Domínio Sociocultural: Uma abordagem para a ação pedagógica a partir de um Objeto de Aprendizagem
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- Manoela Mirandela de Almeida
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1 Domínio Sociocultural: Uma abordagem para a ação pedagógica a partir de um Objeto de Aprendizagem Alexandra Lorandi Macedo 1, Cláudia Zank 1, Patricia Alejandra Behar 1 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Av. Paulo Gama, Prédio º andar - Sala Porto Alegre RS - Brasil alorandimacedo@gmail.com, claudiazank@gmail.com, pbehar@terra.com.br Abstract. Too often human beings are faced with different social groupings and must act in order to achieve success in their relations with other individuals. These relations are composed of social, affective and cognitive aspects. As such, this article discusses the Sociocultural Domain and relates it to the DOCIAL Learning Object which deals with this issue. In one of its approaches the Object describes pedagogical actions based on teamwork, as it considers that this practice contributes to the success of social exchanges. Furthermore, the article also presents the application of the DOCIAL with a group of undergraduates and the results of this application. Resumo. Com grande frequência o ser humano depara-se com diferentes agrupamentos sociais e precisa agir a fim de alcançar o sucesso nas relações com outros sujeitos. Dessas relações fazem parte aspectos sociais, afetivos e cognitivos. Nesse sentido, este artigo aborda o Domínio Sociocultural e faz relação com o Objeto de Aprendizagem DOCIAL que trata deste tema. Em uma de suas abordagens o Objeto descreve ações pedagógicas baseadas no trabalho em equipe, pois considera que essa prática contribui para o sucesso das trocas sociais. Além disso, o artigo também apresenta a aplicação do DOCIAL com um grupo do curso de graduação e os resultados dessa aplicação.
2 1. Introdução O primeiro círculo sociocultural a que o ser humano costuma ser submetido é o familiar. Em seguida, a escola proporciona novas condições sociais onde, a partir de diferentes situações, o indivíduo começa a conhecer e respeitar as normas coletivas. Para poder conviver com essas normas, é necessário que cada um exercite aspectos cognitivos, físicos e sociais a fim de se adequar aos limites e regras estabelecidas pelo grupo. Estes aspectos, bem como os fatores culturais, políticos e ideológicos, presentes em cada indivíduo e em cada grupo, são entendidos como pertencentes a dois eixos, o social e o cultural. Nesse sentido, eles abarcam as relações intra e interpessoais, uma vez que permitem ao sujeito expressar e comunicar, de modo adequado, seus sentimentos, desejos, opiniões e expectativas. Esses elementos podem, ainda, ser complementados sob a ótica afetiva. Acredita-se que significativas intervenções pedagógicas podem contribuir para o sucesso das trocas interindividuais e das novas construções realizadas pelos sujeitos ao longo do processo de aprendizagem. Uma das alternativas para proporcionar a construção de saberes que favoreçam as trocas interindividuais é o trabalho em equipe.com a intenção de relacionar e trabalhar, em contextos reais de educação, temáticas relacionadas ao domínio sociocultural, desenvolveu-se o objeto de aprendizagem (OA) DOCIAL. O objeto pode ser utilizado em práticas pedagógicas presenciais ou a distância com o intuito de proporcionar um debate acerca do domínio sociocultural com foco no trabalho em equipe. Diante disso, esse artigo trata, na próxima seção, dos aspectos relacionados ao trabalho em equipe e suas implicações na área do trabalho, da educação e da computação. A seção 3 apresenta o Objeto de Aprendizagem DOCIAL, sua validação em uma turma de graduação em Pedagogia e os resultados obtidos. A seção 4 discute algumas possibilidades de práticas focadas em ações em equipe. Por fim são apresentadas as considerações finais. 2. Trabalho em Equipe As equipes têm sido vistas como uma forma de organização do trabalho com a qual se alcançam objetivos com maior eficiência e rapidez. Com isso, cresce a exigência de contratação por trabalhadores que saibam se articular desta forma. No que tange à computação, diferentes recursos informáticos são desenvolvidos com o intuito de apoiar e potencializar o trabalho em equipe. Já nas escolas, discute-se cada vez mais esse tipo de trabalho que mostra sua força ao oferecer significativas possibilidades de conflito sóciocognitivo e, portanto, de construção do conhecimento. Nesse sentido, a seguir são descritos três diferentes focos do trabalho em equipe, são eles: trabalho em equipe no contexto do trabalho, no contexto da educação e no contexto da computação. 2.1 Trabalho em equipe no contexto do trabalho Empresas e pessoas buscam o trabalho em equipe por diferentes razões. Estas, no entanto, podem ser classificadas, basicamente, como materiais e não materiais. No que tange às empresas, a escolha pelas equipes como forma de organização do trabalho normalmente se
3 relaciona à competitividade. Entende-se que as equipes contribuem para o aumento da produtividade e diminuição dos custos. No entanto, existem organizações e instituições que se organizam em equipes, mas não têm como objetivo a competitividade. É o caso, por exemplo, das escolas e hospitais públicos. Da mesma maneira, mesmo quando a formação de equipes não é uma exigência da organização, há pessoas que buscam trabalhar desta forma. Esta busca parece ir ao encontro de realizações pessoais como o prazer de oferecer um serviço de qualidade, a aprendizagem que o grupo proporciona, a novidade que o outro representa ou, ainda, o prazer ou a necessidade da convivência social. Ainda no que tange ao âmbito do trabalho, um aspecto que merece análise criteriosa diz respeito aos termos equipe e grupo, geralmente tratados como sinônimos e utilizados sem maiores reflexões. Nesse sentido, este artigo concorda com os teóricos da administração que entendem grupo e equipe como diferentes formas de organização e que, portanto, possuem características distintas. Assim, as características 1 de equipe podem ser agrupadas em três dimensões: a) Produto: É resultado de um trabalho coletivo. Em outras palavras, é a soma dos trabalhos individuais otimizada pelas interações entre os participantes. b) Processo: Trabalha-se individualmente, mas também há esforço conjunto, o qual ocorre por meio de diálogo, negociação e cooperação entre os membros. c) Pessoas: Sentem-se comprometidas e responsáveis em relação ao trabalho e ao objetivo que se quer atingir, mas também em relação aos colegas. Neste sentido, há preocupação, respeito e incentivo ao crescimento do outro. Enquanto em grupo as dimensões Processo e Pessoas não são valorizados (ZANK, RIBEIRO, BEHAR, 2011), equipe é vista como uma coletividade que se articula de forma bastante equilibrada, na qual o outro é tão importante quanto o produto do seu trabalho. A dúvida que se apresenta é se as coletividades existentes nas empresas possuem, de fato, as características de equipe. Sennet (2005) diz que não. Para este autor, as equipes não passam de ficção. Se equipes são as coletividades possuidoras das características apontadas, pressupõe-se que existem coletividades que apenas discursem trabalhar em equipe, pois não possuem tais características. Logo, Zank, Ribeiro e Behar (2011) sugerem utilizar o termo pseudoequipes 2 para se referir às organizações que discursam o trabalho em equipe, mas que, na prática, trabalham em grupo. 2.2 Trabalho em equipe no contexto da educação As equipes, além do campo do trabalho, também têm mostrado ganhos e novas formas de produzir e propagar conhecimento na área da educação. Nesse contexto, destaca-se Piaget 1 Levantamento realizado a partir de Katzenbach e Smith (1994); Preisler, Borba e Battirola (2002); 2 Termo cunhado por Katzenbach e Smith (1994).
4 (1973), que entende o fator social como um elemento essencial na construção do conhecimento. Assim, quando os participantes de um grupo têm o desafio de desenvolver um trabalho em conjunto e não conseguem, pode ser que não tenham tido sucesso na estruturação das regras, valores e sinais, segundo sustenta a teoria piagetiana. Esses três aspectos constituem a troca social (PIAGET, 1973). As regras podem ter a função de estruturar os símbolos. Assim, as regras podem ser, por exemplo, as normas que regem a construção de um texto. Em paralelo, os valores correspondem aos interesses dos indivíduos, seus esforços, suas vontades em relação à ação e também aos valores de troca que constituem a dependência nas relações. Por fim, os sinais servem como meio para transmissão das regras e valores. Os sinais, seguindo o exemplo anterior, podem então se referir ao conhecimento da linguagem escrita pelos integrantes do grupo. Com base nessa perspectiva, entende-se que os três aspectos (regras, valores e sinais) são fundamentais para sustentar a construção coletiva, a troca social frente ao desenvolvimento de um projeto ou atividade. Quando os sujeitos trabalham em grupo, podem desencadear um conflito sócio-cognitivo. Para Piaget (1973), esse conflito se dá a partir do confronto entre esquemas de diferentes sujeitos. Nesse sentido, ele pode gerar um desequilíbrio afetivo e cognitivo entre os alunos que buscam, a partir das interações, construir uma nova informação, podendo, ou não, alcançar um novo equilíbrio. Além disso, outro elemento importante a investigar é a presença ou ausência de relações de egocentrismo, coação e cooperação. Quando da presença do egocentrismo, os sujeitos não conseguem coordenar seus pontos de vista, uma vez que entendem as coisas e os demais indivíduos a partir de suas próprias ações. Essa condição pode comprometer significativamente a qualidade da troca social. A situação de desequilíbrio também pode acontecer quando um indivíduo adota o ponto de vista do outro não de forma espontânea, mas sob efeito de sua autoridade ou prestígio. A isso Piaget (1998) chama de coação. O autor ressalta que tal circunstância pode ser identificada quando um determinado indivíduo respeita o outro sem ser respeitado. Diante do processo de troca interindividual, essa situação pode configurar a aceitação da contribuição de um colega da equipe, sem necessariamente haver concordância dos demais participantes. A divergência de perspectivas, a não coordenação de diferentes pontos de vista compromete a troca e o alcance da cooperação. Frente a esse cenário, no que tange à prática docente, entende-se que esta deve aprender a reconhecer e escolher ações que tenham chance de produzir resultados cognitivos, transformando, assim, as estruturas de conhecimento de cada sujeito (BECKER, 2003). 2.3 Trabalho em equipe no campo da computação A partir de necessidades nos âmbitos do trabalho e da educação, realizam-se esforços e pesquisas com o intuito de promover, possibilitar e aumentar o potencial de diferentes modalidades de produções coletivas via web. Neste contexto, duas áreas de pesquisa se destacam: CSCW (Computer-Supported Cooperative Work - Trabalho Cooperativo Apoiado por Computador) e CSCL (Computer Supported Collaborative Learning - Aprendizagem Colaborativa Apoiada por Computador).
5 A área CSCW preocupa-se com o mundo do trabalho, desenvolvendo tarefas produtivas comercialmente, e a CSCL preocupa-se com a aprendizagem colaborativa, a qual permitirá aos alunos agir posteriormente no mundo do trabalho (STAHL, 2006). Tanto na área do CSCW quanto na do CSCL objetiva-se o desenvolvimento de ferramentas que possam dar suporte para determinadas ações ou atividades. O apoio às ações ocorre, geralmente, por meio de diferentes formas de interação. Em termos computacionais, podese dizer que estas interações se realizam graças a um conjunto de ferramentas e/ou funcionalidades estruturadas em um groupware. Neste sentido, aplicativos groupware são ferramentas ou conjuntos de ferramentas que, combinados de diferentes formas, podem proporcionar diferentes graus de interação e possibilidades de trabalho coletivo. Destaca-se que neste estudo a expressão trabalho coletivo é utilizada com o mesmo sentido de trabalho em equipe e trabalho cooperativo. Normalmente um groupware conta com um espaço de trabalho, que deve ser compartilhado por todos e que possibilite a realização de atividades concretas, como a criação de um texto, ou abstrata, como tomar uma decisão. O espaço de trabalho pode ser, portanto, uma edição de texto, um quadro-branco para desenho, etc (CAMPOS et al., 2003). Além do espaço de trabalho, os groupwares ainda contam com ferramentas de suporte à produção coletiva. Nesta perspectiva, uma aprendizagem mediada por computador, no qual se faça uso de aplicativos groupware, pode possibilitar resultados educacionais acadêmicos e relacionados à aprendizagem, mas também resultados voltados à sociabilidade e à formação profissional - Na maioria dos casos, o processo de colaboração entre os alunos (e, frequentemente, o professor, tutor ou mentor) é mais importante do que o computador. O software é feito para dar suporte, e não para substituir esses processos (STAHL, KOSCHMANN, SUTHERS, 2006, p. 7). 3. Objeto de Aprendizagem com Foco no Domínio Sociocultural Objeto de Aprendizagem (OA) DOCIAL foi desenvolvido com a intenção de relacionar e trabalhar, em contextos reais de educação, o tema domínio sociocultural. Nesse estudo, entende-se OA como um material digital com fins educacionais (BEHAR et al, 2009). Este objeto tem como objetivo proporcionar um debate acerca do domínio sociocultural com foco no trabalho em equipe. Para tanto, percorre os âmbitos do trabalho, da educação e da computação. Nesta caminhada, discorre sobre a noção de domínio sociocultural, os diferentes tipos de coletividade existentes no âmbito do trabalho, práticas pedagógicas voltadas à aprendizagem colaborativa e recursos digitais que podem dar suporte a estas práticas. O objeto divide-se em quatro módulos assim organizados: (1) Domínio Social, (2) Equipe no Campo do Trabalho, (3) Equipe no Campo da Educação e (4) Equipe no Campo da Computação. Cada módulo é composto por texto com fundamentação teórica sobre o assunto, slides que sistematizam as informações contidas nesse texto e desafios (atividades) que têm por objetivo proporcionar reflexões e discussões sobre os assuntos tratados. Os
6 temas podem ser trabalhados de forma alternada, assim como os desafios podem sofrer adaptações para se adequarem a cada público de usuários. O OA foi planejado para ser vinculado à disciplinas de graduação, pós-graduação e extensão e aplicado na modalidade presencial, semipresencial ou a distância. Além disso, este também pode ser utilizado em cursos para formação de professores ou profissionais que queiram aprimorar seus conhecimentos sobre o domínio sociocultural. Destaca-se que cada módulo possui uma seção de material de apoio para que os usuários possam aprofundar as leituras sobre o tema. Além disso, sabe-se que a necessidade de proporcionar aos sujeitos o desenvolvimento de elementos como senso crítico, dinamismo, criatividade, expressão escrita, pessoal e a capacidade de trabalhar em equipe mostram-se cada vez mais latentes tanto no contexto do trabalho quanto da educação. Em paralelo, a área da computação se esforça para desenvolver recursos que deem suporte para esse movimento que é dinâmico e constante. Isso porque práticas apoiadas na cooperação têm mostrado significativos resultados. Os benefícios apontam ganhos na qualidade não só no resultado das produções construídas, mas também no desenvolvimento pessoal dos sujeitos envolvidos. Diante disso, o OA apresenta uma gama de ferramentas que se aplicam às mais diferentes áreas e podem favorecer e viabilizar as trocas interindividuais. As aplicações são variadas, mas com um mesmo objetivo: proporcionar que todos os participantes possam trabalhar juntos, em prol de uma mesma meta. O Objeto de Aprendizagem DOCIAL é de domínio público e pode ser acessado em: Este OA foi aplicado em uma turma de graduação para validação do mesmo. Na próxima seção são apresentados os resultados. 3.1 Aplicação do DOCIAL e resultados O Objeto de Aprendizagem DOCIAL foi aplicado em 2012/1 na disciplina O Computador na Educação do curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na ocasião foram desenvolvidas quatro aulas, totalizando 20h/aula, sendo duas a distância e duas presenciais. As aulas contemplaram momentos de leitura, debate e proposição de desafios (atividades) a partir dos temas de cada módulo. A primeira e terceira aulas foram presenciais, já a segunda e a quarta foram desenvolvidas a distância. Todas elas tiveram suporte do Objeto de Aprendizagem e do ambiente virtual ROODA ( O ambiente virtual serviu de apoio para os debates a partir da ferramenta Fórum, para postagem de atividades através do Webfólio e também para sanar as dúvidas que surgiam ao longo do processo, tendo como suporte tanto o Fórum como as mensagens que podem ser enviadas de forma particular. Além destes, os alunos utilizaram o Diário de Bordo para postar reflexões sobre seu processo de aprendizagem e possíveis dificuldades que encontraram durante o desenvolvimento das atividades. A primeira aula abordou o tema Domínio Sociocultural. O objetivo foi apresentar as ferramentas que apoiaram as ações do curso, a estrutura do mesmo, o assunto central e suas perspectivas. A segunda aula tratou da Equipe no Campo do Trabalho. Nesta etapa, a
7 distância, tanto o momento de debate, no Fórum do Rooda, quanto o de realização do desafio proposto tiveram por objetivo favorecer o desenvolvimento da autonomia dos alunos. Para participar do debate e desenvolver as atividades, os alunos precisaram se apropriar do assunto, sintetizar e construir suas proposições sobre o tema. Na terceira e quarta aula, os módulos trabalhados foram: Equipe no Campo da Educação e Equipe no Campo da Computação. Estas aulas tiveram por objetivo proporcionar aos alunos momentos de reflexão sobre como a tecnologia pode potencializar as trocas sociais e como as estratégias pedagógicas podem ser estruturadas para alcançar tal fim. No último encontro foi proposto, como desafio, que os alunos criassem um plano de aula utilizando uma ferramenta colaborativa. Este desafio reunia os módulos trabalhados nas aulas três e quatro, uma vez que, para realizá-lo, os alunos deveriam levar em consideração os recursos digitais e a abordagem sobre práticas pedagógicas. No que se refere à avaliação, a prática com o OA DOCIAL seguiu a proposta da disciplina de realizar uma avaliação formativa. Para tanto, foram utilizados como instrumentos a participação no Fórum e no Diário de Bordo bem como a realização das atividades propostas. Na última aula foi distribuído um questionário. O intuito foi coletar dados para discutir a experiência com o DOCIAL. Na construção do mesmo levou-se em conta os seguintes indicadores: de Conteúdo e de Didática. O objetivo foi, a partir da análise dos questionários, verificar o nível de satisfação dos alunos na utilização do objeto. O indicador de Conteúdo relaciona-se ao nível de satisfação dos alunos com os textos disponibilizados no objeto. Nesse sentido, a maioria dos alunos apontou o conteúdo como claro e conciso. Segundo os mesmos, o OA apresenta os conceitos básicos acerca das temáticas trabalhadas e os descreve bem. Além disso, também conta com informações precisas e atuais. A aluna Ana (os nomes foram trocados para preservar a identidade dos alunos) relata: Conteúdo dinâmico, claro. Não são textos longos, o que ajuda na leitura. Salienta-se, no entanto, que o nível de satisfação não foi total. A aluna Anaí, por exemplo, ainda que tenha considerado os conteúdos enriquecedores e completos, também relata que: [...] nem sempre são de fácil entendimento, sendo necessário mais de duas leituras para sua compreensão total. Já para o aluno Sena o problema foi com as atividades, diz o aluno: Nem todas as instruções para as atividades considero claras. Com relação ao indicador de Didática, esse permite avaliar a satisfação dos alunos quanto aos conceitos apresentados no objeto e quanto à utilização dos diferentes recursos
8 multimídia. Nesse sentido, os alunos apontaram que os conceitos são apresentados de forma contextualizada e que se relacionam entre si, apesar de constarem em diferentes módulos. Com relação aos recursos multimídia, estes não foram identificados como uma das qualidades do OA. Por outro lado, os hipertextos foram extremamente valorizados, como aponta a aluna Ana: Facilitador do aprendizado: links que geram outros textos são sempre interessantes. Utiliza-se de hipertextos. Quando tu percebes, leu uma quantidade suficiente para um objetivo sem que a leitura se torna-se chata e cansativa. A análise dos dados indica que, ainda que os alunos mostrem certo grau de satisfação com o DOCIAL, pode haver necessidade de o mesmo ser aprimorado. Portanto, nesse momento, novas análises e estudos estão em fase de desenvolvimento para melhor qualificar o material e prepará-lo para novas aplicações. O interesse em aplicar o OA e aprimorar seu conteúdo e didática tem estreita relação com a utilização desde Objeto para a formação de professores. Neste viés, uma das abordagens que o OA destaca é a de práticas pedagógicas que favoreçam esse movimento, conforme trata a próxima seção. 4. Possibilidades de Práticas Pedagógicas que Privilegiam o Trabalho em Equipe Esta seção tem por objetivo apontar algumas possibilidades para apoiar o trabalho do professor que deseja proporcionar aos alunos práticas em equipe. Ressalta-se que quando uma equipe apresenta indícios de dificuldade para a construção de um trabalho coletivo, é interessante que a prática privilegie experiências estimuladoras de decisão e responsabilidade (FREIRE, 2003). Por exemplo, o professor, ao desafiar uma equipe a desenvolver, em uma ferramenta colaborativa, o planejamento pedagógico de um curso que tenha como foco o tema interatividade, pode perceber limitações em relação ao conteúdo e/ou em relação a participação dos envolvidos. Uma possibilidade para resgatar a equipe é a de o professor disparar desafios que favoreçam tanto a tomada de decisões, quanto a busca por recursos que possam beneficiar novas construções e permitam aos alunos avançar qualitativamente na produção. Destaca-se que esta atividade foi proposta no módulo 3 do DOCIAL e as ferramentas colaborativas estão descritas na seção Práticas Pedagógicas no mesmo módulo. Os desafios e questionamentos propostos no Objeto de Aprendizagem DOCIAL, além de contribuir para o desenvolvimento dos alunos, também servem de referência ao professor, que precisa conhecer o potencial e as limitações de cada indivíduo. Tanto os desafios quanto os questionamentos possibilitam a criação de condições favoráveis à constituição ou ao aparecimento da autonomia, além de criar condições para que os alunos desenvolvam a capacidade de trabalhar em equipe, de desenvolver o pensamento crítico e a aprender a aprender. Destaca-se ainda que, num cenário onde os alunos conseguem desenvolver um trabalho coletivo, os questionamentos e desafios sugerem elementos de
9 base para que o professor identifique o nível de conhecimento dos sujeitos sobre o tema. Com isso, é possível proporcionar materiais e discussões que viabilizem o aprofundamento teórico sobre o assunto abordado. Visando esta prática, o OA DOCIAL contempla, na sessão Material de Apoio, referências avançadas sobre cada tema (textos, vídeos e hipertextos). Com base nas relações feitas, destaca-se que práticas pedagógicas que privilegiem a discussão, tomada de decisões, análise, leitura e pesquisa, tendem a proporcionar melhores condições para o desenvolvimento da autonomia, do pensamento crítico, do aprender a aprender. Logo, é possível que novas condições de trabalho e novas relações sejam favoráveis ao desenvolvimento do trabalho em equipe. Na prática, as ações aqui descritas puderam ser trabalhadas com o uso do DOCIAL e do ambiente ROODA. Tais recursos proporcionaram condições tanto para uma mediação pedagógica que tinha como foco favorecer o aprimoramento das produções e das trocas sociais, quanto novos enfoques de desenvolvimento aos participantes que já alcançaram os objetivos propostos na atividade. 5. Considerações Finais Mesmo presente em todos os momentos da vida, o domínio social-cultural está constantemente evoluindo, pois assim como mudam as pessoas nos diferentes contextos, mudam as relações, sempre complexas, uma vez que abarcam especificidades e particularidades. Neste viés, diferentes áreas de pesquisa tentam compreender o trabalho coletivo, seu potencial e suas possibilidades. No que diz respeito à educação, pesquisas ancoradas em Piaget (1973) revelam o fator social como essencial na construção do conhecimento. A partir de então, a aprendizagem colaborativa toma força e novas ferramentas e ambientes de aprendizagem passam a ser desenvolvidos com o intuito de criar condições para o desenvolvimento do trabalho em equipe, favorecendo a comunicação e a negociação entre os pares. Foi nesse sentido, e também para favorecer que alunos e docentes relacionem e trabalhem o tema domínio sociocultural com foco no trabalho em equipe, que se desenvolveu o Objeto de Aprendizagem DOCIAL. A partir da aplicação do OA em uma turma de Graduação em Pedagogia foi possível verificar o nível de satisfação dos usuários quanto à utilização do DOCIAL. Nesse sentido, ainda que se tenha constatado certo grau de satisfação, novos estudos e análises estão em fase de desenvolvimento. O intuito é proporcionar ao objeto mais altos patamares qualitativos e, com isso, viabilizar novas aplicações em outros contextos educacionais. 6. Referências Becker, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, Behar, Patricia A.; Macedo, Alexandra L.; Souza, Ana Paula F.; Bernardi, Maira. Objetos de aprendizagem para educação a distância. In: Behar, Patricia A. (org). Modelos Pedagógicos em Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.
10 Campos, Fernanda C.A.; Santoro, Flávia Maria; Borges, Marcos R.S.; Santos, Neide. Cooperação e aprendizagem on-line. Rio de Janeiro: DP&A, Chiavenato, Idalberto. Comportamento Organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, Coll, César. Aprendizagem Escolar e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, Freire, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, Katzenbach, John R E Smith, Douglas K. A força e o poder das equipes, São Paulo: Makron, Moscovici, Fela. A organização por trás do espelho: reflexos e reflexões. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, Piaget, Jean. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, Sobre a Pedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, Preisler, Adriano Milton; Borba, Jadson Alberto; Battirola, Júlio César. Os tipos de personalidade humana e o trabalho em equipe. Rev. PEC, Curitiba, v.2, n.1, p , jul jul Robbins, Stephen Paul. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, Sennett, Richard. A Corrosão do Caráter: Consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 10.ed.. Rio de Janeiro: Record, 2005 Stahl, Gerry, (2006). Group cognition: Computer support for building collaborative knowledge. Cambridge, MA: MIT Press. Disponível em: Acesso em agosto Stahl, Gerry, Koschmann, Timothy, Suthers, Dan, (2006). Computer-supported collaborative learning: A historical perspective. In R. K. Sawyer (Ed.), Cambridge handbook oh the learning sciences. New York: Cambridge University Press. Disponível em: Acesso em: agosto Zank, Cláudia; Ribeiro, Jorge Alberto Rosa; Behar, Patricia Alejandra. Um Estudo sobre Coletividades no Âmbito do Trabalho. In: XII Encontro Nacional da ABET Associação Brasileira dos Estudos do Trabalho João Pessoa. Anais.
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