POSSIBILIDADES PARAR O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NAS SÉRIES INICIAIS NUMA PERSPECTIVA DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA Daniela Corrêa Da Rosa
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1 POSSIBILIDADES PARAR O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS NAS SÉRIES INICIAIS NUMA PERSPECTIVA DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA Daniela Corrêa Da Rosa O fato do professor (a) de Séries Iniciais do Ensino Fundamental ser responsável pelo trabalho pedagógico em diversas áreas o professor trabalhar com diversas áreas do saber (Matemática, Ciências Naturais, Português, Estudos Sociais e Artes, entre outras), têm trazido problemas para sua prática docente, sobretudo no que se refere a domínio dos conteúdos conceituais básicos de cada uma destas áreas do saber. Isto tem prejudicado fortemente o ensino neste nível de escolarização da Educação Básica. Em particular a qualidade dos programas propostos e das atividades desenvolvidas no Ensino de Ciências Naturais têm sido sofrível. Os conteúdos de Ciências Naturais acabam por ser trabalhados, em sua maioria, de forma reduzida, em termos do tempo destinado a cada atividade e da quantidade de momentos específicos destinados à discussões sobre cada assunto. Este contexto tem dificultado a ocorrência de quantidade de práticas pedagógicas que busquem implementar no nosso Ensino Fundamental o processo de Alfabetização Científico-Tecnológica dos alunos. Neste trabalho, procuramos discutir a importância, a necessidade e, a possibilidade de se trabalhar noções e/ou conceitos científicos, com crianças de Séries Iniciais segundo critérios defendidos pelo movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), surgido na Europa na década de 70. Como material básico para uso em sala de aula utilizamos textos extraídos de Revistas de Divulgação Científica. Como espaço de desenvolvimento de nossa proposta didática e de coleta de informações para a pesquisa, escolhemos atuar junto a duas turmas de quarta série, de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Santa Maria/RS. Atualmente, constatamos que o ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental é pouco desenvolvido em nossas escolas. Quando o é, na maioria da vezes, o conteúdo deste ensino é trabalhado de forma desvinculada da realidade dos alunos, caracterizando-se como uma espécie de transcrição do livro didático adotado. Para o tratamento dos temas escolhidos os professores não costumam partir de informações e/ou situações que são familiares aos alunos, de modo geral, as
2 poucas aulas de Ciências ministradas não têm proporcionado aos alunos uma aprendizagem mínima de conceitos científicos, devido a dois fatores principais: um deles diz respeito à demasiada valorização, por parte dos professores, da atividade experimental como recurso didático prioritário para o acesso aos conteúdos científicos; outro fator refere-se à utilização do livro didático basicamente como único material para a preparação das aulas de Ciências. A crença ingênua na eficácia didática das atividades experimentais não é privilégio de professores de Séries Inicias. Esta visão ufanista sobre o papel das experimentações na Ciência e no Ensino das Ciências, continua levando nossos professores a inserirem atividades experimentais em suas práticas didáticas, na maioria das vezes, apenas como a experiência pela experiência, pouco contribuindo para uma melhor compreensão do assunto que está sendo abordado e mistificando a forma como conhecimento científico é produzido. Os professores, em sua maioria, também demonstram receio em utilizar textos não didáticos em aulas de Ciências, devido a estes tratarem os assuntos de maneira mais ampla e/ou aprofundada. Assim, temos reforçado o papel do livro didático como condutor/indutor das práticas didáticas em termos de aulas de Ciências e sobretudo como definidor dos planejamentos escolares/programações curriculares das nossas escolas em termos de Ensino de Ciências. A própria literatura da área de Ensino de Ciências Naturais aponta para a necessidade de uma reformulação tanto nos programas curriculares, como também nas formas de se trabalhar conteúdos desta área em nossas escolas. Recomenda-se, a reestruturação de programas, eliminando conteúdos conceituais supérfluos e, incluindo outros que sejam mais propícios à participação dos alunos no processo de (re)elaboração dos saberes que os instrumentalize a compreender a Ciência e a Tecnologia, seus processos e seus produtos, e a utilizar estes nas suas ações sobre o mundo exercendo sua cidadania de modo pleno. Neste sentido, algumas referencias importantes sobre a contribuição da Educação em Ciências para as Séries Iniciais, podem ser encontradas nas discussões ocorridas numa reunião da UNESCO, realizada em A seguir alguns aspectos levantados naquela oportunidade.
3 As ciências podem ajudar as crianças a pensarem de maneira lógica sobre os fatos cotidianos e, resolver problemas práticos e elementares. Tais técnicas intelectuais se mostrarão valiosas em qualquer lugar que vivam e em todo trabalho que desenvolverem; As ciências e suas aplicações à tecnologia, podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas. (HARLEN,1993, p. 28). As ciências e a tecnologia são atividades socialmente úteis que esperamos se façam familiares às crianças; (HARLEN,1993, p. 29). Diante da situação apontada e procurando superar as deficiências acima referidas, buscamos estudar possibilidades de trabalhar o Ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais, no sentido de promover a numa perspectiva da Alfabetização Científico-Tecnológica dos alunos. Partimos do pressuposto de que a construção do conhecimento envolve formulações de hipóteses, resultantes da interação dos alunos com os objetos de conhecimento e, de que as crianças na faixa etária entre seis e doze anos já possuem capacidade de compreensão, do ponto de vista cognitivo, para o trabalho com noções científicas relativas a fenômenos naturais e a produtos tecnológicos que estão ao seu redor. Tecnológica? Mas o que entendemos efetivamente por Alfabetização Científico- Alfabetização Científico-Tecnológica é um processo que possibilita aos alunos desenvolverem competências, capacidades e habilidades em termos do domínio da linguagem científica e dos processos tecnológica para uso crítico, consciente, ético e transformador na sua vivência cotidiana em sociedade. Ou seja, proporciona aos alunos o aprendizado dos conceitos científicos que condicionam o exercer de sua cidadania numa sociedade tecnológica. Uma pessoa pode ser considerada cientificamente alfabetizada quando consegue entender notícias de conteúdo científico. Por exemplo, hoje em dia, diríamos que um cidadão culto, alfabetizado cientificamente, deve ser capaz de acompanhar e participar ativamente de debates sobre questões sociais envolvendo conhecimentos científicos divulgadas pela mídia; deve ser capaz de compreender e emitir opiniões sobre textos que abordam questões polêmicas, como aquelas à ligadas à engenharia genética e à variação do buraco da camada de ozônio.
4 O trabalho de pesquisa foi dividido basicamente em três etapas: elaboração das atividades didático-pedagógicas referentes a assuntos de Ciências Naturais, implementação destas atividades em sala de aula e avaliação posterior das implementações. Estas atividades foram organizadas em Três Módulos Didáticos: Ambiente/Poluição do ar, Universo/Poluição ambiental, Ecologia/Meio ambiente. Por exemplo no Módulo sobre Poluição ambiental, exploramos a poluição causada pelo descarte de baterias usadas e tratamos particularmente sobre da poluição causada pelas baterias dos telefones celulares. Em geral pocuramos discutir conseqüências sociais e ambientais de avanços tecnológicos que permeiam nosso cotidiano. Cada Módulo Didático foi estruturado de modo a reunir um conjunto de temas que consideramos relevantes para serem trabalhados nas aulas de Ciências Naturais, na medida em que estão mais diretamente relacionados à realidade vivencial dos alunos. Esta preocupação com a familiaridade dos alunos em relação aos temas trabalhados responde a uma de nossas indagações iniciais: o que ensinar? Com relação a outra indagação ( como ensinar? ), o trabalho em sala de aula foi desenvolvidos a partir da a utilização de textos de divulgação científica. Este recurso didático proporciona uma abordagem dos conceitos científicos numa linguagem acessível aos alunos de Séries Iniciais. Além disso, este tipo material é de acesso relativamente fácil para uma grande parcela da população. No caso em questão, trabalhamos com textos extraídos da Revista Ciência Hoje das Crianças. A escola em que se desenvolveu nossa intervenção, bem como a professora efetiva das turmas em que atuamos, nos possibilitaram autonomia para estabelecer o programa curricular que acreditamos ser o mais adequado. Analisando nossa prática didático-pedagógica junto às turmas trabalhadas, a partir das produções escritas realizadas pelos alunos, das manifestações dos alunos nos debates ocorridos em sala de aula, das buscas espontâneas por novas informações e/ou novos materiais sobre os assuntos abordados, das soluções propostas às situaçõesproblema apresentadas, de onde obtivemos fortes evidências da compreensão crítica dos assuntos debatidos, reafirmamos o potencial didático do uso de textos de divulgação científica como um dos instrumentos privilegiados para desenvolver um processo de Alfabetização Científico-Tecnológica nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
5 BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS: BRYAN, Lynn; ABELL, Sandra K.: (1999). Development of professional knowledge in learning to teach ementary science. In: Journal of Research in Science Teaching. 2(36), CHASSOT, Ático: (2000). Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Coleção Educação Química. Ijuí/BRA: Editora da Unijuí. FOUREZ, Gérard: (1994). Alfabetización científica y tecnológica: acerca de la finalidades de la enseñaza de las ciencias. Colección Nuevos Caminos. Traducción de Elsa Gómez de Sarría Buenos Aires/ARG: Ediciones Colihue. HARLEN, Wynne: (1989). Ensenãnza y aprendizage de las ciencias. Traducción de Pablo Manzano. Madrid/ESP: Morata. HAZEN, R. M.; TRAFICE, J.: (1995). Saber ciência. Tradução de Cecília Prada. São Paulo/BRA: Cultura Editores Associados. LITWIN, Edith (org): (1997). Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Tradução de Ernani Rosa. Porto Alegre/BRA: Artes Médicas. SAMPAIO, Marisa Narciso; LEITE, Lígia Silva: (1999): Alfabetização tecnológica do professor. Petrópolis/BRA: Vozes. SANTOS, Maria Eduarda Vaz Moniz: (1991). Mudança conceptual na sala de aula: um desafio pedagógico. Lisboa/POR: Livros Horizonte.
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