Não foram juntados documentos complementares aos autos.

Transcrição

1 PROCESSO Nº : /2011 INTERESSADO : CÂMARA MUNICIPAL DE ALTA FLORESTA ASSUNTO : CONSULTA RELATOR : CONSELHEIRO DOMINGOS NETO PARECER Nº : 003/2011 Excelentíssimo Senhor Conselheiro: Trata-se de consulta formulada pelo Vereador Presidente da Câmara Municipal de Alta Floresta, sr. Charles Miranda Medeiros, de fl. 03 TCE, referente à possibilidade de adquirir tecidos necessários à confecção de uniformes para os servidores da Câmara Municipal, nos seguintes termos: no que se refere à aquisição de tecidos necessários à confecção de uniformes aos servidores da Câmara Municipal. Não foram juntados documentos complementares aos autos. É o relatório. 1. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE A consulta foi formulada em tese, por pessoa legítima, além de versar sobre matéria de competência deste Tribunal, cumprindo as exigências previstas no art. 232 da Resolução n 14/2007 (Regimento Interno do TCE/MT). 1

2 2. DO MÉRITO A indagação trata saber se há a possibilidade de adquisição de tecidos para a confecção de uniformes funcionais destinados ao uso pelos servidores da Câmara Municipal. Em sentido mais amplo denota-se que o questionamento do consulente assentase em saber se o Poder Público pode custear despesas para fornecer uniformes funcionais para servidores públicos. Assim, pode-se desdobrar o fornecimento aludido em três formas distintas: a) aquisição de tecidos e aviamentos pelo Poder Público e serviços de confecção (costura) sob a responsabilidade dos próprios servidores, hipótese apresentada pelo consulente; b) aquisição de tecidos e aviamentos e serviços de confecção arcados totalmente pelo Poder Público; e, especializado. c) aquisição de uniformes profissionais prontos e acabados junto a um fornecedor Antes de se tratar das formas de fornecimentos descritas acima, é salutar observar que o Poder Público quando realiza qualquer despesa pública deve pautar-se por inúmeros princípios que norteiam a Administração Pública, com destaque aos princípios da legalidade e da legitimidade. Considerando-se a despesa com o fornecimento de uniformes funcionais ou profissionais a servidores públicos, à primeira vista, parece ser um benefício direto concedido, contudo, entende-se que de forma indireta esta concessão atende à finalidade pública e contribui para o aprimoramento da Administração, quando: a) organiza o padrão 2

3 visual das repartições públicas; b) facilita a identificação do agente público e da entidade da qual está vinculado; e, c) proporcionaria melhores condições de trabalho aos servidores. Como forte evidência da legitimidade destas despesas pode-se citar o Anexo I, da Portaria/STN nº 448/2002, que ao divulga o detalhamento das naturezas de despesas Material de Consumo, lhe dá a seguinte descrição de subelemento de despesas: Subelemento UNIFORMES, TECIDOS E AVIAMENTOS Descrição das Despesas Registra o valor das despesas com uniformes ou qualquer tecido ou material sintético que se destine à confecção de roupas, com linhas de qualquer espécie destinadas a costuras e afins materiais de consumo empregados direta ou indiretamente na confecção de roupas, tais como: agasalhos, artigos de costura, aventais, blusas, botões, cadarços, calçados, calças, camisas, capas, chapéus, cintos, elásticos, gravatas, guarda-pós, linhas, macacões, meias, tecidos em geral, uniformes militares ou de uso civil, zíperes e afins. Assim, entende-se que a própria STN ao disciplinar a classificação desta despesa pública reconhece a sua importância e legitimidade, pois evidencia um procedimento usual entre as entidades públicas, razão pela qual mereceu o referido tratamento contábil. Na mesma linha do entendimento acima, pode-se citar a Decisão de Consulta nº / do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, onde o Exmo. Sr. Conselheiro Relator Simão Pedro Toledo, assim se posicionou sobre consulta que versava sobre dúvidas quanto à classificação de despesas públicas: No mérito, respondo, em tese, às dúvidas, embasado na manifestação subscrita, às fls. 10/12, pelo Sr. Antônio Barbosa Neto, Diretor do Departamento de Análise de Contas Municipais e da Gestão Fiscal DECOM, vinculado à Diretoria de Análise Formal de Contas DAC, a qual foi solicitada pelo i. Auditor, Dr. Edson 1 In Acesso em 24/01/

4 Arger, e posteriormente, ratificada, à fl. 14. Adoto, portanto, o aludido pronunciamento, in verbis: Por conseguinte, entendemos que a classificação da natureza da despesa por aquisições ou fornecimentos será efetuada, normalmente, observando-se a estrutura e os conceitos constantes do Anexo II da Portaria Interministerial nº 163, de 04/05/2001 (com suas posteriores alterações por meio das Portarias nº 325, de 27/08/2001 e nº 519, de 27/11/2001, todas da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão), de acordo com o seu tempo de vida útil (de consumo ou permanente), bem como de acordo com o fornecedor (pessoa física ou jurídica), podendo elas, especificamente quanto aos três itens acima questionados, ser: (.) 2º - Despesas com aquisição de uniformes, com nome e logomarca da Prefeitura: Material de Consumo, Uniformes, Tecidos e Aviamentos; Outros Serviços de Terceiros Pessoa Física, Confecção de Uniformes, Bandeiras e Flâmulas; Outros Serviços de Terceiros Pessoa Jurídica, Confecção de Uniformes, Bandeiras e Flâmulas. Observa-se ainda que as despesas com aquisição de uniformes pelo Poder Público, para serem utilizados por servidores, sujeita-se às ações discricionárias do administrador público que deve atentar-se às disponibilidades orçamentárias e financeiras da entidade para suportar tais despesas. Exige-se do Poder Público, no uso de sua discricionariedade, ao autorizar a realização da despesa aqui tratada que observe a razoabilidade e a proporcionalidade entre os custos e os benefícios auferidos pela coletividade, bem como, o regramento licitatório e contratual estabelecido pela Lei nº 8.666/93. Deve ainda o Poder Público, em obediência ao princípio da legalidade, editar atos normativos que estabeleçam regras disciplinadoras que versem, dentre os pontos, sobre: a) o fornecimento de uniformes deve respeitar ao princípio da igualdade, sendo acessível a todos àqueles que estiverem na mesma ocupação; 4

5 b) os modelos e padrões dos uniformes a serem utilizados pela repartição pública devem evitar cores, nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal ou partidária, obedecendo as vedações trazidas pelo 1º, do art. 37, da CF/88; c) instituição de termos de responsabilidade onde os servidores se responsabilizariam pelo bom uso, zelo, guarda, conservação e limpeza dos uniformes; e, d) previsão de ressarcimento ao erário nos casos de perda ou perecimento dos uniformes, desde que, comprovada a culpa do servidor. Observadas as recomendações acima, entende-se ser plenamente possível o fornecimento pelo Poder Público de uniformes funcionais ou profissionais a seus servidores. Retomando às formas de fornecimentos de uniformes funcionais, o Poder Público poderá proceder de 3 (três) formas distintas, sendo que cada uma delas resultará em diferentes formas de classificação contábil da despesa, conforme Portaria/STN nº 448/2002. Na situação trazida pelo consulente, a Câmara Municipal adquirirá os tecidos e a confecção ficará sob o encargo dos próprios servidores, nesta hipótese, a natureza de despesas a ser utilizada será a de nº Materiais de Consumo. Quando o Poder Público adquirir os tecidos e aviamentos (matérias primas) e contratar um terceiro para confecção dos uniformes, deverá utilizar duas naturezas de despesas distintas, a de nº Materiais de Consumo e de nº /39 Serviços de Terceiros Pessoa Física/Pessoa Jurídica, respectivamente. Ao adquirir os uniformes funcionais prontos e acabados, o Poder Público deverá utilizar-se da natureza de despesas nº Materiais de Consumo, conforme entendimento do artigo 6º, da referida Portaria/STN. 5

6 3. CONCLUSÃO Considerando que não existe prejulgado neste Tribunal sobre o assunto, ao julgar o presente processo e concordando este Egrégio Tribunal Pleno com o entendimento delineado no presente parecer, sugere-se a seguinte ementa (art. 234, 1º, da Resolução n 14/2007): Resolução de Consulta nº /2010. Despesa pública. Fornecimento de uniformes funcionais. Discricionalidade. Possibilidade desde que atendidos requisitos. 1) é possível o fornecimento de uniformes funcionais por parte do Poder Público a servidores públicos desde que exista ato regulamentar disciplinando, no mínimo, que: a) o fornecimento de uniformes deve respeitar ao princípio da igualdade, sendo acessível a todos àqueles que estiverem na mesma ocupação; b) os modelos e padrões dos uniformes devem evitar cores, nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal ou partidária; c) instituição de termos de responsabilidade onde os servidores se responsabilizariam pelo bom uso, zelo, guarda, conservação e limpeza dos uniformes; e, d) previsão de ressarcimento ao erário nos casos de perda ou perecimento dos uniformes, desde que, comprovada a culpa do servidor; 2) na classificação das despesas com as aquisições de uniformes prontos e acabados, tecidos e aviamentos e serviços de confecção, devem ser observadas as regras definidas pela Secretaria do Tesouro Nacional. 6

7 Dessa forma, submete-se à apreciação do Conselheiro relator para decisão quanto à admissibilidade e eventual instrução complementar, sendo encaminhado na sequência ao Ministério Público de Contas para manifestação (art. 236 do RITCMT). Cuiabá-MT, 24 de janeiro de Bruna Zimmer Edicarlos Lima Silva Ronaldo Ribeiro de Oliveira Técnico de Controle Público Externo Consultor Adjunto à Consultoria Técnica Secretário-Chefe da Consultoria Técnica 7