Soja como alimento funcional no alívio dos sintomas da menopausa
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- Vasco Figueira Felgueiras
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1 Soja como alimento funcional no alívio dos sintomas da menopausa 85 Michelle Natália de OLIVEIRA 1 Patrícia Teixeira RIBEIRO 2 Janaína Silva PEREIRA 3 Fabíola Rainato Gabriel de MELO 4 Erika da Silva BRONZI 5 Cyntia Aparecida Montagneri AREVABINI 6 Resumo: A menopausa é o período que compreende a passagem da fase reprodutiva para a não reprodutiva da mulher, no qual ocorrem redução na produção de estrógeno e sintomas indesejados. Nessa fase, muitas mulheres recorrem à Terapia de Reposição Hormonal sintética. Porém, devido a efeitos colaterais e contraindicações, tem-se buscado uma alternativa natural. O objetivo desta revisão é identificar se as isoflavonas da soja são eficazes no alívio dos sintomas da menopausa, especialmente os fogachos. Foi realizada uma revisão bibliográfica em livros e artigos científicos disponíveis nas bases de dados do Google Acadêmico e da SCIELO. A isoflavona é um tipo de fitoestrogênio presente na soja e possui estrutura química e ação semelhante aos hormônios estrogênicos produzidos pelo organismo humano. Estudos demonstram que as isoflavonas da soja têm atividade biológica satisfatória nas mulheres, diminuindo os sintomas da menopausa. Sugere-se que ingerir isoflavonas em quantidades significativas pode reduzir os sintomas da menopausa, em especial os fogachos. Palavras-chave: Isoflavona de Soja. Terapia de Reposição Hormonal. Alimento Funcional. 1 Michelle Natália de Oliveira. Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano Centro Universitário. Bacharel em Administração de Empresas pela Uni-FACEF Centro Universitário de Franca. <michelleoliveira87@hotmail.com>. 2 Patrícia Teixeira Ribeiro. Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano Centro Universitário. <pathyribeiro90@gmail.com>. 3 Janaína Silva Pereira. Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano Centro Universitário. <jaanasilva.nutri@gmail.com>. 4 Fabíola Rainato Gabriel de Melo. Doutora e Mestre em Investigação Biomédica pela Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP). Bacharel em Nutrição pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Coordenadora e docente do curso de Nutrição no Claretiano Centro Universitário. <nutricao@claretiano.edu.br>. 5 Erika da Silva Bronzi. Doutora em Ciências Nutricionais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus Araraquara (SP). Mestre em Saúde na Comunidade pela Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto (SP). Docente do curso de Nutrição do Claretiano Centro Universitário. <esbronzi@yahoo.com.br>. 6 Cyntia Aparecida Montagneri Arevabini. Cyntia Aparecida Montagneri Arevabini. Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Bacharel em Nutrição pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Especialista em Docência na Educação Superior pela Universidade de Ribeirão Preto. Docente do curso de Nutrição do Claretiano Centro Universitário. <cyntiaarevabini@claretiano.edu.br>.
2 86 Soy as a functional food in relieving the symptoms of menopause Michelle Natália de OLIVEIRA Patrícia Teixeira RIBEIRO Janaína Silva PEREIRA Fabíola Rainato Gabriel de MELO Erika da Silva BRONZI Cyntia Aparecida Montagneri AREVABINI Abstract: Menopause is the period that includes the passage from the reproductive to the non-reproductive phase of the woman, followed by reduced estrogen production and unwanted symptoms. At this stage many women resort to Synthetic Hormone Replacement Therapy. However, due to side effects and contraindications, we have sought a natural alternative. The purpose of this review is to identify whether soy isoflavones are effective in relieving menopausal symptoms, especially hot flushes. A bibliographic review was carried out in books and scientific articles available in the Google Scholar and Academic databases. Isoflavone is a type of phytoestrogen present in soy, has chemical structure and action similar to the estrogenic hormones produced by the human body. Studies have shown that soy isoflavones have satisfactory biological activity in women by reducing the symptoms of menopause. It is suggested that ingesting isoflavones in significant amounts may reduce the symptoms of menopause, especially hot flushes. Keywords: Isoflavone Soy. Hormone Replacement Therapy. Functional Food.
3 87 1. INTRODUÇÃO A alimentação saudável e adequada é conceituada como aquela que apresenta harmonia entre qualidade e quantidade, acessível tanto financeira quanto fisicamente, sustentável ao meio ambiente e que respeite a diferença de raça, cultura e etnia (SENAC, 2013). Para uma boa alimentação, também se faz necessário alimentos com propriedades químicas capazes de fornecer, além da nutrição básica, efeitos benéficos que promovam saúde. Uma alimentação pautada nesses princípios é capaz de prevenir doenças. Dentro desse contexto, destacam-se os alimentos funcionais, que segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), são definidos como: [...] o alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para o consumo, sem supervisão médica (ANVISA, 1999, p. 2). No grupo dos alimentos funcionais, destaca-se a soja (Glycine max [L.] Merr.), um grão da família das leguminosas herbáceas que atinge de meio a um metro de altura (ROGER, 2006). A soja é a única fonte de proteína vegetal que possui todos os aminoácidos essenciais, o que a levou ser chamada de carne vegetal. Além disso, possui alto teor de vitaminas e minerais e vários componentes fitoquímicos que agem beneficamente no organismo humano. O consumo desse grão ou de suas isoflavonas tem demonstrado efeitos positivos à saúde e à prevenção de doenças, altíssima capacidade nutritiva, e não há relatos de efeitos adversos (FERRARI; DEMIATE, 2001 apud SILVA; PRATA; REZENDE, 2013). Estudos demonstram que as isoflavonas da soja têm atividade biológica satisfatória nas mulheres, diminuindo os sintomas da menopausa, fase natural do processo de envelhecimento que compreende a transição do estado reprodutivo para o não reprodutivo, na qual ocorrem alterações hormonais e, como consequência, vários sintomas indesejáveis que alteram a qualidade de vida da mulher (CORREIA; LA- MAS; OLIVEIRA, 2016), tais como: fogachos, sudorese, nervosismo, irritabilidade, insônia, cefaleia, vertigem, depressão, formigamento, palpitações, diminuição da libido, entre outros (VIEIRA et al., 2007 apud VARASCHII; MENDEL; SUYENAGA, 2011). Para atenuar os sintomas descritos acima, o principal tratamento é a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), em que é realizada a ingestão de hormônios sintéticos estrógenos e progesterona (LIVI- NALLI; LOPES, 2007). Porém, esse tipo de tratamento provoca vários efeitos colaterais, e o risco de desenvolvimento de câncer de mama é alto. Além disso, esse tratamento é contraindicado para várias mulheres. Devido a esses fatores, existe um número considerável de mulheres que buscam alternativas terapêuticas saudáveis, como, por exemplo, as isoflavonas presentes na soja, pois, além de serem uma opção natural para a reposição hormonal, não apresentam contraindicação nem sintomas colaterais e possuem ação mais leve, porém eficaz (CORREIA; LAMAS; OLIVEIRA, 2016). De acordo com Sena et al., (2007), as isoflavonas são compostos não esteroides que possuem estrutura química e ação semelhante ao estrogênio natural do organismo humano. As isoflavonas se ligam aos receptores estrogênicos beta, estabelecendo um novo equilíbrio hormonal. Segundo Livinalli e Lopes (2007), estudos epidemiológicos demonstraram ausência de ondas de calor em mulheres dos países asiáticos, sendo que, nesses locais, constatou-se alto consumo do grão de soja. Assim, surgiu o interesse pelas isoflavonas da soja no tratamento do climatério. Sem dúvida, por esses e outros benefícios, a soja tem despertado interesse na comunidade científica (FERRARI; DEMIATE, 2001 apud SILVA; PRATA; REZENDE, 2013). Por todas essas características e funções bioativas, a soja foi o alimento funcional escolhido para a elaboração deste artigo de revisão, o qual contribuirá para a obtenção de dados científicos sobre o assunto em pauta, proporcionando
4 88 esclarecimentos a respeito da introdução da soja ou de seus subprodutos em dietas, tendo como premissa os variados benefícios apresentados por esse grão. O objetivo desta revisão é identificar, de acordo com evidências científicas, se as isoflavonas da soja são eficazes no alívio dos sintomas da menopausa, em especial os fogachos. 2. METODOLOGIA O presente artigo foi desenvolvido por meio de uma breve revisão da bibliografia, em artigos científicos publicados entre os anos de 2010 e 2016, em língua portuguesa, disponibilizados nas bases de dados SCIELO e Google Acadêmico, com exceção dos artigos: Efeitos dos fitoestrogênios sobre alguns parâmetros clínicos e laboratoriais no climatério, do ano de 2002; Determinação de isoflavonas nas diversas etapas do processamento do iogurte de soja, do ano de 2004; Isoflavonas em produtos comerciais de soja, também do ano de 2004; e Efeitos da isoflavona de soja sobre os sintomas climatérios e espessura endometrial: ensaio clínico randomizado duplo-cego e controlado, do ano de 2007; todos esses materiais são obras originais do artigo de revisão utilizado na elaboração deste artigo. Também foram pesquisadas outras fontes bibliográficas consideradas relevantes. Para a pesquisa, foram utilizados como descritores: isoflavona de soja, terapia de reposição hormonal e alimento funcional. Dos milhares de trabalhos obtidos, foram selecionados, após a análise, treze artigos que fazem referência aos efeitos das isoflavonas da soja sobre os sintomas do climatério em mulheres na menopausa, três artigos sobre alimentos funcionais e dois artigos sobre a soja e suas perspectivas na economia brasileira. 3. DESENVOLVIMENTO Menopausa Todo o ser humano passa por vários períodos em sua existência, e com a mulher não é diferente. A menopausa é uma fase natural do envelhecimento que traz consigo algumas situações que, se não tratadas, podem acarretar desconfortos e alterações na qualidade de vida da mulher. Essa fase é caracterizada pela transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Nesse período, acontece o chamado climatério, que é conceituado como a redução gradativa da produção dos hormônios esteroides, principalmente estrogênio e progesterona, provenientes dos ovários. Dessa forma, os ciclos menstruais se alteram até que aconteça a cessação definitiva das menstruações (SILVA; PRATA; REZENDE, 2013). Gutierrez (1992 apud SILVA; PRATA; REZENDE, 2013) discorre sobre as três fases que caracterizam o climatério, sendo elas: pré-menopausa, em que há alterações na menstruação com hemorragias; a menopausa propriamente dita, que marca a última menstruação e na qual surgem os sintomas do climatério; e a pós-menopausa, em que há predomínio dos distúrbios neurovegetais, psíquicos e orgânicos. Nessa fase, há uma diminuição da produção hormonal, que pode atingir vários sistemas ao mesmo tempo, ocasionando alterações diversas (FREITAS et al., 2011; ZAHAR et al., 2005 apud VARASCHI- NI; MENDEL; SUYENAGA, 2011). O estrogênio é um hormônio feminino muito importante que atua em vários órgãos. A sua redução causa sintomas desagradáveis, até mesmo insuportáveis, no organismo da mulher, alterando a sua qualidade de vida. As alterações iniciais são as vasomotoras ( fogachos ), seguidas por sudorese, nervosismo, irritabilidade, insônia, cefaleia, vertigem, depressão, formigamento, palpitações, diminuição da libido, entre outras (VIEIRA et al., 2007 apud VARASCHINI; MENDEL; SUYENAGA, 2011). Os sistemas ósseo, cardiovascular e o aparelho reprodutivo feminino também podem ser afetados em longo prazo. Para atenuar os sintomas descritos acima, o principal tratamento é a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), em que é realizada a ingestão de hormônios sintéticos estrógenos e progesterona (LI-
5 VINALLI; LOPES, 2007). Porém, é necessário mudanças no estilo de vida de forma geral para que se obtenha êxito no tratamento. Sanches et al. (2010) diz que a adesão à TRH é muito baixa, e apenas cerca de 20% das mulheres prosseguem com o tratamento. Acredita-se que elas abandonem o tratamento pela intensidade dos efeitos colaterais e pelo receio de desenvolverem câncer. Além disso, esse tratamento com reposição hormonal específica com estrógenos sintéticos é contraindicado para várias mulheres. Isoflavonas de soja Além de nutrir a soja apresenta inúmeros benefícios e características de um alimento funcional. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 1999, p. 2), é definido como funcional: [...] o alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para o consumo, sem supervisão médica. Os fitoquímicos presentes na soja podem ser uma alternativa para a reposição hormonal de forma natural, aliviando os sintomas da menopausa (SENA; COSTA; COSTA, 2007). O interesse pelo estudo das isoflavonas de soja no tratamento do climatério, segundo Livinalli e Lopes (2007), surgiu a partir de estudos epidemiológicos em mulheres dos países asiáticos que consumiam grãos de soja em alta quantidade e não apresentavam ondas de calor. De acordo com Sena et al. (2007), as isoflavonas são compostos não esteroides que possuem estrutura química e ação semelhante ao estrogênio natural do organismo humano. Em sua estrutura, há um anel fenólico com um radical hidroxila no carbono 3, que permite ligação aos receptores estrogênicos de forma seletiva, exercendo ação estrogênica (de forma a equilibrar a falta de estrogênio produzido pelo organismo) e/ou antiestrogênica (inibindo a ação destruidora do estrogênio em excesso). Os receptores estrogênicos são do tipo alfa ou beta. Na mama e no útero, encontram-se predominantemente os alfa-receptores, enquanto os beta-receptores, por sua vez, são encontrados no osso e no sistema cardiovascular. As isoflavonas se ligam normalmente aos receptores beta, o que pode justificar a diminuição de sintomas vasomotores e a incidência de doenças cardiovasculares e ósseas. A população brasileira não tem o hábito de consumir esse grão, e em seu óleo não há isoflavonas. Nos últimos anos, devido à variedade de produtos obtidos pelo processamento do grão e à tecnologia, esse cenário tem se modificado, proporcionando um aumento no consumo dessas substâncias (BEDA- NI; ROSSI, 2005 apud ANDRES, 2012). As isoflavonas estão presentes em vários tipos de frutas, vegetais, grãos e legumes (SENA et al., 2007). Habitualmente, estão presentes na soja e em seus derivados: daidzeína, genisteína e gliceteína (na forma denominada aglicona, ou seja, isoflavonas livres, sem a molécula de açúcar); daidzina, glicitina e genistina (na forma de glicosídeos, ou seja, ligadas a uma molécula de açúcar) (LUI et al., 2013 apud VARASCHINI; MENDEL; SUYENAGA, 2011). A quantidade de isoflavonas encontrada na soja irá variar muito, devido a inúmeros fatores relacionados ao cultivo e ao clima. As concentrações encontradas são em torno de 0,1 a 5 mg/g (SILVA; PRATA; REZENDE, 2013). Para o tratamento de fogachos, a Sociedade Norte-Americana de Menopausa (NAMS) sugere que seja administrada a dose de mg/dia, equivalente a uma média de 30 g de proteína de soja (LIVINALLI; LOPES, 2007). Abaixo, estão descritos, na Tabela 1, alguns alimentos derivados da soja e o conteúdo de isoflavonas neles presente. 89
6 90 Tabela 1. Teor de isoflavona (mg/100 g) em produtos derivados da soja. Alimentos Teor de isoflavona (mg/100 g) Grão cultivado em temperatura média de Soja (grão) 20 C de 147 a 180 mg. Grão cultivado em temperatura média de 25 C de 73 a 85 mg. Proteína texturizada de soja 70 mg Farinha de soja 96 mg Leite de soja 7,05 a 7,15 mg (não pasteurizado e pasteurizado, respectivamente.) Fonte: adaptado de Favoni (2004) e Rossi (2004). Isoflavonas de soja e menopausa Estudos demonstram que as isoflavonas da soja têm atividade biológica satisfatória nas mulheres, diminuindo os sintomas da menopausa, fase natural do processo de envelhecimento que compreende a transição do estado reprodutivo para o não reprodutivo, na qual há alterações hormonais (CORREIA; LAMAS; OLIVEIRA, 2016). Sanches et al. (2010) comprovam essa afirmação em sua pesquisa, em que se utilizaram 30 g/dia de proteína isolada de soja (que corresponde a 57 mg de isoflavonas) com 30 mulheres no período da menopausa e pós-menopausa, com idades entre 40 e 65 anos, por um período de 4 semanas. Ao término das análises, observou-se que as isoflavonas presentes na dieta proposta foram eficazes para diminuir os efeitos do climatério, principalmente no que se refere à intensidade deles, e sem efeitos colaterais. Resultado semelhante também se obteve em outro estudo, realizado por Han et al. (2002), no qual foi constatada redução dos sintomas do climatério ( fogachos ) nas mulheres que tomaram a isoflavona em comparação ao grupo placebo. Esse estudo foi duplo-cego randomizado, com 80 mulheres pós-menopáusicas, as quais ingeriram 100 mg de isoflavonas de soja por dia ou placebo, por 16 semanas. Segundo Albert et al. (2002 apud VARASCHINI; MENDEL; SUYENAGA, 2011), em um estudo realizado com 190 mulheres que apresentavam vários sintomas da menopausa, principalmente os fogachos, foram administrados 35 mg/dia de isoflavonas em duas doses, com duração de 4 meses, obtendo-se como resultado, ao final do tratamento, redução significativa no número de fogachos e uma melhora nos sintomas gerais causados pela falta de estrógeno. Em outro estudo, que avaliou por 3 meses um total de 60 mulheres pós-menopáusicas, as quais receberam 60 mg/dia de isoflavonas, constatou-se que as queixas sobre os fogachos foram reduzidas quando comparadas às do grupo controle (CHENG et al., 2007 apud VARASCHINI; MENDEL; SUYE- NAGA, 2011). Outro estudo (ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado), realizado com 60 mulheres, de idades entre 40 e 60 anos, na pós-menopausa, teve como objetivo comparar os efeitos da ingestão de um suplemento à base de soja, de terapia hormonal e de placebo sobre os sintomas da menopausa. O tratamento durou 16 semanas, no qual as mulheres foram divididas em 3 grupos: um deles recebeu o suplemento contendo 90 mg/dia de isoflavonas; outro grupo foi tratado com terapia hormonal, correspondente a 1 mg de estradiol e acetato de noretisterona 0,5 mg; e o terceiro recebeu o placebo. Foi observada uma diminuição principalmente dos fogachos nos grupos que receberam as isoflavonas e a terapia hormonal. E, de forma geral, houve diminuição dos sintomas em todos os grupos, sem diferença significativa entre eles. Esse estudo demonstrou a eficácia da isoflavona no suplemento de soja comparada à terapia hormonal (CARMIGNANI, 2008 apud VARASCHINI; MENDEL; SUYENAGA, 2011). Conforme citado anteriormente, diversos estudos nos últimos anos têm demonstrado efeitos positivos da soja sobre o organismo humano. Porém, por outro lado, contrapondo-se a esses estudos, Sena et al. (2007) verificou num estudo (randomizado, duplo-cego e controlado) que não houve redução dos sintomas do climatério, inclusive fogachos, em comparação ao grupo placebo. O ensaio envolveu 90
7 mulheres com idades entre 45 e 60 anos, pós-menopáusicas, que receberam 50 mg de isoflavonas diariamente por 12 semanas ou placebo. Essas mulheres tiveram seus sintomas avaliados antes e depois do tratamento pelo Índice de Kupperman (IK). Portanto, há necessidade de mais estudos para demonstrar os reais efeitos, a dosagem correta e o tempo de administração das isoflavonas para a diminuição dos sintomas do climatério. Tabela 2. Análise da eficácia do uso de isoflavona de soja em mulheres no climatério. 91 Referências Tipo de estudo Objetivo Quantidade de mulheres Períodos Duração Substâncias Resultados Han et al. (2002) Duplo-cego randomizado 80 mulheres Avaliar os efeitos terapêuticos da soja em pacientes pósmenopáusicas Pósmenopáusicas 16 semanas 100 mg de isoflavona de soja /dia Albert et al. (2002) Cheng et al. (2007) Randomizado, duplo-cego e controlado Randomizado e controlado Investigar a eficácia das isoflavonas no alívio dos sintomas da menopausa, em especial os fogachos Avaliar a eficácia do tratamento de sintomas do climatério (queixa sobre fogachos ), em mulheres que tomaram isoflavona, comparandoas ao grupo controle 190 mulheres Menopausa 4 meses 60 mulheres Pós-menopausa 3 meses 35 mg/dia de isoflavona em duas doses 60 mg/dia de isoflavona Os estudos constataram a redução dos sintomas do climatério ( fogachos ) Sena et al. (2007) Randomizado, duplo-cego e controlado Avaliar a eficácia do tratamento de sintomas do climatério (queixa sobre fogachos ), em mulheres que tomaram isoflavona, comparandoas ao grupo controle 90 mulheres Pós-menopausa 12 semanas 50 mg de isoflavona Os resultados não indicaram redução significativa dos sintomas do climatério ( fogachos )
8 92 Carmignani (2008) Sanches et. al. (2010) Ensaio clinico randomizado, duplo-cego e controlado Duplo-cego e randomizado Comparar os efeitos sobre os sintomas da menopausa com a ingestão de suplemento à base de soja, terapia hormonal convencional e placebo Avaliar a eficácia da suplementação de proteína de soja nos sintomas da menopausa 60 mulheres 30 mulheres Pós-menopausa e menopausa Menopausa e pós-menopausa 16 semanas 4 semanas 1 grupo 90 mg/dia isoflavona. T. H. 1 mg estradiol e 0,5 mg noretisterona 57 mg de isoflavona (30 g/dia) Os estudos constataram a redução dos sintomas do climatério ( fogachos ) Fonte: elaborado pelas autoras. Soja e economia Além das características já citadas e das funções bioativas, a soja também tem uma grande participação socioeconômica no país, sendo o Brasil o segundo maior produtor do grão, tendo a maior capacidade de multiplicar a produção atual com o aumento da produtividade e a expansão da área cultivada (VENCATO et al., 2010 apud FREITAS, 2011). Em primeiro lugar no ranking de produção, encontram- -se os Estados Unidos e em terceiro, a Argentina. Segundo Black (2000 apud FREITAS, 2011), o cultivo de soja no Brasil foi iniciado por volta de 1882, e aos poucos o grão de soja foi passando de cidade em cidade, até que se adaptou melhor às condições climáticas do estado do Rio Grande do Sul. Programas de melhoramento de soja e o consequente desenvolvimento de variedades resistentes a algumas doenças que afetam o plantio foram o que possibilitou a expansão dessa leguminosa no Brasil (KIIHL; GARCIA, 1989 apud FREITAS, 2011). A maior produção de soja hoje no país está concentrada no estado do Mato Grosso; locais antes despovoados e desvalorizados estão sendo beneficiados com o cultivo desse grão, trazendo o progresso e a expansão dessas regiões, principalmente na questão econômica. Segundo dados da USDA (apud FREITAS, 2011), na safra de 2009/2010, o Brasil produziu cerca de 68,4 milhões de toneladas dessa oleaginosa, e em primeiro lugar estiveram os Estados Unidos, com uma produção de 91,4 milhões de toneladas, ficando a Argentina em terceiro lugar, com 54,5 milhões de toneladas. Os hábitos alimentares da população estão se modificando, e observa-se alto consumo de carne bovina, suína e de frango. Esse cenário leva ao aumento da demanda da soja, uma vez que esse alimento compõe cerca de 70% da ração desses animais (VENCATO et al., 2010 apud FREITAS, 2011). 4. DISCUSSÃO As prescrições de isoflavonas de soja para o tratamento dos sintomas da menopausa têm sido realizadas frequentemente pelos profissionais da saúde. Contudo, não há um consenso sobre a quantidade exata que deve ser administrada para se obter sucesso no tratamento sem exagerar na dose. Os profissionais que prescrevem isoflavonas muitas vezes assim o fazem em virtude de opiniões e experiências próprias, e há diferenças extremas e significativas nessas indicações. Nos estudos citados anteriormente, verificam-se as seguintes quantidades de ingestão de isoflavonas, respectivamente: 100 mg, 35 mg, 60 mg, 50 mg, 90 mg e 57 mg; ou seja, variam de pequenas a
9 grandes as quantidades que apresentaram redução dos sintomas da menopausa, mais precisamente sobre os fogachos. Por outro lado, em um estudo realizado com a administração de 50 mg de isoflavonas, não se obteve melhora desse sintoma. Não há relatos de sintomas colaterais no uso dessa substância, portanto é necessária uma reflexão crítica sobre as quantidades a serem prescritas e permanente renovação dos conhecimentos científicos por parte dos prescritores, a fim de diminuir as diferenças que evidenciam os estudos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, verifica-se que a quantidade de mulheres que fazem uso das isoflavonas da soja para alívio dos sintomas da menopausa é grande. Porém, devido a controvérsias sobre o benefício real dessa substância e em relação à dose a ser ingerida, a substituição dos tratamentos convencionais por isoflavonas deverá ser feita com orientação médica. No levantamento realizado, vários estudos constataram que ingerir isoflavonas de soja em quantidades significativas e com certa frequência poderá reduzir os incômodos causados na menopausa, em especial os fogachos. Entretanto, mais estudos se fazem necessários para maiores esclarecimentos. 93 REFERÊNCIAS ANDRES, F. G. Uso da isoflavona no climatério e na pós-menopausa f. Monografia (Especialização em Nutrição Clínica) Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí Disponível em: < bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/ /1154/artigo%20tcc%20-%20francieli%20 ANDRES.pdf?sequence=1>. Acesso em: 8 ago ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 18, de 30 de abril de Disponível em: < portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388845/resolucao_18_1999.pdf/d2c5f6d0-f87f-4bb6-a65f-8e63d3dedc61>. Acesso em: 8 ago Resolução n. 19, de 30 de abril de Disponível em: < RESOLUCAO_19_1999.pdf/99351bc5-99b1-49a8-a1fd-540b4096db22>. Acesso em: 8 ago BERNARDES, N. R.; PESSANHA, F. F.; OLIVEIRA, D. B. Alimentos funcionais: uma breve revisão. Ciência e Cultura, Campos dos Goytacazes, v. 6, n. 2, p , Disponível em: < revnov2010.pdf>. Acesso em: 8 ago CORREIA, A. C.; LAMAS, M. C.; OLIVEIRA, R. F. Avaliação da terapêutica hormonal de substituição e das isoflavonas de soja na peri e pós-menopausa. Actas de Gerontologia, v. 2, n. 1, p. 1-11, Disponível em: < pt/index.php/gerontologia/article/view/53/59>. Acesso em: 9 ago FAVONI, S. P. de G. et al. Isoflavonas em produtos comerciais de soja. Ciências Tecnológicas de Alimentação, Campinas, v. 24, n. 4, p , Disponível em: < Acesso em: 17 nov FREITAS, M. C. M. A cultura da soja no Brasil: o crescimento da produção brasileira e o surgimento de uma nova fronteira agrícola. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 7, n. 12, p. 1-12, Disponível em: < enciclop/2011a/agrarias/a%20cultura%20da%20soja.pdf>. Acesso em: 9 ago HAN, K. K et al. Efeitos dos fitoestrogênios sobre alguns parâmetros clínicos e laboratoriais no climatério. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, São Paulo, v. 24, n. 8, p , Disponível em: < v24n8/a08v24n8.pdf>. Acesso em: 9 ago HIRAKURI, M. H.; LAZZAROTTO, J. J. Evolução e perspectiva de desempenho econômico associadas com a produção de soja nos contextos mundial e brasileiro. 3. ed. Londrina: Embrapa Soja, Disponível em: < embrapa.br/download/doc319_3ed.pdf>. Acesso em: 9 ago LIVINALLI, A.; LOPES, L. C. Avaliação das prescrições de isoflavonas para mulheres no climatério em cidade de médio porte do Estado de São Paulo. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 28, n. 2, p , Disponível em: < Aceso em: 10 ago
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