Estudos afirmam que as estatinas previnem doenças cardíacas em pessoas sem índice de colesterol elevado. Mas o que dizem os especialistas?

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1 Estudos afirmam que as estatinas previnem doenças cardíacas em pessoas sem índice de colesterol elevado. Mas o que dizem os especialistas? Uso de Estatinas No mundo, são 25 milhões de pacientes que fazem uso do medicamento. Ago ra, após a publicação de estudos como o Jupiter, realizado nos Estados Unidos com 18 mil indivíduos, os médicos podem se sentir mais estimulados a receitar estatinas para outros pacientes. De acordo com o estudo, elas teriam reduzido em 44% o risco de doenças cardiovasculares mesmo em pessoas com índices de colesterol considerados baixos ou normais. Os brasileiros já compram cerca de um milhão de caixas de estatinas por mês. A mais consumida no Brasil é o genérico sinvastatina, distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Parece haver muitos indícios de que as estatinas são eficazes; portanto, qual é o problema? É bem simples. Estudos clínicos mostram que 99% dos milhões de nós que, em breve, talvez estejamos saindo dos consultórios com novas receitas não obterão qualquer benefício com as estatinas. 1 / 6

2 O Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou a Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, que determina como as estatinas devem ser prescritas. A orientação é de que o remédio deve ser ministrado como prevenção primária nos casos em que é detectado índice de colesterol elevado, mas ainda não exista doença do coração; e como prevenção secundária, após a ocorrência de episódios cardiovasculares. Daniel Kopiler, chefe do Serviço de Reabilitação Cardíaca do Instituto Nacional de Cardiologia, comenta a polêmica que acontece no exterior quanto à recomendação de estatinas para pessoas com colesterol regular. "Precisamos de mais evidências científicas antes de recomendar o medicamento em massa", diz o cardiologista. "É preciso saber se vale a pena ministrar estatinas em certos pacientes, tendo em vista os efeitos colaterais que elas po dem vir a provocar." "Outra questão é a interpretação amplificada dos dados do Jupiter", diz Marcelo Assad, chefe do Serviço de Prevenção do Instituto Nacional de Cardiologia. "Este estudo tem como foco, originalmente, a presença da proteína C-reativa elevada, importante marcador que indica inflamação no organismo, mas extremamente inespecífico. Além disso, entre os pacientes do Jupiter, quase 35% tinham síndrome metabólica, fator de risco associado às doenças cardiovasculares. Não é como se estivéssemos falando de uma população saudável e com baixo risco de doenças cardiovasculares." O pesquisador Lilton R. C. Martinez, responsável pelo Serviço de Gestão de Risco Cardiovascular no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE-IAMSPE), também teme pela interpretação incorreta do estudo, mas defende os resultados. "Segundo os números apresentados pelo Jupiter, o grupo de risco intermediário apresenta cerca de 40% dos eventos cardiovasculares. Alguns pacientes, por causa desta nova análise da proteína C-reativa, poderiam ser reclassificados como de alto risco e passar a tomar estatinas. É isso que o estudo propõe." Como as estatinas funcionam As estatinas diminuem o nível de colesterol ao bloquear, no fígado, o processo de 13 etapas de fabricação da substância. Muitos de nós conhecemos os dois tipos de colesterol: o HDL (lipoproteína de alta densidade), o "bom colesterol", que leva o colesterol de volta ao fígado para ser reprocessado, e o LDL (lipoproteína de baixa densidade), chamado de "mau 2 / 6

3 colesterol" e que facilita a formação das placas no interior das artérias do coração. Já se constatou que baixar o nível de LDL e elevar o de HDL reduz infartos, e este é um dos efeitos que se pretende com o uso das estatinas. Mas não é todo mundo que pode tomar o remédio. Além de efeitos colaterais indesejáveis que podem aparecer, há algumas contraindicações. Efeitos colaterais das estatinas "O paciente pode ter fortes dores musculares, problemas na função hepática e insônia", alerta Daniel Kopiler. "O uso é contraindicado em caso de doença hepática, doença renal crônica e hipotireoidismo. Portadores do HIV em terapia antirretroviral de vem fazer um acompanhamento mais rigoroso." A maioria dos médicos acha que está errado concentrar-se exclusivamente no colesterol para avaliar a doença cardíaca. A inflamação das artérias está ligada ao acúmulo de placas e é influenciada por fatores como hábito de fumar e nível elevado de glicose no sangue, por causa dos carboidratos refinados. Mas é claro que muitos se beneficiam ao tomar estatinas para baixar o colesterol. "Hoje, as estatinas fazem parte do arsenal terapêutico que temos à disposição para lidar com doenças das artérias coronárias, principalmente no combate ao colesterol alto. Elas, porém, fazem mais do que isso. As estatinas auxiliam na recuperação dos vasos afetados pela doença, ajudando a estabilizá-la", diz Rogério Moura, coordenador do setor de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Balbino, no Rio de Janeiro. "As estatinas, em conjunto com betabloqueadores, ácido acetilsalicílico e os IECA (inibidor es da enzima conversora da angiotensina), não podem faltar no dia a dia, desde que não haja sensibilidade aos componentes ou contraindicações. Juntos, estes medicamentos reduzem em até 45% a mortalidade pós-infarto", explica Rogério. Os que são a favor de receitar mais estatinas descrevem os efeitos colaterais como raros e, em 3 / 6

4 geral, leves. Mas a julgar pelo que os clínicos dizem ouvir no consultório, o número de pessoas que sofrem efeitos colaterais pode ter sido gravemente subestimado. Em setembro de 2007, o Dr. Bernard Newgrosh, clínico de Bolton, na Inglaterra, escreveu à revista médica Pulse para dizer que, embora o índice oficial de pacientes que sofrem problemas musculares graves por causa das estatinas seja de 1 em 10 mil, ele estava encontrando mais do que isso. "De 200 a 300 pacientes, 14 queixaram-se de dores musculares e fraqueza e 15 de náusea, tontura, dor de cabeça e excesso de fadiga ", escreveu ele. Esse nível de efeitos colaterais é de cerca de um em dez. Quando Newgrosh suspendeu as estatinas dos pacientes com dores musculares, 12 dos 14 disseram que os sintomas desapareceram. "As estatinas são muito eficazes e receito-as bastante", diz o Dr. Newgrosh. "Mas estamos vendo muito mais efeitos colaterais desagradáveis do que esperávamos." Mas por que as estatinas podem causar dor muscular em algumas pessoas? Além de baixar o colesterol, elas reduzem a produção de uma enzima importantíssima, a CoQ10, também conhecida como ubiquinona. Uma das tarefas da CoQ10 é revigorar os músculos. Conhecer os efeitos, solicitar exames laboratoriais para identificá-los e saber controlá-los são premissas básicas para avaliar a relação entre risco e benefício para cada paciente. A sinvastatina é solúvel em gordura e pode passar com mais facilidade pela membrana celular e penetrar no cérebro. Isso também pode explicar a confusão mental e a perda de memória descritas por alguns pacientes. "O sono ruim afeta negativamente a qualidade de vida e pode promover aumento de peso e resistência à insulina", diz Beatrice Golomb, professora-adjunta da Universidade da Califórnia. Efeitos nada desejáveis para quem pretende evitar um infarto. 4 / 6

5 "Para quem tem risco reduzido, há mudanças de estilo de vida que o médico deve tentar em primeiro lugar", diz Marcelo Assad (veja o boxe Coma melhor e tenha um coração saudável, ao lado). "Se as pessoas reduzirem o colesterol a um nível seguro, os benefícios para a saúde serão mais duradouros do que contar com remédios pelo resto da vida." Colesterol: nem tão ruim Ele pode estar ligado à doença card&iaacute;aca, mas, longe de ser uma subs tância perigosa que precisa ser eliminada a qualquer custo, o colesterol é impor tantíssimo para o funcionamento do corpo. Necessitamos de co les terol para fabricar vitamina D com a luz do sol; ele é a matéria-prima para produzir os hormônios sexuais sem colesterol, não há testosterona nem estrogênio; e faz parte do sistema de recuperação do corpo. A gema do ovo é cheia de colesterol pois o embrião nela contido precisa de grande quantidade dessa substância para crescer. Assim, é pre ciso muito colesterol para construir e manter saudável o ser humano. Mas está comprovado que o excesso de colesterol "ruim" ou LDL, está ligado ao aumento de risco de doença cardíaca, e o volume elevado de colesterol HDL tem efeito protetor sobre o coração. As estatinas são boas para baixar o LDL e auxiliam na redução de infartos, AVCs e doenças vasculares. Coma melhor e tenha um coração saudável. Elimine os carboidratos refinados, como farinha branca e açúcar, para manter saudável o nível de glicose no sangue. O nível elevado provoca danos nas artérias e aumenta muito o risco de doença cardíaca.. Coma frutas frescas (para ter vitamina C), verduras, legumes, cereais integrais e ácidos graxos ômega-3 (das sementes e dos peixes de carne gordurosa) para diminuir a inflamação das artérias, fator de risco fundamental da doença cardíaca.. Aumente a ingestão de esteróis vegetais, obtidos em sementes, castanhas, nozes (as nozes mantêm as artérias elásticas) e feijões, e de fibras solúveis, encontradas na aveia, na cevada e nas berinjelas. Ambos ajudam a baixar o colesterol.. Obtenha vitamina D tomando sol (10 a 15 minutos de exposição perto do meio-dia) e em alimentos como peixes de carne gordurosa cavala, salmão, atum ou sardinhas e suplementos. 5 / 6

6 . Tempere os alimentos com cúrcuma. Este condimento contém curcumina, que reduz a aderência das plaquetas do sangue e relaxa as artérias.. Se você tem colesterol alto, converse com seu médico sobre o suplemento niacina. Esta vitamina do complexo B é eficaz para elevar o HDL e baixar o colesterol total.. Reduza o nível do aminoácido chamado homocisteína, aumentando a ingestão de complexo B, com uma alimentação rica em grãos, como lentilhas, e verduras ricas em folato, como espinafre e alho-poró. 6 / 6