Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO A
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- Luiza Gil Damásio
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1 JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº /PR RELATOR : Juiz José Antonio Savaris RECORRENTE : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL E COMPANHIA DE HABITAÇÃO DO PARANÁ RECORRIDO : LEVI FELISBERTO RODRIGUES e Outra VOTO Trata-se de recursos interpostos pela CEF e pela COHAPAR contra sentença que julgou parcialmente procedente o pedido revisão do contrato de financiamento celebrado entre o autor e a Companhia de Habitação Popular de Curitiba-Coahb. A decisão recorrida acolheu parcialmente a pretensão orientada na inicial, para o efeito de: a) declarar a ilegalidade da inclusão do CES no contrato firmado, diante da ausência de previsão contratual expressa; b) condenar o agente financeiro a revisar os valores das parcelas, segundo os índices da categoria profissional do autor e c) afastar a amortização negativa. A CEF defende a legalidade do CES (coeficiente de equiparação salarial), alegando que sua aplicação decorre do artigo 17, I, c/c artigo 29, III, da Lei 4380/64. A COHAPAR aduz que a presente demanda é consignatória e que tendo sido apontada a insuficiência do depósito, a demanda em exame deveria ter sido julgada improcedente, arcando os Autores com os ônus sucumbenciais. Sustenta, também, a legalidade do CES, e que não há previsão legal para o afastamento da Tabela Price e que determinar um fórmula diferenciada para o reajustamento do saldo devedor implica em negar a vigência do disposto no art. 6º, alínea c, da Lei 4.380/64, pelo que deve ser reformada a decisão impugnada. Não assiste razão aos recorrentes. Mantenho a sentença por seus próprios fundamentos (Lei 9099/95, art. 46, c/c Lei /2001, art. 1º), agregadas as razões que passo a expor. No que diz respeito à a aplicação do CES, o STJ tem entendido que somente é possível quando o contrato expressamente o prever. Nesse sentido, é sólida a jurisprudência daquela Corte: [REA /REA] 1/8
2 RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO - SFH. COBERTURA DO SALDO DEVEDOR PELO FUNDO DE COMPENSAÇÃO DE VARIAÇÕES SALARIAIS - FCVS. INCIDÊNCIA DO COEFICIENTE DE EQUIPARAÇÃO SALARIAL - CES, AINDA QUE NÃO PREVISTO NOS TERMOS DO CONTRATO, ANTES DA EDIÇÃO DA LEI 8.692/93. IMPOSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei n.º 8.692, de 29 de julho de 1993, em seu art. 8º, instituiu o Plano de Equivalência Salarial - PES, preconizando que o reajuste do valor do encargo mensal, acrescido do Coeficiente de Equiparação Salarial - CES, deve obedecer a mesma periodicidade e percentual do aumento da categoria profissional do mutuário. 2. É cediço que antes da edição da aludida Lei, não havia imposição legal que determinasse a contratação do Coeficiente de Equiparação Salarial - CES, sendo tão-somente faculdade do mutuário optar pelo mesmo (Precedentes: REsp PR, Relator Ministro FRANCISCO FALCÃO, Primeira Turma, DJ de 07 de maio de 2008; REsp PR, Relatora Ministra DENISE ARRUDA, Primeira Turma, DJ de 14 de abril de 2008; AgRg no REsp PR, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJ de 27 de agosto de 2007) 3. In casu, nada obstante insindicáveis as cláusulas contratuais neste sodalício ante o óbice da Súmula 05/STJ, restou assente que o contrato celebrado entre os litigantes, em 03 de outubro de 1989, não ostenta cláusula prevendo a incidência do CES para o cálculo do encargo (fls. 50/63), de modo que a sua utilização é defesa ao agente financeiro. 4. "A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, "não havendo previsão contratual, não há como determinar a aplicação do CES - Coeficiente de Equiparação Salarial, presente a circunstância de ser o contrato anterior à lei que o criou" (REsp /SP, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de ) 5. a 7. Omissis (REsp /PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/08/2008, DJe 01/10/2008, sem grifos no original) SFH - Sistema Financeiro da Habitação. CES - Coeficiente de Equiparação Salarial. Precedentes. 1. Não havendo previsão contratual não há como determinar a aplicação do CES - Coeficiente de Equiparação Salarial, presente a circunstância de ser o contrato anterior à lei que o criou. 2. Recurso especial não conhecido. (REsp /SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/08/2006, DJ 27/11/2006 p. 278) Quanto ao sistema de amortização, no caso em tela, foi pactuada a utilização do Sistema Francês de Amortização, também conhecido como Tabela Price. Sobre o tema, peço licença para utilizar-me da fundamentação adotada pela Juíza Federal Ana Beatriz Vieira da Luz Palumbo nos autos : [REA /REA] 2/8
3 No escólio de JOSÉ DUTRA VIEIRA SOBRINHO, a característica marcante da Tabela Price, enquanto sistema de amortização, reside na possibilidade de se obter, ao início, prestações idênticas entre si. As prestações somente serão diferenciadas na hipótese de haver previsão contratual de reajustamento dos encargos, o que, a rigor, constitui em uma modificação do equacionamento teórico da price (VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Matemática Financeira. 7ª ed. SP: Atlas, 2000, p. 220). Por outro lado, no interior de cada prestação existe um percentual a ser destinado ao abatimento da dívida e outro destinado ao pagamento dos juros contratuais. A outra característica reside no fato de a Tabela Price promover a majoração progressiva das cotas destinadas à amortização da dívida, reduzindo, conseqüentemente, os juros mensais, dado que estes são calculados sobre uma base de cálculo progressivamente menor. Ainda nesse sentido, calha ater-se à lição de CARLOS PINTO DEL MAR, em obra específica sobre o tema: "a característica básica deste sistema [price] é a de ter prestações constantes. Considerando que os juros incidem sobre o saldo devedor, no início da série de pagamentos a subparcela de juros é maior, decrescendo com o avanço e ocorrendo o inverso com a subparcela de amortização, que inicia menor e vai aumentando ao longo do tempo" (DEL MAR, Carlos Pinto. Aspectos jurídicos da tabela price. SP: Editora Jurídica Brasileira, 2001, p. 26). A jurisprudência do TRF/4 e o STJ vem se firmando no sentido de que a utilização da Tabela Price, por si só, não implica em nenhuma ilegalidade ou onerosidade excessiva a justificar o seu afastamento (TRF4, APELREEX , Primeira Turma, Relator Vilson Darós, D.E. 12/05/2009). Ainda, a jurisprudência recente do Superior Tribunal de Justiça vem recepcionando o entendimento, no sentido da inviabilidade da capitalização dos juros decorrentes da utilização da Tabela Price aos contratos habitacionais, em período inferior ao anual. (TRF4, EINF , Segunda Seção, Relator Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, D.E. 08/05/2009, sem grifos no original). Ou seja, a legalidade da aplicação da Tabela Price já foi afirmada pelos Tribunais pátrios, conforme também se depreende dos arestos abaixo colacionados: "...No que concerne à capitalização, a fundamentação do especial não afeta o aresto recorrido. É que o Tribunal local pôs o tema em torno da Tabela Price, afirmando que a sua utilização, por si só, não significa capitalização de juros, sendo certo que a previsão da taxa efetiva não acarreta o anatocismo. Quanto ao dissídio apresentado neste ponto, está sem os requisitos para seu reconhecimento". (STJ, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, REsp , DJU de 06/12/04, p. 293) "ADMINISTRATIVO. SFH. ANATOCISMO - ILICITUDE. TABELA PRICE DESCARACTERIZADA. - A vedação do anatocismo em contrato de mútuo habitacional não passa pela consideração da liceidade da Tabela Price, que encerra fórmula matemática, certo que a mesma resulta descaracterizada em meio de economia mutável, especialmente a móvel do fenômeno da inflação, enquanto não se lhe apliquem rigorosos elementos de adequação imprescindíveis para o resguardo de sua estrutura original". (TRF da 4ª Rg., rel. Des. Fed. Amauri Chaves de Ataíde, DJU de 20/10/04, p. 609) "... Diferentemente da existência de previsão no contrato de incidência de uma taxa de juros nominal e outra efetiva (forma de cálculo simples ou composta), ou do [REA /REA] 3/8
4 sistema de amortização da Tabela Price - cuja legalidade ora se reconhece -, o que a lei repudia é a prática de anatocismo, caracterizada pela cobrança de juros sobre capital renovado, ou seja, sobre montante de juros não pagos, já resultantes da incidência de juros compostos (capitalizados), que ocorre quando o valor do encargo mensal revela-se insuficiente para liquidar até mesmo a parcela de juros, dando causa às chamadas "amortizações negativas". (TRF da 4ª Rg., rel. Des. Fed. Valdemar Capeletti, DJU de 08/09/2004, p. 347, omitiu-se parte da ementa) Todavia, ainda persiste na doutrina e na jurisprudência discussão a respeito da existência de anatocismo na aplicação da Tabela Price. Enquanto para alguns o anatocismo somente ocorre quando há amortizações negativas, isto é, quando juros não pagos são carreados ao saldo devedor, sobre o qual incidem novos juros, para outros, ocorre o anatocismo em qualquer fórmula que decorra de juros compostos. Mas ao que parece, existindo amortizações negativas, há consenso de que não é possível a incidência de novos juros sobre aqueles que já foram somados ao saldo devedor. Nesse sentido, peço licença para transcrever a fundamentação adotada pelo relator Marcio Antonio Rocha (TRF4, AC , Quarta Turma, Relator Márcio Antônio Rocha, D.E. 09/12/2008), a qual adoto: ANATOCISMO DECORRENTE DA AMORTIZAÇÃO NEGATIVA Debate-se a mecânica contratual adotada pela Instituição Financeira de remeter para o saldo devedor a parte dos juros mensais não contemplada pelo valor da prestação. Questiona-se a incidência de juros sobre esse saldo devedor que inclui parcelas acumuladas de juros, pois ensejaria a prática de anatocismo, vedada pelo ordenamento jurídico. Sobre o aspecto, o que definitivamente não se pode negar é que se são levadas ao saldo devedor parcelas de juros gerados mensalmente, e se sobre a totalidade desse saldo devedor incidem os juros mensais, evidentemente configurase a incidência de "juros sobre juros". Tal prática efetivamente é vedada pelo ordenamento jurídico, nos precisos termos da chamada Lei da Usura, através de seu artigo 4º(quarto): "É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano" (art. 4º, do Decreto , de 07 de abril de 1933). Trata-se de regra cogente - não se pode cobrar juros de juros, permitindo-se quando muito uma incidência única anual de juros, e não mensal sobre os juros acumulados. O argumento que se pretende, para os partidários da incidência dos juros sobre tais juros mensalmente, é de que as operações do sistema financeiro nacional, enquadradas na Lei nº 4.595/64, estariam à margem da tutela restritiva do Decreto /33. Essa questão foi extensamente analisada pelo Supremo Tribunal Federal, sendo o entendimento consolidado na Súmula 121 in verbis: "É vedada a incidência de capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". Sendo vedada a incidência de novos juros sobre saldo de juros gerados mensalmente, por força de vontade e determinação legislativa específica, não seria o descontrole de cláusulas contratuais (tais como PES), ou má avaliações econômicas que fariam derrogar a Lei Escrita [REA /REA] 4/8
5 Na linha do anteriormente exposto, o Supremo Tribunal Federal foi provocado por vezes a manifestar-se sobre a prevalência da Súmula 121 transcrita, tendo em vista a posterior edição da Súmula 596 in verbis: "As disposições do Decreto /33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro nacional". Referida Súmula 596, no entanto, diz respeito apenas ao limite de "taxas de juros" prevista no art. 1º, do mesmo Decreto , ali restringidos ao dobro, no máximo, da taxa legal prevista no artigo do Código Civil. O artigo 1º, do Decreto tem a seguinte redação, objetivando impor unicamente um limite às taxas de juros, não se referindo aqui ao anatocismo, este vedado pelo art. 4º já transcrito: "Art. 1º: É vedado e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art. 1062)". Essa distinção é expressamente manifestada pelo Supremo Tribunal Federal, notadamente nos julgados que se seguiram após ambas as Súmulas. Elucidativa a transcrição, no particular, do voto do Excelentíssimo Senhor Ministro Djaci Falcão: "...No caso, foi admitido que os juros fossem calculados sobre o saldo devedor, devendo ser pagos mensalmente pela mutuária (conforme cláusula 10, letra b, fls. 61). De modo que vencidos os juros, que deveriam ser pagos mensalmente, e não o são, passam eles a integrar o saldo devedor sobre o qual incidirão os juros referentes ao mês subseqüente. Dispõe o art. 4º do Decreto nº , de : "É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano". A regra, que veda o anatocismo originou a Súmula 121, in verbis: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". (...) A alegada convenção entre as parte e a praxe no sistema financeiro, mencionados no acórdão, não podem se sobrepor a um dispositivo de ordem pública. Ademais, é de se considerar que a regra do art. 4º do Decreto /33 não foi revogada pela Lei nº 4.595/64, consoante se acha assentado na jurisprudência desta Corte. (...) Finalmente, é oportuno frisar que a Súmula 596 se refere ao art. 1º do Decreto nº /33, não conflitando com o verbete da Súmula nº 121, que se apóia no art. 4º do mesmo diploma. Vê-se, diante do exposto, que continua de pé a Súmula nº 121. Em conseqüência, não pode subsistir a decisão, na parte atinente à capitalização mensal dos juros pactuados." (RE nº RJ, 2ª Turma, julg. 16/09/1983, RTJ - 108, p. 277) A questão já foi apanhada pelo Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, e reiteradamente decidida: SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AMORTIZAÇÃO NEGATIVA. JUROS CAPITALIZADOS. A cobrança de juros sobre juros advinda da amortização negativa é vedada no ordenamento jurídico, caracterizando a prática de anatocismo. Apelação improvida. (AC nº /PR, Relatora Des. Federal MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÉRE, DJU de , pág. 805). A prática combatida pela lei e jurisprudência citadas resta configurada no contrato em apreço, evidenciando-se no fato de a planilha de evolução do financiamento de fls. 31/37 apresentar amortizações negativas [REA /REA] 5/8
6 A única forma de se evitar a cobrança de juros sobre tais juros é a formação de conta em separado, onde deverão ser acumuladas tais parcelas de juros, não atendidas pelo valor mensal da prestação. Tal conta haverá de ter correção monetária pelo índice contratual, sem incidência de novos juros nos termos da Súmula 121 já referida. No caso em tela, a par da discussão sobre a existência ou não de incidência de juros sobre juros pelo simples fato de aplicação da Tabela Price, a perícia concluiu pela existência de amortizações negativas. Desta forma, demonstrado que foram levadas ao saldo devedor parcelas de juros gerados mensalmente e que sobre a totalidade desse saldo devedor incidiram os juros mensais, configura-se a incidência de "juros sobre juros", prática vedada pelo ordenamento jurídico, nos precisos termos da Lei de Usura (artigo 4º). Assim, o anatocismo vedado pelo ordenamento jurídico se constatou ante a existência de amortizações negativas, cujo expurgo, ainda assim, não implica na substituição da Tabela Price por sistema de amortização diverso. Friso que a utilização da Tabela Price conta com expressa autorização legislativa. O artigo 6º, "c", da Lei nº 4.380/64 determinou a sua incidência nos contratos de vendas ou construção de habitações para pagamento a prazo ou de empréstimos para aquisição ou construção de habitações. Atente-se para o comando legal: "ao menos parte do financiamento, ou do preço a ser pago, seja amortizado em prestações mensais sucessivas, de igual valor, antes do reajustamento, que incluam amortizações e juros". Concluindo, destaco a seguinte ementa do STJ que contempla as situações debatidas nos presentes autos: I. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. FCVS. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO. TABELA PRICE. LANÇAMENTO DOS JUROS NÃO- PAGOS EM CONTA SEPARADA, COMO MEIO DE SE EVITAR A CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. APLICAÇÃO DA TR PARA A ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR. NÃO-EXAURIMENTO DE INSTÂNCIA. SÚMULA 207/STJ. CES. QUESTÃO DECIDIDA MEDIANTE ANÁLISE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. SÚMULA 5/STJ. 1. A utilização do Sistema Francês de Amortização (Tabela Price) pode ensejar a cobrança de juros sobre juros, como, por exemplo, na hipótese de amortização negativa do saldo devedor [REA /REA] 6/8
7 2. Tal situação é explicada pelo descompasso existente entre a correção monetária do saldo devedor, normalmente com base nos índices aplicáveis à caderneta de poupança, e a atualização das prestações mensais, nos moldes definidos no Plano de Equivalência Salarial - PES, ou seja, de acordo com a variação salarial da categoria profissional do mutuário. Nessa sistemática, o valor da prestação, freqüentemente corrigido por índices inferiores aos utilizados para a atualização do saldo devedor, com o passar do tempo, tornava-se insuficiente para amortizar a dívida, já que nem sequer cobria a parcela referente aos juros. Em conseqüência, o residual de juros não-pagos era incorporado ao saldo devedor e, sobre ele, incidia nova parcela de juros na prestação subseqüente, em flagrante anatocismo. A essa situação deu-se o nome de amortização negativa. 3. Diante desse contexto, os Tribunais pátrios passaram a determinar que o quantum devido a título de juros não-pagos fosse lançado em uma conta separada, sujeita somente à correção monetária, tal como ocorreu na hipótese dos autos. 4. Tal providência é absolutamente legítima, tendo em vista que a cobrança de juros sobre juros é vedada nos contratos de financiamento regulados pelo Sistema Financeiro de Habitação, ainda que livremente pactuada entre as partes contratantes, segundo o disposto na Súmula 121/STF, assim redigida: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada." 5. "A capitalização de juros, em qualquer periodicidade, é vedada nos contratos regidos pelo Sistema Financeiro da Habitação, ainda que haja previsão contratual expressa, porquanto inexistente qualquer previsão legal, incidindo, pois, o enunciado 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal" (AgRg no REsp /RS, 3ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, DJ de ). 6. Não há falar, outrossim, em ofensa à norma que prevê a imputação do pagamento dos juros antes do principal, na medida em que os juros nãopagos serão normalmente integrados ao saldo devedor, porém em conta separada, submetida somente à atualização monetária, como meio de se evitar a incidência de juros sobre juros. 7. No tocante à conta principal, a sistemática seguirá pela adoção da Tabela Price, conforme decidido pela Corte de origem, abatendo-se, em primeiro lugar, os juros, para, em seguida, amortizar o capital, mesmo porque "não é ilegal a utilização da tabela Price para o cálculo das prestações da casa própria, pois, por meio desse sistema, o mutuário sabe o número e os valores das parcelas de seu financiamento" (REsp /MG, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de [REA /REA] 7/8
8 ), ressalvadas as hipóteses em que a sua adoção implica a cobrança de juros sobre juros. 8. (...) 9. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que "o CES pode ser exigido quando contratualmente estabelecido" (AgRg no REsp /PR, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de ). 10. e 11. Omissis. II. Omissis. (REsp /RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe 11/02/2009) Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS. Condeno os recorrentes vencidos (RÉU) ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento), à proporção de 5% para cada réu, os quais devem ser calculados sobre o valor da causa, tendo em vista que não há condenação em espécie. Curitiba, (data do ato). Assinado digitalmente, nos termos do art. 9º do Provimento nº 1/2004, do Exmo. Juiz Coordenador dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região. JOSÉ ANTONIO SAVARIS Juiz Federal [REA /REA] 8/8
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