Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

Transcrição

1 RELATÓRIO DE VISITA A UNIDADE PRISIONAL No dia , o presente subscritor compareceu ao Presídio Ary Franco (SEAP-AF), localizado no bairro de Água Santa, nesta Cidade, em companhia do Técnico Pericial do GATE Luís Otávio Guimarães Maneschy, a fim de angariar elementos sobre a situação estrutural da referida unidade prisional, em especial no que diz respeito à aeração das celas e à suficiência dos solários a elas contíguos para os fins de banho de sol e recreação, fato este objeto do Inquérito Civil nº 20/2014. Ao chegarmos à unidade, fomos atendidos pelo Diretor João Cláudio Wagner da Silva, que nos prestou algumas informações básicas sobre a unidade. Na ocasião, havia presos na unidade, que tem capacidade declarada para 968 pessoas. Para cuidar dessa população carcerária, a unidade conta com turmas formadas por 6 Inspetores de Administração Penitenciária ISAP s, que trabalham em regime de plantão. Especificamente quanto ao banho de sol, foi esclarecido pela direção que havia um esquema de rodízio entre os presos, de modo que, a cada dia, uma galeria teria acesso ao campo de futebol que serve à recreação dos presos. As galerias, seriam divididas em dois grupos de até 200 presos, sendo certo que um grupo seria levado ao campo na parte da manhã (das 10:00 às 11:30 horas) e o outro na parte da tarde (das 14:00 às 15:30 horas). Como são oito galerias na unidade, os presos teriam acesso à área externa numa média pouco superior a 1 vez por semana. Em seguida, nos dirigimos para a galeria A, onde havia acautelados 687 presos, distribuídos em 17 celas com capacidade total para 296 pessoas. Essa galeria fica localizada na parte mais baixa do presídio, que cresce em direção ao subsolo, acompanhando o desnível do terreno onde está construído. Todas as celas dessa galeria guardam um mesmo padrão arquitetônico, razão pela qual 1

2 elegeu-se a cela A1 como modelo para a elaboração da perícia técnica por parte do GATE, a qual foi objeto de detalhamento em relatório próprio. Apenas a título ilustrativo, cumpre consignar que a área denominada de solário não passa de um pequeno espaço existente nos fundos de cada uma dessas celas, espaço este que dificilmente comporta a reunião de todos os ocupantes da cela de pé e lado a lado, conforme ilustram as fotografias abaixo. 2

3 A designação solário deve-se à existência no local de uma pequena abertura para o céu, localizada a mais de 6 metros de altura em relação ao solo, por onde passa alguma luminosidade, mas nem de longe o suficiente para permitir qualquer atividade que se possa chamar de banho de sol. 3

4 Dada a exiguidade do espaço, tão pouco é possível desenvolver no solário qualquer tipo de atividade esportiva. Na verdade, dada a superlotação da unidade, os solários vêm sendo utilizados como mera extensão da cela, sendo ocupado inclusive durante a noite, como dormitório. Na cela A1, estavam acautelados 41 presos, embora houvesse no local apenas 16 camas, 1 caso sanitário do tipo turco e 1 chuveiro. Nas outras celas da galeria A, a lotação girava em torno desse mesmo número, sendo a cela A14 a que menos presos apresentava no momento (24) e a cela A19 a que tinha mais ocupantes (46). Tal situação de superlotação foi encontrada em outras galerias da unidade. Na cela 1 da galeria H, por exemplo, foi constatada a presença de 46 presos, distribuídos em oito camas do tipo beliche. Nesse caso, mesmo com duas pessoas ocupando cada cama, bem como os vãos existentes entre elas, ainda era necessário alocar alguns detentos na área reservada ao solário, tal como demonstraram os internos para a execução da fotografia a seguir. 4

5 A parte o problema da superlotação, a unidade apresentava, ainda, outro problema crônico e de difícil solução. A deficiência de aeração. Isto porque, estando construído de forma subterrânea, o prédio não permite a circulação cruzada de ar, o que, somado à umidade verificada, torna extremamente penosa a permanência dentro das celas. Malgrado essa situação, os presos permanecem praticamente todo o tempo trancados dentro das celas, não sendo a eles admitido circular nem mesmo no interior das galerias, à exceção dos faxinas. As condições estruturais do prédio também contribuem para a insalubridade do local, havendo vários focos de infiltração, instalações elétricas aparentes e esgoto correndo a céu aberto, em especial nos solários, conforme ilustram as seguintes fofografias. 5

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7 Mesmo na área reservada aos funcionários, as condições do prédio revelaram-se precárias, como é o caso do banheiro destinado àqueles que trabalham na cozinha. 7

8 E é justamente por essa área, ou seja, pelo corredor que passa ao lado da cozinha que os presos são levados até o campo de futebol utilizado para a recreação. O percurso, além de estreito, apresentava condições sanitárias incompatíveis com o entorno de uma cozinha industrial, inclusive com a presença de baratas, conforme registrado na última das fotografias a seguir. 8

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10 Considerando o grande número de presos e o baixo número de ISAP s por turno, combinado ao caminho estreito e tortuoso do acesso ao campo de recreação, parece-nos pouco crível que os presos tivessem acesso ao banho de sol em local compatível com a prática de atividade esportiva na periodicidade inicialmente informada pelo Diretor. Indagados diretamente sobre o assunto, os presos disseram que o acesso ao campo de futebol ocorria com regularidade de aproximadamente 1 vez por mês, e não 1 vez por semana. Por fim, além das áreas já citadas, a vistoria se estendeu, ainda, pelas galerias C ocupada por presos estrangeiros acautelados por ordem da Justiça federal, D e E, terminando com o retorno da equipe è sala da Direção. Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2015 Tiago Joffily Promotor de Justiça 10