PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Recurso Em Sentido Estrito nº , da Comarca de São Paulo, em que é recorrente/querelante LUIZ EDUARDO AURICCHIO BOTTURA, é recorrido MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, Querelados ADALBERTO BUENO NETTO, MARCIO OSMAR CHAER, ELTON BEZERRA e ALESSANDRO CRISTO. ACORDAM, em 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores AUGUSTO DE SIQUEIRA (Presidente), DE PAULA SANTOS E RENÊ RICUPERO. São Paulo, 14 de agosto de Augusto de Siqueira RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Recurso em Sentido Estrito n Comarca de São Paulo - 29ª Vara Criminal Processo n. 1082/2013 Recorrente: Luiz Eduardo Auricchio Bottura Recorridos: Adalberto Bueno Netto, Marcio Chaer, Elton Bezerra e Alessandro Cristo Decisão: MMª. Juíza Maria de Fátima dos Santos Gomes Muniz de Oliveira Voto n Trata-se de recurso em sentido estrito interposto contra a r. decisão de fls. 416/418, que rejeitou a queixa-crime interposta pelo recorrente contra os recorridos, com fundamento no artigo 395, incisos I, II e III, do Código de Processo Penal, considerando a inexistência de dolo e reconhecendo o exercício regular do direito de informar e criticar. Inconformado, o recorrente requer a reforma da decisão, reiterando os argumentos da inicial, asseverando, em resumo, ser evidente a prática dos crimes de calúnia, difamação e injúria por parte dos recorridos, pois não há direito algum em informar mentiras e fatos falsos e a questão sobre o dolo deve ser enfrentada durante a instrução processual. Recurso contrariado pelos recorridos a fls. 387/394, 397/404, 413/425 e 434/442, postulando pela manutenção da decisão e defendendo a 2

3 fls. 3 liberdade de expressão. O recorrido Alessandro alegou, em preliminar, a decadência do direito de queixa, posto que a publicação da matéria onde teriam ocorrido as supostas ofensas à honra do querelante se deu em ; o querelante dela tomou conhecimento em e decorreram mais de oito meses quando do oferecimento da queixa-crime. O Ministério Público opinou, no mérito, no mesmo sentido (fls. 452/461). Mantida a decisão a fls A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo acolhimento da preliminar relativa à decadência e, no mérito, pelo não provimento do recurso. É o relatório. Luiz Eduardo Auricchio Bottura imputa a Adalberto Bueno Netto, Márcio Chaer, Alessandro Cristo e Elton Bezerra infringência aos artigos 138, 139 e 140, com as agravantes do artigo 141, inciso III e parágrafo único, todos do Código Penal, porque em divulgaram no site CONJUR ofensas à sua honra. A r. decisão combatida merece ser mantida pelos seus próprios e jurídicos fundamentos. Saliente-se, de início, a afirmação feita pela Magistrada de que a matéria publicada já foi discutida em diversas ações e propalada de diversas formas, inclusive em sede de queixa-crime perante este Juízo, nada havendo de inovador na matéria tratada. Veja-se que o cerne da matéria jornalística, a qual o querelante reputou ofensiva, refere-se a matérias já divulgadas pelos meios de comunicação, sendo algumas delas de conhecimento público, face a publicação nesses meios de comunicação. Aliás, o próprio querelante apresenta algumas dessas publicações tanto pela via Internet como em revistas e afins. Se é fato que o elemento subjetivo do delito deve ser analisado durante o transcorrer da ação penal, não menos certo é que se a inexistência 3

4 fls. 4 de dolo mostrar-se evidente já na inicial acusatória, deve esta ser rejeitada de pronto. É o que ocorre no caso sub judice. Analisando a publicação de fls. 42/43 verifica-se que, primeiramente, noticia-se uma decisão da Justiça de São Paulo de aceitar denúncia por ofensa à saúde psicológica de um exmarido (o querelante / recorrente) contra a ex-mulher depois do fim do casamento. A seguir, detalham-se os argumentos acusatórios apresentados pelo Ministério Público na referida ação. Ou seja, simplesmente foram narrados pormenores de uma ação penal em curso. Após, a mesma publicação comenta entrevista concedida pela ex-mulher do querelante à revista Marie Claire. Conforme transcrição de trechos salientados pelo próprio querelante a fls. 7/8, as supostas ofensas à sua honra não partiram dos recorridos, mas sim, teriam sido proferidas pela sua ex-mulher na entrevista em questão. Em resumo, na publicação questionada não se vislumbra mesmo o dolo específico exigido nos crimes imputados aos recorridos, que é a intenção de ofender e macular a honra alheia. Limitaram-se os recorridos (se é que se pode dizer que todos eles tiveram participação na referida publicação) a narrar fatos, ao que tudo indica, de conhecimento público (especialmente aqueles transcritos pelo querelante e que, como já dito, referem-se à entrevista anteriormente publicada pela revista Marie Claire). É cediço que o animus narrandi exclui o elemento subjetivo dos delitos contra a honra e, assim sendo, era de rigor a rejeição da queixacrime. Além dos entendimentos jurisprudenciais citados a fls. 400/403, 423/424, 438/439, 460/461, 469/472, confira-se a propósito, decisões deste Tribunal, em casos similares rejeições de queixas-crimes -, tendo como recorrente, igualmente, Luiz Eduardo Auricchio Bottura: 4

5 fls. 5 Recurso em sentido estrito Calúnia e difamação Peça acusatória rejeitada - Preliminar de nulidade pela não realização da audiência prevista no artigo 520, do CPP Inocorrência - Ato que claramente resultaria infrutífero Patente necessidade de rejeição da queixa-crime Preliminar rejeitada Mérito Pleito de recebimento da peça acusatória - Inviabilidade - Cristalina ausência do elemento subjetivo específico Evidenciado o animus narrandi não há que se falar em crime contra a honra Precedentes Decisão mantida Preliminar rejeitada e recurso desprovido. (RSE , Rel. Des. Camilo Léllis, j ). Afinal de contas, para a caracterização dos crimes pautados não prescinde do elemento subjetivo, do dolo atinente à intenção de ofender a honra objetiva do sujeito passivo, e referido elemento subjetivo não se faz presente nas condutas indicadas. Há, na verdade, simples animus narrandi. (RSE , Rel. Des. Francisco Menin, j. 2l ). Tem-se que a r. decisão combatida nada mais fez do que, conforme ali consignado, assegurar, no caso concreto, a liberdade de expressão, princípio constitucional previsto na Carta Magna, no seu artigo 5º, inciso IX. Destarte, reconhecida a falta de justa causa para a ação penal, resta prejudicado o reconhecimento da decadência para extinção da punibilidade dos recorridos, cabendo, no entanto, salientar que, de fato, a publicação da matéria jornalística supostamente ofensiva não ocorreu no dia , como mencionado pelo recorrente, mas sim em , conforme se vê na própria petição inicial a fls. 07, na nota de rodapé n. 10 e no documento juntado a fls. 42/43; aliás, a queixa-crime foi oferecida somente em 5

6 fls Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. Augusto de Siqueira relator 6