O MELHOR PONTO DE VISTA. Texto e fotos: Paulo de Oliveira

Transcrição

1 O MELHOR PONTO DE VISTA Texto e fotos: Paulo de Oliveira Foto 1 Passei alguns anos a vociferar pelo regulador de mergulho impropérios obscenos contra os malditos construtores de caixas estanques que nunca mais encontravam uma solução para eu poder fotografar com comodidade rente ao fundo ou a baixa profundidade. Até que chegou à altura de eu próprio resolver o problema. Adoro espreitar o que se passa debaixo de água nos rios, lagos, charcos, poços, tanques, fontanários, etc (foto: 1; dá-me imenso prazer. Mas, como as minhas enormes caixas estanques de médio-formato eram pouco adequadas para este trabalho, modifiquei uma caixa estanque Ikelite para o efeito. Pertencia de origem a uma Nikon FM mas com pequenas alterações depressa passou a albergar uma Nikon F3 equipada com um visor capuchon DW-3 (foto: 2). Foto 2

2 Na parte superior da caixa estanque colei um novo visor vertical, bem alinhado com o vidro despolido da câmara, e munido de uma lente acromática de +3 dioptrias que proporcionava uma imagem perfeita. O despolido super luminoso da série H (todo em micro prismas) ajudava bastante. Só usei a armação do DW-3 para evitar luz parasita sobre o despolido, a lente ficava sempre rebatida. Mais umas mariquices do tipo luz interior accionada por comando próprio e alarme de entrada de água completavam o conjunto; à noite convém poder ler as regulações fotométricas e estar descansado quanto á posição perfeitamente exterior do elemento líquido. O frontal especial em PVC também tem alguma história para se contar mas fica para outra vez! Foto 3 Foto 4 Esta caixa estanque equipada com a Nikon F3 e uma 14 mm da Sigma, preparada para focar debaixo de água até 10 cm de distância com o doma para a fisheye, permitiu-me captar imagens fantásticas de inúmeros microcosmos aquáticos. Com a 60 mm Micro Nikkor obtive directamente imensas imagens de insectos aquáticos e anfíbios que a maioria das pessoas pensam ter sido obtidas em aquário.

3 Foto 5 Foto 6 Bom, mas isto não resolvia o problema de fotografar junto ao fundo com a Mamiya Marine ou com a Pentax Marine. Passei então à construção de um visor de 90º que pudesse ser facilmente colocado e removido debaixo de água. Um bom amigo tinha-me oferecido um prisma de vidro proveniente de um velho periscópio militar. Com base nesse acessório passei a procurar na minha caixa das lentes velhas um conjunto divergente/convergente adequado ao fim em vista. É necessário um elemento divergente para reduzir a imagem proveniente do visor da caixa estanque e outro convergente, de preferência acromático de modo a proporcionar uma boa imagem para focar, para ampliar de novo a imagem depois de reflectida pelo prisma. Foto 7 Foto 8 Arranjei depressa um grupo acromático já colado, com um bom diâmetro e uma distância focal óptima para o visor não ficar demasiado volumoso. Mas não dispunha de um elemento divergente de -3 ou -4 dioptrias. Quando já me preparava para comprar um num fornecedor americano, reparei num pequeno doma de vidro espesso que tinha comprado na Feira da Ladra à alguns anos. E de repente fez-se luz: um doma debaixo de água é um elemento divergente a água funciona como lente divergente em vez do vidro. Tirei medidas fiz umas contas rápidas e parecia bem. Tornei um aro para colar provisoriamente o doma, coloquei-o dentro de água e parecia que tinha sido feito de encomenda: perfeito! E assim nasceu o visor de 90º que vêm nas fotos: 3, 4, 5, 7 e 8) e que trabalhou bastante tanto nas caixas estanques de médio-formato como depois nas Aquatica 5.

4 Foto 10 Foto 9 Mais tarde, com o adaptador de encaixe já feito para as Aquatica 5, pensei que seria bom dispor de um verdadeiro periscópio que me pudesse permitir fotografar a muito baixa profundidade, ou quando fazia fotografias meio dentro meio fora de água, sem molhar a cabeça. Se forem fotografar no rio Zêzere, na Serra da Estrela, em pleno Inverno percebem logo a enorme utilidade deste acessório. A concepção deste periscópio foi um pouco mais demorada porque a imagem que sai do visor da F5, embora seja muito maior do que o dos visores actuais, é no entanto muito mais pequena do que a da Mamyia ou Pentax 6x7. Foto 11

5 Arranjei um bom prisma, um excelente elemento acromático superior, mas não conseguia ampliar capazmente a imagem do elemento divergente. Como os meus conhecimentos de óptica são muito empíricos, levei um certo tempo a perceber que precisava de mais um elemento convergente perto do prisma para fazer uma primeira ampliação da imagem que depois era completada pelo segundo elemento. Usei de novo o PVC que é um material económico, muito fácil de trabalhar e imune à corrosão (fotos 11, 14, 16 e 17). Este novo acessório permitiu-me aceder a locais lindíssimos onde era impossível mergulhar com a câmara por a água ser pouco profunda ou pelo o fundo estar cheio de lodo que depressa tornaria tudo numa sopa de suspensão (foto: 18). Ambos os visores permitiam visualizar perfeitamente todas as indicações no visor da câmara e mesmo, se necessário, focar manualmente com precisão. Infelizmente os visores das caixas estanques das minhas Canon 5D e 1DSII não permitem usar bem estes acessórios: dá para enquadrar com uma imagem pequena mas não se consegue distinguir mais nada. Foto 12 Foto 13 Se tiver paciência, um destes dias vou tentar construir novas versões para as novas caixas estanques. Agora também podem ser mais compactos.

6 Foto 14 Foto 15 Experimentei um visor de 45º disponível no mercado e constatei que proporciona uma boa imagem, mas acho aquela inclinação de visão pouco cómoda. Tive há muitos anos uma caixa estanque Hugyphot, com uma Pentax LX, que também tinha um visor com aquela inclinação e nunca me adaptei. Também possuí uma Rolleimarin, que usava muito para fotografar peixes, mas aí a inclinação era inferior e o formato quadrado dispensava mudar a câmara de posição para enquadrar verticalmente. E depois o preço que pedem por aquele acessório é injustificável. Que diabo um prisma de vidro e duas lentes compram-se barato! Foto 16 Foto 17

7 Foto 18