Relatório Anual Commodities
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- Vergílio Dinis Gusmão
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1 Relatório Anual 2010 Commodities
2 GRUPO SAFRA BRASIL Banco Safra S.A. Banco J. Safra S.A. Safra Leasing S.A. Arrendamento Mercantil Safra Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. Safra Corretora de Valores e Câmbio Ltda. Safra Seguros Gerais S.A. Safra Vida e Previdência S.A. Safra Companhia Securitizadora de Créditos Imobiliários Banco Safra (Cayman Islands) Limited
3 Se escolher navegar os mares do sistema bancário, construa seu banco como construiria seu barco: sólido para enfrentar, com segurança, qualquer tempestade. JACOB SAFRA, fundador
4 CONTEÚDO PALAVRA DO PRESIDENTE ECONOMIA INTERNACIONAL ECONOMIA BRASILEIRA BANCO SAFRA BANCO SAFRA S.A. E SAFRA CONSOLIDADO DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS AGÊNCIAS NO PAÍS CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO/ DIRETORIA
5 PRINCIPAIS NÚMEROS
6 PALAVRA DO PRESIDENTE O Brasil segue sua trajetória de ascensão a potência econômica. Com o crescimento de 7,5%, em 2010, o país passou à condição de sétima maior economia do mundo. Considerado o PIB de US$ 2,1 trilhões, ultrapassamos a França e o Reino Unido. O desempenho foi excepcional, mesmo com a base de comparação do ano anterior, quando o PIB caiu 0,6% em virtude dos efeitos da crise financeira de Como consequência houve uma significativa redução do nível de desemprego. O vigoroso crescimento foi acompanhado do êxito dos programas de transferência de renda e da diminuição das desigualdades sociais, criando condições para um significativo aumento de renda per capita e melhoria na mobilidade das classes D e C. Esses fatos reforçam o otimismo e a convicção de que estamos avançando de forma consistente, embora ainda tenhamos muito por fazer. Entre os desafios está, em primeiro lugar, o da educação, que precisa melhorar em qualidade e eficiência, em função das demandas e exigências da globalização. Eficiência, a propósito, é a palavra-chave para a construção do futuro do Brasil que sonhamos. Ela se impõe em todas as áreas, a começar pela administração pública, devendo se estender para os demais segmentos da sociedade e ser uma meta de todos, de professores nas escolas, de pesquisadores, empresas e empreendedores individuais, enfim, de cada brasileiro. Não nos esqueçamos que recebemos a dádiva de um grande país, rico em recursos naturais, mas a prosperidade não é herança adquirida, ela precisa ser criada e exige muito trabalho e perseverança. Por outro lado, duas reformas também não saem da ordem dia e continuam como prioridade. Uma se refere à elevada e mal distribuída carga tributária; a outra, aos pesados ônus embutidos na folha de salários das empresas. Ambos os fatores comprovadamente têm um peso importante sobre a baixa competitividade da economia brasileira. A eles acrescem os crônicos gargalos da infraestrutura falta ou deficiente conservação de estradas, ferrovias, portos etc. que encarecem a logística de transporte na produção, na distribuição interna e na exportação. Por tudo isso é que o Brasil ocupa, entre 43 países responsáveis por 90% do PIB mundial, o 36º. lugar no ranking da competitividade. Em 2010, o desempenho do Banco Safra acompanhou o ritmo de expansão da economia brasileira, apresentando resultados ótimos. Exemplo foi o da carteira de crédito, que evoluiu 33,6% e se elevou a R$ 37,3 bilhões. A experiência acumulada no middle market e a maior flexibilidade em relação aos grandes concorrentes neste segmento foram diferenciais decisivos para essa expansão. Tais fatores proporcionaram condições para que houvesse uma sinergia de estratégia, que se refletiu no crescimento e ampliação do atendimento de pequenas empresas e também contribuiu para essa performance. O forte aumento dos empréstimos, todavia, não alterou a qualidade do crédito: 94% do total da carteira fecharam o ano classificados nos níveis de risco AA, A e B. A inadimplência de apenas 0,8% para créditos vencidos há mais de 90 dias, refletiu o rigor da conservadora política de crédito do Banco. Outro registro positivo foi o aumento da eficiência. A relação despesa sobre receita indicou o índice de 46,6%, o que assegurou ao Safra a condição de um dos mais eficientes bancos do mercado. O lucro líquido evoluiu 15% e ultrapassou a importante marca de R$ 1,0 bilhão. O patrimônio líquido cresceu 14,4%, elevando-se a R$ 5,6 bilhões, e os ativos para R$ 73,3 bilhões. A taxa de retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado foi de 19,9%, com o índice de Basiléia situando-se em 14,1%. Para 2011, nos concentraremos no desenvolvimento de novos negócios e nos esforços na gestão de riscos de forma sadia e na preparação para implementação das novas regulamentações relativas às diretrizes de Basiléia III. Conforme a tradição de discutir temas de grande interesse para o país, neste relatório publicamos textos especiais sobre a importância das commodities na pauta de exportações e para o desenvolvimento, que são abordados com profundidade pelos experts Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, e o professor emérito e ex-ministro Antônio Delfim Netto. ROSSANO MARANHÃO Presidente 4 4
7 ARTICULISTAS DEMANDA MUNDIAL DE COMMODITIES Antônio Delfim Netto Na última década, ocorreu forte expansão do consumo mundial de alimentos, metais e petróleo, não acompanhado pela oferta desses produtos. Como consequência, houve elevação dos seus preços. As causas principais foram: exportação como mostra o Gráfico 3 (as variações anuais do período tem por base o ano de 2002; as variações de 2009 e 2010 são em relação ao ano imediatamente anterior). Gráfico 1 Taxa de Câmbio (Cesta de Moedas/US$) e Preço do Petróleo (US$/Barril) entre jan/1999 e fev/ A expansão da renda global; 2. A desvalorização do dólar em relação a outras moedas; 3. O uso de grãos para a produção de biocombustíveis; e 4. O crescimento econômico de países emergentes, em particular da China, que de exportador transformou-se num dos maiores importadores mundiais. O Gráfico 1 mostra a associação inversa entre o valor do dólar e o preço do petróleo nos últimos 10 anos (o mesmo ocorre com as outras commodities), e o Gráfico 2 o substancial aumento do consumo de milho no período recente para a produção do etanol nos Estados Unidos. O Brasil é exportador tradicional de alimentos e de minério de ferro e, como se vê na Tabela 1, é, por outro lado, grande importador de trigo. Nossa economia não poderia, portanto, deixar de sentir diretamente os efeitos dessa conjuntura internacional. A agricultura e a mineração responderam rapidamente ao momento favorável, expandindo o volume de Tabela 1 Posição do Brasil no Comércio Internacional em 2009 Fonte: ONU - Elaboração: Idéias Consultoria Gráfico 2 Uso do Milho nos Estados Unidos
8 Gráfico 3 Brasil Exportações de Produtos Básicos Quantum, preço e valor (Variação Anual) Melhores preços de exportação implicaram ganho nas relações de troca (cada unidade de bens exportados compra maior quantidade de bens importados), na ampliação das exportações e do saldo comercial, com efeitos positivos sobre a produção e a renda. A elevação dos preços mundiais de commodities e a evolução da taxa cambial afetam, entretanto, os preços ao consumidor. Uma parcela dos alimentos consumidos internamente são produtos de exportação, estando suas cotações vinculadas aos preços externos. Parte do aumento dos preços dos minérios acaba também pressionando o consumidor. Tais efeitos sobre o custo de vida são indesejáveis mas, numa larga medida, inevitáveis, criando grandes dificuldades para o controle da taxa de inflação. É importante lembrar que nos últimos 60 anos as principais causas das interrupções do crescimento econômico foram dificuldades cambiais, decorrentes de acumulação de déficits em contas correntes, não financiáveis. A recente elevação dos preços mundiais de commodities garantiu substanciais saldos comerciais que propiciaram uma situação folgada do balanço de pagamentos. Ela deve ainda sustentar a expansão econômica dos próximos anos.
9 O Gráfico 4 mostra a evolução dos termos de troca e do saldo comercial desde o segundo choque de petróleo em O efeito desse choque foi devastador, provocando uma das mais acentuadas perdas nas relações de troca de que se tem notícia. Não somente ocorreu a elevação dos preços de importação, mas também dos juros internacionais que levaram à estagnação da economia mundial. O resultado foi a crise cambial de Seguiram-se as crises de 1987, no Plano Cruzado, e as de 1998 e 2002, no Plano Real. Gráfico 5 Etanol no Brasil Produção (bilhões de litros) e Produtividade Gráfico 4 Termos de Troca e Saldo Comercial Mensal Média Móvel de 12 Meses A elevação dos preços de alimentos fez voltar à tona, nos organismos internacionais, a questão alimentos versus biocombustível. Colocou-se em dúvida a capacidade do Brasil de estimular a produção de etanol de cana-de-açúcar sem prejudicar a produção de alimentos. Esta questão não é nova. Ela perdurou por bom tempo no Brasil, principalmente durante o desenvolvimento do programa de produção do álcool. Não há dúvida de que cana-de-açúcar e alimentos competem pelos mesmos fatores de produção, como terra e mão de obra, supostamente escassos. Assim, maior produção de etanol implicaria em menor produção de alimentos e viceversa. Entretanto, ambas cresceram de forma acelerada, permitindo atender a contento ao consumo interno e à exportação, graças ao grande dinamismo da agricultura: 1. Aumento contínuo da produtividade da terra e da mão de obra com o avanço das pesquisas genéticas, da melhoria dos métodos de cultivo e da intensa mecanização (Gráfico 5 mostra a evolução ocorrida na produção do etanol a partir da implantação do programa de álcool);
10 2. Conquista e ocupação do cerrado, transformando um ativo inerte em importante área produtora de grãos; e Gráfico 6 Saldo Comercial de Produtos Agrícolas (US$ bilhões) 3. Existência de agricultores operosos e competentes que incorporaram continuamente as inovações tecnológicas. A conjugação desses fatores tornou o país, recentemente, no maior exportador líquido de produtos agrícolas. O Gráfico 6 mostra esta conquista. Há grande incerteza sobre a economia mundial, em 2011, mas os sinais de recuperação da crise de 2007/09 parecem estar se fortalecendo. Com o grande problema do Japão, aumentaram as dúvidas sobre a velocidade com a qual o mundo vai se ajustar. No caso brasileiro, não há razão para supor que os efeitos sobre nosso crescimento serão muito importantes. Podemos crescer entre 4% e 5%, em 2011, mantendo o controle da taxa de inflação em torno de 5% e financiando o déficit em contas-correntes sem dificuldades. ANTÔNIO DELFIM NETTO Economista, é formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA- USP), onde fez sua carreira acadêmica. Professor catedrático de Economia Brasileira e de Teoria do Desenvolvimento Econômico, recebeu da FEA-USP o titulo de Professor Emérito. Na administração pública, foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo ( ) e, depois, ministro da Fazenda ( ), embaixador do Brasil na França ( ), ministro da Agricultura (1979) e ministro chefe da Secretaria de Planejamento da Presidência da República ( ). No período em que foi ministro da Fazenda, ocorreu o chamado milagre brasileiro, registrando-se as maiores taxas de crescimento da história do país, com a média anual de 9%. Em consequência, o Brasil subiu da 48ª. posição para o 8º. lugar entre as maiores economias do mundo. Permanece um recorde a taxa de 14,4% obtida em Eleito deputado federal em 1986, reelegeu-se para mais quatro mandatos consecutivos, o último dos quais iniciado em Autor de vários livros sobre problemas da economia brasileira, escreve semanalmente para jornais e revistas e seus artigos são reproduzidos por 70 periódicos de São Paulo e outros Estados.
11 UM SALTO PARA O PROGRESSO Roberto Rodrigues Vivemos, no começo de 2011, um período de preços agrícolas históricamente altos. O Quadro 1, com os índices de preços apontados pela FAO fala por si só. A volatividade dos preços agrícolas é uma constante no setor. Sendo a produção rural uma atividade dependente das condições climáticas, é compreensível que existam períodos de menor oferta em função das secas prolongadas, encarecendo os alimentos. E, quando tudo corre bem, os estoques aumentam, perdendo valor. Gráfico 1 FAO Índice de Preços dos Alimentos E, por último, há um terceiro fator, que é a especulação. Diante de um problema real de desequilíbrio entre oferta e demanda, os investidores especulativos aplicam seus fundos na agropecuária, contribuindo para elevar ainda mais os preços. E tudo isso se transforma em estímulos inflacionários globais, criando, entre governos mais tíbios, até mesmo o medo de desabastecimento e de desequilíbrio social. Na verdade, o que estamos observando é apenas mais um ciclo. Talvez um pouco mais longo do que dezenas de outros ocorridos no passado, em função da demanda aquecida, que não arrefeceu nem mesmo durante a dura crise financeira de 2008/2009. Mas vai passar, como todas as outras já passaram. Os preços atraentes levarão produtores rurais do mundo todo a ampliar a área plantada, inclusive com tecnologias melhores, e, se as condições de clima forem favoráveis, já em 2012 poderá se dar o reequilíbrio entre oferta e demanda, de modo que os preços voltarão aos patamares históricos; ou próximos deles. No entanto, a crise atual chamou a atenção de instituições e governos no mundo todo, especialmente quanto ao futuro. Os atuais preços se devem a fatores bastante conhecidos. O primeiro deles é a explosão da demanda nos países emergentes, onde a população e a renda per capita crescem muito mais que nos países ricos. E é sabido que sociedades pobres, que avançam economicamente, gastam mais com alimentos, vestuário, energia, tudo de origem agrícola. Neste tema, algumas políticas públicas exercidas por governos específicos, também contribuíram para o aumento da demanda. É o caso do Bolsa-Família, no Brasil, que reduziu até o impacto da crise global sobre as populações assistidas pelo programa. O segundo fator é a oferta não ter acompanhado a demanda: problemas de seca na Europa Central, na Austrália e na América do Sul, nos últimos anos, provocaram a queda da produção de trigo, encarecendo enormemente esse produto, o que puxou para cima os preços de milho, soja e arroz, substitutos naturais daquele grão essencial. E isso tem reflexo direto no custo de produção das proteínas animais (leite e carnes). Como resultado, os estoques mundiais caíram, aí incluídos os de café, açúcar e algodão, e o mercado reagiu valorizando todas essas commodities. No final do ano passado, por exemplo, a OCDE publicou um estudo mostrando que nos próximos 10 anos a produção de alimentos terá que aumentar 20% para abastecer as populações crescentes. E o mesmo estudo demonstra que o Brasil terá a maior participação nesta missão, devendo aumentar em 40% o dobro da do mundo a sua produção. Tal expectativa se prende a três fatores principais: nosso país tem terra disponível (cultivamos hoje menos de 9% de nosso território com todos os produtos agrícolas), temos agricultores eficientes e competitivos e, sobretudo, temos a melhor tecnologia tropical do planeta. E com uma característica fundamental: o grande desafio humano do século XXI é compatibilizar essa maior produção agrícola com a preservação de recursos naturais, o tema da sustentabilidade. Ora, o Brasil já faz isso. Nos últimos 20 anos, a área plantada com grãos cresceu 29% e a produção, 166%. Com isso, poupamos mais de 50 milhões de hectares de matas ou cerrados (Gráfico 2). Isso é que é sustentabilidade!
12 Gráfico 2 Produção Brasileira de Grãos (Safras 1990/91 a 2010/11) Tudo se deve à maior produtividade por hectare. O mesmo se deu com as carnes (Gráfico 3) e com o açúcar e o etanol (Gráfico 4). Gráfico 3 Produção Brasileira de Carnes (em milhões de toneladas)
13 Gráfico 4 Produção de Cana, Açúcar e Etanol Portanto, o mundo nos coloca uma notável responsabilidade para abastecê-lo. E sustentavelmente, o que inclui o grande tema da agroenergia: o etanol de cana é responsável por apenas 11% do CO2 emitido pelos carros a gasolina, o que ajuda a mitigar o aquecimento global, reduzindo a dependência do petróleo e sem concorrer com alimentos. Não podemos desperdiçar esta grande oportunidade que a história nos oferece. O agronegócio brasileiro pode crescer muito, criando empregos, riquezas, renda, excedentes exportáveis, empurrando para cima, assim, o setor urbano industrial e de serviços, já muito modernos em nosso país. Hoje o agronegócio já responde por mais do triplo do saldo comercial externo brasileiro, podendo crescer bastante. Só precisamos de uma estratégia clara, com políticas públicas bem articuladas entre os órgãos do governo e os produtores rurais. Toda a sociedade brasileira se beneficiará desse salto para o progresso.
14 ROBERTO RODRIGUES Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ), fez cursos de aperfeiçoamento em administração rural e publicou cinco livros sobre agricultura, cooperativismo e economia rural, além de outros em coautoria. Foi ele quem criou o sistema Coplana de rotação da cultura da cana com a soja, que racionalizou a atividade rural em termos de melhor uso de recursos humanos, financeiros e de equipamentos, máquinas e veículos. O resultado foi um significativo aumento de empregos nas áreas canavieiras. Também foi um dos maiores defensores do pagamento de cana pelo teor de sacarose, que revolucionou o setor sucroalcooleiro e ampliou a renda de todo o complexo agroindustrial a ele ligado. Como empresário rural e líder do setor, foi dirigente de cooperativas de crédito rural e agrícolas, entre as quais da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) por dois mandatos. Na administração pública, foi secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e, entre janeiro de 2003 e junho de 2006, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Neste último cargo, além da completa reestruturação da pasta, trabalhou pelas leis de biotecnologia, dos produtos orgânicos, seguro rural, regulamentação da defesa sanitária. Na área acadêmica, é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), professor do Departamento de Economia Rural da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Jaboticabal e pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
15 Economia Internacional
16 1.1 Panorama geral Retrospectiva 2010 e perspectivas para 2011 O ano de 2010 foi marcado pela consolidação do processo de recuperação econômica global. De acordo com o FMI, a economia mundial cresceu 5,0% em 2010 (contração de 0,9% no ano anterior). Tal desempenho foi resultado do robusto desempenho das economias emergentes, cujo crescimento de 7,1% foi mais que duas vezes superior à expansão das economias desenvolvidas (3,0%). Gráfico 1 Crescimento do PIB Mundial a magnitude dessa revisão não alterará a tendência de crescimento da economia global. De acordo com o World Economic Outlook, divulgado pelo FMI, a China cresceu 10,3% em 2010, fruto do bem, sucedido plano do governo chinês em manter o elevado crescimento com o aumento da absorção doméstica. As exportações e as importações chinesas voltaram a exibir forte aceleração, exercendo impacto direto na produção industrial local. Gráfico 2 Crescimento Anual do PIB chinês Assim como a China, a Índia apresentou robusto crescimento em O PIB indiano cresceu 9,7%, mesmo com incentivos públicos muito mais modestos que os realizados por China ou Japão, por exemplo. O destaque negativo é a elevada inflação, que seguiu pressionada pela alta dos preços de alimentos. Com relação aos países desenvolvidos, o PIB dos Estados Unidos cresceu 2,9% em relação a O quarto trimestre de 2010 consolidou a mudança do pólo indutor de dinamismo, cada vez menos dependente de fatores voláteis como a recomposição de estoques, com o consumo das famílias, investimentos fixos e as exportações liderando o processo de crescimento econômico. Por trás dessa rápida recuperação ainda está o extraordinário estímulo fiscal e monetário posto em prática ao redor do mundo. Embora a entrada na crise tenha ocorrido de forma praticamente sincronizada, a partir de setembro de 2008, a retomada econômica tem se dado de forma desigual entre os países, em decorrência das diferentes condições iniciais, reações dos governos e formas com que a crise atingiu cada um. No início de janeiro, o FMI previa que a economia mundial cresceria 4,4%, em É possível que essa previsão seja reduzida, em virtude dos trágicos eventos ocorridos no Japão e da alta expressiva dos preços do petróleo, mas O forte crescimento da demanda doméstica, junto com o vigoroso processo de recuperação dos preços das commodities, elevou substancialmente a inflação no país. Dada a importância da estabilidade de preços (além do crescimento econômico) para a sustentação política do governo, o banco central continua adotando uma série de medidas de aperto monetário, principalmente por meio da elevação das exigências de depósitos compulsórios e pelo controle direto da concessão de novos empréstimos. Por sua vez, os governos locais têm reduzido o ímpeto na realização de novos investimentos em infra-estrutura. Tais medidas são positivas, pois garantem um crescimento sustentável e equilibrado no médio e longo prazo. O Japão terá um ano pautado pela reconstrução após a tragédia natural que chocou o mundo. Em 2010, a economia japonesa cresceu 3,9%, impulsionada pelas exportações e pelos estímulos fiscais. O PIB dos dois trimestres iniciais do ano deve ser diretamente afetado pela interrupção da produção que sucedeu a tragédia, além das dificuldades do fornecimento de energia. No entanto, excluindo o risco de um grande vazamento nuclear, a atividade econômica deve se recuperar ao longo do ano, em função da reconstrução das áreas atingidas. Por fim, as atenções do mundo devem seguir voltadas para a Zona do Euro. Apesar da região ter crescido 1,7% em 2010, os problemas fiscais e de solvência dos países periféricos Grécia, Irlanda e Portugal continuarão em destaque.
17 1.2 Estados Unidos A economia americana segue se recuperando da maior crise econômica, desde No ano passado, os EUA cresceram 2,9%, após contração de 2,6%, em Dentre os componentes da demanda, destacou-se o forte aumento dos investimentos (+17,1% sobre 2009), embora, ainda exista um longo caminho a ser percorrido até que essa variável retorne aos níveis prevalecentes em O consumo das famílias também subiu no ano passado (+1,7%) em relação a 2009, recuperando-se das perdas anteriores. Por fim, os gastos do governo cresceram 1,0%, em 2010, na comparação com 2009, o que representa uma desaceleração em relação aos resultados dos dois anos anteriores, indicando menor dependência do PIB em relação ao setor público. Gráfico 3 Crescimento Anual do PIB dos EUA Na margem, o desempenho do PIB americano foi ainda mais encorajador. A expansão foi de 3,1% no 4T10 sobre o 3T10, impulsionada pelo aumento de 4,0% do consumo das famílias, a mais alta taxa desde o quarto trimestre de O principal responsável pela recuperação do consumo tem sido a consolidação patrimonial das famílias. Após forte elevação, entre 2008 e 2009, a taxa de poupança das famílias se estabilizou no intervalo entre 5% e 6%. A parcela da renda disponível gasta com o pagamento de juros caiu para os níveis observados em meados da década de 1990, fruto de renegociação de dívidas antigas com taxas menores e dos write-offs (devolução do bem financiado, geralmente imóvel). Gráfico 4 Crescimento Trimestral do PIB dos EUA (em Termos Anualizados) Gráfico 5 Poupança das Famílias Americanas como Proporção da Renda Disponível Outro importante componente do processo de recuperação tem sido as exportações líquidas, que contribuíram com 3,3 pontos percentuais para o crescimento do PIB no quarto trimestre do ano passado. Tal resultado é consequência da forte expansão das exportações americanas, cujo crescimento anualizado foi de 8,6% no período, puxado pelo vigor da economia mundial e pelo enfraquecimento do dólar. Por fim, os investimentos também estão se recuperando de maneira expressiva. Excluindo-se o setor residencial, o investimento fixo cresceu, em termos anualizados, 5,7% no último trimestre de No entanto, os bons números da economia em 2010 não devem fazer com que o banco central norteamericano (Fed) eleve a taxa básica de juros em Vale lembrar que o Fed segue um mandato dual cujo objetivo é, no longo prazo, garantir que a taxa de inflação ao consumidor se mantenha próxima aos 2,0% a.a. e que a economia cresça com baixo nível de desemprego. É inegável também que as condições do mercado de trabalho vêm melhorando nos últimos meses, tendo em vista não só a queda recente da taxa de desemprego (Gráfico 6) como também as constantes reduções dos pedidos iniciais de auxílio-desemprego e do número de beneficiários. No entanto, toda a recuperação foi capaz de gerar apenas 1,5 milhão de empregos, frente a pouco mais de 8 milhões de postos de trabalho destruídos com a crise financeiro-imobiliária. É provável que, assim como no caso do nível de preços, a recuperação do mercado de trabalho ocorra de forma gradual, dificilmente havendo convergência para os números desejados antes do término de 2012.
18 Gráfico 6 Taxa de Desemprego nos EUA Adicionalmente, a política fiscal também dificilmente será alterada em É provável que o atual governo passe a desenvolver uma trajetória de consolidação fiscal de médio prazo, cujos impactos devam ser sentidos mais fortemente somente a partir de O consumo das famílias deve seguir como o principal carro-chefe da recuperação. O principal risco que envolve esse cenário é a alta do preço do petróleo. O encarecimento do insumo pode fazer com que os consumidores gastem mais com energia, o que, por sua vez, pode levar a uma queda no consumo de outros bens. Ainda assim, o mais provável é que a economia do país apresente expansão próxima à verificada em Zona do Euro O PIB da Zona do Euro registrou crescimento de 1,7%, em 2010, após recuar 4,1% em Essa elevação se deve principalmente ao desempenho alemão, cujo crescimento, em 2010, liderado pelas exportações, foi de 3,6%. No entanto, as economias periféricas apresentaram baixo crescimento, principalmente em decorrência do necessário aperto fiscal. Em 2011, espera-se que a recuperação siga em ritmos distintos entre os países da região central e aqueles pertencentes à região periférica. Gráfico 7 Crescimento Anual do PIB da Zona do Euro No ano passado, Grécia e Irlanda, após verem o custo de rolagem da dívida pública aumentar significativamente por conta da fraca situação fiscal, pediram auxílio à União Européia e FMI. Em ambos os casos o socorro foi condicionado a um forte ajuste fiscal, que deverá fazer com que essas economias apresentem fraco crescimento econômico nos próximos anos. A continuidade da recuperação da Zona do Euro continuará dependendo das principais economias, com destaque para a Alemanha. A rápida recuperação do país levou a taxa de desemprego ao seu menor nível histórico, o que tem proporcionado ganhos reais aos trabalhadores, mantendo elevada a confiança do consumidor. Além disso, as baixas taxas de juro impulsionaram o mercado imobiliário, o que também deve garantir o crescimento robusto do investimento residencial. Se as notícias quanto à atividade econômica são positivas, a recente evolução dos preços ao consumidor preocupa. A inflação ao consumidor encerrou o ano de 2010 com alta de 2,2%, levemente acima da meta de médio prazo do Banco Central Europeu (BCE) de 2,0%. O BCE projeta que a região deva crescer novamente 1,7%, em 2011, enquanto que o FMI, em janeiro, projetava crescimento de 1,5%.
19 Economia Brasileira 22
20 2.1 Crescimento econômico De acordo com o IBGE, o PIB brasileiro cresceu 7,5%, em 2010, melhor desempenho desde Gráfico 8 Crescimento Anual do PIB Brasileiro apresentando crescimento de 22,0% e contribuindo com 3,8 p.p. O Consumo do Governo, ao se expandir 3,3%, contribuiu com 0,7 p.p. adicionais. E a maior acumulação de Estoques (14,0% em relação a 2009), contribuiu com mais 1,7 p.p.. Em sentido contrário, a queda das exportações líquidas retirou 3,2 p.p. da taxa global de expansão do PIB, implicando crescimento da demanda doméstica (10,7% em 2010 sobre 2009) acima do PIB total. Na margem, a economia encerrou o ano de 2010 crescendo em ritmo moderado. O PIB registrou uma expansão de 0,7%, no quarto trimestre de 2010, em relação ao trimestre anterior, após um crescimento de apenas 0,3% no terceiro, na mesma base de comparação. Pelo lado da oferta, o setor de serviços continuou a sustentar o crescimento da economia, com 1,0% em relação ao terceiro trimestre, ritmo pouco superior ao registrado no período anterior. A agropecuária e a indústria recuaram 0,8% e 0,3%, respectivamente, no quarto trimestre, em relação ao anterior, após quedas ainda mais relevantes no terceiro trimestre de - 1,6% e 0,6%, respectivamente. O Consumo das Famílias foi o principal responsável pelo crescimento da economia nacional, no ano passado. Sustentado por um mercado de trabalho aquecido, pela expansão do crédito e contando com o apoio da política fiscal e monetária, o Consumo das Famílias expandiu-se 7,0%, em relação a 2009, e contribuiu com 4,5 p.p. para a composição da taxa total do PIB. A segunda maior fonte de impulso foram os investimentos, com a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), Gráfico 9 Crescimento Trimestral do PIB Brasileiro
21 Pelo lado da demanda, o destaque no quarto trimestre foi o desempenho do Consumo das Famílias, que cresceu 2,5% contra o trimestre anterior, refletindo as boas condições do mercado de trabalho e a forte expansão da renda e do crédito. A Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 0,6% na margem, após ter apresentado forte crescimento no 3T10, enquanto o Consumo do Governo apresentou ligeira contração (-0,3%). Com isso, a absorção doméstica, resultado da soma do Consumo das Famílias, da Formação Bruta de Capital Fixo e do Consumo do Governo, cresceu 1,6% no quarto trimestre, representando um ritmo anualizado de expansão de 6,6%, que equivale a uma desaceleração modesta frente ao ritmo observado ao longo do ano de 2010 como um todo. E o ano terminou com a expectativa de que essa desaceleração tenda a se acentuar, em 2011, considerando um novo ciclo de aperto monetário, uma esperada redução do ritmo de expansão do gasto público e o efeito das medidas macroprudenciais sobre o crédito, anunciadas em dezembro de 2010, e que podem vir a ser reforçadas. 2.2 Inflação e política monetária e pela aceleração da inflação de serviços, reflexo da forte demanda agregada, com a combinação de um mercado de trabalho apertado e política fiscal mais relaxada. Reagindo à aceleração dos índices mensais de inflação já no primeiro trimestre de 2010, e consequente deterioração das expectativas inflacionárias, o Copom deu início a um processo de elevação das taxas básicas de juros em abril. Entre as reuniões de abril e julho de 2010, o Copom elevou a taxa Selic em 200 pontos base (p.b.), de 8,75% ao ano (a.a.) para 10,75% (a.a.). O ímpeto da inflação arrefeceu em meados do ano, mas voltou a se recuperar no último quadrimestre, trazendo a taxa acumulada do IPCA em 12 meses de um mínimo de 4,5% em agosto, para o nível de 5,9% em dezembro. As expectativas de inflação também voltaram a se deteriorar, apontando no final de 2010 uma inflação esperada para o ano de 2011 significativamente acima do centro da meta (5,3%, como medida pelo Relatório Focus, divulgado pelo BC). E, reconhecendo a ameaça A inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, fechou o ano de 2010 em 5,9%. O resultado ficou acima da meta estabelecida pelo Banco Central (BC) de 4,5%, embora ainda dentro do intervalo estabelecido de 2,0 p.p. para cima ou para baixo. A dinâmica negativa da inflação em 2010 foi basicamente determinada pela elevação dos preços de alimentos, refletindo em boa medida um choque nos preços agrícolas e de commodities,
22 Quadro 1 Subgrupos do IPCA (variação anual - %) Quadro 2 Categorias do IPCA (variação anual - %) inflacionária mais evidente, a autoridade monetária, no Relatório Trimestral de Inflação divulgado em dezembro de 2010, já sinalizou a iminência da retomada do processo de elevação dos juros, mesmo após a divulgação de medidas macroprudenciais visando conter o ritmo de expansão do crédito ao consumidor no mesmo mês. Gráfico 10 IPCA Acumulado em 12 Meses e Taxa Selic 2.3 Principais indicadores econômicos Atividade Econômica Como vimos anteriormente, os dados das contas nacionais trimestrais mostraram que a demanda doméstica manteve-se aquecida durante todo o ano passado com elevação particularmente forte do consumo das famílias no último trimestre de 2010, mas tenderá a se desacelerar ao longo de 2011, por causa do aperto monetário e das medidas macroprudenciais adotadas no final de 2010 e que potencialmente serão ampliadas nos próximos meses.
23 Os dados sobre o desempenho do varejo no ano passado são reflexos claros do aquecimento da demanda doméstica. Segundo os dados do IBGE, o índice do volume de vendas no comércio varejista apresentou crescimento anual de 10,9% em Ao se considerar o volume de vendas no comércio ampliado, que inclui as categorias de material de construção e automóveis, o desempenho se mostra ainda melhor, com um crescimento de 12,2% em A perda de dinamismo, no decorrer do próprio ano de 2010, especialmente na segunda metade, parece ser consequência do esgotamento da capacidade instalada ou da escassez de mão de obra em alguns setores, além da forte concorrência com produtos importados, potencializada pela valorização cambial. Gráficos 11 e 12 Vendas Reais no Varejo e Produção Industrial (100 = Jan/07) O bom desempenho do comércio, especialmente o de bens duráveis, impulsionado pelo crédito e pelas boas condições do mercado de trabalho, levou o Banco Central a estabelecer medidas macroprudenciais, no final do ano, mirando exatamente os segmentos que apresentavam as taxas de crescimento mais expressivas: crédito para vendas de veículos e crédito pessoal. Com isso, a autoridade monetária buscou conter o ritmo de crescimento do crédito, que se ampliou no decorrer do ano passado, passando a crescer 20% em termos anualizados, patamar considerado excessivo do ponto de vista prudencial. Já o desempenho da indústria no decorrer do ano passado foi menos favorável, crescendo apenas 2,5% em relação a 2009, ainda apresentando ao final do ano um nível de produção inferior àquele prevalecente no período pré-crise (setembro de 2008).
24 Com relação ao mercado de trabalho, o ano de 2010 mostrou novamente a retomada da tendência de queda da taxa de desemprego, que atingiu o menor nível histórico (5,3%, em dezembro). Na média, em 2010, a taxa de desemprego ficou em 6,7%, segundo o IBGE. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho confirmaram a geração líquida de vagas apurada pelo IBGE, apontando a criação rendimento, por sua vez, levou a uma ampliação da massa salarial real em 7,4% em 2010, contra 3,9%, em Esse avanço da massa salarial real em 2010 foi também recorde, representando o principal alicerce para o ótimo desempenho do consumo doméstico no ano. Gráfico 13 Taxa de Desemprego no Brasil Setor Externo de 2,137 milhões de vagas formais, na economia, em O setor de serviços manteve a liderança nas contratações no ano, com 864 mil vagas, seguido pelo comércio (520 mil vagas) e a indústria (485 mil). Como reflexo direto da melhora no mercado de trabalho, os rendimentos reagiram positivamente. Considerando os dados do IBGE, o rendimento médio nominal expandiu-se 9,2%, em 2010, implicando um aumento no rendimento real de 3,75%. A combinação de crescimento na ocupação e no Os dados de comércio exterior brasileiro mostram a manutenção de um cenário favorável, desde meados de O Índice de Relações de Troca (IRT) do Brasil (razão entre os índices de preços médios de exportação e de importação, em dólares) alcançou o nível mais elevado da série histórica, iniciada em Comparado à média de 2009, o IRT estava cerca de 25% mais alto, ao final de Nesse período, o preço médio de nossas exportações subiu 34% em dólares e o preço médio das importações brasileiras avançou 6,0%. O IRT favorável reflete-se no resultado acumulado da balança comercial em 2010: US$ 20,3 bilhões de dólares, resultado de exportações de US$ 201,9 bilhões e importações de US$ 181,6 bilhões. Na comparação com 2009, o valor das exportações cresceu 31,9%, enquanto que o valor das importações avançou 42,3%.
25 Gráfico 14 Saldo da Balança Comercial Brasileira (em US$ bilhões) No que se refere ao financiamento, entretanto, as condições em 2010 foram bastante favoráveis, com o fluxo de investimento direto atingindo US$ 48,5 bilhões, contra US$ 25,9 bilhões no ano anterior. Os fluxos de investimento em carteira também mostraram volumes significativos, atingindo US$ 52,3 bilhões. A elevação do preço médio das exportações brasileiras foi o principal motor do crescimento das exportações, em 2010, alta puxada pela elevação do preço internacional das commodities. Após passar por um período de enfraquecimento, na segunda metade de 2008, os preços desses bens voltaram a subir. Isso foi reflexo da demanda oriunda de países emergentes, com destaque para a China, aliada à depreciação do dólar e a restrições de oferta, em função de problemas climáticos enfrentados principalmente no segundo semestre de Já o crescimento das importações refletiu, sobretudo, a alta dos volumes físicos importados, decorrente do forte crescimento da absorção doméstica no Brasil. Enquanto a balança comercial apresentou ainda um bom resultado, em 2010, trazendo mais dólares para o país, o outro principal componente das transações correntes mostrou significativa deterioração no período. Outro ponto de destaque foi o aumento de endividamento total em emissões de médio e longo prazos, que representaram uma entrada de US$ 62,6 bilhões, em 2010, ante US$ 35,8 bilhões, em Com a estabilidade dos fluxos de amortização, isso representou uma elevação significativa da taxa de rolagem dos empréstimos externos, em 2011: de 88% para 244%. Com a ampliação do fluxo líquido de dólares para o país e a manutenção da política de acumulação de reservas por parte do Banco Central, visando evitar excessiva volatilidade do real, 2010 se configurou como mais um ano de acumulação significativa de reservas. As reservas internacionais encerraram o ano em US$ 288,6 bilhões, contra US$ 239,0 bilhões ao final de E a taxa de câmbio do final de período apontava a cotação de R$ 1,67/US$, apontando uma valorização de 4,3% (11,6% na média do ano). O balanço de serviços e rendas mostrou um déficit de US$ 70,6 bilhões, em 2010, contra US$ 52,9 bilhões, no ano anterior, principalmente refletindo a ampliação das despesas, e, com isso, trouxe o déficit em conta-corrente do país para US$ 47,5 bilhões, ou 2,3% do PIB.
26 2.3.3 Finanças Públicas O superávit primário do setor público consolidado, principal parâmetro da execução fiscal no Brasil, somou R$ 101,7 bilhões, em 2010, representando 2,79% do PIB, ante 2,03% do PIB no ano anterior. o crescimento das receitas e despesas do Governo Central teria sido menor, mas o ritmo de crescimento das últimas ainda superaria o das primeiras (15,9% despesas e 13,1% receitas). Gráfico 15 Resultado Fiscal Primário e Dívida Líquida do Setor Público O desempenho de 2010 refletiu o aumento dos superávits do Governo Central e das empresas estatais, contrabalançados, em parte, pela redução do resultado dos governos A Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) atingiu R$ 1.475,8 bilhões em 2010, representando o equivalente a 40,4% do PIB. O percentual reflete uma queda de 2,4 p.p. em relação ao patamar do final de regionais. Descontados os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), 0,6% do PIB, a meta de superávit ajustada para o ano, de 2,5% do PIB, foi cumprida. A receita bruta do Governo Federal totalizou, em 2010, R$ 705,3 bilhões, representando um crescimento de 26,3% em relação ao arrecadado no ano anterior, enquanto as despesas totalizaram R$ 442,2 bilhões, aumentando 28,4%. Excluindo-se das receitas e despesas, os impactos das operações relacionadas à Petrobras receitas referentes à cessão onerosa para a exploração do petróleo e despesas relacionadas à expansão dos investimentos e capitalização da empresa A redução anual da relação DLSP/PIB refletiu os impactos positivos da obtenção de um superávit primário de 2,8 p.p. do PIB, o próprio crescimento do PIB corrente, que contribuiu com 5,4 p.p., e o efeito de privatizações, que contribuiu com mais 0,1 p.p.. No sentido contrário, houve a apropriação de juros nominais, que contribuiu negativamente com 5,4 p.p. e também o efeito da apreciação cambial registrada no período, que contribuiu negativamente com mais 0,5 p.p.. A Dívida Bruta do Governo Geral, por sua vez, atingiu R$ 2.011,5 bilhões, o equivalente a 55,1% do PIB em O valor representou uma queda de 6,8 p.p. do PIB em relação ao ano anterior, refletindo o aumento dos compulsórios bancários no Banco Central.
27 Quadro 3 Principais Indicadores Econômicos
28 BANCO SAFRA 38
29 BANCO SAFRA O ano de 2010 foi muito positivo para o Brasil. O PIB cresceu 7,5%, elevando-se a R$ 3,67 trilhões (US$ 2,1 trilhões), o que colocou o país como a 7ª maior economia mundial. A maioria dessas atividades é desenvolvida pelo Banco e, outras, por suas principais controladas, entre as quais, o Banco J. Safra, Safra Corretora de Valores e Câmbio, Safra Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, Safra Leasing, Safra Vida e Previdência, Safra Seguros Gerais e Banco Safra (Cayman Islands) Limited. O volume de crédito bancário subiu 20,5% no ano, atingindo o equivalente a 46,6% do PIB, recorde histórico. Nesse ambiente favorável para a economia e o mercado financeiro, o Banco Safra teve um 2010 muito bom, consolidando-se como uma das grandes instituições de capital privado do setor, em termos de ativos, conforme ranking do Banco Central. Suas atividades são desenvolvidas em todas as áreas do mercado financeiro. Além das operações de empréstimos, atua no leasing, subscrição de valores mobiliários, administração de fundos de investimento, seguros, no gerenciamento de ativos e em operações de tesouraria. O suporte às operações do banco é assegurado por uma rede de 117 agências e Postos de Atendimento Bancário (PAB) em grandes empresas. Uma das agências está no exterior (Cayman) e as demais em capitais e cidades, em sua maioria sedes de regiões econômicas importantes. Estruturada segundo esse critério, essas agências atendem os clientes do banco mantendo elevados níveis de excelência e eficiência operacional. As demonstrações contábeis consolidadas do Safra revelaram um lucro líquido de R$ 1.048,1 milhões, em 2010, o que representa um crescimento de 15% quando comparado aos R$ 911,3 milhões referentes ao ano anterior.
30 O patrimônio líquido fechou o exercício de 2010 totalizando R$ 5,7 bilhões, com evolução de 14,4% sobre os R$ 4,9 bilhões do final de O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado foi de 19,9%, dentro da rentabilidade dos últimos anos. A taxa de retorno sobre o ativo médio anualizado situou-se em 1,5%. O índice de Basiléia, que expressa a capitalização, atingiu 14,1%, acima dos 11% exigidos pelo Banco Central. Outro indicador muito positivo obtido no exercício de 2010 foi o aumento da eficiência do Safra. Refletindo a relação entre as despesas operacionais não decorrentes de juros e as receitas bancárias, o índice de 46,6% assegurou ao banco a condição de um dos mais eficientes do mercado financeiro. Igualmente significativo foi o crescimento do resultado operacional em relação a 2009, que atingiu R$ 1,5 bilhão.
31 O balanço patrimonial mostrou a evolução dos ativos totais para R$ ,4 milhões, com aumento de 10,7%, em relação aos R$ ,4 milhões no fechamento do ano anterior. Deste montante, R$ 34,0 bilhões eram representados por ativos de tesouraria (disponibilidades, aplicações interfinanceiras de liquidez, títulos e valores mobiliários e relações interfinanceiras e interdependências); R$ 37,3 bilhões representados por operações de crédito; e R$ 0,8 bilhão de operações de câmbio. O Safra mantém estrutura bastante diversificada de instrumentos de captação, que incluem operações no mercado aberto, no montante de R$ 27,9 bilhões; operações com instrumentos financeiros derivativos tradicionais, no valor de R$ 4,3 bilhões; depósitos a prazo, totalizando R$ 9,2 bilhões; captações de R$ 5,3 bilhões no mercado externo; além de recursos oficiais, que somavam R$ 6,2 bilhões no final do exercício. As captações totais evoluíram 24,2%, aumentando de R$ 39,5 bilhões para R$ 49,2 bilhões. O saldo da carteira de crédito evoluiu 33,6%, passando de R$ 27,9 bilhões para R$ 37,3 bilhões no final de Desse montante, R$ 9,0 bilhões estavam garantidos por recebíveis. A provisão para créditos de liquidação duvidosa representava 2,2% da carteira. A distribuição da carteira de crédito por nível de risco e respectivas provisões confirmaram que, a despeito do grande crescimento, o banco manteve o elevado índice de qualidade do ano anterior: 94% do montante dos empréstimos fecharam 2010 classificados nos níveis de risco AA, A e B, os mais altos, conforme critérios do Banco Central. A inadimplência, considerando créditos vencidos há mais de 90 dias em relação à carteira ficou em 0,8%, índice bem abaixo da média do mercado e indicador do êxito da conservadora política de crédito do Safra.
32 No segmento de Varejo, o principal produto do Safra é o financiamento de veículos leves para o consumidor final. A prioridade é para compradores de unidades novas e que assegurem boa qualidade de crédito. A Tesouraria é responsável pela gestão do fluxo de recursos para todas as áreas do Grupo no Brasil. Para maior eficiência, suas atividades estão divididas em duas grandes áreas: banking, com a atribuição de cuidar da manutenção da liquidez e do equilíbrio entre ativos e passivos: e a de trading, que negocia moedas, índices e assume posições direcionais.
33 BANCO J. SAFRA O Banco J. Safra é um banco múltiplo que reúne as atividades de banco de investimento, gestão de fundos de investimentos, private banking, wealth management e corretora de valores. O Banco J. Safra encerrou 2010 com um Patrimônio Líquido de R$ 438,8 milhões. A área de Fusões e Aquisições e Mercado de Capitais é uma das principais dentro da estrutura e atividades do Banco de Investimento. Tem amplo acesso a investidores locais e internacionais e vem obtendo sólido crescimento, com a participação em IPO`s e como sole advisor em processos de aquisição e incorporação de empresas. Atua, também, no mercado de emissão e distribuição de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), bem como em operações estruturadas e em operações no mercado de dívida, com a emissão de debêntures e bonds. A Safra Wealth Management, que atua como Multi Family Office, complementa as atividades do Private Bank Safra, com estrutura e pessoal altamente especializados para assegurar atendimento de excelência e a melhor alocação de recursos. O Private Banking, que opera segundo valores herdados de uma tradição secular baseada na discrição e na segurança, mais uma vez, em 2010, colocou-se entre os principais gestores de recursos de clientes de alta renda no Brasil. Desenvolve suas operações em todo o país, por meio de escritórios nas principais capitais. ASSET MANAGEMENT A Safra Asset Management fechou 31 de dezembro de 2010 com o patrimônio sob sua administração no valor de R$ 56,5 bilhões, o que a colocou como a oitava maior na classificação da AMBIMA Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais. Em agosto, a Safra Asset Management recebeu a nota M1a (bra), a máxima em avaliações feitas pela Fitch Ratings.
34 SAFRA CORRETORA A Safra Corretora, acompanhando o processo de expansão das atividades do Banco de Investimento, ampliou em 2010 sua atuação nos mercados de ações, mercadoria e futuros, firmando-se como importante instituição de corretagem, liquidação e custódia. Seus clientes dispõem do Safra Net Ações, o home broker da Corretora Safra. SAFRA VIDA E PREVIDÊNCIA A Safra Vida e Previdência, que opera nos ramos de seguros de vida e previdência privada, inclusive em Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) e Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL), fechou o exercício com patrimônio líquido de R$ 202,9 milhões e lucro líquido de R$ 58,0 milhões (R$ 20,0 milhões, em 2009). A empresa também participa do Convênio de Operações de Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT).
35 As receitas com contribuições do VGBL e do PGBL encerraram o exercício com R$ 570,8 milhões (R% 221,7 milhões em 2009). As provisões técnicas das carteiras de ambos os fundos elevaram-se de R$ 1.215,0 (2009) para R$ 1.823,4 milhões. classificadas nos níveis de risco AA e A os mais altos do mercado segundo critérios aplicáveis às instituições financeiras. SAFRA SEGUROS GERAIS SAFRA LEASING A Safra Leasing encerrou o exercício de 2010 apresentando um patrimônio líquido de R$ 786,1 milhões e um lucro líquido de R$ 150,3 milhões. Sua carteira de arrendamento mercantil, a valor presente, atingiu R$ 2,4 bilhões em 31 de dezembro, mantendo-se entre as maiores empresas de leasing que atuam nesse mercado, de grande concorrência. Os principais bens arrendados foram veículos, que representaram 59,5% do total, e máquinas e equipamentos, com 33,5% das operações. No encerramento do exercício, 78,5% das operações de arrendamento mercantil a valor presente estavam A Safra Seguros Gerais, que opera com diversificada oferta de seguros de ramos elementares, registrou no final de dezembro de 2010 um patrimônio líquido de R$ 55,3 milhões e lucro líquido de R$ 4,7 milhões (R$ 3,1 milhões em Em prêmios emitidos, que somaram R$ 131,9 milhões, o aumento foi de 26% sobre os R$ 104 milhões do ano anterior. GESTÃO DE RISCOS O Banco Safra mantém um conjunto de normas, procedimentos e estrutura especializada para assegurar o cumprimento de determinações legais e as melhores práticas de mercado, bem como atender as exigências de sua política interna.
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