MODELO DE ENRIQUECIMENTO PARA TODA ESCOLA E ENSINO COLABORATIVO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
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- Salvador de Abreu Sabrosa
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1 MODELO DE ENRIQUECIMENTO PARA TODA ESCOLA E ENSINO COLABORATIVO: RELATO DE EXPERIÊNCIA Thamille Pereira dos Santos Nara Joyce Wellausen Vieira Universidade Federal de Santa Maria Eixo Temático: Altas Habilidades Palavras chaves: Altas habilidades/superdotação; Processo de Identificação; Ensino colaborativo. A dimensão inicial Este trabalho ter por objetivo relatar a experiência vivenciada no ano de 2015, com o ensino colaborativo enfocando os alunos com altas habilidades/superdotação, público alvo da Educação Especial. Essa experiência ocorreu em uma escola pública do Município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com alunos de uma turma de 3º ano do ensino fundamental, com faixa etária entre 8 a 9 anos. A proposta surgiu durante a realização do estágio final de graduação do curso de educação especial e da demanda da escola, pois, na instituição, não havia nenhum aluno identificado com altas habilidades/superdotação. Assim sendo, iniciou-se o processo de identificação na turma mencionada, subsidiado pela Teoria dos Três Anéis de Renzulli (2004) e na concepção de Inteligências Múltiplas de Gardner (2000). Seguindo posteriormente pela proposta de enriquecimento escola para toda escola (RENZULLI, 2014). Justifica-se a importância desse relato na medida em que se constatou que é possível tornar prazerosos a aprendizagem do aluno e o ensino do professor, quando são relacionados o conteúdo que deve ser ensinado com os fatos e problemas da vida real e do interesse do aluno. A dimensão teórica A atividade esteve subsidiada teoricamente por Renzulli (2004) e Gardner (2000). Para Gardner (2000, p. 47), a inteligência é concebida como um. [...] potencial biopsicológico para processar informações que podem ser ativadas num cenário cultural para solucionar
2 problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura. Essa visão diferenciada da inteligência permite reconhecer as [...] diferentes formas que as pessoas têm/usam para conhecer as coisas ao seu redor e do conjunto de comportamentos utilizados para resolver os problemas advindos desse conhecimento (VIEIRA e FREITAS, 2011, p. 57). Para as autoras citadas, até o momento existem oito inteligências, sendo elas nomeadas como: linguística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica, naturalista, musical, intrapessoal e interpessoal. A Teoria das Inteligências Múltiplas sugere que cada inteligência é um potencial autônomo, cada uma das inteligências opere simultaneamente, pois a atividade cognitiva humana é complexa (VIEIRA, 2005). Na Teoria dos Três Anéis de Renzulli (2004), os traços que os sujeitos com altas habilidades/superdotação devem apresentar são: habilidade acima da média, comprometimento com a tarefa e criatividade. Esses traços devem interagir entre si e necessitam do suporte uma rede social composta pela família, escola, amigos dentre outros além dos fatores de personalidade de cada sujeito. Renzulli (2014, p.541) propõe como forma de atendimento educacional a esses alunos a proposta de enriquecimento para toda a escola, que consiste em introduzir no currículo regular [...] um currículo expandido de oportunidades de atendimento, recursos e apoio para os professores que misture mais enriquecimento e uma aprendizagem mais investigativa na experiência de toda a escola. O Ensino Colaborativo é definido por Mendes, Vilaronga e Zerbato (2014) e Mendes, Almeida e Toyoda (2011) como um modelo de serviço da educação especial no qual há uma parceria entre o educador especial e o educador comum para planejar, avaliar e instruir a aprendizagem de um grupo heterogêneo de alunos. Esses professores compartilham um trabalho educativo, sem hierarquia, no qual todas as responsabilidades sobre o ensino e a aprendizagem dos alunos pertencem à equipe. Portanto, trata-se de um processo adaptativo e que requer tempo e aprendizado constante. A dimensão prática O primeiro passo realizado no processo de identificação na escola é a sensibilização dos professores, ou seja, explicitar sobre as altas habilidades/superdotação através de palestras, rodas de conversa, vídeos e histórias; objetivando sua colaboração e participação no processo de identificação dos estudantes com altas habilidades/superdotação. Essa etapa foi realizada com todas as professoras da escola, havendo então a indicação pela professora regente da
3 turma de um aluno com possíveis indicadores de habilidades na turma de 3º ano do ensino fundamental desta escola. Assim sendo, iniciou-se a segunda etapa do processo através da aplicação de instrumentos padronizados pela professora todos os alunos da turma, disponibilizados em Freitas e Pérez (2012). Após a coleta desses dados, mapearam-se os alunos mais indicados, encontrando-se quatro crianças com possíveis indicadores. Realizou-se uma reunião com os pais desses quatro alunos, para explanar sobre as altas habilidades/superdotação, solicitar sua autorização para a identificação dos alunos e sua participação no processo. Realizou-se o processo de investigação das Inteligências Múltiplas, com aplicação de atividades que instiguem à resolução dos problemas apresentados. Além da realização de todas essas etapas, é importante informar que em todo o processo ocorreu a observação direta de todos os alunos da turma e dos alunos com indicadores de AH/SD, para verificação da frequência, intensidade e consistência dessas características. Após a realização de todas as etapas ocorreu à integração dos dados obtidos durante o processo, este passo consiste no parecer resultante dessa análise indica a presença (ou não) de comportamentos com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação e salienta os pontos fortes e os aspectos que devem ser mais trabalhados com a criança/adolescente (VIEIRA e FREITAS, 2011, p.61). Das quatro crianças indicadas inicialmente, duas apresentaram indicadores de altas habilidades/superdotação e foram encaminhadas ao atendimento educacional especializado (AEE), com o consentimento dos pais. Como parte do AEE, iniciou-se o ensino colaborativo, oportunizando por um lado, o contínuo acompanhamento de todos os alunos da turma, com o objetivo de observar algum outro destaque na turma; e por outro lado, acompanhar os comportamentos com indicadores de AH/SD nos alunos que participarem do processo. Tal proposta subsidiou-se no Modelo Triádico de Enriquecimento, que conforme Freitas (2013) constituem-se de três tipos: Tipo I, que envolve atividades de exploração de uma variedade de assuntos; o Tipo II, que se constitui no planejamento dos métodos e técnicas diferenciadas para desenvolver determinado assunto; e o Tipo III, que são as atividades investigativas de problemas do cotidiano dos estudantes e nas quais podem assumir papel de investigador. A realização do ensino colaborativo na turma consistiu no desenvolvimento dos três tipos de atividades, com a participação da professora regente e de todos os alunos e são descritas a seguir: na atividade do tipo I foi explicada aos alunos a dinâmica das atividades, investigou-se assuntos de interesse e elegeu-se o tópico preferido da turma, sendo a música o
4 tópico escolhido. Explorou-se o assunto de diversas formas e buscou-se o apoio na comunidade santa-mariense de voluntários que pudessem enriquecer a proposta. O grupo de músicos EntreAutores disponibilizou-se para rodas de conversas com as crianças. Esse grupo consiste na união de diversos músicos da cidade de Santa Maria reunidos para produzir músicas autoriais e criar laços de amizade. Assim, surgiram inúmeras atividades colaborativas entre a professora regente da turma, a educadora especial da escola, estagiária em educação especial e o grupo EntreAutores, envolvendo o assunto música. As atividades envolveram: rodas de conversa, aulas práticas de composição, instrumentalização e canto, oficinas, dinâmicas, seco fotográfico para um clipe musical construído e, claro, muita música e alegria (atividade de Tipo II). A culminância do trabalho (atividade de tipo III) consistiu na confecção de um clipe musical, com composição da letra musical de um dos alunos com a colaboração para finalização e devidos ajustes dos demais colegas e do grupo EnteAutores. Cabe destacar que o aluno mencionado, inicialmente, não estava interessado na proposta, mas sua participação foi crescente com o decorrer da atividade. A gravação das vozes foi realizada em um estúdio montado na escola e apresentação final feita para toda a comunidade escolar. A realização do ensino colaborativo baseado no Modelo Triádico de Renzulli (2004) foi realizado com o apoio de todos envolvidos, sendo eles: professora regente, educadora especial, estagiaria, comunidade e alunos. Conforme Renzulli (2014) pode-se tornar a aprendizagem do aluno mais prazerosa, relacionando conteúdo que deve ser ensinado com fatos e problemas da vida real e do interesse do aluno. Nessa perspectiva, as experiências de aprendizagem devem estar centradas nas capacidades, interesses, estilos de aprendizagem e formas preferidas de expressão apresentadas pelos alunos. Para tanto, o professor da educação especial e o professor regente devem fazer essa exploração como forma de subsidiar o planejamento de ensino e intervenção. A dimensão dos resultados A realização do ensino colaborativo resultou na produção de um clipe musical, que teve por objetivo conscientizar as pessoas sobre os valores, identidade e o sentido de suas vidas. Além disso, concedeu-se entrevista ao jornal local, na qual nosso projeto foi divulgado, oportunizando assim a divulgação sobre as altas habilidades/superdotação, ensino colaborativo e a participação eficaz da comunidade no ambiente escolar. Além disso, foi possível observar crianças que não haviam sido identificadas no processo de identificação,
5 com possíveis indicadores de altas habilidades/superdotação nas atividades realizadas no ensino colaborativo de música. Conforme observamos o aluno que compôs a letra da música, com a enorme capacidade criativa e de habilidade acima da média e cujo comprometimento com a tarefa só foi possível verificar na medida em que o menino motivou-se com a proposta. Entende-se que a realização do ensino colaborativo foi extremamente enriquecedora para a comunidade da escola pública envolvida, através da realização das atividades que seguiram o Modelo Tríadico de Enriquecimento, pois proporcionou uma educação visando o enriquecimento curricular de todos os sujeitos da turma de 3º ano do ensino fundamental, além de oportunizar possíveis caminhos que, dentro do currículo, não teriam oportunidades de ser totalmente explorados. Deve-se destacar também, a importância do papel da equipe gestora da escola, pois dependeu dela a efetivação do trabalho colaborativo, oferecendo o apoio administrativo adequado, viabilizando as condições efetivas para o planejamento e a execução das atividades. Nessa perspectiva, os alunos pertencem à escola e não a determinados professores. Uma proposta dessa natureza oferece atividades desafiadoras para toda escola, envolvendo alunos, que sentem prazer em aprender; professores, que podem diversificar sua atividade profissional descobrindo novas metodologias de ensino e novos parceiros; equipe gestora, que percebe os frutos positivos da atividade; e comunidade, que tem possibilidade de, através do trabalho voluntário, desfrutar de experiências gratificantes e envolventes. Referências FREITAS, S. N. Atendimento educacional especializado para alunos com altas habilidades/superdotação. In: JESUS, D. M. de BAPTISTA, C. R.; CAIADO, K. R. M. (org.) Prática pedagógica na educação especial: multiplicidade do atendimento educacional especializado. Araraquara, SP: Junqueira e Marin, 2013, p FREITAS, S. N.; PÉREZ, S. G. B. Altas Habilidades/superdotação: atendimento educacional especializado. Marília: ABPEE, ed. revista e ampliada. GARDNER, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, MENDES, E. G.; ALMEIDA, A. A.; TOYODA, C; Y. Ensino colaborativo e inclusão pela via da colaboração entre educação especial e educação regular. Educar em Revista, n. 41, MENDES, E. G.; VILARONGA, C. A. R.; ZERBATO, A. P. Ensino colaborativo como apoio à inclusão: Unindo esforços entre educação comum e especial. São Carlos: EdUFSCAR, RENZULLI, J. O que é esta coisa chamada superdotação e como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Educação, Porto Alegre, RS, n.1(52), 2004, p The Schoolwide Enrichment Model: A Comprehensive Plan for the Development of Talents and Giftedness. Revista Educação Especial, v. 27, n. 50, set./dez. 2014b, p Disponível em: /index.php/educacaoespecial/article/view/14285/pdf. Acesso em: 11 fev VIEIRA, N. J. W. Inteligências Múltiplas e Altas Habilidades. Uma proposta integradora para a identificação da superdotação. Linhas, Vol. 6, N. 2 (2005). Disponível on-line em: Acesso em: 01 abril VIEIRA, N.J.W.; FREITAS, S.N. Procedimentos qualitativos na identificação das altas habilidades/superdotação. In: BRANCHER, V. R.; FREITAS, S. N. (org.) Altas Habilidades/Superdotação: conversas e ensaios acadêmicos. Jundiaí/SP: Paco, 2011.
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