Seção Judiciária do Estado do Tocantins 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SJTO

Transcrição

1 Seção Judiciária do Estado do Tocantins 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SJTO PROCESSO: CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA (120) IMPETRANTE: VANESSA GUIMARAES DE CASTRO IMPETRADO: ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SEÇÃO TOCANTINS, CONSELHO SECCIONAL DA OAB DO TOCANTINS DECISÃO Trata-se de mandado de segurança impetrado por VANESSA GUIMARÃES DE CASTRO contra ato do PRESIDENTE DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SECCIONAL DO TOCANTINS OAB/TO, objetivando a sua inscrição nos quadros da ordem. A impetrante alega, em síntese, que: 1) foi aprovada no XVIII Exame de Ordem dos Advogados do Brasil, em fevereiro/2016; 2) concluiu o curso de Direito pela Universidade Estadual do Tocantins UNITINS, em novembro/2016, tendo colado grau em janeiro/2017; 3) em seguida, formalizou o pedido de inscrição originária junto à Seccional da OAB no Tocantins, sob o protocolo nº ; 4) foi notificada, no dia 29/03/2017, acerca do indeferimento do seu pedido, sob o fundamento de que a requerente, quando da realização da 1ª Fase do Exame, ainda estava cursando o 8º período, ao passo em que o Edital permite a participação apenas a partir do 9º período (último ano de curso); 5) pediu a reconsideração dessa decisão, mas o indeferimento foi mantido; 6) no dia 26/11/2015 a impetrante já estava aprovada em todas as disciplinas do 8º período do curso, conforme declaração emitida pela coordenação do curso, e a primeira fase do Exame da OAB foi realizada no dia 29/11/2015; 7) ingressou na UNITINS no semestre 2010/2, mas esteve fora do país durante 3 semestres, em intercâmbio acadêmico, nas instituições norte-americanas Murray Satate University e Arizona State University; 8) as disciplinas cursadas nesse intercâmbio não foram aproveitadas no curso de Direito da UNITINS, mas devem ser computadas para fins de duração do curso, sendo assim, no

2 segundo semestre de 2015 já estava cursando o seu 10º período, embora só tenha concluído o curso no semestre 2016/2, com um total de 12 semestres (incluindo-se o intercâmbio); 9) foi selecionada para trabalhar no escritório PEREZ RIBEIRO ADVOGADOS, mas depende da inscrição nos quadros da ordem para desempenhar suas funções. Pugnou pela concessão liminar da segurança e juntou documentos. Foi proferido despacho (Id ) determinando a notificação da autoridade para prestar informações, antes de apreciar o pleito liminar. Nas informações prestadas, o Presidente da OAB/TO sustentou, em apertada síntese, que: 1) não cabe ao judiciário examinar critérios e normas editalícias de seleções públicas, conforme ficou decidido pelo Supremo Tribunal Federal no RE , em sede de repercussão geral; 2) o Edital do XVIII Exame de Ordem estabeleceu, de forma expressa, no item 1.4.3, que poderiam participar do exame aqueles que estivessem matriculados no nono ou décimo período do curso de direito até o dia 28/10/2015; 3) nessa data a impetrante ainda estava cursando o 8º período e, portanto, não preenche os requisitos do edital; 4) eventual pronunciamento favorável poderá provocar um efeito multiplicador da demanda, uma vez que todos os candidatos bacharelandos que ainda não concluíram o 8º semestre do curso de direito pleiteariam por tratamento isonômico. Pugnou pelo indeferimento da liminar e pela denegação da ordem. É o relato do necessário. Decido. Inicialmente, afasto a alegação aventada pela OAB, no sentido de que não é possível a discussão do mérito da presente ação na via judicial. No RE a Suprema Corte apenas assentou que não cabe ao judiciário, via de regra, discutir critérios de correção de provautilizados por banca examinadora. No entanto, a discussão nos presentes autos não diz respeito a essa matéria. A discussão aqui travada é sobre possível ilegalidade na denegação de registro profissional junto à OAB. Sendo assim, passo a analisar o pedido liminar. Consoante art. 1º da Lei do /2009, o mandado de segurança presta-se à proteção de direito líquido e certo violado por ato eivado de ilegalidade ou de abuso de poder. Ainda segundo a lei, art. 7º, inciso III, para a concessão de liminar o juiz deve se convencer da probabilidade do direito alegado (relevância do fundamento) e de que haja fundado receio de ineficácia da medida, caso venha a ser concedida somente na sentença (perigo da demora).

3 Assim, no mandado de segurança a relevância do fundamento está intrinsecamente ligada à demonstração da ilegalidade do ato administrativo impugnado. No entanto, não vislumbro qualquer ilegalidade no indeferimento do pedido de registro atacado nestes autos. Vejamos. A impetrante teve seu pedido de registro negado porque a aprovação no Exame de Ordem (um dos requisitos para inscrição) não foi válida. Consta nos autos a informação de que a impetrante foi considerada aprovada no XVIII Exame de Ordem, mas não estava apta a realizar o exame e, portanto, esse resultado não pode ser utilizado. O Provimento nº 144/2011, que regulamenta o 1º, do art. 8º, da Lei nº 8.906/1990, estabelece que: Art. 7º O Exame de Ordem é prestado por bacharel em Direito, ainda que pendente sua colação de grau, formado em instituição regularmente credenciada. (...) 3º Poderão prestar o Exame de Ordem os estudantes de Direito dos últimos dois semestres ou do último ano do curso. (NR. Ver Provimento n. 156/2013) A interpretação dessa norma é clara: Apenas os bacharéis em Direito, e os bacharelandos que estejam nos dois últimos semestres do curso (ou último ano) podem se submeter ao Exame de Ordem. Essa regra estava ainda mais clara no edital do XVIII Exame de Ordem da OAB. Anote-se o trecho: Poderão realizar o Exame de Ordem os estudantes de Direito que, até o dia 28 de outubro de 2015, estejam matriculados nos últimos dois semestres ou no do último ano do curso de graduação em Direito. Analisando o cronograma dessa edição do Exame de Ordem, observo que o dia 28/10/2015 era o último dia para pagamento da taxa de inscrição. Entendo que o dies ad quem para confirmação da inscrição no exame é um parâmetro razoável e isonômico que atende ao comando geral do Provimento nº 144/2011. Vale ressaltar que a impetrante estava ciente, ou pelo menos deveria estar, dessa regra editalícia, contra a qual, diga-se de passagem, não opôs qualquer insurgência em momento oportuno. Não há qualquer dúvida de que no dia 28/10/2015 a impetrante ainda estava cursando o 8º semestre de Direito. A declaração firmada pelo coordenador do curso (Id ) ainda confirma que apenas no dia 26/11/2015 a impetrante foi considerada aprovada em todas as disciplinas do 8º período. Ademais, mesmo que se pudesse considerar a data da realização das provas do Exame de Ordem como marco temporal para verificação da situação da matrícula no curso, não há nenhuma comprovação nestes autos de que no dia 29/11/2015 (data de realização da 1ª fase

4 do exame), tampouco que no dia 17/01/2016 (data de realização da 2ª fase do exame), a impetrante estivesse efetivamente matriculada no 9º período da faculdade. Ao contrário, o calendário acadêmico juntado aos autos (Id ) aponta que as matrículas para o semestre 2016/1 tiveram início apenas no dia 22/01/2016. Está evidente, portanto, que a impetrante prestou todas as fases do exame antes de estar matriculada nos últimos dois semestres do curso de Direito, em arrepio ao Provimento nº 144/2011 da OAB e ao Edital do certame. Também não merece prosperar o argumento de que deve ser considerado o tempo em que a impetrante estava participando de intercâmbio acadêmico. Conforme ela mesma reconhece, as matérias cursadas nas instituições de ensino norte-americanas não foram aproveitadas em seu histórico escolar no curso de direito. Sendo assim, não há qualquer razão para contar o tempo de estudo naquele país para fins de autorização para prestar o Exame de Ordem. Em outras palavras, não importa se a impetrante estava estudando há mais de cinco anos quando realizou o Exame. O que interessa é que ela ainda não estava, no mínimo, matriculada no penúltimo semestre do curso. Interferências judiciais como essa pretendida pela impetrante acabam por incentivar o descumprimento de regras a todos impostas e violam o princípio da isonomia. Logo, não havendo nenhuma irregularidade nas regras editalícias e sendo claras suas disposições quanto ao requisito mínimo para realização do exame e posterior obtenção de inscrição junto à Ordem dos Advogados do Brasil, não há ilegalidade no ato praticado pela autoridade impetrada a ser sanado pela via mandamental. Ante o exposto, INDEFIRO o pedido liminar. Intime-se o Ministério Público Federal para emissão de parecer. Após, voltem-me os autos conclusos para sentença. Intime(m)-se. PALMAS, 05 de junho de (assinado digitalmente) DENISE DIAS DUTRA DRUMOND Juíza Federal

5 Assinado eletronicamente por: DENISE DIAS DUTRA DRUMOND seam ID do documento: