Diálogo inter-cultural e inter-religioso: exigência de fé e compromisso de Igreja
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- Otávio do Amaral Alcaide
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1 Diálogo inter-cultural e inter-religioso: exigência de fé e compromisso de Igreja 5.1. Contribuição de: Marcela Bonafede odn, Bolivia. Lydvine Nguemeta odn, Camarões. Mª Claustre Solé odn, Espanha. Marie-Claude Roques odn, França. Anne Gill odn, Inglaterra. Hiroko Kobayashi odn, Japão. Introdução Vivemos em uma sociedade onde a multiplicidade étnica, política e religiosa oscila entre a convivência e o confronto. Se é verdade que se fala de diálogo e, em princípio, todo mundo está de acordo, estamos, no entanto, vivendo um momento em que os fundamentalismos políticos e religiosos idealizam a pertença particular e reafirmam as diferenças, para melhor excluir e desprezar. Portanto, o diálogo é, antes de mais nada, uma questão de justiça: dar a cada um o seu espaço permite superar inúmeras tensões e crises. O diálogo é, para nós, Companhia de Maria, como para a Igreja, uma necessidade vital e uma exigência de fé. O diálogo inter-cultural, inter-religioso e ecumênico, apesar dos obstáculos, é imprescindível e, para nós, é uma nova maneira de estender a mão, comprometendo-nos firmemente a continuar fazendo caminho por novas veredas, nada fáceis, porém, apaixonantes. 1. Necessidade para a Igreja Nos textos da Igreja, a palavra diálogo é utilizada pela primeira vez pelo papa Paulo VI, em sua primeira encíclica, Ecclesiam suam. Por fidelidade à ação do próprio Deus que, para salvar o mundo, entra em diálogo com ele através da Encarnação e, depois, através do Evangelho 1, a Igreja, para ser fiel à sua missão, é chamada a entrar em diálogo com o mundo em que vive: A Igreja se faz palavra, se faz mensagem, se faz conversação 2. Não se salva o mundo a partir de fora. Assim como o Verbo de Deus, que se faz homem, a Igreja precisa assimilar, de certo modo, as formas de vida daqueles aos quais deseja levar a mensagem de Cristo. O clima do diálogo é a amizade. Mais ainda, é o serviço. 3 Portanto, é por razões pastorais e teológicas ao mesmo tempo que, depois do Concílio Vaticano II, toda a Igreja entrou por este caminho. Depois do Concílio, o contexto evoluiu muito. O diálogo tornou-se um verdadeiro desafio para a Igreja e também para a vida consagrada. Somente quando vivenciar plenamente o situar-se com é que a Igreja será fiel à sua missão: permitir que as pessoas descubram o rosto de Deus que cada um traz em si. Sua missão específica não é outra, senão ser presença, serviço e diálogo: Diálogo na vida, através das relações cotidianas na família, na escola, na rua e em outros lugares sociais. Diálogo na ação, vivenciado através da promoção do desenvolvimento humano, a transformação das realidades de morte e o empenho em proporcionar toda forma de libertação. Diálogo religioso, empreendido com pessoas profundamente arraigadas em suas próprias tradições religiosas, que compartilham suas experiências de oração, de contemplação, de fé, de Absoluto. Comprometida com este difícil caminho de humildade, a Igreja se converte em verdadeiro sacramento, sinal visível da ação de Deus a serviço do Reino que está chegando, testemunha da universalidade do amor de Deus. 2. Exigência de fé, em fidelidade às nossas raízes Cremos em Deus, Criador de todas as coisas, e diante dele formamos uma só humanidade. Cada pessoa é imagem de Deus ; isto deveria imprimir caráter em 1 Paulo VI : Ecclesiam Suam n id. n 67 3 id. n 90 1
2 nossa forma de ver o outro. A graça de Deus atua em todo ser humano. Por isso, devemos estar sempre abertas à ação do Espírito, dispostas a encontrar e a valorizar aquelas Sementes do Verbo 4, semeadas nas culturas, que são a presença do Deus Vivo. À luz de nossa espiritualidade, podemos começar contemplando três olhares: a) Deus, que olha o mundo e decide fazer redenção. Olhar que supõe um compromisso: a Encarnação. A partir daí, a contemplação do mundo e da Encarnação implica o sério compromisso de assumir os aspectos bons do mundo e de cada religião. b) Contemplar o mundo a partir do olhar de Cristo na Cruz: um olhar reconciliador, com um desejo de redimir toda cultura e toda tradição dos aspectos idolátricos incorporados e sedimentados pelo tempo. Nossa cultura e nossa religião também necessitam ser redimidas. c) Os dois olhares anteriores nos levam à conhecida postura inaciana de ver a Deus em todas as coisas e a todas nele. Isto inclui pessoas, culturas, religiões... A paixão por Deus deve levar-nos a buscá-lo, não importa onde seja: nos diversos lugares e contextos. 3. As condições do diálogo Só haverá diálogo autêntico: a) Se os interlocutores estiverem convictos, cada um por sua parte, de que não possuem inteiramente a razão e se estiverem conscientes dos aspectos negativos ou sombrios de sua própria religião, assumindo, por sua vez, o lado positivo ou luminoso de outras religiões. De fato, se alguém pensa que possui a verdade e que o outro está na ignorância e no erro, tentará convencê-lo, convertê-lo, e não o escutará nem dialogará com ele. b) Se existe um reconhecimento mútuo que aceita, pelo menos em princípio, que o outro pode ser portador de uma palavra ou mensagem de Deus para todos. Portanto, é necessário que estejam dispostos a receber, a aprender, a ser enriquecidos e iluminados. Em outras palavras, praticar a humildade. Porém, não haverá diálogo: a) Se a pessoa se limita a reafirmar sua própria identidade, aferrando-se às suas posições e evitando o confronto. b) Se não se tem consciência da ambigüidade das religiões fundamentadas em uma revelação. Elas se conformam, em parte, a ela, mas, ao mesmo tempo, sem querer, a deformam. Cada religião trai um pouco a Verdade de Deus, verdade esta que deve ser buscada conjuntamente. c) Se se mantêm estereótipos, preconceitos e caricaturas daquilo em que o outro acredita. d) Com intolerâncias, comparações e postura de superioridade. e) Com políticas de Estado insensíveis para com os imigrantes, fomentando tensões entre culturas. f) Quando se tem uma carência de identidade, que dá lugar a fundamentalismos e fanatismos. Resumindo: confiança e prudência, abertura e integridade, escuta e afirmação, questionamento e consciência de identidade constituem a base necessária para qualquer diálogo. 4 Expressão que encontramos já em S. Justino e S. Irineu, e que foi recuperada pelo Concílio Vaticano II no Decreto Ad gentes sobre a atividade missionária da Igreja. 2
3 4. O diálogo ecuménico A postura da Igreja oficial tende ao diálogo, a partir das definições doutrinais e dogmáticas, sobretudo as que se referem à Eucaristia e à comunhão com o Papa. Devido a problemas internos de outras comunhões eclesiais, por exemplo com a Igreja Anglicana, o diálogo ecumênico oficial parece bastante estancado. O Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos chama a todos a continuarem animando o processo ecumênico com o ecumenismo espiritual, que significa conversão interior, renovação do espírito, santificação pessoal de vida, caridade, abnegação, humildade, paciência, mas também renovação e reforma da Igreja. E, sobretudo, a oração, que é o coração do movimento ecumênico (cf. Unitatis redintegratio, 5-8; Ut unum sint, 15ss, 21-27). Fomentam-se liturgias e orações comunitárias, sobretudo na Semana para a união dos cristãos. Antes do Concílio Vaticano II, a Igreja buscava o restabelecimento da unidade dos cristãos exclusivamente como uma volta de nossos irmãos separados à verdadeira Igreja de Cristo. O Vaticano II realizou uma mudança radical: em lugar do antigo conceito do ecumenismo de "regresso", hoje predomina o de um itinerário comum, que orienta os cristãos para a meta da comunhão eclesial, entendida como unidade na diversidade. No Reino Unido acontece, em nível de base, uma grande aproximação entre as diferentes confissões religiosas, fortalecendo os laços de comunhão. Há um grande interesse pela espiritualidade, em geral, e pela espiritualidade inaciana, em particular. Atualmente, comprova-se que muitas pessoas de outras confissões cristãs sentem atração pelo acompanhamento espiritual, discernimento e contemplação a partir do Evangelho, práticas que vêm sendo realizadas desde os Padres do deserto, e que a pedagogia inaciana vem potencializando há vários anos. As casas de Exercícios Espirituais trabalham de forma ecumênica: são procuradas também por exercitantes de outras religiões; cristãos não- católicos formam-se em espiritualidade inaciana; alguns, que fazem parte das equipes destes centros, oferecem acompanhamento espiritual. 5. A espiritualidade do diálogo inter-religioso Estamos vivendo o retorno do religioso com muitas ambigüidades, sem dúvida mas em um contexto de pluralidade e concorrência. Deus está de volta e as religiões são atuais. No século XXI, se é verdade que diminui a prática confessional e aparecem receios com relação às grandes confissões, não é menos verdade que emerge com força uma corrente de espiritualidade que busca restabelecer a paz e a harmonia, tanto no nível individual como cósmico. É um sinal dos tempos, ao qual convém prestar atenção. A espiritualidade é um denominador comum que propicia o diálogo inter-religioso. Podemos abordar este tema a partir de três vertentes: a) A espiritualidade para o diálogo inter-religioso Para os cristãos, a grande base deste diálogo fundamenta-se na acolhida evangélica que percebemos nas relações inter-pessoais de Jesus de Nazaré: chama um publicano para segui-lo, dialoga com uma samaritana e se deixa catequizar por uma mulher sírio-fenícia, capaz de entender o que os discípulos não souberam ver: que a mesa do Reino é tão grande, que nela cabem judeus e pagãos. Esta espiritualidade pressupõe um conhecimento profundo e existencial de nossas próprias raízes cristãs. Somente quando nos sentirmos felizes e identificadas com nossa fé, poderemos sair a campo aberto e dialogar de igual para igual com as demais confissões, sem complexos de superioridade nem de inferioridade. b) A espiritualidade no diálogo inter-religioso A espiritualidade no diálogo nos leva a ser mais pentecostais. Os primeiros apóstolos se dão conta de que a Boa Notícia do Evangelho não pode ser encerrada entre quatro paredes. Felipe parte para a Samaria, terra de pagãos, e sobre eles desce o Espírito. Pedro se dá conta de que, para Deus, nada é impuro. Paulo fala aos atenienses sobre seu Deus desconhecido. Daí se depreende uma espiritualidade reconciliadora com uma atitude de busca, uma capacidade de abrir-se ao diferente, conscientes de que a experiência de abertura ao sagrado, que nos é oferecida pelo próprio diálogo, volta-se para um lugar privilegiado de encontro com o Mistério. c) A espiritualidade a partir do diálogo inter-religioso 3
4 A conseqüência do diálogo é o enriquecimento mútuo, a co-responsabilidade, a humildade. Não só sabemos, mas nos sentimos filhos de um mesmo Pai, e a simpatia pelo diferente se transforma em empatia. Isto nos capacita a tornar nossas as alegrias e dores de todas as pessoas, como pedia o Concílio Vaticano II, na Gaudium et Spes. 6. Frutos do diálogo A confrontação com pessoas de outras religiões obriga cada parte a refletir sobre sua própria fé e aprofundá-la. Assim, o diálogo faz com que cada pessoa progrida em sua fé. Suscita, desenvolve e favorece uma atitude crítica com relação a si mesmo, atitude necessária para que uma religião permaneça viva e verdadeira. As Igrejas são organismos vivos, e não organizações. Cada pessoa é convidada a mudar, a evoluir. Uma espiritualidade viva leva à transformação. Eu sou o Caminho, diz Jesus. O Evangelho é um caminho vivo, escreve o autor da carta aos Hebreus; Paulo compara a vida cristã a uma corrida. Portanto, nós, como pessoas de fé, somos convidados a nos lançarmos nessa corrida, cuja meta é o Reino. O diálogo intercultural e inter-religioso já é uma concretização da unidade na diversidade e um fator de paz. Entrar em diálogo com pessoas de outras religiões é dar testemunho de nossa esperança comum. No seio de um mundo com tantas divisões, conflitos e violência, afirmamos que é possível criar uma comunidade humana viva na justiça e na paz. 7. Um exemplo de diálogo na vida: o testemunho da Madre Teresa de Calcutá. A Beata Madre Teresa de Calcutá é um modelo que transcende as confissões religiosas e as culturas, através de uma linguagem clara e impactante. Parece que o testemunho desta mulher é muito valorizado entre a juventude japonesa, que busca o sentido da vida, algo que se pode estender à juventude de todos os contextos. Causa impacto aos jovens a atitude de M. Teresa. Muitos não sabem que ela é católica e religiosa, nem que a fonte de seu apostolado é sua fé cristã, mas entendem muito bem que esta fonte é autêntica e genuína. O que toca profundamente o coração humano não são os dogmas nem as crenças. As pessoas necessitam encontrar-se com pessoas que manifestam um amor encarnado e desinteressado; a fé, a esperança e o amor que se tornam realidade; não meros discursos, mas um testemunho comunitário de amor fraterno. Pouco importa o nome da religião ou de seu Deus. Portanto, é necessário servir, deixando de lado o amor próprio, para nos colocarmos a serviço da vida com alegria e atitude de respeito, que faz com que a pessoa seja consciente de sua dignidade humana. Esta era a maneira de agir de M. Teresa. Ela aceitava todo tipo de pessoas, mas tinha uma grande convicção interna de sua identidade. Se estivermos seguros internamente de quem somos, podemos abrir-nos com liberdade a todas as pessoas: De nascimento, sou albanesa. De nacionalidade, indiana. Por vocação, sou de todo o mundo. Mas meu coração pertence inteiramente a Jesus Cristo. O fundamento de seu apostolado é a convicção de que a sede dos mais necessitados é a mesma sede de Cristo na Cruz. A resposta a esta necessidade de ajuda, ao longo de 50 anos, tem sua fonte na oração diária, acompanhada do oferecimento pessoal e incondicional a Jesus Cristo. Esta mulher teve o dom de realizar um sinal universal de diálogo, que todos puderam compreender: a solidariedade. Sua palavra foi um gesto, uma experiência de salvação que ofereceu aos mais pobres entre os pobres, e isto é algo tão evidente que não necessita de explicações. 8. Dialogar para a solidariedade e a construção da paz: nossa nova maneira de estender a mão Como Companhia, vivemos em múltiplas culturas, estruturadas por espiritualidades e cosmovisões que têm dado características específicas à nossa identidade durante quatro séculos. Até o momento atual, temos procurado responder: a quem estendemos a mão? Possivelmente hoje tenhamos que acrescentar: com quem estendemos a mão? Precisamos nos abrir para ver o que podemos fazer junto com outras pessoas. É incalculável o número de possibilidades relacionais que temos, e que nem sempre sabemos aproveitar. O Espírito continua convidando-nos a responder a seus gemidos, através de um caminho de humanização. Dialogar para a 4
5 solidariedade é o que nos apressa a percorrer os caminhos de visita, como Maria. Temos algo pelo qual lutar e conseguir humildemente: a paz e a justiça, o viver bem, a terra sem males, como dizem os povos indígenas da América do Sul. Faz sentido dialogarmos, não porque a globalização nos obriga, mas porque ainda há muitas pessoas à beira de abismos, a ponto de se perderem. Faz sentido encurtar distâncias, experimentar a urgência do perdão e da reconciliação entre povos e religiões (populações inteiras ainda morrem por falta disso). Construir a paz é uma tarefa utópica; por isso, precisamos nos unir a outras pessoas; assim é que se constrói o Reino 5. Educar através de uma rede de relações evangélicas é o objetivo que compartilhamos com muitas pessoas pertencentes a diferentes culturas, religiões ou denominação cristã. Mesmo que nos dedicássemos apenas a educar com eles para uma convivência humanizadora, a evangelização estaria completa. O fenômeno da migração nos diferentes países nos comove e desestabiliza. Este é um campo ao qual precisamos estender a mão. Unamo-nos a outras pessoas, para provocar sinais de solidariedade que construam relações de paz onde, mesmo sem ser nomeado, Deus estará intensamente presente. 9. Caminhos que nos desafiam como Companhia na hora de dialogar O diálogo primordial que dá fundamento a todos os nossos outros diálogos é a conversação no Espírito 6. A experiência espiritual dá curso a nosso modo de nos relacionarmos com as diferenças, porque dialogamos com Deus e sua lógica misteriosa de Encarnação-Cruz-Ressurreição. Por isso, a oração, o descanso e a alegria são claves cotidianas para sermos mulheres de diálogo. Em nossa convivência de irmãs, é urgente desenvolver habilidades para o diálogo. Isto se inicia na formação 7 e continua por toda a vida. Precisamos nos ajudar mutuamente a escutar, expressar sentimentos, momentos de vida, sem agredir nem prejudicar. Um dos principais sofrimentos da Vida Religiosa tem ligação com as relações intra-comunitárias e a dificuldade de viver a solidão. Portanto, uma escuta paciente e receptiva é uma via indispensável para o diálogo. Nossas conversações cotidianas são inter-culturais. Sabemos que dialogar é uma riqueza; ao mesmo tempo, constatamos a ascese pessoal e comunitária que supõe. O que nos ajuda a processar nossos diversos diálogos inter é o discernimento contínuo, para rever nossas disposições, para sondar-se ante as diferenças e ante o Espírito, no coração da realidade. Também nos ajudará a tomada de consciência das novas minorias culturais e idiomáticas que temos na Companhia (países do Oriente e África), que mudam nossas perspectivas acentuadamente ocidentais, abrindo-nos a opções mais inclusivas (idiomas que falamos e aprendemos, mentalidade, etc ) Entre religiões: ser minoria, chamar a Deus com outros nomes, falar com Ele usando outras linguagens, não conseguir compreender símbolos, festas e modos de proceder, nos leva a nos perguntarmos quem é Deus e qual é a missão da Companhia hoje. Com atitude de despojamento, conversar e compartilhar nossa experiência, nos ajudará a abrir mentes e horizontes e a nos situarmos no fundamental. Como viver, como Companhia, o profetismo na Igreja e também com outras igrejas neste mundo plural? Somos mulheres de Igreja, e sentir com ela não é fácil, quando vemos o retrocesso ou o estancamento da profecia. Para sermos sinceras, também nós padecemos na própria carne a falta de luz significativa. Sim, sentimos a urgência de uma nova profecia, que nos permita estender a mão a tantos infernos de nosso momento histórico. É hora de unir forças. Uma relação mais próxima com 5 Talvez pudéssemos, na Companhia, promover mais o diálogo entre nós, se olhássemos o mundo, não tanto a partir da divisão geo-político-econômica Norte/Sul (análise muito real que deve ser levada em conta), mas a partir da rede universal invisível que une a todos nós que estamos lutando pelos valores do Reino. 6 O principal caminho da missão é o diálogo (cf. AG 7). 7 Criar pedagogias para a formação de mulheres todo-terreno, preparadas e disponíveis para viver a regra quarta em culturas diferentes, em situações de fronteira muito desafiadoras e às vezes adversas, com a flexibilidade de quem dialoga para compreender e complementar-se, e não para competir. 5
6 outras denominações cristãs, compartilhando com elas a oração e a práxis pela justiça, é um caminho aberto ao qual precisamos nos lançar. Diversificar a formação, levando em conta a pluralidade do saber e o saber ser de nosso tempo, para responder à exigência de "servir de maneira sempre nova". Desenvolver o estudo das religiões. Fomentar uma pedagogia que leve em conta a noção de pluralidade como graça. Formar em um humanismo cristão, pois são vários os "humanismos" propostos aqui e ali. Desenvolver a cultura da interioridade, que faz germinar a capacidade de discernir. Educar na fé, na tolerância, na fraternidade universal, vendo na riqueza das diferenças um presente de Deus. Para terminar, a Igreja e todos os seus membros são chamados a participar de um movimento de amor que se entrega, movimento que vem de Deus e cujo Espírito é o primeiro agente; movimento que está presente e ativo em todos os povos, em sua religião e em sua cultura Questões para refletir em comunidade Refletir tudo isto deveria levar-nos a discernir e acolher a diferença como lugar teológico, um lugar onde Deus se dá a conhecer e a partir do qual nos convida a construir um mundo mais fraterno. A partir daí, nossos olhos podem abrir-se, para intuir a partir de onde podemos estender a mão a tantos recém-chegados, com toda sua bagagem de diferenças e multiculturalidade. Por tudo isso, nos perguntamos: Dentro de nossas comunidades, o que devemos fazer para que aconteça um verdadeiro diálogo entre nós? Em uma comunidade humana cada vez mais inter-cultural, o que se requer para que nos abramos a um diálogo autêntico? Quais são os aspectos de nossa vida religiosa que pedem uma atenção especial para que nos preparemos para o diálogo inter-religioso? Quais são as consequências, em nossos respectivos apostolados, desta exigência de diálogo? (atitudes com relação a nossos colaboradores, aqueles aos quais somos enviadas, o mundo que nos rodeia ) 8 M. Mac CABE: La mission comme dialogue prophétique au service du Royaume de Dieu. No 150º aniversario de la SMA Symposium sur l avenir de la mission ad gentes- nº 125, junio de
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