- 1 - Segue o parecer sobre o questionamento formulado.
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- Manuela Mendonça de Almada
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1 PARECER Nº : 047/ Exmo. Sr. Conselheiro: Tratam os autos de consulta formulada pelo Prefeito Municipal de Barra do Bugres, Sr. Aniceto de Campos Miranda, mediante a qual solicita deste Tribunal de Contas parecer técnico sobre a possibilidade de reestruturação da tabela salarial dos profissionais da educação dentro do período eleitoral. O consulente não juntou outros documentos: É o relatório. Inicialmente, informamos que os requisitos de admissibilidade da presente consulta foram preenchidos em sua totalidade, pois a consulta foi formulada em tese, por pessoa legítima, além de versar sobre matéria de competência deste Tribunal, atendendo ao disposto nos arts. 232, inciso I do Regimento Interno deste Tribunal (Resolução n 14, de 2 de outubro de 2007), bem como, o disciplinado no artigo 48 da Lei Orgânica do TCE-MT (Lei Complementar nº 269, de 22 de janeiro de 2007). Segue o parecer sobre o questionamento formulado. O último ano de mandato demanda maior cautela dos gestores públicos. Tanto a Lei de Responsabilidade Fiscal como a Lei Eleitoral tratam de limites e providências a serem observados pelos gestores no último ano de mandato. Inicialmente, será analisada as vedações impostas aos gestores públicos pela Lei de Responsabilidade Fiscal quanto ao aumento da remuneração dos servidores e agentes políticos. Disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal
2 - 2 - a) percentual de gastos com pessoal O parágrafo único do art. 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal prevê que os Prefeitos e Presidentes de Câmara deverão manter o mesmo percentual de gastos com pessoal sobre a receita corrente líquida nos últimos 180 dias dos mandatos eletivos. Este dispositivo impede que os gestores públicos aumentem os gastos com pessoal no último ano de mandato, comprometendo o equilíbrio fiscal no exercício em curso e nos subseqüentes. b) limite de gastos com pessoal Com vistas a impedir o endividamento público, principalmente no último ano do mandato, o legislador foi mais rigoroso no que se refere aos gastos com pessoal. Conforme dispõe o art. 23, 4º da LRF, caso os limites de gastos com pessoal no 1º quadrimestre do último ano forem ultrapassados (54% para o Poder Executivo e 6% para o Poder Legislativo), o município ficará impedido de: receber transferências voluntárias; obter garantia direta ou indireta de outro ente contratar operações de crédito ou obter garantia de outro ente, salvo as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal. Para o cálculo, utilizam-se os dados publicados no Relatório de Gestão Fiscal do primeiro quadrimestre (até o dia 30 de maio), mas a vedação começa no início do segundo quadrimestre, ou seja, a partir de 1º de maio. A infração a este dispositivo resultará na nulidade do ato de que resulte o aumento de gastos, além da possibilidade de imposição da
3 - 3 - pena de reclusão de 01 a 04 anos, conforme prevê o art. 359-G do Código Penal. Vejamos: Art. 359-G - Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura: Pena reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. b) Disposições da Lei Eleitoral (Lei nº 9.504/97) A Lei Eleitoral teve como escopo assegurar a igualdade de oportunidade dos candidatos ao estabelecer vedações aos gestores no último ano de mandato. No que concerne ao aumento de gastos com pessoal, dispõe que o gestor não poderá fazer revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda do poder aquisitivo. Segue a redação do dispositivo em comento: art VIII fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos. O citado artigo 7º assim dispõe: Art. 7º As normas para escolha e substituição dos candidatos e para a formação de coligações serão estabelecidas no
4 - 4 - estatuto do partido, observadas as disposições desta Lei. 1º Em caso de omissão do estatuto, caberá ao órgão de direção nacional do partido estabelecer as normas a que se refere este artigo, publicando-as no Diário Oficial da União até cento e oitenta dias antes das eleições. grifamos Infere-se que a lei veda o aumento salarial a partir dos 180 dias que precedem as as eleições até a posse. Após esse prazo, é possível somente a recomposição das perdas salariais ao longo do ano eleitoral, devendo ser demonstrado o índice utilizado a fim de descaracterizar o impedimento legal. Deve-se ressaltar que o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina manifestou-se sobre o assunto por meio das Decisão nº 1544, abaixo transcrita: 1. A revisão geral anual é preceito constitucional e se caracteriza pela recomposição da perda de poder aquisitivo ocorrida dentro de um período de 12 (doze) meses com a aplicação de um mesmo índice a todos que recebem remuneração ou subsídio, implementada sempre no mesmo mês. 2. Nos cento e oitenta dias que precedem o final do mandato do titular do Poder (art. 21, parágrafo único, da Lei Complementar nº 101/00) a implementação da revisão geral anual aos servidores públicos requer: a) que se refira exclusivamente às perdas do poder aquisitivo nos últimos doze meses anteriores à data-base estabelecida no Município; b) previsão na Lei de Diretrizes Orçamentárias e dotação
5 - 5 - suficiente na Lei do Orçamento Anual (art. 169, 1, da Constituição Federal); c) lei específica, de iniciativa do Chefe do Poder Executivo (art. 37, X, da Constituição Federal); d) previsão de disponibilidade financeira para pagamento integral das despesas com pessoal até o final do exercício, inclusive do décimo-terceiro salário, evitando a inscrição em Restos a Pagar e comprometer o orçamento do exercício seguinte; e e) adoção de medidas para retorno ao limite de despesa total com pessoal, no prazo de dois quadrimestres, caso ultrapassado o limite máximo (art. 23 da Lei Complementar n. 101/00). Todavia, alerta-se para a regra do art. 73, VIII, da Lei nº 9.504/97, aplicável em período eleitoral, pela qual a revisão geral da remuneração não pode exceder a recomposição da perda do seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, tendo o Tribunal Superior Eleitoral - TSE, na Decisão nº 21296, de 12/11/2002, relativa ao Processo de Consulta n. 782, manifestado o seguinte entendimento em relação ao referido dispositivo legal, ressaltando-se que é da Justiça Eleitoral a competência para aplicação das penalidades previstas naquela Lei: "O ato de revisão geral de remuneração dos servidores públicos, a que se refere o art. 73, inciso VIII, da Lei nº 9.504/97, tem natureza legislativa, em fase da exigência contida no texto constitucional. O encaminhamento de projeto de lei de revisão geral de remuneração de servidores públicos que exceda à mera recomposição da perda do poder aquisitivo sofre expressa limitação do art. 73, inciso VIII, da Lei nº 9.504/97, circunscrição do pleito, não podendo ocorrer a partir do dia 9 de abril de 2002 até a posse dos eleitos, conforme dispõe a Resolução/ TSE nº , de (para as eleições de 2004 aplica-se a
6 - 6 - Resolução TSE n , de , cujo prazo para revisão foi fixado até 06 de abril de 2004). A aprovação do projeto de lei que tiver encaminhado antes do período vedado pela lei eleitoral não se encontra obstada, desde que se restrinja à mera recomposição do poder aquisitivo no ano eleitoral. A revisão geral de remuneração deve ser entendida como sendo aumento concedido em razão do poder aquisitivo da moeda e que não tem por objetivo corrigir situações de injustiça ou de necessidade de revalorização profissional de carreiras específicas". Esse entendimento foi utilizado na elaboração do Calendário Eleitoral de 2008, instituído mediante a Resolução nº do Tribunal Superior Eleitoral, que fixou o dia 8 de abril de 2008 como início da vedação em comento. Destaca-se que a vedação alcança qualquer tipo de reajuste salarial que exceda o índice inflacionário apurado no período eleitoral, qualquer que seja a nomenclatura utilizada: readequação do Plano de Cargos, reestruturação administrativa, reclassificação funcional concedida indistintamente a todos os integrantes da carreira, ou mesmo a criação de vantagens remuneratórias neste período prescrito pela legislação. Neste rastro, o Tribunal Superior Eleitoral assim se manifestou em resposta à Consulta nº Consulta n 78 2 classe 5 - DF. Vejamos: Ementa: Revisão geral de remuneração de servidores públicos - Circunscrição do pleito - Art. 73, inciso VIII, da Lei nº 9.504/97 - Perda do poder aquisitivo - Recomposição - Projeto de lei - Encaminhamento - Aprovação. 1. O ato de revisão geral de remuneração dos servidores públicos, a que se refere o art. 73, inciso VIII, da Lei nº
7 /97, tem natureza legislativa, em face da exigência contida no texto constitucional. 2. O encaminhamento de projeto de lei de revisão geral de remuneração de servidores públicos que exceda à mera recomposição da perda do poder aquisitivo sofre expressa limitação do art. 73, inciso VIII, da Lei nº 9.504/97, na circunscrição do pleito, não podendo ocorrer a partir do dia 9 de abril de 2002 até a posse dos eleitos, conforme dispõe a Resolução/TSE nº , de A aprovação do projeto de lei que tiver sido encaminhado antes do período vedado pela lei eleitoral não se encontra obstada, desde que se restrinja à mera recomposição do poder aquisitivo no ano eleitoral. 4. A revisão geral de remuneração deve ser entendida como sendo o aumento concedido em razão do poder aquisitivo da moeda e que não tem por objetivo corrigir situações de injustiça ou de necessidade de revalorização profissional de carreiras específicas. Aparentemente, parece que a Lei Eleitoral e a LRF se conflitam no que tange ao aumento da remuneração no ano das eleições. No entanto, percebe-se que a Lei de Responsabilidade fiscal teve por escopo inibir o endividamento público no último ano de mandato. Já a Lei Eleitoral tem por escopo evitar que os gestores públicos concedam aumentos salariais, de qualquer forma (readequação do Plano de Cargos, realinhamento salarial, reajuste de todas ou de algumas parcelas de natureza salarial, dentre outras) com fins eleitoreiros. Desta forma, impede-se, inclusive, a revisão geral anual que exceda os percentuais apurados para reajustes utilizados pelo mercado. Verifica-se, a partir do quadro abaixo, que é possível coincidir os limites e vedações
8 - 8 - regulamentados pela LRF e pela Lei Eleitoral. Em suma, os reajustes salariais concedidos nos 180 dias anteriores ao fim de mandato (05/07) só poderão ser concedidos somente para repor a perda do poder aquisitivo das remunerações, respeitados os limites de gastos com pessoal. Este período está demonstrado na primeira linha da tabela abaixo. É necessário frisar que caso o órgão ou poder exceda o limite de gastos com pessoal no primeiro quadrimestre, ficará vedado, a partir do segundo quadrimestre (1º de maio) a: receber transferências voluntárias, obter garantia de outro ente e contratar operações de crédito, ressalvados os casos previstos na própria Lei de Responsabilidade Fiscal. Este impedimento está demonstrado na linha dois da tabela abaixo. Por último, conclui-se que o aumento salarial só poderia ter sido feito até dia 08/04, sendo proibida a concessão de qualquer aumento salarial que exceda a perda do poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, conforme última linha da tabela abaixo. LRF % de gastos com pessoal LRF limite de gastos com pessoal jan fev mar abr mai jun jul a partir do dia 5 a partir do dia 1º ago set out Lei Eleitoral a partir do dia 8 Importante mencionar que tramita neste Tribunal de Contas consulta sobre a possibilidade de concessão de revisão geral anual durante
9 - 9 - o período eleitoral. Trata-se do processo nº /2008 em que foi proposto o seguinte verbete: Resolução de Consulta nº. Pessoal. Agente público. Remuneração. Revisão geral anual. Ano eleitoral. É lícita a concessão de revisão geral anual da remuneração de agentes públicos em ano eleitoral, inclusive relativa à percentuais acumulados em exercícios anteriores, não concedidos, desde que ocorram antes dos 180 dias que precedem a eleição, na circunscrição do ente. Após esse período, no entanto, é possível a revisão de remuneração, desde que se restrinja à recomposição do poder aquisitivo dos agentes públicos ao longo do ano eletivo. Assim, caso o Tribunal Pleno adote estes entendimentos esposados neste Parecer e no Parecer exarado no processo citado acima, sugerimos a adoção do seguinte verbete: Resolução de Consulta nº. Pessoal. Agente público. Remuneração. Aumento Salarial. Ano eleitoral. É vedada, a partir dos 180 dias que precedem a eleição, a concessão de reajuste salarial, reestruturação na carreira ou qualquer forma de aumento remuneratório que exceda a recomposição do poder aquisitivo ao longo do ano eletivo, devendo ser demonstrado o índice utilizado a fim de descaracterizar o impedimento legal.
10 É o parecer que se submete à apreciação superior. Cuiabá-MT, 28 de maio de Bruna Henriques de Jesus Zimmer Consultora Adjunta Volmar Bucco Júnior Consultor de Estudos, Normas e Avaliação Carlos Eduardo Amorim França Secretário-Chefe
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