JUIZ DIRETOR DO FORO DA COMARCA DE ANÁPOLIS RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ

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Amália Prado Cabreira
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1 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO Nº COMARCA DE GOIÂNIA IMPETRANTE : ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SEÇÃO DE GOIÁS IMPETRADO : JUIZ DIRETOR DO FORO DA COMARCA DE ANÁPOLIS RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ DECISÃO LIMINAR Cuida-se de mandado de segurança coletivo, com pedido liminar, impetrado pela ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SEÇÃO DO GOIÁS, contra ato do JUIZ DIRETOR DO FORO DA COMARCA DE ANÁPOLIS Dr. Ricardo Silveira Dourado, consubstanciado na elaboração da Portaria nº 61 de 15 de agosto de Em síntese, a impetrante explica que o instrumento normativo vergastado estabeleceu que os telefonistas da localidade estariam proibidos de transferir ligações externas às escrivanias, gabinetes, juízes e respectivos assessores, excepcionando, no entanto, as que fossem realizadas por outras unidades judiciárias e administrativas do Poder Judiciário, membros do Ministério Público e os órgãos Públicos do Poder Executivo e Legislativo Federal, Municipal e Estadual, ainda que de outras unidades federativas. Aduz, ainda, que a portaria acrescentou que os advogados somente teriam suas ligações transferidas às escrivanias e gabinetes, caso ligassem no período das 08h às 09h ou das 17h às 18h e, mesmo assim, se o assunto se tratasse de erro praticado pela escrivania no momento do cumprimento de atos processuais. Argumenta que a orientação emanada pela autoridade coatora está eivada de desvio de finalidade, conferindo tratamento desarmônico com o princípio da isonomia e em desconformidade com a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB). Rebate acerca do cabimento do presente writ coletivo, em defesa da categoria profissional da advocacia, bem como sobre a legitimidade ativa da Ordem dos Advogados do Brasil. Assevera que ato coator é ilegal, desarrazoado e desproporcional. Argui que ( ) o tratamento privilegiado a determinadas categorias em detrimento de outras, no que toca à vedação de transferência e ligações, afrontou, diretamente, o princípio da isonomia

2 garantido do art. 5º da Constituição Federal e por ter desprestigiado a classe da advocacia o próprio art. 6º, parágrafo único da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB) o qual dispõe, expressamente, que não há hierarquia e nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Públicos, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos. (sic). Ressalta que o artigo 139, 2º do Ato Normativo nº 001/98 do Tribunal de Justiça de Estado de Goiás dispõe sobre a vedação de transferência de ligação às partes sem exceção e não somente aos advogados. Alega que o ato administrativo impugnado vai à contramão da orientação do Conselho Nacional de Justiça, a qual ( ) já seguiu o raciocínio de que compete às unidades judiciárias instituir medidas e práticas que garantam tratamento igualitário e impessoal a todos os advogados e jurisdicionados. (sic). Roga ao final, em sede de liminar, pela suspensão dos efeitos da Portaria nº 61/2018. No mérito, pede a concessão da segurança pleiteada para afastar definitivamente ao ato acoimado coator e garantir aos advogados o mesmo tratamento dispensado aos membros do Ministério Público e aos demais representantes dos órgãos públicos dos Poderes Executivo e Legislativo. Junta com a inicial os documentos constantes no evento nº 01. Éo relatório. Decido. Trata-se de mandamus coletivo a ser apreciado originariamente pelo Tribunal de Justiça. De início, é bom registrar que o caso em tela deve ser apreciado sob o prisma da Lei do Mandado de Segurança (nº /2009). Nesses termos, a medida liminar em casos que tais somente pode ser deferida caso o periculum in mora e o fumus boni iuris estejam cristalinamente demonstrados, bem como na hipótese de os fundamentos da impetração serem relevantes e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, nos moldes do que dispõe o artigo 7º, inciso III, da Lei nº /2009, o qual determina que:

3 Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: ( ) III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. No caso dos autos, a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás impetrou mandado de segurança coletivo contra a Portaria nº 61 editada em 15 de agosto de 2018 pelo Juiz Diretor do Foro da comarca de Anápolis, Dr. Ricardo Silveira Dourado, por ferir o princípio da isonomia com os demais sujeitos que atuam nas instâncias da justiça, bem como da proporcionalidade e da razoabilidade. Da análise do ato administrativo impugnado, percebe-se que o artigo 2º assim dispõe: Artigo 2º Determinar às telefonias da Comarca de Anápolis-GO que se abstenham de transferir ligações externas às Escrivanias, Gabinetes de Juízes e respectivas assessorias, devendo informar às partes o endereço eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás ( e o telefone do Telejudiciário (62) , cujas informações se baseiam em: Acompanhamento de Processo, Cálculo prévio de custas, Pautas de Julgamento do Tribunal de Júri, direitos, benefícios e deveres, eventos nos auditórios, comarcas e distritos, competência e funcionamento dos órgãos, regiões judiciárias, plantão forense extraordinário, procedimentos para entrar com uma ação e outras informações judiciais e administrativas. Parágrafo único Ficam ressalvados os seguintes casos: I- as transferências de ligações externas originadas de outras unidades judiciárias e administrativas do Poder Judiciário, Ministério Público e órgãos públicos do Poder Executivo e Legislativo Federal, Municipal e Estadual, ainda que de outras Unidades Federativas. II- quando o advogado pedir a transferência da ligação à escrivania ou gabinete para relator erro praticado pela escrivania no momento do cumprimento de atos processuais, sendo nesses casos autorizada a transferência de ligação pelas telefonistas, no período matutino, das 08:00 às 09:00 h e no vespertino das 17:00 as 18:00h. Percebe-se que a impetrante irresigna, principalmente, com o inciso I do parágrafo único do artigo

4 mencionado, tendo em vista a desigualdade do tratamento dos advogados com os membros do Ministério Público e dos Poderes Executivo e Legislativo. De fato, o artigo 6º da Lei nº de 1994 (Estatuto da Advocacia e da OAB) dispõe que: Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos. Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho. Nestes termos, da análise do ato administrativo impugnado, percebe-se que este feriu o princípio da isonomia, ao excepcionar a regra de não passar ligação para as escrivanias e gabinetes aos membros do Ministério Público e integrantes dos Poderes Executivo e Legislativo, excluindo os advogados, portanto, presente o fumus boni juris, bem como o periculum in mora, tendo em vista o prejuízo causado a categoria protegida por este mandamus, de forma imediata. Diante dessas razões, CONCEDO LIMINARMENTE A ORDEM, suspendendo os efeitos do artigo 2º da Portaria nº 61/2018, editada pelo Juiz Diretor do Foro da comarca de Anápolis. Notifique-se a autoridade coatora do inteiro teor desta decisão para as providências que lhe compete e para que preste as informações, na forma da lei (artigo 7º, I, Lei nº /09 e artigo 250, I, do Regimento Interno do ), encaminhando-se-lhe cópia da inicial e da documentação que a acompanha. Dê-se ciência desta causa ao ESTADO DE GOIÁS, na pessoa de seu representante legal, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito (artigo 7º, II, Lei nº /2009). Após, ultimadas as providências acima, encaminhem-se os autos à douta Procuradoria-Geral de Justiça, independentemente de terem sido prestadas as informações pela autoridade coatora. Intimem-se. Cumpra-se.

5 Goiânia, 18 de setembro de DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ RELATOR 08/Ba

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