ABRIL 2015 NÚMERO 22 ANO 03 R$ 10. A ciência da vida

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1 ABRIL 2015 NÚMERO 22 ANO 03 R$ 10 A ciência da vida Reprodução humana assistida, doação de sêmen, barriga de aluguel: a incansável busca por um filho ESPECIAL GOURMET Leia, experimente e compartilhe:. São 40 receitas práticas e com toque gourmet para renovar o seu paladar destaque FESTAS Temas do momento, salões infantis, convites, serviços e um check list para preparar a festa de 15 anos

2 E xc lu s iva SEM LIMITES PARA SONHAR Conheça a saga de casais heterossexuais e homoafetivos em busca do sonho de serem pais e mães, enfrentando e superando barreiras físicas, econômicas e emocionais: eles não acreditaram no impossível A REPORTAGEM: Kesi Adria os 37 anos, a administradora de empresas Luana teve Victoria em 17 de maio de A bebê nasceu com 2,6kg e 37 centímetros. Uma menina linda e saudável, define a mãe. Ela leva as características biológicas de um engenheiro de pele clara, cabelos escuros, porte atlético e que gosta de música. Não, ele não é o pai da criança. É o doador do sêmen usado na fertilização artificial, possibilitando que Luana engravidasse na primeira tentativa e gerasse uma filha para o relacionamento dela com a médica Judith, juntas desde Os nomes são fictícios, mas a história é real. Elas vivem em São Paulo e mantêm ligação com Americana pelos parentes e negócios. Assim como Luana, Flávia e Milene são duas mães que emprestaram suas histórias para esta reportagem, porém há centenas de outras mulheres anônimas que vão às últimas consequências e resistências (físicas e emocionais) para realizarem o sonho de ser mãe, custe o que custar. E custa! Durante um mês, nossa reportagem frequentou clínicas de reprodução assistida, banco de doadores de sêmen e conheceu lares cujas famílias têm filhos gerados com a ajuda da ciência, uma vez que a natureza não colaborou. Ainda tivemos contato com uma agência que possibilita a contratação de barriga de aluguel fora do Brasil. Nos deparamos com uma realidade marcada por sentimentos intensos e antagônicos. Medo e confiança, frustração e alegria, prostração e euforia, obsessão e fé são alguns deles. Ainda há muito tabu e preconceito em torno desse assunto, principalmente no que se refere à infertilidade masculina. A descoberta. Superada a prostração da descoberta de que o casal é infértil e a decisão de ir atrás das possibilidades para gerar um filho (desejo muito mais forte nas mulheres), é hora de lidar com a nova e dura realidade. Apesar de uma oferta significativa 15% dos casais com relações sexuais frequentes têm infertilidade os tratamentos são para poucos devido ao alto custo, variando entre R$ 8 mil e R$ 25 mil, mas a conta não para por aí. No Brasil, desde 2012, é oferecido o serviço em nove hospitais públicos, mas especialistas e mulheres que tentaram garantem que não é fácil conseguir a reprodução assistida gratuitamente. Nas páginas seguintes estão relatos dessa busca que se agarra a todas as possibilidades: física, econômica, psicológica e religiosa. Entre dúvidas, angústias, crises e uma montanha-russa de emoções, um papel com a declaração Positivo dá um novo rumo às coisas. E nada mais será como antes. Lá vem uma criança e com ela o conceito de família, na melhor concepção da palavra. Confira os videos com as entrevistas desta reportagem da Revista L no portal 14

3 SHUTTERSTOCK C HAPEU 15

4 E xc lu s iva 5 obstáculos para a gravidez 1 Fatores hormonal e ovariano: disfunção de hormônios e da ovulação 2 Fator anatômico: integridade anatômica do útero, trompas, colo uterino e aderências 3 Fator imunológico: pesquisa da incompatibilidade, hostilidade, alergia entre os gametas masculinos e femininos 4 5 TALITA BRISTOTTI_O LIBERAL ÁLBUM DE FAMÍLIA Fator Masculino: hormonal ou com espermatozoide Fator Endometriose: que acomete 15% das mulheres Um filho pela ciência, outro pela natureza Quanto tempo esperar pela gravidez natural? Faixa de idade Tempo de espera < 28 anos...1,5 ano 28 a 34 anos...1 ano 35 a 38 anos...6 meses 39 a 40 anos...4 meses 40 a 43 anos...3 meses 44 a 45 anos...2 meses FONTE: IPGO (INSTITUTO PAULISTA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA) 16 Depois da persistência, o prêmio chamado Luigi. Após 5 anos, o milagre batizado de Lorenzo. Os empresários Flávia Rigonato Rodrigues e Ricardo Rodrigues são protagonistas de uma linda história. Foram dois longos anos de tratamento, exames e angústias, afinal Flávia tinha as trompas obstruídas e o útero virado. Já Ricardo produzia poucos espermatozoides de qualidade. As chances de uma gravidez natural eram remotas, lembra Flávia. Ela já estava com 34 anos e precisava partir para o tudo ou nada. O caminho seria a fertilização in vitro. Meu lado emocional estava abalado e cheguei a pensar que não conseguiria. Meu marido disse que eu tinha que tentar apesar de tantas coisas dando errado. Mesmo sem a quantidade de óvulos necessária e após sofrer uma hemorragia, enfim a gravidez se confirmou. A notícia da gravidez foi um prêmio, resume Ricardo. Luigi nasceu em novembro de Passados 5 anos, durante uma viagem de férias, Flávia sentiu-se mal. Jamais imaginou que se tratava de uma gravidez, desta vez natural, aos 40 anos. Era Lorenzo chegando para o espanto, a gratidão, a alegria e paixão dos pais sortudos. Fui presenteada. Depois de tanta luta para engravidar, o inesperado aconteceu e não teve uma explicação clínica para isso, diz a mãe. Ao serem questionados sobre a definição de família, eles se olham, respiram fundo e Flávia é a porta-voz: Família é amor, é paciência, é crer em Deus.

5 ÁLBUM DE FAMÍLIA PERSISTÊNCIA, AMOR E UNIÃO DO CASAL A chegada da pequena Laura em 31 de outubro de 2014 é a realização de um sonho do casal Milene Romagnolo Kessamiguiemon, 38, e Ricardo Martins Kessamiguiemon, 39. Desde 2013, eles buscavam meios de realizar o desejo de serem pais. Após passarem por incansáveis exames, veio o diagnóstico: uma disfunção hormonal precoce prejudicou a fertilidade do marido. Os espermatozoides foram colhidos e tratados. A primeira tentativa foi a inseminação artificial, porém não deu certo. Em fevereiro do ano passado, optaram pela fertilização in vitro. Os 15 dias de espera pelo resultado de gravidez são intermináveis. Nosso emocional fica muito abalado, conta Milene. Como já estava com 37 anos, as estatísticas desfavoráveis preocupavam ainda mais. A gravidez se confirmou e exigiu cuidados extremos, especialmente pelas constantes cólicas causadas por pedras na vesícula. Do quinto ao nono mês, eu ia toda semana ao pronto socorro com crise. Devido ao meu quadro não pude ter parto normal, mas a Laura nasceu forte e linda, relata a mãe. Para a realização dos tratamentos de fertilidade e reprodução assistida, Milene e Ricardo usaram todas as economias que tinham e ainda fizeram empréstimo bancário. Aliás, muitos casais ouvidos pela reportagem, mas que preferiram não ter suas histórias publicadas, confirmam o grande esforço financeiro para levar o tratamento adiante, com investimentos variando entre R$ 15 mil e R$ 25 mil a tentativa. Para o casal Kessamihuiemon, ainda há espaço para mais uma criança na vida deles. Penso que dois filhos tornariam nossa família completa. Não descarto uma adoção, afirma Milene. 17

6 Exclusiva Um bebê e duas mães: novo modelo de família A administradora de empresa Luana*, 38, e a médica Judith*, 37, juntas há 6 anos, decidiram em 2013 que era hora da família aumentar. Elas integram a estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que calcula 60 mil famílias homoafetivas no Brasil, das quais 53,8% são formadas por mulheres. Primeiramente, o casal pensou no modelo de gestação solidária. Luana seria inseminada pelo óvulo de Judith e o sêmen de um doador. Ao final, percebeu-se que os óvulos da administradora tinham melhores condições de fecundação. Partiram para a escolha do material genético masculino: um doador com sangue tipo A ou O, pele clara, cabelo escuro, esportista e com gosto apurado para a música. É uma escolha difícil. Optamos por cinco doadores que tivessem as características físicas próximas da nossa, recorda Luana. Cinco óvulos foram fecundados e dois deles implantados. Um resultou na linda Victoria*, que completará um ano em maio. Ela admite que o fato de Victoria ter duas mães exigirá que a menina saiba desde cedo como foi concebida, mas tudo será tratado com naturalidade, a começar pela certidão de nascimento da criança que traz o nome e sobrenome de Luana e Judith. Como ainda existem três embriões congelados, uma nova gestação não está descartada. São três irmãozinhos lá congelados. Eu escolhi que eles existissem, conclui Luana. (*) OS NOMES SÃO FICTÍCIOS A PEDIDO DAS ENTREVISTADAS APOIO PSICOLÓGICO É VITAL A ansiedade é a grande vilã dos casais em tratamento de infertilidade. Atrapalha não só o lado psicológico, como também o físico, conta a psicóloga Helena Aparecida Furlan, especialista em terapia de casais. Floral de Bach para acalmar e diálogos francos são a combinação usada pela especialista. Ajudam muito, porque a pessoa fica obcecada em ser mãe e pai, em ter filhos. Muitos pacientes se atrapalham no tratamento, se comprometem de uma forma que perdem a realidade. Tem gente que é mandado embora do emprego, larga a faculdade, deixa tudo de lado porque só vive isso, conta. O acompanhamento psicológico ajuda o casal a não se desgastar diante dos desafios, frustrações e, por vezes, o sentimento de culpa. Nos 29 anos de profissão, Helena comenta que é a mulher que primeiramente busca por ajuda. O homem é mais resistente, especialmente quando a infertilidade está com ele. Ainda existe preconceito, é como se a masculinidade estivesse em jogo. O que é um engano, acrescenta. Aos casais que vivem os desafios da infertilidade ou estão enfrentando a maratona do tratamento, Helena aconselha: Busquem amparo em três fatores: econômico, se preparando para isso; psicológico, para controlar a ansiedade; e espiritual, para nunca perder a fé em Deus. Porque quando a pessoa perde a fé, ela perda a confiança em Deus, nela própria, no outro e em tudo. DENER CHIMELI_O LIBERAL 18 REVISTA L abril

7 CHAPEU GUILHERME MAGNIN_O LIBERAL Infertilidade atinge 15% dos casais Dos 3,5 bilhões de mulheres no mundo, 40% estão em idade reprodutiva e metade vive um relacionamento ou união estável. Do total de casais em idade fértil, 15% não conseguem engravidar. No Brasil, calcula-se que 3 milhões de casais têm infertilidade. A culpa é de quem? Para os especialistas em reprodução humana, Fernando Brandão Campos e Arnaldo Schizzi Cambiaghi a resposta é: do casal. Ao contrário do que se acreditava no passado é um problema do casal e não exclusivo da mulher. Sabemos que 30% das causas são femininas, 30% são masculinas e em 30% dos casos ambos os fatores estão presentes. Ainda restam 10% sem motivos conhecidos, descreve Arnaldo, em seu livro Ser Ou Não Ser Infértil?. Fernando Brandão Campos explica que entre os tratamentos para engravidar estão a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro. Na inseminação, os espermatozoides são colocados dentro do útero, enquanto que na fertilização in vitro, o óvulo e o esperma são fecundados em laboratório para depois serem inseridos na mulher. Se comprovada a infertilidade do homem, da mulher ou dos dois, o casal tem a opção a recorrer a um banco de doador de sêmen ou óvulos. Posso dizer que essa situação ocorre na proporção de menos de 5% do total de tratamentos, afirma Campos. Outra situação possível, ainda mais rara, é optar pelo útero de substituição. Ocorre quando a mulher perde o útero por algum problema. O mais comum é a endometriose. No Brasil só é permitido ser doadora temporária do útero se for a mãe, irmã, avó, tia ou prima de um dos parceiros e com idade de até 50 anos. REVISTA L Maio 19

8 Exclusiva TRATAMENTO GRATUITO É PARA POUCOS O Brasil passou a oferecer o tratamento para infertilidade pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em dezembro de A Portaria determinou que fossem destinados recursos para nove hospitais públicos, três deles estão no Estado de São Paulo: o Hospital Pérola Byington e o Hospital das Clínicas de São Paulo e Ribeirão Preto. Os demais estão em Brasília, Recife, Natal, Belo Horizonte e Porto Alegre. Os próprios especialistas e mulheres que tentaram o tratamento pelo SUS garantem que não é fácil conseguir qualquer tipo de reprodução assistida gratuitamente. É algo mais raro no serviço público, porque é um procedimento que tem custo médio de R$ 8 mil a R$ 12 mil, variando de clínica para clínica. Tem ainda o custo do medicamento, que gira em torno de 4 mil, afirma Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em medicina reprodutiva e diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia (IPGO). A reportagem não recebeu a tempo os números oficiais quanto a fila de espera no serviço público. DIVULGAÇÃO Retardar a gravidez, o outro lado da moeda Primeiro a graduação, depois a carreira, a casa própria e uma condição financeira segura. Essas são as prioridades da mulher contemporânea. Filhos? Só depois. O estudo Saúde Brasil, do Ministério da Saúde, divulgou que entre 2000 e 2012, saltou de 22,5% para 30,2% o índice de mulheres brasileiras que adiam a gravidez para depois dos 30 anos. As regiões Sudeste e Sul são as que têm maior índice, com 34,6% e 33,6%, respectivamente. O especialista em medicina reprodutiva, Arnaldo Schizzi Cambiaghi, recomenda que esta decisão não seja tomada sem antes consultar um médico. Ao adiar a gravidez, a primeira coisa que se olha é a idade da mulher, porque com o passar dos anos ocorre uma perda da fertilidade, que se torna muito maior após os 35 anos. Se tiver por volta dos 32 anos e não tem ainda o parceiro ideal para ser o pai dos seus filhos, recomenda-se que congele seus óvulos. Apesar da jovialidade da mulher moderna graças aos cuidados estéticos, o ciclo fértil tem validade. Muitas acreditam que pela sua aparência jovial, apesar da idade que tem, seu ovário se comporta da mesma forma. É um engano muito grande, afirma Cambiaghi. Segundo ele, o procedimento de vitrificação é uma técnica que garante a sobrevivência de 90% do material genético. Se ela congelou seus óvulos na idade certa, poderá usá-los aos 40, 45 ou 50 anos. Ela pode ser mãe. O ginecologista e especialista em reprodução humana, Fernando Brandão Campos, acrescenta: As técnicas e laboratórios se aprimoraram. De 6 anos para cá melhoraram os processos de congelamento de células masculina e feminina, pode até fazer o congelamento de embriões para posterior inseminação. Esses avanços são uma ótima notícia para pacientes em tratamento do câncer, que vão fazer quimioterapia e poderão perder a fertilidade. Como a cura do câncer é cada vez mais possível, preservar a fertilidade através do congelamento é um cuidado muito importante para essas pacientes, conclui Arnaldo. O valor do procedimento custa, em média, R$ 10 mil, mais a anuidade para manter o óvulo congelado, que pode variar entre R$ 500 e R$ 1 mil. 20 REVISTA L abril

9 Doação de sêmen, uma realidade desconhecida FOTOS: KESI ADRIA_O LIBERAL Sete Vidas, a novela escrita por Lícia Manzo, que está no ar pela Rede Globo, ampliou a reflexão sobre a doação de sêmen em auxílio aos casais inférteis. Visitamos o Pro-Seed, um dos mais antigos bancos de sêmen do país, localizado em área nobre de São Paulo. A diretora Vera Beatriz Fehér Brand conta que fornece material para mais de 300 clínicas de reprodução humana. O cadastro conta com 500 doadores aprovados, sendo que 120 têm sêmen disponível para uso, entre eles, homens calcasianos (brancos de origem europeia), negros e orientais. Sempre precisamos de novos doadores de todas as características físicas: alto, baixo, loiro, moreno, olhos claros e escuros, de várias origens e grupos sanguíneos, afirma. O doador deve ter entre 18 e 50 anos. A legislação brasileira obriga o anonimato e a doação voluntária, ou seja, sem remuneração. A grande maioria dos doadores vem porque conhece algum caso de infertilidade na família ou amigo. São pessoas com sentimento altruísta. Normalmente, são homens que já são doadores de sangue ou de medula óssea, descreve Vera Brand. Semanalmente, o Pro-Seed recebe de cinco a dez doações de sêmen. A novela Sete Vidas despertou a curiosidade e aumentou o número de consultas sobre o procedimento. A identificação do doador é alfa numérica, somente o banco de sêmen tem os dados completos e sob sigilo. Nem o homem sabe qual a numeração do seu cadastro. Os únicos dados disponibilizados para as clínicas e famílias são: país de origem, grupo sanguíneo, cor da pele, dos olhos e cabelos, peso, altura, hobby e profissão. Cada doador faz, no mínimo, seis doações de sêmen, material suficiente para até seis fertilizações. A quantidade usada depende da técnica (inseminação intrauterina utiliza mais que a fertilização in vitro). Congelamento. O sêmen doado é mantido em solução crioprotetora, que impede que os espermatozoides morram. É congelado no vapor de nitrogênio a uma temperatura de 196 graus negativos. Vera Brand diz que o material pode ficar guardado por mais de 30 anos. Temos relatos de gravidez por sêmen armazenado há 19 anos no nosso banco. Limite. Vera informa que existe um limite de gestação por doador: uma criança de cada sexo por milhão de habitantes. O controle se faz necessário para reduzir as chances de duas pessoas com o mesmo material genético se casarem. Por isso, que a distribuição ocorre em partes diferentes do país, reduzindo consideravelmente as possibilidades. 21

10 Exclusiva 7 PASSOS PARA SER DOADOR DE SÊMEN Ter de 18 a 45 anos, ser saudável e estar comprometido para doar de forma anônima Ter desejo de ajudar casais inférteis voluntariamente Preencher cadastro com dados pessoais e características fenotípicas Realizar exame de espermograma (manter 3 dias de abstinência sexual e ejaculação) Se submeter a novos exames para checagem de doenças hereditárias e infectocontagiosas Exames aprovados, está apto a ser doador, basta agendar as doações Coletar seis amostras de sêmen, no mínimo, para doação Doador é pai biológico? A diretora do banco de sêmen Pro-Seed, Vera Brand, explica que a carga genética de um doador não significa paternidade. O doador não é pai, apenas cedeu o sêmen para mulheres poderem ter um filho com as características físicas que escolheram. Quem é pai, quem é mãe são os que viveram a gestação, vão registrar, cuidar e amar essa criança, afirma. ALTRUÍSMO, EIS A QUESTÃO Por conta da rígida legislação brasileira que exige anonimato, o banco de sêmen Pro-Seed intermediou a entrevista por com alguns voluntários. Três deles contaram que a motivação está no altruísmo, ou seja, no desejo de ajudar ao próximo. O funcionário público de 34 anos, doador desde novembro passado, frequenta o banco a cada 15 dias. O que me motivou foi a possibilidade de ajudar a mudar a vida de alguém. O metalúrgico de 39 anos se sensibilizou com as histórias e dificuldades dos casais inférteis. Eu faço doação de duas a três vezes por mês. Aos 43 anos, o assistente administrativo se tornou doador após pesquisar na internet e reconhecer a seriedade e o sigilo do assunto. Posso ajudar de forma anônima a realizar o sonho de casais que querem ter a experiência de ser pais. Ele conta que gostaria de contribuir além das duas vezes por mês habituais. 22 REVISTA L abril

11 Barriga de aluguel, uma realidade Casais brasileiros, principalmente homossexuais com impossibilidade de gravidez, têm recorrido a métodos alternativos para realizar o sonho de ter filhos. Uma das opções procuradas é a gestação por substituição, popularmente conhecida por barriga de aluguel. Somente nos últimos cinco meses, cerca de 150 casais brasileiros interessados procuraram a agência internacional Tammuz, com sede em Israel, que atua como facilitadora em países onde a prática é legalizada. A crescente demanda, inclusive, motivou o diretor da empresa, Roy Rosenblatt-Nir, a trazer a agência para o país em março deste ano. No Brasil, a barriga de aluguel é permitida somente em casos em que a barriga solidária (sem remuneração) seja de uma parente. A gestação por substituição é legalizada em vários países do mundo, entre eles, Índia, Estados Unidos, Canadá, Nepal e o estado de Tabasco, no México. Caso não sejam usados os óvulos da própria cliente, o processo se inicia com a escolha de uma doadora, que pode ser amiga, parente ou através do site de um banco de óvulos que fica na África do Sul, nos Estados Unidos ou no Nepal. É feita a coleta do espermatozoide e dos óvulos, a inseminação in vitro, o implante dos embriões no ventre da barriga de aluguel e a gestação, com acompanhamento permanente da clínica de reprodução, até o momento do parto. O custo do serviço parte de 51 mil dólares se realizado no Nepal e nos Estados Unidos a partir de 110 mil dólares. Após o parto, o consulado brasileiro emite um passaporte para a criança entrar no país. DIVULGAÇÃO_TAMMUZ Roy Rosenblatt-Nir (direita) se tornou pai de gêmeos, há três anos, com seu parceiro através da Tammuz. Não existe nenhum motivo para o Brasil não passar por uma revolução semelhante às experimentadas por muitos países no mundo, diz. JORGE RODRIGUES JORGE_CARTA Z NOTÍCIAS. Jayme Matarazzo e Isabelle Drummond, na novela Sete Vidas, vivem jovens gerados com o sêmen de Miguel (doador 251), vivido pelo ator Domingos Montagner. Ele doou sêmen nos EUA, onde os dados do doador não são sigilosos, diferente da legislação brasileira, que exige o anonimato. 23