Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Rio Grande do Sul 1ª Vara Federal de Porto Alegre

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1 Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Rio Grande do Sul 1ª Vara Federal de Porto Alegre Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, 600, 6º andar, Ala Sul - Bairro: Praia de Belas - CEP: Fone: (51) rspoa01@jfrs.gov.br MANDADO DE SEGURANÇA Nº /RS IMPETRANTE: DIRETORIO CENTRAL DE ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL IMPETRADO: REITOR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS - PORTO ALEGRE DESPACHO/DECISÃO Trata-se de mandado de segurança em que a entidade impetrante objetiva a concessão de tutela provisória de urgência para o fim de se ver autorizada "a matrícula precária dos estudantes do sistema de reserva de vagas, qualquer que seja sua modalidade, que tenham sido regularmente aprovados no concurso vestibular e tenham entregue sua documentação no prazo estabelecido e estejam aguardando até o momento a análise e/ou a apreciação de recurso, assegurando igualdade de condições com os demais alunos mantendo reservada suas vagas para que seja confirmada a matrícula quando do trânsito em julgado da ação, sob pena de multa diária a ser fixada por este juízo". Narrou que, por meio do edital do Concurso Vestibular 2018, a UFRGS exige um número grande de documentos para a comprovação do cumprimento dos requisitos para os candidatos que concorreram no sistema de reserva de vagas, modalidades L1 a L14. Destacou que, dependendo de qual foi a modalidade em que o candidato aprovado concorreu, deve comprovar sua situação acadêmica/escolar, participar da aferição visual no caso da cota étnico-racial e por fim submeter-se a análise socioeconômica. Aduziu que todos os candidatos entregaram em 25/01/2018 sua documentação para análise, mas até o momento um número grande de cotistas não tiveram sequer sua análises socioeconômicas, embora as aulas já tivessem iniciado em 05/03/2018. Sustentou que os alunos cotistas estão sofrendo prejuízo de conteúdo em razão da impossibilidade de frequentar as aulas, além de outros de ordem assistencial. Destacou que, em anos anteriores, a própria Universidade diante da mora na análise dos documentos, autorizava a matrícula em caráter precário, o que não se deu neste ano de Salientou, ainda, a possibilidade de perda do semestre e o prejuízo no ordenamento de toda a graduação. Asseverou que a Universidade trata

2 de forma anti-isonômica os estudantes egressos do sistema de cotas, impedindo-os de gozar do direito à educação em igualdade de condições com os colegas que já estão matriculados e frequentando as aulas. Considerando o disposto no art. 2º da Lei nº 8.437/1992, foi determinada a intimação da UFRGS para que, no prazo de 72 horas, se manifestasse acerca do pedido liminar. Intimada, a UFRGS apresentou manifestação (evento 8), sustentando a ausência dos requisitos legais para concessão da tutela de urgência e a existência do "periculum in mora" inverso, visto que a medida postulada possibilitaria o ingresso de candidatos na Universidade sem que preenchessem os requisitos legais das ações afirmativas. Defendeu, ainda, que a concessão da tutela teria efeito satisfativo e violaria o disposto no art. 1º, 3º, da Lei nº 8.437/92. No mérito, defendeu a autonomia administrativa da Universidade para alterar o seu sistema seletivo, nos termos do art. 207 da CF/88 e do art. 51 da Lei nº 9.394/96. Discorreu sobre o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas, apontando as diversas modalidades existentes no Edital do Concurso Vestibular e o procedimento de avaliação dos candidatos e de comprovação dos requisitos ali previstos. Esclareceu que, segundo a Pró-Reitoria de Graduação, PROGRAD-UFRGS, as Comissões de Verificação da Declaração Étnico-Racial e as Comissões de Análise e de Recursos Acadêmicos e Socioeconômicos, haveria que se considerar 03 situações: 1) Situação de Candidatos das Modalidades L2, L4, L10 e L14 que necessitam de aferição presencial da autodeclaração étnico-racial; 2) Situação de Candidatos das Modalidades L1 a L14 em Análise de Recurso Acadêmico; e 3) Situação de Candidatos das Modalidades L1, L2, L9 e L10 em Análise de Recurso Socioeconômico. No que se refere à primeira situação, defendeu que uma decisão geral sobre os candidatos dessas modalidades se constituiria uma precipitação sobre um cuidadoso e complexo procedimento de análise para dar a devida destinação às vagas das ações afirmativas. Destacou, neste aspecto, o acordo realizada junto à 26ª Vara Federal desta Subseção Judiciária nos autos da Reintegração/Manutenção de posse nº , que visou a uma melhor avaliação para a ocupação das vagas destinadas aos pretos, pardos e indígenas na graduação, de tal sorte que a matrícula provisória pretendida poderia ir de encontro ao acordado e sinalizaria que a Universidade não estaria observando as regras objeto da conciliação. Igualmente no que se refere à segunda situação, dos candidatos em análise de recurso acadêmico, defendeu que a matrícula provisória representaria o ingresso de candidatos que não possuiriam os requisitos necessários para ocupação da vaga, o que também se daria quanto aos candidatos da terceira situação, com pendência de análise de recurso socioeconômico, inviabilizando o ingresso daqueles candidatos que efetivamente poderiam comprovar os requisitos do Edital e a condição de renda. Pugnou, ao final, pelo indeferimento do pedido liminar. Vieram os autos conclusos.

3 A concessão de medidas liminares em mandados de segurança está atrelada ao disposto no artigo 7º, III, da Lei nº /09, segundo o qual o Juiz, ao despachar a inicial, poderá suspender o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante (fumus boni iuris) e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida (periculum in mora). Inicialmente, afasto a alegação da Universidade quanto ao caráter satisfativo do pedido liminar e o perigo inverso, na medida em que a decisão que o deferisse poderia determinar a ocupação das vagas por candidatos que não preencheriam os requisitos legais. Com efeito, o pedido é claro quando objetiva a matrícula precária dos estudantes do sistema de reserva de vagas, de tal sorte que não haveria efetivamente a ocupação das vagas de forma definitiva, pelo menos até o julgamento dos recursos administrativos dos candidatos. Há que se considerar, ainda, a existência do risco da ineficácia da medida postulada caso seja examinada somente por ocasião da sentença. Isso porque, como assinalado na inicial, as aulas já tiveram seu início em 05/03/18, e muitos dos estudantes substituídos processualmente pelo impetrante ainda não tiveram sua documentação analisada e, ao que parece, a maioria teria pendente a análise de recursos, com risco, inclusive, de perda do semestre letivo. Embora a Universidade junte aos autos o seu fluxograma (evento 8 - OUT2), e esclareça em sua manifestação que vem agindo de tal sorte a obedecer um encadeamento de procedimentos, um fluxo contínuo e ordenado de etapas que não podem ser sobrepostas ou negligenciadas para dar a destinação adequada às vagas de ações afirmativas, há que se considerar o fato de que as aulas do semestre já iniciaram há quase um mês, e os estudantes egressos do sistema de cotas delas não podem usufruir com evidente prejuízo de conteúdos. Como defendido na inicial, há um tratamento anti-isonômico que precisa ser contornado pela Universidade, pois embora haja dificuldade nas avaliações quanto à implementação dos requisitos previstos no Edital, não se mostra razoável que os estudantes aguardem de forma indefinida um julgamento. Neste sentido, há que se considerar que a manifestação da Universidade não refere qualquer data aproximada para o encerramento das avaliações do primeiro semestre deste ano. Não se desconhece a autonomia didático-científica e administrativa garantida às Universidades (art. 207 da CF). Contudo, excepcionalmente, no caso concreto, há que se considerar o princípio da razoabilidade a ensejar o deferimento do pedido liminar, considerando, ainda, que o direito à educação é um direito fundamental, protegido pela Constituição. Igualmente há que se considerar que a medida postulada não visa a invadir o mérito administrativo, pois não ficará inviabilizada a análise dos recursos, da documentação e da aferição étnico-racial dos candidatos. O que busca a demanda é a matrícula provisória dos candidatos até a definição conclusiva pela Universidade sobre a implementação dos requisitos exigidos.

4 Não se verifica, também, que tal medida possa prejudicar o acordo judicial efetivado no âmbito da Reintegração/Manutenção de posse nº , que objetivou uma melhor avaliação para a ocupação das vagas destinadas aos cotistas, pois em nenhum momento a matrícula provisória dos candidatos inviabiliza os procedimentos objeto do indigitado acordo. Deve restar claro que a decisão que autoriza a matrícula provisória não interfere nos procedimentos administrativos em curso quanto à apuração dos requisitos previstos no Edital, mas apenas assegura a frequência às aulas e os demais atos de natureza assistencial, caso pertinentes, aos estudantes que não tiveram sua situação decidida pela Universidade até o momento de forma conclusiva. No entanto, ao contrário do que pretendido pela entidade impetrante, a reserva das vagas dos candidatos não deverá perdurar até o trânsito em julgado da ação, mas apenas até a conclusão definitiva das avaliações de ordem étnico-racial, escolar/acadêmica e socioeconômica no âmbito administrativo. As decisões administrativas que eventualmente sejam consideradas pelos candidatos ilegais deverão ser objeto de ação própria individual. Assim, uma vez julgados os recursos de forma definitiva pela Universidade, a decisão administrativa deverá prevalecer, considerando a presunção de legitimidade dos atos administrativos. Ante o exposto, defiro parcialmente o pedido liminar para determinar à autoridade impetrada que autorize a matrícula provisória dos substituídos processualmente (estudantes do sistema de reserva de vagas que tenham sido aprovados no concurso vestibular e tenham entregue a documentação no prazo estabelecido, sem que tenha havido análise conclusiva da Universidade a respeito da situação concreta), até o julgamento dos recursos interpostos pelos candidatos, quando então poderá ser confirmada ou cancelada a mencionada matrícula precária, conforme a decisão administrativa. Intimem-se. Notifique-se a autoridade impetrada para dê cumprimento à presente decisão, adotando os procedimentos necessários no prazo de 5 (cinco) dias, e para que preste suas informações. Após, dê-se vista ao Ministério Público Federal e voltem os autos conclusos para sentença. Documento eletrônico assinado por GRAZIELA CRISTINE BÜNDCHEN, Juíza Federal Substituta, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v24 e do código CRC 381aabae. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): GRAZIELA CRISTINE BÜNDCHEN Data e Hora: 26/3/2018, às 19:33:21

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