Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

Transcrição

1 ACÓRDÃO N Relatora: Juíza Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli Recorrente: Partido dos Trabalhadores de Gaspar Vistos, etc., RECURSO ELEITORAL - PRESTAÇÃO DE CONTAS - PARTIDO POLÍTICO - EXERCÍCIO FINANCEIRO DE RECEBIMENTO DE DOAÇÕES DE DETENTORES DE MANDATO ELETIVO: PREFEITO, VICE-PREFEITO, E VEREADOR - EXCLUSÃO DA VEDAÇÃO LEGAL - DOAÇÕES LÍCITAS - ART. 5 o, 1 o, DA RESOLUÇÃO TSE N / IMPROPRIEDADE AFASTADA - RECEBIMENTO DE DOAÇÕES DE DETENTORES DE CARGOS DEMISSÍVEIS AD NUTUM - DIRETOR DE TRANSPORTE COLETIVO E CHEFE DE GABINETE - FONTE VEDADA - IRREGULARIDADE GRAVE - ART. 31, II, DA LEI 9.096/95 E ART. 5 o, II, DA RESOLUÇÃO TSE N / DESAPROVAÇÃO DAS CONTAS - APLICAÇÃO PROPORCIONAL DA SANÇÃO - SUSPENSÃO DO REPASSE DE COTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO PELO PRAZO DE 6 (SEIS) MESES - PROVIMENTO PARCIAL [Precedentes: TSE, Acórdão n , de , Relator Ministro José de Castro Meira; TRESC. Acórdão n de , Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Góes], ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele dar provimento parcial, para determinar a devolução ao Fundo Partidário do valor de R$ 160,00 (cento e sessenta reais) e, por maioria de votos - vencidos os Juízes Hélio do Valle Pereira e Ivorí Luis da Silva Scheffer, que suspendiam as cotas por 1 (um) mês - reduzir a suspensão do repasse de cotas do Fundo Partidário para o período de 3 (três) meses, nos termos do voto da Relatora, que fica fazendo parte integrante da decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

2 RELATÓRIO Trata-se de recurso eleitoral interposto pelo Partido dos Trabalhadores de Gaspar, contra sentença proferida pelo MM. Juiz da 64 a Zona Eleitoral - Gaspar (fls ), que julgou desaprovadas suas contas referentes ao exercício financeiro de 2012, determinando a suspensão do recebimento de novas cotas do Fundo Partidário pelo período de 1 (um) ano e, ainda, o recolhimento ao erário do valor de R$ ,00 (trinta e cinco mil, setecentos e sessenta reais), em virtude da obtenção de doações oriundas de fonte vedada. Em seu recurso (fls ), o recorrente sustentou que o juiz de primeiro grau interpretou de maneira equivocada a legislação, uma vez que considerou como fontes vedadas para doação os ocupantes de cargo eletivo (prefeito, vice-prefeito e vereador) e o ocupante do cargo de Chefe de Gabinete. Sustenta que o 1 o do art. 5 o da Lei n /2004 considera lícitas as doações provenientes de ocupantes dos referidos cargos, uma vez que os exclui da vedação. Acostou jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral e deste Tribunal Regional. Por fim, requer o provimento do recurso para reformar a sentença de primeiro grau e aprovar as contas, com ou sem ressalvas. Com vista dos autos, o Ministério Público Eleitoral de primeiro grau manifestou-se pelo desprovimento do recurso, para manter a sentença tal como foi proferida (fls ), no que foi acompanhado nesta instância, pela Procuradoria Regional Eleitoral (fls ). É o relatório. VOTO A SENHORA JUÍZA BÁRBARA LEBARBENCHON MOURA THOMASELLI (Relatora): Sr. Presidente, o recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, pelo que deve ser conhecido. No caso em tela, as contas do Partido dos Trabalhadores de Gaspar, referentes ao exercício financeiro de 2012, foram desaprovadas pelo juízo a quo em razão do recebimento de recursos provenientes de fonte vedada que, ao entendimento do Juízo de origem, abrangeria os detentores de mandato eletivo. O art. 31 da Lei n /1995, repetido no art. 5 o da Resolução TSE n /2004, lista as autoridades e entidades impedidas de efetuar doações a partidos políticos. No entanto, o 1 o do art. 5 o da Resolução TSE n /2004 exclui da vedação os agentes políticos - tais como os detentores de cargo eletivo - dentre outras autoridades, conforme a seguir se transcreve: Art. 5 o O partido político não pode receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie,.< 2,

3 Fls. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina procedente de (Lei n 9.096/95, art. 31, incisos I a IV): I - entidade ou governo estrangeiros; II -autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações do Fundo Partidário; III - autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais; e IV - entidade de classe ou sindical. 1 o A vedação às contribuições e auxílios provenientes das pessoas abrangidas pelo termo autoridade, inserto no inciso II, não alcança os agentes políticos e os servidores públicos filiados a partidos políticos, investidos em cargos, funções, mandatos, comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais, no âmbito dos poderes da União, estados, Distrito Federal e municípios [grifei]. Como se observa, a questão levantada no presente recurso cinge-se à delimitação do conceito de autoridade para fins de verificar se os recursos recebidos pelo partido político são ou não provenientes de fonte vedada. O partido recebeu recursos de detentores de cargos demissíveis ad nutum e de agentes políticos. Na resposta à consulta n /DF - Resolução n /2007, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que é vedada a contribuição aos titulares de cargos demissíveis ad nutum que ostentem a condição de autoridade, sendo esta ultima definida por detentores de cargos de chefia e direção. Transcrevo a ementa da referida consulta: Partido político. Contribuições pecuniárias. Prestação por titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta. Impossibilidade, desde que se trate de autoridade. Resposta à consulta, nesses termos. Não é permitido aos partidos políticos receberem doações ou contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta, desde que tenham a condição de autoridades [TSE. Resolução n , de , Relator Ministro Cezar Peluso - grifei]. Já com relação aos agentes políticos, que no caso dos autos são detentores de mandato eletivo - vereadores, prefeito e vice-prefeita - as doações são lícitas, pois estes estão excluídos da vedação legal. Trago a tabela a seguir, com os nomes dos doadores, cargos ocupado e o total das doações efetuadas:

4 Antonio Carlos Dalsóquio Vereador CPF: R$ 940,00 Dirceu dos Passos Diretor Transporte Coletivo CPF: R$ 120,00 Doraci Vanz Chefe de Gabinete CPF: R$ 40,00 Jorge Luiz Wiltuschnig Vereador CPF: R$ 880,00 José Amarildo Rampelotti Vereador CPF: R$ 1.780,00 Mariluce Deschamps Rosa Vice-prefeita CPF: R$ 5.600,00 Pedro Celso Zuchi Prefeito CPF: R$ ,00 Total de doações recebidas R$ ,00 A soma das doações resulta no montante de R$ ,00 (trinta e cinco mil, setecentos e sessenta reais), conforme descrito no parecer conclusivo do analista técnico de fls No entanto, somente as doações de Dirceu dos Passos (Diretor de Transporte Coletivo) e de Doraci Vanz (Chefe de Gabinete), enquadram-se na vedação, totalizando R$ 160,00 (cento e sessenta) reais provenientes de fonte vedada. As doações realizadas pelo prefeito, vice-prefeita e vereadores são lícitas por se tratarem de agentes políticos detentores de mandato eletivo. A propósito, é o entendimento desta Corte, no Acórdão n , de , de relatoria do Juiz Carlos Vicente da Rosa Goés, conforme a totalidade da ementa a seguir transcrita: RECURSO - PRESTAÇÃO DE CONTAS - PARTIDO POLÍTICO - EXERCÍCIO DE RECEBIMENTO DE RECURSOS DE FONTE VEDADA - ART. 31, II, DA LEI N / CONCEITO DE AUTORIDADE ESTABELECIDO NA RESOLUÇÃO TSE N / EXEGESE. DOAÇÕES ORIUNDAS DE AGENTES POLÍTICOS- PREFEITO, VICE- PREFEITO, VEREADOR - RECURSOS QUE NÃO CONSTITUEM FONTE VEDADA - PRECEDENTE - IMPROPRIEDADE AFASTADA. "A doação ou contribuição de filiado detentor de mandato eletivo não é proibida pelo inciso II do art. 31 da Lei n /1995. Segundo entendimento mais recente do Tribunal Superior Eleitoral, a vedação alcança apenas os ocupantes de cargos demissíveis ad nutum da administração 4

5 FIs. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina direta ou indireta que tenham a condição de autoridade (Res. n , de , Min. José Augusto Delgado)" [TRESC. AC , de , rei. Juiz Nelson Juliano Schaefer Martins], DOAÇÕES ORIUNDAS DE OCUPANTES DE CARGOS DEMISSÍVEIS AD NUTUM, QUE EXERCEM ATIVIDADES DE DIREÇÃO OU CHEFIA - SECRETÁRIO MUNICIPAL, CHEFE DE GABINETE E PRESIDENTE DE AUTARQUIA - IMPOSSIBILIDADE - IRREGULARIDADE GRAVE, QUE COMPROMETE A CONFIABILIDADE DAS CONTAS. "Não é permitido aos partidos políticos receber doações ou contribuições de titulares de cargos demissíveis ad nutum da administração direta ou indireta, desde que tenham a condição de autoridades" [TSE. Consulta n , de , rei. Min. Cezar Peluso]. DESAPROVAÇÃO - RECOLHIMENTO DOS VALORES RECEBIDOS DE FONTE VEDADA AO FUNDO PARTIDÁRIO - SENTENÇA MANTIDA NESTE PONTO - SUSPENSÃO DO REPASSE DE COTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO - APLICAÇÃO PROPORCIONAL DA SANÇÃO NOS TERMOS DO ART. 37, 3 o, DA LEI 9.096/ REDUÇÃO DO PRAZO PARA 6 (SEIS) MESES - PRECEDENTE - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO [TRESC. Acórdão n , de , Relator Juiz Carlos Vicente da Rosa Goés - grifei]. Desse modo, tem-se que, do total da quantia arrecadada (R$ ,00), são consideradas doações ilícitas aquelas originárias dos detentores de cargos demissíveis ad nutum, isto é, do Diretor do Transporte Coletivo (R$ 120,00) e do Chefe de Gabinete (R$ 40,00), somando o total de R$ 160,00 (cento e sessenta reais) de recursos provenientes de fonte vedada. Os recursos recebidos de fonte vedada devem ser recolhidos ao Fundo Partidário, conforme estabelece o art. 28, inciso II, da Resolução TSE n /2004. Por fim, no que tange à suspensão do repasse de novas cotas do Fundo Partidário, entendo ser razoável e proporcional aplicar a sanção pelo prazo de 6 (seis) meses, segundo prescreve o art. 37, 3 da Lei 9.096/95 e conforme entendimento reiterado deste Tribunal, e não de 1 (um) ano como decidiu o Juízo de origem. Assim decidiu o Tribunal Superior Eleitoral, em precedente de relatoria do Ministro José de Castro Meira: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS DE PARTIDO. DOAÇÃO DE FONTE VEDADA. ART. 31, II, DA LEI 9.096/95. SUSPENSÃO DE COTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO. ART. 36, II, DA LEI 9.504/97. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. INCIDÊNCIA.

6 1. Na espécie, o TRE/SC, com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, concluiu que o recebimento de recursos no valor de R$ 940,00 oriundos de fonte vedada de que trata o art. 31, II, da Lei 9.096/95 - doação realizada por servidor público ocupante de cargo público exonerável ad nutum - comporta a adequação da pena de suspensão de cotas do Fundo Partidário de 1 (um) ano para 6 (seis) meses. 2. De acordo com a jurisprudência do TSE, a irregularidade prevista no art. 36, II, da Lei 9.096/95 - consistente no recebimento de doação, por partido político, proveniente de fonte vedada - admite a incidência dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na dosimetria da sanção. 3. Agravo regimental não provido [TSE. Acórdão n. 4879, de , Relator Ministro José de Castro Meira]. Ante o exposto, conheço do recurso e a ele dou parcial provimento, para manter a sentença que desaprovou as contas do Partido dos Trabalhadores de Gaspar, referentes ao exercício financeiro de 2012, determinar o recolhimento ao Fundo Partidário do montante de R$ 160,00 (cento e sessenta reais), e reduzir o período de suspensão do repasse de novas cotas do Fundo Partidário para o prazo de 3 (três) meses, de acordo com o que prescreve o artigo 37, 3 o da Lei n /95, contados a partir do trânsito em julgado desta decisão ou do cumprimento de eventual penalidade já imposta por este Tribunal, dando-se ciência desta decisão aos órgãos partidários pertinçiptes. É como voto. 6

7 EXTRATO DE ATA RECURSO ELEITORAL N RECURSO ELEITORAL - PRESTAÇÃO DE CONTAS - DE PARTIDO POLÍTICO - DE EXERCÍCIO FINANCEIRO (2012) - CONTAS - DESAPROVAÇÃO/REJEIÇÃO DAS CONTAS - 64 a ZONA ELEITORAL - GASPAR RELATORA: JUÍZA BÁRBARA LEBARBENCHON MOURA THOMASELLI RECORRENTE(S): PARTIDO DOS TRABALHADORES DE GASPAR ADVOGADO(S): CLAUDETE MARISE DE SOUZA PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ VANDERLEI ROMER PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso e, por maioria - vencidos os Juízes Hélio do Valle Pereira e Ivorí Luis da Silva Scheffer, que davam provimento integral ao apelo para aprovar as contas dar provimento parcial ao recurso para determinar a devolução ao Fundo Partidário do valor de R$ 160,00 (cento e sessenta reais) e reduzir o período de suspensão do repasse de cotas do Fundo Partidário para de 3 (três) meses, nos termos do voto da Relatora. Participaram do julgamento os Juízes Vanderlei Romer, Sérgio Roberto Baasch Luz, Ivorí Luis da Silva Scheffer, Carlos Vicente da Rosa Góes, Hélio do Valle Pereira, Vilson Fontana e Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli. PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE ACÓRDÃO N NA SESSÃO DE REMESSA Aos dias do mês de de 2014 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações e Processuais - CRIP. Eu,, Coordenador de Sessões, lavrei o presente termo. RECEBIMENTO Aos dias do mês de de 2014 foram-me entregues estes autos. Eu,, Coordenadora de Registro e Informações Processuais, lavrei o presente termo.