O MENINO DE LÍNGUA DE FORA: ANÁLISE CRÍTICA E PROPOSTA DE LEIITURA

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1 O MENINO DE LÍNGUA DE FORA: ANÁLISE CRÍTICA E PROPOSTA DE LEIITURA Fernando de Oliveira Saladini Taline Pauliukevicius Aline Teixeira Penha Lucilda de Souza Silvestre (Orientadora CLCA - UENP/CJ) Introdução Esse texto intitulado O menino de língua de fora: análise crítica e proposta de leitura tem o intuito de discorrer sobre a importância da relação da literatura infantil e juvenil com seu público leitor. Para isso pretendemos trazer para a conversa o literato Ricardo Azevedo no qual tem uma variedade de obras publicadas, tendo se transformado em uma referência para o publico juvenil. Ricardo Azevedo aparece no cenário editorial considerado um dos grandes escritores contemporâneos do gênero em questão. O escritor publicou vários livros, dentre eles a obra O menino de língua de fora (1995), do qual analisaremos e focamos questões relativas à linguagem e a ilustração, visto que apresentam características marcantes na obra literária, como também os elementos da narrativa: personagem, espaço, tempo e os aspectos temáticos, uma vez que o escritor apresenta um número significativo de títulos no mercado editorial. Além disso, discorrer sobre o uso do texto literário em pauta como recurso no ensino de literatura nas escolas do ensino Fundamental. Daí a necessidade de ater-nos aos estudiosos preocupados com a leitura em sala de aula e aqueles que se preocupam com a crítica literária como Regina Zilberman, dentre outros. Literatura infantil algumas reflexões Quando falamos em literatura infantil podemos observar o crescimento do mercado de livros acerca da literatura infanto-juvenil nos últimos tempos, muitos autores de diferentes regiões têm discorrido sobre o acervo de obras ao público jovem e vem ganhando espaço no 912

2 âmbito cultural. Entretanto foi somente no século XVIII que apareceram as primeiras formas de literatura infantil, época em que as mudanças presentes na sociedade mudaram o contexto artístico da época, quando a criança passa a ser diferente do adulto com necessidades e características próprias. Zilberman ao discorrer sobre o aparecimento da literatura infantil em seu texto Estatuto da literatura infantil comenta que com a decadência dos gêneros como epopéia e tragédia, a literatura passa a ser substituída pelos melodramas e romances, formas voltadas para manifestações de evento da vida burguesa e cotidiana, que tomaram lugar dos assuntos mitológicos e personagens aristocráticos. E ainda vai além, pois o surgimento da literatura infantil se deu devido às modificações que a sociedade estava passando, por exemplo temos o caso da reorganização da estrutura familiar e também da escola, no qual esta manteve o controle do desenvolvimento intelectual da criança e a manipulação de suas emoções. Conforme as implicações de Zilberman, a família considerava às crianças a adultos pequenos, tendo responsabilidades e deveres perante a sociedade, mas não tinham direito de fruição através da arte, principalmente o literário. Entretanto, a reorganização da escola, por sua vez, necessitava de uma nova pedagogia, então a literatura serviu como um instrumento para ensinar. Vale lembrar que as escolas eram privilégio de poucas crianças, e elas eram basicamente religiosas. Portanto, as histórias passaram a ser a serviço de uma ação pedagógica. Nesse sentido, essas histórias eram escritas com o intuito de ensinar moral e também conteúdos às crianças, então, pode-se dizer que a literatura feita para elas, no seu início, não possuía de fato valor de arte literária. Da maneira como nasceu, a literatura infantil foi considerada cultura de massa, não possuía o mesmo valor da literatura para adultos. Hoje, há compreendemos que foi a partir dos anos 1970 que houve uma inclusão do que chamamos de nova qualidade literária que transformou o livro infantil em um objeto novo, que foram se desenvolvendo através das palavras, desenhos, pinturas, fotografias, processos digitais e virtuais ( COELHO, p. 127). E é nesse sentido que o texto literário cria uma liberdade desvinculada de quaisquer compromissos pedagógicos e faz com que se tenha criatividade e consciência crítica, e a criança apesar da pouca idade e experiência tem absoluta compreensão daquilo que lê, desde que as histórias sejam adaptadas às condições de seus leitores. Sobre isso, Bettelheim (apud ZILBERMAN, 2003) afirma que, quando se compromete com as necessidades e interesses de seus destinatários, o texto infantil transforma-se num meio de acesso à realidade e facilita a ordenação das experiências existenciais do sujeito. Segundo ele, a presença dos elementos mágicos e recurso à fantasia têm sido procedimentos 913

3 recorrentes da literatura infantil para conquistar o leitor. Essas afirmações são pertinentes ao assunto abordado, pois percebemos uma grande preocupação com a formação literária das crianças em nossos dias, por isso ele salienta que os textos infantis ajudam a criança a desenvolver a imaginação e assim elas podem organizar a realidade em que vivem através da fantasia, da arte. As narrativas com início, meio e fim faz com que a criança consiga compor sua visão sobre a vida, ou seja, a tomada de decisões, o enfrentamento de problemas, a compreensão de fatos que acontecem em seu contexto social. (SILVEIRA, S/P). As controvérsias e discussões em relação à literatura infanto-juvenil ainda são grandes, todavia temos dados positivos sobre os resultados de que um texto bem elaborado para crianças e adolescentes e que respeita as necessidades desses jovens leitores em relação àquilo que precisam ouvir em cada etapa de seu desenvolvimento, possibilita uma construção individual, social e psicológica mais sadia. Menino da língua de fora, de Ricardo Azevedo: análise critica Menino da língua de fora, de Ricardo Azevedo Editado pela Ática em 1994, ao texto é composto por 23 páginas, no qual cada quadro apresenta uma figura diferenciada, sendo todos relacionados ao pensamento do menino, apesar de que nenhuma ilustração explica o conteúdo do texto. Sendo assim tem como intuito atrair o público juvenil para as curiosidades da vida, além do seu aspecto literário (personagem, enredo, tempo, espaço, tipo de narrador). A obra encanta o leitor pelas questões históricas que ela aborda que vão além dos limites do cotidiano e do senso comum, cria diversas situações para o leitor se questionar sobre curiosidades, cultura, filosofia, entre outras. O livro traduz alguns temas centrais, estes presentes na contemporaneidade como as descobertas científicas, através da voz de um menino que expressa suas opiniões pessoais, suas emoções, idéias, imaginações, fantasias e lembranças. Por isso trás como protagonista não identificado na obra que vai atiçando a curiosidade do leitor, pergunta sobre questões que não são levadas a sério no dia-a-dia das pessoas, como invenções de alimentos, temas culturais, questões sociais incentivando as crianças a serem solidárias, tudo isso com ótimo humor e o texto acaba prendendo o leitor a refletir e se questionar sobre todos esses assuntos em pauta. E é interessante notar que apesar de o autor manter uma linha de pensamento, insere diferentes assuntos, que fazem parte do cotidiano das crianças dando a obra um caráter de descobrimento das diferentes situações corriqueiras do cotidiano, criadas no decorrer do 914

4 enredo. Isso quer dizer que o ponto crucial do livro é a composição entre a ilustração e própria história que prende o leitor desde o princípio e torna a história interessante. Quando inserimos o livro infantil na escola, devemos tem em mente que o mesmo deve ser muito bem trabalhado e explorado, para que não seja apenas um mero material literário a ser utilizado na sala de aula, pois o livro infantil pode despertar o interesse e a curiosidade das crianças, para que as mesmas, desde pequenas, já se identifiquem com a literatura e possam desfrutar dos vários acervos literários existentes. Nesse contexto ao discorrer sobre a utilização em sala de aula do livro O menino da língua de fora, podemos observar que aguça a curiosidade da criança sobre o mundo que os cerca, os sentidos como o paladar, por exemplo, incitando a criança a dialogar com seus amigos sobre as curiosidades presentes na obra. É uma obra que faz com que seu leitor se questione sobre tudo, a pensar sozinho, pois se trata de um livro que promove a dúvida e afirmações do dia a dia pouco lembradas, num processo parodoxal. Considerações finais A partir de nossas reflexões, pretendemos demonstrar que a literatura infanto-juvenil pode ajudar a criança a descobrir um mundo pelo qual ela ainda imagina, sonha, deseja. Isso decorre do tema abordado em cada título. O importante é professor apropriar-se de livros significativos e atrair o pequeno leitor e levá-lo a participar aos poucos do hábito de ler, pois a imaginação criadora é fonte inesgotável de testemunhos, que, em diálogo com a criança pode enriquece a sua vida. E ficou claro que tanto o entendimento sobre literatura infanto-juvenil quanto sua relação com a obra deixa evidente a vontade de o autor em expressar temas do cotidiano pouco abordado e desinteressado pela maioria das pessoas, por isso Ricardo Azevedo, usa de linguagem simples e relaciona a história a temas contemporâneos e com humor. Assim sendo, o educador ao trabalhar uma obra tem que saber usar sua criatividade, relacionar os contextos imaginários com o mundo real, inseri seus questionamentos. Sendo assim, a literatura infantojuvenil tem o papel de resgatar a história e dar espaço para criança criar sua própria subjetividade, enfrentar suas dores, seus conflitos, e descobrir a alegria de ler uma obra. Referências bibliográficas 915

5 COELHO, Nelly Novaes. Literatura: Arte, Conhecimento e Vida. Peirópolis: Fundação. Peirópolis, ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 10. ed. São Paulo: Global,1998. (Teses, 1)(A 1ª edição data do ano de 1981). ZILBERMAN, Regina & Magalhães, Liga Cademartori. Literatura infantil: Autoritarismo e Emancipação. São Paulo: Ática, AZEVEDO, Ricardo. Menino da língua de fora. 1 ed São Paulo: Ática, LAJOLO, M; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: História e Histórias. 6 ed. São Paulo: Ática, 1999, p SILVEIRA, Tatiane. O valor da literatura infanto-juvenil como leitura emancipadora. Instituto Cultural Oswald Galotti. São Paulo. s/d. documento disponível em: Acessado no dia 04/09/2010. Para citar este artigo: SALADINI, Fernando de Oliveira; PAULIUKEVICIUS, Taline; TEIXEIRA, Aline. O Menino de Língua de Fora: análise crítica e proposta de Leitura In: VII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p