PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA

Transcrição

1 APELREEX Nº SE ( ) APELANTE(S) : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL ADVOGADO(S) : PROC URADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APELADO(S) : JOSÉ CARLOS GOIS ADVOGADO(S) : JUCELIA GONÇALVES LIMA e outros ORIGEM : JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE RELATOR : DES. FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO) EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. EFETIVA EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS. CONCESSÃO. 1. A comprovação do tempo de serviço especial deverá ser efetuada de acordo com a legislação vigente à época em que o serviço foi prestado, por aplicação do princípio tempus regit actum. 2. O elenco de profissões previsto nos Decretos nºs /64 e /79 possui caráter meramente exemplificativo, não tendo o condão de obstar o reconhecimento de outras atividades como insalubres, se devidamente demonstradas as condições nocivas à saúde do trabalhador. 3. Hipótese em que o autor enquadra-se no código do Decreto nº /79 (trabalhadores em extração de petróleo), uma vez que sempre exerceu a profissão de cozinheiro em plataformas de petrolíferas, além de existirem provas de sua submissão a agentes nocivos, fazendo jus à aposentadoria especial desde a data do primeiro requerimento administrativo, com o pagamento dos respectivos atrasados. 4. Apelação e remessa oficial desprovidas. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima identificadas, DECIDE a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos

2 do Relatório, do Voto do Relator e das Notas Taquigráficas constantes dos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 27 de setembro de 2012 (data de julgamento). ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO Relator Convocado 2

3 APELREEX Nº SE RELATÓRIO DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (RELATOR CONVOCADO): Trata-se de remessa oficial e apelação interposta contra sentença que reconheceu como especial o tempo de serviço laborado pelo autor, determinando a concessão de sua aposentadoria, desde o primeiro requerimento administrativo, bem como o pagamento das diferenças até a efetiva implantação do benefício. Em seu recurso, o particular, em suma, aduz que há prova, em Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP, em sentido contrário à pretensão autoral, descrevendo que o demandante apenas trabalhou com alimentos, cozinhando e lavando talheres, pratos, copos, enfim, tratando do preparo e descarte de alimentos, além de atestar a presença dos fatores ruído e calor, com intensidade baixa e EPI eficaz, de modo a não ser cabível o pleito em análise. Afirma, ainda, que os demais documentos acostados não corroboram os requisitos necessários para caracterizar a atividade especial. Contrarrazões. É o relatório. 3

4 APELREEX Nº SE VOTO DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (RELATOR CONVOCADO): A questão devolvida a esta Corte diz respeito ao reconhecimento de tempo de serviço especial, com o conseqüente deferimento de aposentadoria, bem como à condenação dos valores atrasados, desde a data do primeiro requerimento administrativo (04/08/2008). A aposentadoria especial é espécie do gênero aposentadoria por tempo de serviço e detém caráter especial, porque requer, além do tempo de serviço, que o trabalho seja realizado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física do segurado. Trata-se de um benefício de natureza extraordinária, tendo por objetivo compensar o trabalho do segurado que presta serviços em condições adversas à sua saúde ou que desempenha atividades com riscos superiores aos normais. Uma vez cumprida a carência 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, a aposentadoria especial é devida ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições prejudiciais à sua saúde, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a atividade exercida e nos termos da lei, sendo a sua disciplina jurídica prevista nos artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91. Cabem, aqui, algumas considerações a respeito da lei a ser aplicada ao presente caso. A comprovação do tempo de serviço especial deverá ser efetuada de acordo com a legislação vigente à época em que o serviço foi prestado, por aplicação do princípio tempus regit actum. Até 28 de abril de 1995, a legislação previdenciária não exigia, para a concessão do benefício de aposentadoria especial, a prova da efetiva exposição aos agentes nocivos, bastando o enquadramento da situação fática nas atividades previstas nos quadros anexos aos Decretos n /64 e /79. O que importava para a caracterização do tempo de trabalho, como especial, era o grupo profissional abstratamente considerado, e não, as condições da atividade do trabalhador. Com a edição da Lei n 9.032, publicada na data já referida, abandonou-se o sistema de reconhecimento do tempo de serviço com base na categoria profissional do trabalhador, para exigir-se a comprovação efetiva da sujeição aos agentes nocivos, através do Formulário SB-40 ou DSS

5 Posteriormente, foi promulgada a Lei n 9.528/97, exigindo a apresentação de laudo técnico para a referida comprovação. Atualmente, a Lei n 8.213/91, no seu art. 58, 1, dispõe: A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. Cabe destacar ser possível a conversão de tempo especial em comum, nos termos da redação original do art. 57, 5º, da Lei nº 8.213/91, porque o art. 28, da MP , de , não foi convalidado, quando foi ela convertida em lei (a de nº 9.711, de ), bem como o Decreto nº 4.827, de , modificou o artigo 70, parágrafo único, do Decreto nº 3.048/99, que vedava a pleiteada conversão, apesar do disposto na Súmula nº 16, da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais. Além disso, trabalhadores expostos a agentes nocivos poderiam fazer a conversão dos anos trabalhados, a qualquer tempo. Importa registrar que o elenco previsto nos Decretos nºs /64 e /79 é meramente exemplificativo, não tendo o condão de obstar o reconhecimento de outras atividades como insalubres, se devidamente demonstradas as condições nocivas à saúde do trabalhador. ementa: Corroborando esse entendimento, trago à colação a seguinte AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. ELETRICISTA. ATIVIDADE PERIGOSA COMPROVADA. ENQUADRAMENTO NO DECRETO Nº /1979. AUSÊNCIA. IRRELEVÂNCIA. ROL EXEMPLIFICATIVO. 1. Atendidas as hipóteses de concessão do benefício, é de se manter a decisão recorrida, considerando-se o rol de atividades nocivas descritas no decreto acima citado como meramente exemplificativo. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.(stj, 6ª T, AGRESP /RS, rel. Haroldo Rodrigues (Desembargador Convocado do TJ/CE)DJE DATA:29/11/2010.).(grifei). No presente caso, o apelado pretende o reconhecimento especial da atividade de cozinheiro terceirizado, exercida em plataforma de petróleo, tendo em contas as condições adversas a que estava submetido. 5

6 Ressalte-se, de pronto, já ter havido reconhecimento do INSS no tocante ao tempo especial do período em que o autor laborou para a empresa CIS Brasil (01/08/00 a 20/01/04 v. fl.25). Note-se, ainda, que, nos termos dispostos no documento de fls. 58/62, restou provado que o demandante trabalhou, sob condições especiais, para a empresa Meymar Serviços de Hotelaria Marítima Ltda. (07/02/75 a 12/07/77; 01/07/81 a 17/09/83 e 21/08/84 a 13/05/87), estando sujeito a substâncias químicas em geral, vapores, calor dos fogões industriais, ruídos e vibrações (fl. 58). D e fato, inexiste quantificação dos agentes nocivos, acrescentando-se, ainda, que a atividade de cozinheiro não está prevista nos Decretos n os /64 e /79. Entretanto, considerando que o segurado sempre laborou no mesmo local de uma profissão designada na última legislação citada (trabalhadores em extração de petróleo) 1, submetendo-se às mesmas condições que tais empregados, resta lícito reconhecer a natureza especial de dito vínculo, em face da categoria profissional, visto que, até 28/04/95, não se exigia qualquer laudo para o pleito em análise, exceto quanto ao agente ruído. Ademais, as circunstâncias laborais foram devidamente corroboradas por prova testemunhal (fls. 217/219). 1 CÓDIGO ATIVIDADE PROFISSIONAL TEMPO MÍNIMO DE TRABALHO (...) (...) TRABALHADORES EM EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO Trabalhadores ocupados em caráter permanente na perfuração de poços petrolíferos e na extração de petróleo. (...) 25 anos (Anexo II do Decreto nº /79) 6

7 Em relação aos demais períodos designados como tempo de labor especial, entendo que acertadamente entendeu o juízo a quo, de modo que transcrevo teor de sua sentença, cujos fundamentos adoto como razão de decidir: Em relação aos períodos em que o autor trabalhou para as empresas Val Service (25/07/77 a 30/10/78), Sodexho do Brasil (11/11/88 a 24/10/90) e Nutribrás (01/11/90 a 23/08/92), apesar de não haver documento que comprove a exposição do autor a agentes nocivos, não houve alteração da situação apresentada acima. Isso porque as empresas em que o demandante laborou eram terceirizadas da Petrobrás, para a atividade meio, sempre havendo contratação para labor nas plataformas de petróleo/navios de produção. Além disso, a situação fática não se alterou, pois, apesar das mudanças de empresa, os empregados eram aproveitados pela empresa seguinte, sempre trabalhando em locais de trabalho semelhantes (plataformas de petróleo/navios de produção). Desta forma, em alusão ao contrato de realidade e tendo em vista a prova testemunhal transcrita acima, o período laborado para as respectivas empresas devem ser considerados como especiais. No que tange ao período em que o autor prestou serviços à empresa FRISUL (01/06/93 a 07/01/95), tem-se que há nos autos dois PPPs (f. 43/44 e f ) relativos ao mesmo período. No PPP de f. 43/44 consta que o autor esteve exposto a ruído de 87 db, enquanto que no PPP de f consta que o ruído é de 79 db. Embora haja divergência entre os documentos apresentados, não há como deixar de acolher o que seja mais benéfico ao autor (princípio in dubio pro misero), tendo em vista que restou demonstrada a exposição a ruído acima da média aceita para o período (87 db). Assim, o período de trabalho deve ser contado como especial. Com relação ao labor para as empresas Atlântica (01/07/95 a 30/01/99), Prince (07/05/99 a 31/07/00) e DALL (09/06/04 a 01/10/07 e 06/12/07 a 04/08/0811), a situação não diverge das demais empresas citadas, tendo em vista que o autor continuou trabalhando para empresas terceirizadas da Petrobrás, na mesma função de cozinheiro e em ambiente de trabalho semelhante, qual seja, plataformas de petróleo/navios de produção. O fato de tais períodos serem posteriores a 28/04/1995 (advento da Lei nº /95) não deve ser óbice ao cômputo como especial, tendo em vista a continuidade do trabalho. O excerto jurisprudencial abaixo corrobora a fundamentação exposta: Não seria razoável nem justo, admitir a conversão do tempo especial em comum apenas até e passar a contar o restante do tempo como comum, uma vez que o autor laborou durante o período entre a na mesma empresa, sem solução de continuidade (sic), exercendo a mesma função, submetida a alta tensão elétrica, enquadrando-se no item 1.1.8, do Anexo do Decreto nº /64, consoante o art. 164 da Instrução Normativa INSS/DC nº 99/2003, e ainda no Decreto nº /85. Assim, fazendo uma interpretação sistemática do ordemanento jurídico e considerando que a finalidade da norma é assegurar aos trabalhadores uma compensação pela prestação de serviço em condições de insalubridade/periculisida, não seria justo considerar especial apenas uma parte do período laborado pelo autor na CBTU e desconsiderá-lo no período restante, sem que tenha havido qualquer alteração da função ou solução de 7

8 continuidade da atividade exercida. Assim, faz jus o autor ao cômputo do períodos pleiteado, qual seja, de a Ademais, a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) não deve afastar o direito ao reconhecimento e ao cômputo do tempo de serviço especial. Sendo assim, o apelado faz jus ao reconhecimento do tempo de serviço como especial, tendo em vista a existência de elementos comprobatórios do exercício profissional sujeito a agentes nocivos, de modo contínuo e permanente, ao longo do período necessário, o que lhe assegura o direito à aposentadoria especial, já que foram preenchidos os requisitos previstos na legislação supracitada. No que toca ao termo inicial para a concessão do benefício, este deve ocorrer a partir da data do primeiro requerimento administrativo (04/08/2008- v. fl. 12), conforme especificado na sentença. Por fim, resta correta o decisum no que pertine aos juros moratórios e correção monetária, posto que a presente demanda foi ajuizada em 10/08/2010, devendo incidir as disposições do art. 1º - F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº /09, a teor do entendimento da Corte Especial do STJ, em sede de recurso repetitivo, no bojo do REsp /SP, tendo como relator o Ministro Benedito Gonçalves, em 02/02/2012. remessa oficial. Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO à apelação e à É como voto. 2 TRF 5ª Região, AC Nº 20605/SE, 2T, Relator FRANCISCO BARROS DIAS, julgado em 24/01/2012 8