DECISÃO. Belo Horizonte, 18 de janeiro de 2016.

Transcrição

1 MANDADO DE SEG. COLETIVO 2ª CÂMARA CÍVEL Nº /000 BELO HORIZONTE IMPETRANTE(S) SINDIFISCO MG IMPETRADO(A)(S) SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA - SEF IMPETRADO(A)(S) SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO - SEPLAG INTERESSADO ESTADO DE MINAS GERAIS DECISÃO Belo Horizonte, 18 de janeiro de Vistos, etc. O impetrante aforou esta ação de mandado de segurança contra ato do Secretário de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais e do Secretário de Estado da Fazenda de Minas Gerais. Afirmou ser substituto processual de seus filiados e que os impetrados anunciaram, no dia , por meio de nota à imprensa mineira, que pagariam com atraso os salários dos funcionários públicos do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais, relativos ao mês de dezembro de 2015, no dia , em decorrência de deficit orçamentário e baixa arrecadação de ICMS em Asseverou ter o primeiro impetrado noticiado na mídia que o salário do mês de fevereiro de 2016 também será pago com atraso e existe a possibilidade de que, a partir do mês de março, os salários venham a ser parcelados. Acrescentou que, ao longo dos últimos anos, os funcionários do Poder Executivo mineiro receberam os vencimentos no quinto dia útil de cada mês. Esclareceu que o atraso ocorrido neste mês tumultuou a vida financeira dos substituídos, causando insegurança jurídica na vida pessoal e funcional dos mesmos. Informou que, ao contrário do que afirmaram os impetrados, não houve queda nominal da receita e o deficit anunciado decorreu do aumento de despesas. Asseverou que a atividade exercida pelos substituídos é Fl. 1/5

2 decisiva para a efetividade da arrecadação do ICMS, sendo vinculada, exclusiva, essencial e indelegável. Afirmou que o atraso no pagamento dos salários dos substituídos fere os princípios da dignidade humana, da valorização do trabalho, da segurança jurídica, da boa-fé, da eficiência, da razoabilidade e da proporcionalidade. Pretende seja declarada a ilegalidade e abusividade do ato que promoveu o atraso e alteração na data de pagamento dos vencimentos dos substituídos, bem como seja concedida a segurança para que os impetrados restabeleçam o pagamento dos vencimentos dos substituídos no quinto dia útil de cada mês, expedindo-se ordem para que os impetrados se abstenham de realizar o parcelamento dos salários. Requereu liminar. A concessão da tutela jurisdicional de caráter liminar demanda a presença de dois requisitos: fumus boni iuris e o periculum in mora. O primeiro requisito consiste na aparência de direito. Mas não é direito material, e sim a possibilidade da tutela principal. Acerca do tema ensina Humberto Theodoro Júnior, no seu Curso de direito processual civil, 48. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2013, vol. II, p. 518: O fumus boni iuris. Para a ação cautelar, não é preciso demonstrar-se cabalmente a existência do direito material em risco, mesmo porque esse, frequentemente, é litigioso e só terá sua comprovação e declaração no processo principal. Para merecer a tutela cautelar, o direito em risco há de revelar-se Já o segundo requisito consiste na probabilidade de dano irreparável ou de difícil reparação. É o mesmo autor, na obra citada, p. 519, quem esclarece: Periculum in mora. Para a obtenção da tutela cautelar, a parte deverá demonstrar fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a faltar as circunstâncias de fato favoráveis à própria Fl. 2/5

3 tutela. E isto pode ocorrer quando haja risco de perecimento, destruição, desvio, deterioração, ou de qualquer mutação das pessoas, bens ou provas necessários para a perfeita e eficaz atuação do provimento final do processo principal. Acrescento que o Poder Judiciário não pode substituir os outros Poderes na prática do ato administrativo ou de ato político. A missão constitucional deste é a de exercer o controle judicial do referidos atos. Assim, deve distanciar-se do critério político, isto é, ele fica circunscrito apenas em verificar se o agente público atuou dentro dos princípios constitucionais pertinentes. Eis a lição de Alexandre de Morais, em Constituição do Brasil interpretada, São Paulo: Atlas, 2002, p. 809: Importante destacar a atuação do Poder Judiciário em relação ao controle dos atos administrativos vinculados e discricionários. Em relação aos atos administrativos vinculados, em face de a lei determinar todos os seus elementos, o controle jurisdicional é pleno, pois inexiste vontade subjetiva da Administração em sua edição. Em relação, porém, aos atos administrativos discricionários, torna-se importante a definição dos contornos e amplitude do controle jurisdicional, uma vez que é a própria lei que, explícita ou implicitamente, concede maior liberdade à Administração, permitindo-lhe a escolha da conveniência e oportunidade para a edição do ato. Assim, em regra, será defeso ao Poder Judiciário apreciar o mérito do ato administrativo, cabendo-lhe unicamente examiná-lo sob o aspecto de sua legalidade e moralidade, isto é, se foi praticado conforme ou contrariamente ao ordenamento jurídico. Essa solução tem como fundamento básico o princípio da separação dos poderes (CF, art. 2º), de maneira que a verificação das razões de conveniência ou de oportunidade dos atos administrativos escapa ao controle jurisdicional do Estado. O Poder Judiciário pode corrigir o que for ilegal, não para substituir o Administrador, mas para eliminar o excesso ou invalidar o Fl. 3/5

4 próprio ato. O controle jurisdicional, portanto, fica limitado ao exame da validade do ato, quando ocorrer abuso de poder ou excesso censurável, sem adentrar o seu mérito. As autoridades impetradas informaram, no dia , que o pagamento dos funcionários públicos do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais seria efetuado no dia (arquivo eletrônico nº 27): Informamos que o pagamento do salário referente ao mês de dezembro de 2015 será integralmente depositado no dia 13 de janeiro. Tal situação se deve às dificuldades financeiras ora enfrentadas pelo Estado de Minas Gerais, que registrou, sobretudo em 2015, forte redução da arrecadação de ICMS, tal como o restante dos Estados brasileiros. O Governo de Minas segue realizando os esforços para controlar as despesas, estimular a arrecadação de tributos e implementar mudanças administrativas, a fim de superar as atuais dificuldades financeiras e, principalmente, garantir a folha de remunerações dos servidores estaduais. Como tem feito desde o início da gestão, o Governo continuará levando ao conhecimento da sociedade mineira, com total transparência, a situação orçamentária do Estado de Minas Gerais e as medidas que se fizerem necessárias para seu melhor enfrentamento. E, assim, conta com a compreensão de todos diante do grande desafio em curso, enfrentado por todo o país, para regularização das finanças estaduais. Observo que o pagamento dos funcionários do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais, que deveria ter sido efetuado no dia (quinto dia útil do mês), foi postergado para o dia , em virtude de dificuldades financeiras enfrentadas pelo Estado de Minas Gerais, sobretudo pela forte redução da arrecadação de ICMS em Fl. 4/5

5 Ora, trata-se de ato discricionário da Administração Pública e foi motivado. Portanto, inexiste prova de plano que a Administração Pública tenha agido com excesso ou abuso de poder. Estas circunstâncias patenteiam que estão ausentes os dois requisitos, o que inviabiliza a liminar. Assim, indefiro a liminar. 2. Requisite-se informação às autoridades impetradas. 3. Cadastre-se e cientifique-se o Estado de Minas Gerais. Intime-se. Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº /2001 de 24/08/2001. Signatário: Desembargador CAETANO LEVI LOPES, Certificado: 0FD5089D124F3AE15AF344322BD0057D, Belo Horizonte, 18 de janeiro de 2016 às 17:32:07. Verificação da autenticidade deste documento disponível em - nº verificador: Fl. 5/5