Sobre o tema, já se manifestou a d. Procuradora do Estado do Rio de Janeiro, dra. RACHEL FARHI, em artigo intitulado Remuneração

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1 A INAPLICABILIDADE DO ART. 21, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 101, DE 2.000, NA FIXAÇÃO DOS SUBSÍDIOS DOS VEREADORES Gina Copola (julho de 2.015) I Recentemente tivemos contato com um relatório de fiscalização do egrégio Tribunal de Contas do Estado de São Paulo que apontou como irregular a fixação dos subsídios dos Vereadores de uma Câmara Municipal paulista por não ter observado o art. 21, parágrafo único, da LC nº 101, de 2.000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal. Não concordamos com tal posicionamento, data venia. II - O indigitado dispositivo legal proíbe o aumento de despesas com pessoal nos últimos 180 (cento e oitenta) dias do mandato do titular do respectivo Poder, mas não tem qualquer aplicação na fixação de subsídios de Vereadores. Isso porque no caso dos Vereadores o dispositivo aplicável é o art. 29, VI, da Constituição Federal. Esse é o limite para o caso, e não outro. Trata-se de aumento de subsídio dentro do prazo constitucional, e não de aumento de despesas com pessoal. Os dois conceitos não se misturam. Sobre o tema, já se manifestou a d. Procuradora do Estado do Rio de Janeiro, dra. RACHEL FARHI, em artigo intitulado Remuneração

2 2 de Vereador: Possibilidade de sua fixação nos 180 dias anteriores às eleições: Inaplicabilidade do art. 21, parágrafo único da Lei de Responsabilidade Fiscal, e do qual se lê: Conclusão Por todo o exposto, discordamos, com a devida venia, do entendimento ensejador do presente trabalho. A fixação de subsídios dos Vereadores, por ter acento constitucional, constitui obrigação da Câmara Municipal, da qual resulta a necessária previsão de recursos orçamentários, para atender à despesa dela decorrente, não estando a respectiva fixação sujeita à limitação imposta pelo art. 21, parágrafo único, da LRF. Os subsídios dos Vereadores estão submetidos aos limites do art. 29, VI e VII, como, também, aos expressos no art. 29-A, referidos acima; e estes últimos impõem ao Legislativo a necessidade de afeiçoar, mensalmente, o total de suas despesas de pessoal, incluídos os subsídios do Vereador, ao limite percentual fixado de acordo com a população do Município, nos respectivos itens I a IV, sobre o somatório da receita tributária e das transferências previstas no 5 do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizada no exercício anterior. Além disso se impõe à Câmara observar o 1 do art. 29-A, que assegura a conformação de sua despesa ao limite de setenta por cento dos recursos orçamentários que lhe

3 3 são destinados, todas essas exigências afastam a ocorrência de despesa que ponha em risco o equilíbrio das contas públicas, cuja preservação é alvejada, pelo art. 21, parágrafo único da LRF. (Grifamos) Claro, pois que a Lei de Responsabilidade Fiscal jamais pode levar ao descumprimento mandamento constitucional de que as Câmaras Municipais fixem os subsídios de seus Vereadores para o mandato seguinte, pois que, ao que se sabe, uma lei não revoga a Constituição. Se os Vereadores deixam de cumprir a Constituição, aí, sim, falham gravemente no seu dever. III No caso dos Vereadores, portanto, precisa apenas ser observado o princípio da anterioridade, nos termos do art. 29, inc. VI, da Constituição Federal, único dispositivo aplicável ao caso, e que reza: Art. 29 (...) VI o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e nos seguintes limites máximos: (Grifamos) E, portanto, na fixação dos subsídios dos Vereadores precisa ser observado o princípio da anterioridade preconizado pelo art. 29, VI, da Constituição Federal, assim como os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica que, em geral, reza que a remuneração do Prefeito, do Vice-Prefeito e

4 4 dos Vereadores, deve ser fixada em até trinta dias antes das eleições sucessórias, e apenas isto, nada mais. IV Mais relevante, porém, é o fato de que o egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já apreciou a matéria em sede da Apelação nº Botucatu, relator Desembargador ANTÔNIO CARLOS VILLEN, 10ª Câmara de Direito Público, julgada em 26/01/2010, com a seguinte ementa do venerando acórdão que já transitou em julgado: AÇÃO POPULAR. Município de Pardinho. Subsídios do Prefeito e Vereadores. Leis que os majoraram. Observância da anterioridade exigida pelo artigo 29, VI, da Constituição Federal. Novos valores que não caracterizam excesso. Respeito ao princípio da moralidade. Lesividade não caracterizada. Sentença que, não obstante isso, julgou procedente a ação para declarar nulas as duas leis municipais em discussão, com base no artigo 21, parágrafo único, da Lei Complementar n" 101/2000. Dispositivo que não se aplica aos Prefeitos e Vereadores. Subsídios cuja fixação é disciplinada pela própria Constituição Federal. Recurso oficial não conhecido e recursos voluntários improvidos para julgar improcedente a ação. (Grifamos) E consta do venerando voto condutor: A anterioridade exigida pelo artigo 29, VI, da Constituição, à qual doutrina e jurisprudência atribuem o

5 5 significado de anterior às eleições, foi observada pela Câmara de Pardinho, não caracterizado, portanto, também sob esse prisma, nenhum vício a macular a majoração de subsídios. Também aqui, assinale-se, foi respeitado, além do dispositivo constitucional, o princípio da moralidade. (...) Entendo, em consonância com o parecer ministerial, que o dispositivo não se aplica aos prefeitos e vereadores. E isso porque se cuida de membros de poder, agentes políticos, cujos subsídios têm sua fixação balizada por dispositivos da própria Constituição Federal (artigos 29, V e VI, e 29-A), não abrangida, por isso, pela restrição do artigo 21, parágrafo único, da LC 101/2000. Cumpre anotar, aliás, que a infração ao dispositivo legal não foi sequer alegada na inicial. (Grifamos) V - Ainda no mesmo diapasão é o v. acórdão do e. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, Apelação nº /000 (2), Relator: Desembargador ISALINO LISBOA, 3ª Câmara Cível, julgamento: 25/03/2004, Data da Publicação do Acórdão: 23/04/2004, de onde se lê: Consoante o entendimento por este esposado, a fixação de subsídios, aqui questionada, foi efetuada fora do prazo estabelecido no art. 21, da Lei de Responsabilidade Fiscal, o que fulmina de nulidade o ato.

6 6 Ora, em se tratando de fixação de subsídios, evidente é a aplicabilidade do disposto no art. 29, incisos V e VI, da Carta Republicana, onde, não determinado prazo para tanto, revelando-se inalcançável à espécie o preceito contido no art. 21, parágrafo único da LRF. (Grifamos) Resta cristalino, portanto, que na fixação dos subsídios dos Vereadores não incide o art. 21, parágrafo único, da LRF, mas, sim, o art. 29, VI, da Constituição Federal, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica Municipal, e, dessa forma, qualquer disposição ou entendimento em contrário é flagrantemente inconstitucional. É nosso entendimento.