HISTÓRIAS ÚNICAS: CONVERGINDO OLHARES, PROVOCANDO TRANSFORMAÇÕES...
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- Paulo Viveiros Gentil
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1 SABER VII A ética do gênero humano Ambientes de aprendizagem como espaço para a convivência e transformação HISTÓRIAS ÚNICAS: CONVERGINDO OLHARES, PROVOCANDO TRANSFORMAÇÕES... ARAÚJO, Lucicleide- UCB lucicleide@ucb.br RESUMO Este artigo apresenta resultados de uma experiência sobre a utilização das histórias de vida como atrator didático em uma disciplina ministrada para estudantes do primeiro semestre de uma instituição superior de ensino particular. Seu uso possibilitou a convergência de olhares, reflexões, o respeito às diferenças e a reintrodução do sujeito aprendiz no próprio processo de construção e reconstrução de conhecimentos. Favoreceu a construção de um ambiente harmonioso, constituído por um clima respeitoso, de amizade e de transformações, na convivência. Palavras-chave: Ambientes de aprendizagem. Histórias de vida. Convivência. Transformação. INTRODUÇÃO Diante de um mundo em constantes mudanças, provisório, imprevisível, urge a necessidade de práticas educativas em ambientes de aprendizagem que propiciem momentos reflexivos, dialogais, voltados para autonomia do aprendiz, criatividade e solidariedade. Processos didáticos que partam da história de vida dos estudantes, de modo a favorecer o encontro entre os conhecimentos informais e os formais, no intuito de que possam se apropriar de conhecimentos mais pertinentes tanto à vida profissional, como pessoal. Segundo Maturana e Varella (2001), vida e conhecimento são processos indissociáveis. No entanto, a busca por condições para o estabelecimento e fortalecimento desse reencontro, nos espaços educativos, tem sido um desafio desde a década de 80, época em que a prática das histórias de vida eclodiu, incluindo-se em seus mais diferentes contextos educativos de formação, perpetuado-se até os tempos atuais, tanto em contextos presenciais quanto digitais.
2 Sua forte utilização, em espaços de formação como estratégia, tem permitido, segundo Pineau (2006) a tomada da direção, por parte dos sujeitos, em relação à própria vida. HISTÓRIA DE VIDA Para Pineau (2002, apud Fazenda, 2008) as histórias de vida definem-se como pesquisa e construção de sentido, ampliando não apenas o espaço da grafia, mas o da palavra, da comunicação oral, da vida. Na sociedade contemporânea, essa prática amplia-se por meio da fotografia, teatro, rádio, o vídeo, o cinema, a televisão e a internet e tem levado estudantes a uma nova forma de conhecimento, a do conhecimento vivenciado. Para Moraes (2003) a história de vida do sujeito e suas experiências acumuladas durante o viver necessitam ser consideradas durante todo o seu processo de construção do conhecimento e, sobretudo, respeitadas em quaisquer espaços destinados ao aprender, pois para essa autora, cada ser carrega consigo o próprio mundo que vive e que deseja viver e as experiências vividas são sempre únicas e intransferíveis. Enquanto estratégia didática, Moraes (2003) é categórica em dizer que a prática de histórias de vida ao ser aplicada nos contextos educativos pode diminuir a fenda que distancia educação e escola, da própria vida, promover aproximações entre os sujeitos, bem como, possibilidades para processos construtivos de conhecimentos mais integrados e transdisciplinares, que privilegia a reflexão, criatividade e autonomia. O CONTEXTO DA PESQUISA A experiência foi realizada com uma turma do 1º semestre, de uma Instituição Particular de Ensino Superior do Distrito Federal. Participaram 33 estudantes. Destes, 29 são do sexo masculino e 04 são do sexo feminino. A faixa etária varia de 16 a 22 anos. Teve como desafio a produção de histórias de vida, em grupo e, individualmente. Os estudantes utilizaram programas de vídeo, de código livre, disponíveis na internet. A produção desenvolve-se após delineação dos supostos caminhos. O objetivo volta-se para a análise do potencial dessa estratégia para a constituição de ambientes prazerosos, o conhecimento dos diferentes níveis de realidade
3 presentes em uma sala de aula para a proposição de construções e reconstruções de conhecimentos. Volta-se para a preparação do espaço, do clima, para construções de conhecimentos com mais sentido, na convivência saudável. DISCUSSÃO E RESULTADOS Os vídeos produzidos pelos estudantes sobre suas histórias de vida, tanto em grupo quanto, individualmente, ao serem socializados para a turma, estes atuaram como atratores didáticos para os quais olhares se convergiram, provocando nos estudantes momentos de auto-reflexão. A conclusão que eu tiro sobre isso é que quando o vídeo mexe com a gente é porque os conseguimos captar um pouco do que a pessoa queria passar e dividimos experiências, muitas vezes sem precisar de muita conversa (Estudante D). Conhecer um pouco da história de vida do outro, permitiu um conhecimento para além das aparências, bem como uma mudança de olhar, percebendo o outro para além do que se é possível ver e perceber [...] vejo que cada vídeo mostra muito da vida de cada um.isso não seria possível se apenas olhássemos para a pessoa (Estudante C). Segundo o estudante B, Foi enxergar em alguém, totalmente sem conteúdo à primeira vista, e mudar o conceito sobre ela, percebendo que ela possui muito mais conteúdo, sonho, expectativa, força, fraqueza, espera, desejo, garra, do que se imagina. Foi viver um pouco daquilo que o outro viveu, indo até onde ele te permite. Isso demonstra que cada ser é muito mais do que se apresenta, pois sonhos, experiências, força, também as fraquezas, a espera, os desejos, a garra estão presentes em cada ser e isto não se imagina quando se olha apenas a sua organização. Cada indivíduo carrega consigo a sua história e não a deixa do lado de fora da escola. Ao ocupar o espaço educativo traz consigo um mundo e seu nível de percepção e realidade que dele faz. Experiências estas sempre únicas e intransferíveis, como Moraes (2004) ensina. Em relação ao clima, à medida que os sujeitos/aprendizes iam compartilhando suas histórias únicas, a sala de aula ia se configurando, em um espaço prazeroso, respeitoso, acolhedor e, sobretudo, amigável. Essa oportunidade, que tivemos nos uniu como grupo, e assim as amizades estão florescendo, com o tempo (Estudante B).
4 A experiência vivida permitiu aos sujeitos dizerem quem são, contarem para o outro suas experiências, revelando-se, de fato. Um momento de amizade e partilha que fez emergir a saudade, a emoção, a reflexão, a tristeza... Durante a socialização dos vídeos, um ia dando forças para o outro, também ocorriam zoações, um tirando onda com o outro, de brincadeirinhas... Em um clima de cumplicidade e parceria, de comunhão e de resgate do elo perdido entre conhecimento e vida. Aos poucos se aproximavam, fortaleciam-se os vínculos e o clima da sala de aula ia se constituindo, em um espaço aberto e harmônico. Os estudantes, na medida em que se assumiam mediante as histórias apresentadas pelos vídeos, também aprendiam a conviver uns com os outros, com as diferenças, os limites, o jeito de cada um, pelo respeito e compreensão do outro, em seu legítimo outro, como encontramos em Maturana&Varella (2001). Acredito que quando o trabalho sobre as histórias de vida foi proposto, não imaginávamos a que dimensão chegaria. [...] Mas poder ver o vídeo de cada um foi ver a história particular sendo contada pelo próprio autor e ator. Foi olhar o mundo com outros olhos, de fato. Descobrir novos pensamentos, novas opiniões, poder parar a experiência de julgar e acolher a experiência de defesa da outra pessoa (Estudante C). Portanto, esta prática, revela-se como uma experiência única e a melhor. Hoje tivemos uma grande experiência, creio que agora conhecemos mesmo nossos colegas de classe, tivemos muitas emoções no dia de hoje. Acho que essa foi a melhor aula que tivemos, conhecer a cada um de nós [...]. Posso dizer que esse foi o melhor trabalho que fiz na minha vida escolar (Estudante A ). Moraes (2004) diz que toda experiência é única e não se repete. Assim, é válido dizer que a experiência aqui relatada não foi diferente, pois esta promoveu momento inesquecível de experiência única, em um contexto com pessoas, também únicas. Ao ser tomada como proposta de experiência a ser vivida em outros espaços educativos, não será igual a nenhuma outra, pois, cada espaço educativo é composto por diferentes níveis de realidade e cada um marca o seu espaço, a sua história naquele exato momento e tempo que se fez autor e ator nos ambientes de ensino e de aprendizagem pois são sempre situações peculiares e que envolvem práticas com características próprias. Visto que, cada experiência traz consigo todas as emergências surgidas no momento em que os fatos ocorrem e dentro de um contexto também único,
5 com pessoas que se encontraram e se reencontraram a partir do contar de suas histórias e de suas experiências de vida que foram e serão sempre para elas, histórias únicas. CONSIDERAÇÕES A história de vida como estratégia didática provocou transformações internas e externas no sujeito/aprendiz, bem como sua reintrodução como protagonista do próprio processo de construção do conhecimento. Atuou como uma espécie de atrator, possibilitando abertura do coração para perceber o outro, além do olhar fragmentado, mutilador e reducionista. Sua prática permitiu a preparação do ambiente de ensino e aprendizagem para processos de construção de conhecimentos emocionalmente saudáveis, diálogos subjetivos e intersubjetivos, em um clima respeitoso de convivência harmônica e prazerosa. No ensino superior, atuou como possibilidade de caminho, capaz de estabelecer o encontro do sujeito com o seu objeto de conhecimento, pois fez surgir as multirreferencialidades entrelaçadas pelos saberes informais já elaborados pelos sujeitos, o que pode muito contribuir ao educador para escolha de estratégias qu permitam o encontro desses saberes já apresentados com os formais da disciplina. Desse modo, a estratégia utilizada, permite a reintrodução do sujeito cognoscitivo, na medida em que ao escrever a própria história, também a reescreve, assumindo-se como autor e ator, bem como, abertura para diálogos subjetivos e intersubjetivos, entre os sujeitos. Momento de aproximação e distanciamento, no intuito de se compreender realidades, dentro de um contexto muito mais amplo que os englobam. Assim, se os ambientes de aprendizagem podem se tornar espaços mais abertos e mais favoráveis à construção de conhecimentos pertinentes, em um clima prazeroso, então não podemos permitir aulas sem emoção. É preciso educar para que as estratégias didáticas utilizadas nos ambientes de aprendizagem possam favorecer cada vez mais, o encontro da razão com a emoção, para uma aprendizagem que permita experiências de vida e transformação, na convivência.
6 REFERÊNCIAS FAZENDA. Ivani. A formação do professor pesquisador. In: TORRE, Saturnino de la. (org.). Transdisciplinaridade e ecoformação: um novo olhar sobre a educação. 1. ed. São Paulo: Triom, MATURANA. Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 5. ed. São Paulo: Palas Athena, MORAES. Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis, RJ: Vozes, MORIN. Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, PINEAU. Gaston. As histórias de vida em formação: gênese de uma corrente de pesquisa-ação-formação existencial. Disponível em: %0D/ep/v32n2/a09v32n2.pdf. Acesso em Julho/2010.
7 SABER VII A ética do gênero humano Ambientes de aprendizagem como espaço para a convivência e transformação HISTÓRIAS ÚNICAS: CONVERGINDO OLHARES, PROVOCANDO TRANSFORMAÇÕES... ARAÚJO, Lucicleide- UCB lucicleide@ucb.br Histórias de vida como atrator didático em uma disciplina ministrada para estudantes do primeiro semestre de uma instituição superior de ensino particular. Seu uso possibilitou a convergência de olhares, reflexões, o respeito às diferenças e a reintrodução do sujeito aprendiz no próprio processo de construção e reconstrução de conhecimentos. Favoreceu a construção de um ambiente harmonioso, constituído por um clima respeitoso, de amizade e de transformações, na convivência. HISTÓRIA DE VIDA AR AÚJO, Lucicleide- UCB lucicleide@ ucb.br CRÉDITOS Imagens retiradas dos sites: www. google.com
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