Movimento de Reconceituação Reatualização do Conservadorismo

Transcrição

1 Movimento de Reconceituação Reatualização do Conservadorismo Existia uma núcleo do Serviço Social interessado, pelas mais diversas razões: ideológicas, políticas, teóricas, profissionais, em restaurar o conservadorismo. Esse núcleo encontra possibilidades objetivas, devido ao surgimento de novos dilemas para o Serviço Social, que a perspectiva modernizadora não apontava caminhos. Temos o aparecimento de um clima sociocultural onde as dimensões individuais e psicológicas ganham presença, onde é possível restaurar práticas tradicionais face to face. Assim, para trazer elementos conservadores de volta, era necessário uma elaboração teórica. Essa fundamentação teórica tem que combater a tradição positivista na profissão. O positivismo trata o fato como coisas, o que o impossibilita de compreender o vivido humano e se fechava ao questionamento. Assim, essa nova tendência se vinculará à fenomenologia para construir sua elaboração teórica.

2 Movimento de Reconceituação Reatualização do Conservadorismo Busca uma abordagem inspirada em um pensamento não-causal, onde possa se ver o homem em seu todo, holisticamente, ou em sua totalidade do mundo de vida. O foco dessa nova tendência é a compreensão. Os valores e objetivos profissionais são compreender o homem e o mundo através de uma fenomenologia existencial e motivada por uma ética cristão. Serviço Social como prática se inscreve no campo da ajuda psicossocial. A ferramenta do Serviço Social passa a ser o diálogo. Serviço Social se propõe a um desenvolvimento da consciência reflexiva de pessoas. Recuperação dos valores universais conservadores e a centralização nas dinâmicas individuais. Retomadas de princípios tomistas e neotomistas, tais como: a autodeterminação a possibilidade do homem usar a liberdade como algo estruturante do ser; o respeito à dignidade humana. Essa tendência se expressará no Documento de Sumaré e Alto da Boa Vista

3 Ocorreu em Sumaré de 20 a 24 de novembro de 1978 Para preparação do Seminário realizou-se uma pesquisa para conhecer a opinião dos assistentes social em Ainda como preparativos para o Seminário foram enviados ofícios a 276 profissionais solicitando sugestões para retomada do Documento de Araxá. Destas medidas preliminares resultaram em: 1) manter inalterado o documento de Araxá 2) Apontamento de novos questionamentos para serem discutidos. Foi relacionado três questionamentos interdependentes; I) O Serviço Social numa perspectiva do método científico de construção e aplicação do Serviço Social; II) O Serviço Social a partir de uma abordagem de compreensão, ou seja, interpretação fenomenológica do estudo científico do Serviço Social; III) O Serviço Social a partir de uma abordagem dialética. Foi proposto que os documentos bases do seminário fossem construídos a partir dessa temática. A construção desses documentos ficou restrita a localidades onde houvesse cursos de Mestrado (São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre). Para realização do seminário chegou seis trabalhos (2 de cada temática) produzidos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os grupos de Porto Alegre não enviaram documentos.

4 A dinâmica do Seminário se constitui do estudo dos três temas básicos relacionados ao questionamentos: 1) O Serviço Social e a Cientificidade 2) O Serviço Social e a Fenomenologia 3) O Serviço Social e a Dialética TEMA 1: O Serviço Social e a Cientificidade: Documento Base Rio de Janeiro: se preocupou em conceituar a cientificidade. Entendeu-se essa um verdadeiro conhecimento da realidade, para tal é necessário captá-la em sua própria produção, considerar a ação nela mesma, em sua efetuação e não em seus efeitos. Não é possível analisar a realidade em termos de variáveis, através de um esquema. A cientificidade representa uma idéia reguladora, não um modelo determinado. Saber científico é ao mesmo tempo: aquisição de um saber, aperfeiçoamento de uma metodologia e elaboração de uma norma. Howard Goldstein diz que o Serviço Social não é orientado pelos conceitos de uma teoria. Outra questão:como os conhecimentos das ciências sociais e do comportamento podem ser sistematizados e ordenados para oferecerem ao Serviço Social uma fundamentação coerente com a prática. Serviço Social está na habilidade para, responsável e conscientemente entrar e tornar-se uma parte do complexo sistema da interação humana para produzir mudanças na cognição e no comportamento.

5 Documento base feito pelo grupo de São Paulo: O foco era o objeto do Serviço Social. Preocupação com os fenômenos, processos e fatos reais e nas ações empreendidas. Preocupação com uma síntese entre teoria e ação. Serviço Social como prática ou disciplina profissional em virtude de atuar em realidades concretas, podendo produzir conhecimentos e teorias a partir e voltado para esta ação e seus resultados (139) Busca é pela sistematização desses conhecimentos e teorias para que tornem cada vez mais coerentes, orgânicos, consistentes e objetivos. Sua teoria se elabora num processo dinâmico: teoria-ação-teoria. Também defendem o pluralismo. O Serviço Social tem uma ação impregnada de valores. O Serviço Social formula seus valores universais enfocando a liberdade, a individualidade e a sociabilidade. No Serviço Social, o objeto não é estabelecido a priori, mas vai se definindo no próprio processo de ação. O objeto do Serviço Social são as situações social-problema e situações que se dão no nível das relações sociais.

6 Tema II O Serviço Social e a Fenomenologia Conferência Creusa Capalbo: Apresenta a fenomenologia como ciência do vivido segundo Husserl. Ela nos aproxima da essência pela descrição. O vivido humano e social é constituído de significados e recorrem a processos de compreensão e de interpretação e não de explicação (175) Necessário a passagem do pré-reflexivo para o reflexivo. É necessário as interpretações. É necessário olhar as coisas - trata-se de ver inteligível é o ato de significar ou de dar sentido a alguma coisa. Nem todas as experiências são vividas conscientemente. A fenomenologia é compreensiva não explicativa. Para compreende é necessário: discernir, escolher, selecionar, separar, agrupar, apanhar, apreender. Não pode-se compreender a totalidade a não ser sob a formas de perspectivas.

7 Documento Base elaborado pelo Grupo do Rio de Janeiro: Apresentam preocupações quanto ao estudo do fenômeno, saber progressivo e a adoção de princípios e valores que devem ser assumidos. Conhecer o fenômeno pressupõe um acolhimento do outro. Se eu me abro realmente à comunhão intersubjetiva, se eu recebo o outro e me dou, nós ascendemos juntos um pelo outro no plano de ser. (184) Serviço Social se propõe a um desenvolvimento de uma consciência reflexiva das pessoas. Perspectiva de interação entre pessoa-cliente e pessoa-assistente social. A pessoa-cliente revela o que tem para ele um significado, o ser vivido, a pessoa-assistente social questiona os conteúdos revelados, tentando clarear e ampliar horizontes, emergindo sentidos novos. A identificação de novos sentidos/conteúdos transformam-se em projetos. Os projetos são respostas novas frente a si mesmo, ao outros e as coisas. Documento Base elaborado pelo Grupo de São Paulo: apresentou indagações sobre as implicações da fundamentação fenomenológica para o Serviço Social, porém sem apresentar possibilidades paras essas indagações.

8 Tema III. O Serviço Social e a Dialética Conferência Dialética arte do diálogo e da discussão Ramo dos Estudos da lógica formal O movimento dialético - reconhecer os contraditórios e descobrir o princípio de sua ultrapassagem O que caracteriza a dialética é a tríade: síntese, antítese e síntese. Fenomenologia tem um pensamento dialético. Movimento dialético movimento do discurso que alcança progressivamente a verdade Objetivo foi apresentar a dialética a partir de vários autores, entre eles: Platão, Aristóteles, Hegel, Marx, Althusser,Merleau-Podty Documento base do grupo do grupo do Rio de Janeiro: Discussões sobre a prática e a teoria que o Serviço Social tem desenvolvido Assistente Social portador de esquemas de cultura na qual foi formado social e profissionalmente, tenta legitimar junto ao cliente, que por vezes apresenta interesses e acepções diferentes do assistente social. Isso pode gerar um conflito, pois o assistente social quer legitimar sua cultura

9 Documento de Sumaré Indaga-se: Até que ponto o assistente social tem reconhecido essa realidade e a diferença das culturas entre o profissional e a clientela. Como poderá o Serviço Social brasileiro intervir a partir de um saber que não é sua realidade? Levanta-se a reflexão sobre a defasagem do currículo do Serviço Social. Serviço Social tem tido um olhar uniformizado sobre a realidade escamoteando as diferenças regionais Distância entre o Serviço Social e a cultura da clientela Alternativas para aproximação do Serviço Social com a clientela: uma nova forma de compreensão da realidade compreensão dessa Duas atitudes que devem ser evitadas pelo assistente social: 1) atitude antiintelectualista: achar que o cliente por si só se conscientiza, bastando ao assistente social controlar esse processo; 2) atitude intelectualista que julga a clientela como incapaz e ignorante caindo numa manipulação. Essas atitudes nos afastam da clientela Passos para garantir uma intervenção que se baseie no conhecimentos das manifestações da cultura da clientela: clareza de que o assistente social está inserido num contexto institucional que está contido num plano sócioeconômico-político. Necessidade de discernir entre os objetivos institucionais, do serviço social e da clientela, assim reconhece as contradições presentes que possibilita pensar os objetivos do serviço social em relação as necessidades da clientela

10 Documento elaborado pelo grupo de São Paulo: A questão da dialética emerge com o movimento de reconceituação Movimento de Reconceituação vem evidenciar as contradições do Serviço Social Reconceituação oposição a uma visão idealista (tradicional) do Serviço Social, o que implica a revisão teórica e metodológica do Serviço Social Identificação do Serviço Social como um dos aparatos ideológicos do Estado para manutenção do sistema capitalista; a prática do Serviço Social é ideologicamente comprometida Admissão do método dialético como referencial para ação e interpretação