CONSTITUINTE Foi a sociedade, mobilizada nos colossais comícios das Diretas Já, que, pela transição e pela mudança, derrotou o Estado usurpador. Termino com as palavras com que comecei esta fala: a Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja nosso grito. Ulysses Guimarães O grito das ruas foi ouvido. Empossado o Presidente José Sarney, o primeiro passo do Congresso foi a aprovação da Emenda Constitucional nº 25, de 15 de maio de Restabeleceu eleições diretas para a Presidência da República e para as Prefeituras dos Municípios 3 No mesmo dia em que a nova Constituição entrou em vigor foi abolida a censura às redes de televisão. A geografia dos limites passava a ser delimitada pela responsabilidade e sensibilidade. Não mais pela Divisão de Censura da Polícia Federal.
4 considerados áreas de segurança nacional, instituiu a liberdade de organização partidária e concedeu representação política ao Distrito Federal no Senado e na Câmara. O passo decisivo veio com a Emenda Constitucional nº 26, de 27 de novembro de 1985, que convocava a Constituinte encarregada de elaborar a nova Constituição brasileira. As eleições para a Constituinte realizaram se em 15 de novembro de 1986 com a participação de nada menos que 30 partidos. Logo que se instalou, a Constituinte aprovou seu Regimento Interno assim dispondo (art. 13, 11): Às Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores e aos Tribunais, bem como às entidades representativas da sociedade, fica facultada a apresentação de sugestões contendo matéria constitucional, que serão remetidas pelo Presidente da Assembleia às respectivas Comissões. Dessa forma, também pela primeira vez na história brasileira, uma Constituinte mostrava se disposta a acolher o que logo foi chamado de emendas populares. E, de fato, foram apreciadas e votadas 122 emendas populares, colhendo se, no total 12 milhões de assinaturas. O Brasil que gritava por liberdade nas ruas, agora se manifestava na Constituinte que, agora, mediava as relações entre os cidadãos e a futura Carta Magna. Moldava a Constituição de 1988 com a emoção da participação direta e intensa da sociedade. O Congresso havia se transformado no centro da vida nacional e a cada dia milhares de pessoas, muitas em grupos organizados, outras individualmente, transitavam por seus corredores com vontade de mudar o país. Havia esperança e a esperança concretizou se. Foi a participação da sociedade que levou a atual Carta Magna a ser destacada na história como Constituição Cidadã. LIBERDADE E DESENVOLVIMENTO A nação nos mandou executar um serviço. Nós o fizemos com amor, aplicação e sem medos. Ulysses Guimarães Passados duas décadas e cinco anos da promulgação da Constituição de 1988, período em que o país tem aprendido a conviver com a diferença e a diversidade cultural, colocando a liberdade de expressão e de informação como direitos essenciais à vida 4, o papel da Exposição, hoje 4 Em 2009, o Supremo Tribunal Federal revogou oficialmente a Lei de Imprensa, em vigor desde 9 de fevereiro de Inspirado na Constituição de 1988, que proíbe qualquer tipo de censura, baniu para a lixeira da história, por incompatibilidade com a democracia, todo e qualquer vestígio de intervenção reguladora ou ameaça à livre expressão da manifestação do pensamento e de informação. Estava
5 aberta ao público, é dar forma ao futuro. Hoje, relembrar ou conhecer aqueles tempos primeiros da Constituinte é uma necessidade incontornável para o cidadão. Devido ao seu significado histórico, torna se referência para uma cultura democrática de massa e mundializada que torna o País inteiro visível nas suas grandezas e contradições, mas unido pela argamassa legal dos princípios da igualdade política, independente de colorações ideológicas, e de uma sociedade, também legalmente, livre de preconceitos, sejam de origem, raça, sexo, cor ou idade. Com a Constituição de 1988, a vida mudou. As eleições diretas dos governantes, com alternância no poder, se tornou uma rotina. Como também se tornou rotina a cultura, ainda em formação, da convivência com ideias opostas e a livre circulação da informação, indispensável para a formação de uma sociedade democrática e, acima de tudo, para a possibilidade de decisão de um povo. 5 Porque, afinal, a liberdade não é apenas da imprensa, mas da sociedade. Não existem exemplos de imprensa livre em sociedades fechadas. Toda essa galeria de retratos está presente aqui no corredor do Congresso, aos olhos da multidão, gente que espelha o diálogo e conflito, a contradição e o entendimento próprios da democracia. Os quadros de Walter Nomura mais do que a história que ficou para trás ao lado do presente que se adensa no cotidiano, projeta uma visão construtiva de futuro. Seu traço distintivo é o conteúdo humano, a linguagem poética, a estética da participação cidadã a favor desse bem maior que é a liberdade. Liberdade de associação e liberdade de opinião política. Liberdade para falar, liberdade para se informar, liberdade para empreender. consagrado o fundamento de que no universo democrático a imprensa precisa ser independente e refletir a liberdade de expressão e iniciativa. 5 Segundo a ordem natural da democracia, entrou em vigor, no dia 16 de maio de 2012, a lei de acesso à informação pública. Sem precedentes na história, garantida pelos artigos 5º e 37 da Constituição de 1988, determina que os órgãos públicos brasileiros, respondam, num curto período de tempo, a todas as solicitações recebidas por parte da sociedade. O direito à informação transbordava do âmbito da imprensa para o conjunto da cidadania. Estava em marcha a revolução cultural da transparência. Informação e poder da sociedade agora caminhavam lado a lado.
6 Ela, a liberdade, está por toda a parte na Exposição. Nos recortes de jornais, revistas, fotografias, livros, filmes e músicas, cartazes, no traço do artista que permite uma visão em espelho: nos temas como censura, constituição e liberdade, revela se a nossa própria imagem, mas, em paralelo, nos leva a projetar o futuro a partir do presente real. Um complementa o outro, um não existe sem o outro. Falam pelos mesmos poros. É uma complementaridade que tem como símbolo o Congresso e a sua missão de transformar anseios da sociedade em realidades por intermédio de representantes do cidadão. Esse é o proposito do Instituto Palavra Aberta: contribuir para que a sociedade avance além das conquistas da Constituição Cidadã e trazer para o imaginário do visitante os horizontes múltiplos de progresso futuro no qual nossas vidas se nutrem. Esse imaginário começa pelo poder da palavra livre e democrática que transforma de alimenta a vida. A palavra livre e democrática é a razão de existir da Exposição A Carta da Liberdade.
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