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1 1 de 7 07/04/ :12 MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRANTE: ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL SECAO DO PARANA IMPETRADO: Secretário de Estado da Fazenda Pública do Paraná e outros Outros interessados: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ Este mandado de segurança foi impetrado pela Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná OAB/PR contra a Resolução SEFA nº 409/2017, do Secretário de Estado do Fazenda Pública do Paraná, que teria, em tese, inovado no processo de seleção de candidatos ao exercício da função de Conselheiro representante dos contribuintes no Conselho de Contribuintes e Recursos Fiscais CCRF. Afirma que, com o advento da Lei nº /2016, o Governo do Estado do Paraná promoveu ampla alteração na esfera administrativa tributária. Destaca que a Lei trata de assuntos de extrema relevância, tais como fiscalização e formalização do crédito tributário, lançamento, auto de infração, condicionantes para defesas e recursos tributários, rito procedimental, dentre outros. Sustenta que a Lei, na verdade, mais parece um agrupamento assistemático de temas extremamente relevantes para a segurança jurídica na fiscalização e arrecadação tributária estadual. Assevera que a Lei tolheu a isonomia na escolha dos representantes de entidades privadas para integrar o CCRF. Argumenta que, de acordo com o art. 65 da Lei em análise, o CCRF é órgão da estrutura da Secretaria de Estado da Fazenda, composto por representantes do Estado do Paraná e dos contribuintes, com independência quanto á sua função de julgamento e paritário. Aduz que a legislação revogada, Lei Complementar nº 01/1972, previa as

2 2 de 7 07/04/ :12 entidades que detinham competência para indicação dos conselheiros representantes dos contribuintes. Todavia, o 3º do art. 68, com a mesma redação da lei revogada, foi vetado pelo Governador do Estado e a indicação passaria a ocorrer na forma estabelecida pelo Regimento do CCRF, de competência do Secretário de Estado da Fazenda. Alega que a Lei delega à autoridade impetrada a elaboração do Regimento do CCRF, mas não o autoriza a, arbitrariamente, expedir Resoluções autônomas e pontuais para escolha de conselheiros, tampouco prevê a criação de processo seletivo por meio de resolução. Defende a inconstitucionalidade da Resolução nº 409/2017 por ofensa ao princípio da isonomia, uma vez que o CCRF é órgão paritário por natureza. Reputa, também, existir ofensa ao princípio da legalidade, já que a Resolução tem relação de dependência e subordinação à Lei, destinada à sua regulamentação. Requer a concessão da medida liminar para suspender os efeitos e a aplicação da Resolução SEFA nº 409/2017. No mérito, a concessão da segurança em definitivo. Decido. A medida liminar é provimento de urgência admitido pela Lei do Mandado de Segurança "quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida" (art. 7, III, da Lei /2009). Para a concessão da liminar devem concorrer dois requisitos legais, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade de ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante se vier a ser reconhecido na decisão de mérito. estão presentes. Na hipótese dos autos, os requisitos para a concessão da medida almejada A Lei Complementar Estadual n. 107/2005 Código de Defesa do Contribuinte, prevê que a segunda instância administrativa, responsável pelo julgamento em grau recursal, será composta por órgão colegiado, de composição paritária entre representantes da administração e dos

3 3 de 7 07/04/ :12 contribuintes, nos termos do art. 21, parágrafo único: Art. 21. São assegurados, nos processos administrativo-fiscais, o contraditório, a ampla defesa e o duplo grau de deliberação. Parágrafo único. A segunda instância administrativa será organizada como colegiado, no qual terão assento, de forma paritária, representantes da administração e dos contribuintes. Inicialmente, o Conselho de Contribuintes e Recursos Fiscais - CCRF, no âmbito da Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná, era regulamentado pela Lei Complementar n. 1/1972. A indicação dos representantes dos contribuintes seria realizada pelas seguintes entidades, descritas no art. 3º, 6º, da LC Estadual n. 1/1972: Art. 3º. O Corpo Deliberativo será composto por doze Vogais, um Presidente, um 1º Vice-Presidente, um 2º Vice-Presidente e um 3º Vice-Presidente. (Redação dada pela Lei Complementar 78 de 28/06/1996) 6º. Os vogais e seus suplentes, representantes dos contribuintes, serão indicados em lista tríplice pelas seguintes entidades: (Redação dada pela Lei Complementar 36 de 30/03/1987) a) Federação da Agricultura do Estado do Paraná; (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) b) Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná; (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) c) Federação do Comércio do Paraná; (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) d) Federação das Empresas de Transportes de Carga no Estado do Paraná; (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) e) Federação das Indústrias do Estado do Paraná; (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) f) Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná. (Redação dada pela Lei Complementar 87 de 12/12/2000) A Lei n /2016, contudo, expressamente revogou a Lei Complementar Estadual n. 1/1972, nos termos do art. 92, I: Art. 92. Revoga, a partir da regulamentação desta Lei:

4 4 de 7 07/04/ :12 I - a Lei Complementar nº 1, de 2 de agosto de 1972; A novel legislação não previu o critério adotado para escolha dos representantes dos contribuintes, que passaria a regular-se na forma do Regimento Interno do próprio órgão, nos termos do art. 68: Art. 68. O CCRF será constituído por, no mínimo, duas e, no máximo, quatro Câmaras, compostas, cada uma, por seis Conselheiros, sendo três representantes do Estado do Paraná e três representantes dos contribuintes, nomeados pelo Chefe do Poder Executivo, na forma prevista no Regimento. O 3º do art. 68, que foi vetado pelo Governador do Estado do Paraná, constante do Projeto de Lei 433/2016, previa que a indicação dos Conselheiros representantes dos contribuintes caberias às entidades representativas de categorias econômicas ou profissionais, mas não indicava expressamente quais seriam essas entidades. Diante da ausência de critério legalmente previsto para escolha dos representantes dos contribuintes, o Secretário Estadual da Fazenda editou a Resolução SEFA nº 409/2017, que prevê a realização de processo de seleção dos candidatos ao exercício da função: Art. 1. Para o processo de seleção de candidatos ao exercício da função de Conselheiro representante dos contribuintes no Conselho de Contribuintes e Recursos Fiscais - CCRF, para mandato de um ano, deverão ser observadas a normas trazidas nesta Resolução. A resolução é ato administrativo normativo, emanado de autoridade superior, que não o Chefe do Poder Executivo, que disciplina matéria afeta à sua competência. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Resolução e portaria são formas de que se revestem os atos, gerais ou individuais, emanados de autoridades outras que não o Chefe do Executivo. (in: Direito Administrativo. 25ª ed. São Paulo: Atlas, p. 241). As resoluções decorrem expressamente dos atos normativos que lhe são superiores, em especial a Lei. Por esse motivo, não podem dispor em sentido contrário ao que

5 5 de 7 07/04/ :12 estabelece a Lei, mas tão-somente explica-la. Na lição de Diógenes Gasparini, sobre regulamento executivo: O regulamento executivo, também chamado de execução ou subordinado, é o que se preordena ao desenvolvimento de determinada lei. Presta-se, pois, a efetivar a exequibilidade da lei, particularizando-a de modo a torná-la praticável no que respeita à sua generalidade e abstração ou no que concerne ao procedimento a ser observado na sua aplicação. Não pode, por isso mesmo, ultrapassar tais limites, sob pena de ilegalidade. (in: Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 124). De acordo com a Lei n /2016, uma das competências do CCRF é a elaboração do seu regimento interno, que deverá ser submetido ao Secretário Estadual da Fazenda, nos termos do art. 66, III: Art. 66. Compete ao CCRF: (...) III - elaborar e modificar seu Regimento, submetendo-o à aprovação do Secretário de Estado da Fazenda. A aprovação pelo Secretário ocorre, justamente, na forma de Resolução. Vale dizer: o Regimento Interno do CCRF consiste em uma Resolução do Secretário de Estado da Fazenda. Registre-se, por oportuno, que o atual Regimento Interno do CCRF é a Resolução SEFA nº 82/2011, que nada dispõe sobre o procedimento de escolha dos Conselheiros representantes dos contribuintes. Trata-se, todavia, de ato administrativo composto, que enseja a manifestação de dois órgãos, um principal e um acessório. Sobre o tema, mais uma vez a oportuna a lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

6 6 de 7 07/04/ :12 Ato composto é o que resulta da manifestação de dois ou mais órgãos, em que a vontade de um é instrumental em relação a de outro, que edita o ato principal. Enquanto no ato complexo fundem-se vontades para praticar um ato só, no composto, praticam-se dois atos, um principal e outro acessório; este último pode ser pressuposto ou complementar daquele. (op. cit. p. 230). A manifestação principal é de competência do próprio CCRF, que elabora e modifica o seu Regimento Interno para, após, submetê-lo ao Secretário Estadual da Fazenda, que o aprova na forma de Resolução. Na hipótese dos autos, a Resolução SEFA nº 409/2017, apesar de emanada por quem detém a competência para sua expedição, não decorre de alteração ao Regimento Interno emanada do próprio CCRF. da paridade na composição do CCRF. Trata-se, ademais, de interpretação que melhor atende ao princípio da isonomia e Isso porque, estabelecida a competência do próprio Conselho para indicação dos seus conselheiros representantes dos contribuintes, também no ato de elaboração e modificação do Regimento Interno será observada a paridade. Evita-se, assim, que a escolha por critérios elaboradas unilateralmente pelo Secretário de Estado da Fazenda conduza a escolha de conselheiros que, apesar de formalmente representantes dos contribuintes, atendam exclusivamente interesses fazendários. Existe, portanto, aparente vício de competência no ato impetrado. Por sua vez, o risco de ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida reside no iminente decurso do prazo para indicação dos candidatos, em 7 de abril de Do exposto, concedo a liminar almejada para suspender os efeitos da Resolução SEFA nº 409/2017 até o final julgamento do writ.

7 7 de 7 07/04/ :12 Notifique-se a autoridade apontada como coatora, Secretário da Fazenda do Estado do Paraná, com as cópias necessárias, para prestar informações no prazo de dez dias, de acordo com o art. 7º, inciso I, da Lei n /2009. Cientifique-se o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, Estado do Paraná, enviando cópia da inicial sem documentos, para, querendo, ingressar no feito, nos termos do art. 7º, inciso II, da Lei n /2009. Prestadas as informações, intime-se a impetrante para replicar, em cinco dias, conforme art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal e artigo 218, 1ª parte, do Código de Processo Civil. da Lei n /2009. Após, abra-se vista a douta Procuradoria-Geral da Justiça, nos termos do art. 12 Intimem-se. Curitiba, 6 de abril de NILSON MIZUTA Relator Assinado eletronicamente por: NILSON MIZUTA ID do documento: