PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA: LIMITES E PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO DA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DA SERRA/ES
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- Helena Gabeira Figueiredo
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1 03266 PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA: LIMITES E PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO DA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DA SERRA/ES Andreza Alves Ferreira Cybele Barbosa Brahim Universidade Federal do Espírito Santo- UFES Resumo: Este trabalho analisa em que medida a implantação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola) impactou a gestão da escola pública no município da Serra (ES) procurando evidenciar perspectivas e limites desse programa nos anos de 2008 a O trabalho foi desenvolvido a partir da revisão da literatura sobre a temática e entrevistas com os técnicos da Secretaria Municipal de Educação (SME), responsáveis pela coordenação dos programas federais destinados aos municípios. Realizamos ainda, pesquisa nos sites do MEC, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e Sistema de Monitoramente e Ações Integradas do MEC (SIMEC). Os resultados da pesquisa apontam que a implementação desse programa denota a fragilidade institucional dos municípios concernente as suas capacidades/autonomia para conduzirem a política educacional bem como das escolas. Explicita a atuação do governo federal que, na nossa avaliação não vem desempenhando o seu papel de coordenador das políticas educacionais, e sim de indutor por meio de programas vinculados a repasses de recursos, evidenciando a insuficiência de recursos necessários à manutenção da educação ofertada pelos municípios, bem como a tímida participação da União no repasse de recursos por meio desses programas. Por fim, destacamos que os limites para o alcance dos objetivos propostos no PDE Escola perpassaram pela sua apropriação no órgão central a partir da comunicabilidade estabelecida entre o modelo de política adotado e a cultura escolar na qual foi inserido. Palavras-chave: PDE escola, Gestão escolar, Qualidade da educação. Introdução Este trabalho analisa em que medida a implantação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola) impactou a gestão da escola pública no município da Serra (ES) procurando evidenciar perspectivas e limites desse programa nos anos de 2008 a Foram realizadas entrevistas com os técnicos da Secretaria Municipal de Educação (SME), responsáveis pela coordenação dos programas federais destinados aos municípios. Realizamos ainda, pesquisa nos sites do MEC, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e Sistema de Monitoramente e Ações Integradas do MEC (SIMEC), além de pesquisas bibliográficas sobre o tema. O PDE Escola i foi instituído como ferramenta de gestão baseada na metodologia do planejamento estratégico com o objetivo de melhorar o Índice de Desenvolvimento da
2 03267 Educação Básica (IDEB) ii das escolas que não atingiam as metas estabelecidas para aquele ano. Se analisado do ponto de vista ideal, pode ser comparado ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) iii, porque foi pensado no nível da gestão escolar, para ser um plano capaz de possibilitar a articulação dos demais programas e ações desenvolvidas pela escola, abrangendo todas as suas dimensões: financeira, administrativa e pedagógica. Desde a sua criação, o PDE Escola vem sendo utilizado como uma ferramenta de gestão dos recursos repassados via FNDE às Unidades de Ensino (UEs). Foi introduzido nas escolas consideradas prioritárias iv no ano de 2008, acompanhado de um forte movimento de formação na metodologia em vários estados brasileiros. Em 2009, o MEC deu início ao processo de informatização da gestão deste programa por meio da disponibilização de uma ferramenta na plataforma do SIMEC, de modo que estados, municípios e escolas pudessem acessá-lo. Assim, as escolas vêm realizando neste sistema, a elaboração de seus PDEs. Em 2010 o SIMEC passou por algumas alterações, apontando para um formato mais diretivo no que diz respeito à elaboração do Plano de Ação da escola, com um forte direcionamento à priorização das ações financeiras. Já em 2011 é instituído o PDE Escola Interativo, cuja característica principal foi tornar a ferramenta autoexplicativa de modo a facilitar a utilização da mesma. Esta mudança explicitou a intencionalidade do MEC no sentido de ampliar sua utilização por todas as UEs, não se limitando apenas às escolas prioritárias, o que ocorreu no ano seguinte Considerando que o principal incentivo das escolas à adesão ao programa era o recurso que elas recebiam e que as UEs não prioritárias agora também poderiam acessar esta ferramenta, sem que para isto recebessem recursos, o que garantiria a sua adesão? Que estratégias foram utilizadas pelo MEC neste sentido? O MEC condicionou o repasse de recursos referentes a outros programas, à elaboração/atualização do PDE Escola no SIMEC. Além disso, em 2014, o link de acesso à plataforma do SIMEC recebeu uma nova nomenclatura: PDDE Interativo, sendo apresentado com o objetivo de melhorar a identificação com os programas que transferem recursos. Ou seja, as abas de acesso aos demais programas foram disponibilizadas dentro do PDE Escola de modo que a escola somente terá acesso a elas, caso preencha as abas anteriores, como num game onde só se alcança algumas fases, depois da ultrapassagem das anteriores. Constam atualmente nesta plataforma, seis programas endereçados às redes municipais de ensino: Mais Educação, Água na Escola e Esgotamento Sanitário, Escolas Sustentáveis, Atleta na escola, Escolas do Campo e PDE Escola. Além de receberem o recurso diretamente em suas contas, as UE's tornam-se responsáveis pela elaboração e execução
3 03268 desses programas que, segundo o MEC, é um mecanismo importante para garantir a autonomia da escola e fortalecer a gestão democrática. Contudo, sua materialização vem se dando de maneira muito controversa, já que a constatação feita caminha na contramão desta ideia. O PDE Escola no contexto da educação municipal da Serra/ES O município da Serra aderiu ao PDE Escola a partir do ano de 2008, sendo implementado em seis Escolas de Ensino Fundamental (EMEFs), consideradas prioritárias. Como a prova Brasil é realizada a cada dois anos, a inclusão de escolas ocorre neste período. Assim, em 2010 foram incluídas mais vinte e seis, em 2012, mais seis e em 2014, também mais seis. De modo que hoje do total de sessenta e cinco EMEFs, quarenta e quatro recebem recursos via PDE Escola. Conforme já explicitado neste texto, o caso da Serra evidencia os impactos do atual modelo de gestão das políticas educacionais pelo governo federal aos municípios e, consequentemente, na gestão escolar. Corroborando a ideia propugnada pela maioria dos estudiosos do tema, trata-se de um plano onde se privilegia o planejamento com os gastos em detrimento do planejamento de ações pedagógicas (OLIVEIRA, FONSECA e TOSCHI, 2005), ao contrário do que se advoga em sua concepção. O que já de início compromete seu objetivo principal que seria elevar a qualidade da educação. Todavia, trata-se de um processo permeado por contradições e tensões. Assim, a implementação desse programa, revela a fragilidade institucional dos municípios concernente as suas capacidades/autonomia para conduzirem a política educacional (VIEIRA, 2011). O que aumenta a probabilidade da influência desses programas em suas práticas. Além disso, explicita a atuação do governo federal que, na nossa avaliação não vem desempenhando o seu papel de coordenador das políticas educacionais, e sim de indutor por meio de programas vinculados a repasses de recursos (ABICALIL, 2013; ARAÚJO, 2013; DOURADO, 2013). Tampouco vem contribuindo com a necessária instituição de mecanismos de colaboração na implementação das políticas, já que sua estratégia tem sido a de se relacionar verticalmente com os municípios, descentralizando programas e ações para os seus órgãos gestores (Secretaria e UEs). Esse processo, contudo, mediante as responsabilidades dos municípios em relação à oferta educacional, evidencia a insuficiência de recursos necessários a sua manutenção
4 03269 bem como a tímida participação da União no repasse de recursos por meio desses programas. Assim, os municípios não tem motivação para aderirem a tais programas já que seus maiores encargos ficam na conta dos cofres municipais. Um caso que denotou a posição do município neste sentido, diz respeito ao programa Escolas Sustentáveis, lançado no ano de O principal fator explicativo para sua adesão consistiu na confluência entre a proposta do programa e o tema escolhido para o projeto de maior visibilidade da educação no município, encabeçada pelo grupo político que assumiu a Secretaria naquele período: Sustentabilidade. Dessa forma, percebemos também além da fragilidade do órgão central, a fragilidade das escolas na condução de seus processos pedagógicos. E isto ocorre por vários fatores: a) ausência de articulação das ações ao Projeto Político Pedagógico (PPP), que ainda não se constitui em um instrumento de busca da identidade e fortalecimento da autonomia da escola; b) o contexto tende a produzir resistência, principalmente em relação ao método proposto e às exigências técnicas e burocráticas dos programas, complexificando e intensificando as atividades dos profissionais da educação; c) destinação de recursos à aquisição de materiais pedagógicos e equipamentos incompatíveis com a provisão de espaços físicos adequados e profissionais para atuarem com essas ações pedagógicas; d) estruturação e proposta no Programa não condizente com a realidade e organização dos tempos/espaços da escola e; d) alta concentração nas mãos do diretor e baixa participação e pouco envolvimento de professores e/ou demais servidores. Conclusão Apesar de reconhecermos os méritos técnicos do PDE Escola e de suas possibilidades de fortalecer o processo de descentralização de recursos e de inovação das práticas pedagógicas no interior das escolas, consideramos que este não se constitui numa real possibilidade de elevar a qualidade da educação por todos os motivos aqui expostos. Além de seguir com os traços da história da educação brasileira com avanços e percalços, mas que não deu o passo essencial para a sua transformação. Pela mesma história também foi possível identificar os elementos para sua efetiva transformação: financiamento, com maiores recursos; autonomia da escola, com democratização das relações; reconhecimento, por parte da sociedade de sua importância para a elevação não só do nível intelectual de seu povo, mas na formação de cidadãos críticos e ativos, de sujeitos que compreendem o mundo em que vivem e tenham autonomia para atuar
5 03270 nele. Seria relevante a realização de estudos que avaliem os gastos da União com estes programas e seu impacto no orçamento público municipal. REFERÊNCIAS ABICALIL, Carlos Augusto. Sistema Nacional de Educação: os arranjos na cooperação, parceria e cobiça sobre o fundo público na educação básica. Educação & Sociedade. Revista de Ciências da Educação/Centro de Estudos Educação e Sociedade. Vol. 34. jul-set São Paulo: Cortez; Campinas, CEDES, 2013, p ARAÚJO, Gilda Cardoso de. Federalismo e políticas educacionais no Brasil: equalização e atuação do empresariado como projetos em disputa para a regulamentação do regime de colaboração. Educação & Sociedade. Revista de Ciências da Educação/Centro de Estudos Educação e Sociedade. Vol. 34. jul-set São Paulo: Cortez; Campinas, CEDES, 2013, p BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. mun=serra&municod= &estuf=es&muncod=32050 DOURADO, Luiz Fernandes. Sistema Nacional de Educação, federalismo e os obstáculos ao direito à educação básica. Educação & Sociedade. Revista de Ciências da Educação/Centro de Estudos Educação e Sociedade. Vol. 34. jul-set São Paulo: Cortez; Campinas, CEDES, 2013, p OLIVEIRA, João Ferreira; FONSECA, Marília; TOSCHI, Maria Seabra. O programa FUNDESCOLA: concepções, objetivos, componentes e abrangência - a perspectiva de melhoria da gestão do sistema e das escolas públicas. Educação e Sociedade, Campinas-SP, v. 26, n. 90, p , VIEIRA, Sofia Lerche. Poder local e educação no Brasil: dimensões e tensões. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), v. 27, p , i O PDE escola é concebido como um processo de planejamento estratégico desenvolvido pela escola para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Advoga que a escola deve, de maneira disciplinada, conjugar esforços para produzir decisões e ações fundamentais que moldam e guiam o que ela é, o que faz e por que assim o faz, com um foco no futuro. Dentro deste modelo, a escola deve preparar um Plano de Ação apontando os objetivos e metas a serem alcançadas. Trata-se de um projeto importado no final dos anos de 1990, pautado em orientações do Banco Mundial (BM) quando do estabelecimento de parcerias com organismos internacionais para, dentre outros objetivos, realizar empréstimos e, como contrapartida, fazer concessões político ideológicas, além das econômicas (OLIVEIRA, FONSECA e TOSCHI, 2005). ii O IDEB foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação. Assim, para que o IDEB de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos. iii O PDE foi lançado em 2007, por meio do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, instituído pelo Decreto de 24 de abril de Trata-se, segundo consta neste documento, de um compromisso fundado em 28 diretrizes e consubstanciado em um plano de metas concretas, efetivas, que compartilha competências políticas, técnicas e financeiras para a execução de programas de manutenção e desenvolvimento da educação básica (BRASIL, MEC, 2014). iv Escolas cujo IDEB, estava abaixo da média nacional estabelecida para aquele ano.
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