ÚLTIMO ANO DE MANDATO

Transcrição

1 ÚLTIMO ANO DE MANDATO Confiatta, 30 de Setembro de 2016 Boletim 013/ Informativo VEDAÇÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL NO ÚLTIMO ANO DE MANDATO Estamos em ano de eleições municipais para a escolha dos novos Prefeitos e Vereadores. A Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101/2000, prevê uma série de vedações relacionadas às despesas públicas, aos agentes políticos no período de encerramento dos mandatos. Importante lembrarmos que o mandato dos Prefeitos se encerra a cada quatro anos e dos Presidentes de Câmaras Municipais a cada dois, assim, tais vedações devem ser observadas nesses períodos pelos referidos gestores. No presente exercício se encerra tanto o mandato dos Prefeitos quanto dos Presidentes de Câmaras, os quais devem estar atentos às regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, pois, a violação de suas determinações são consideradas crimes previstos no Código Penal, no Capítulo que trata Dos Crimes Contra as Finanças Públicas, resultando ao Agente Político faltoso sanções penais. O artigo 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal assim considera: Art. 21. É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: (...) Parágrafo único. Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20. (destaques nossos)

2 Assim, conforme o parágrafo único supratranscrito nos últimos 180 dias do mandato não poderá editar nenhum ato que provoque aumento de despesa com pessoal, portanto a partir de 05 (cinco) de julho de 2016 até 31 (trinta e um) de dezembro de 2016, quando termina o mandato, todo ato que ensejar aumento na despesa de pessoal será considerado nulo, incorrendo, o gestor responsável pelo ato, nas penas da Lei. O Código Penal alude: Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (destaques nossos) À luz da Lei de Responsabilidade Fiscal, artigo 21, parágrafo único, verifica-se que os atos vinculados que concretizam a mera execução de lei pré-existente não estarão coibidos, sob pena de paralisar-se o funcionamento da máquina administrativa ou atentar-se contra direitos regularmente constituídos dos servidores, entendimento, inclusive já pacificado na doutrina pátria especializada e também nos Tribunais de Contas dos Estados. Impende consignarmos que a vedação transcrita no artigo 21 não considera o aumento nominal das despesas, ou seja, em valores, mas sim o aumento configurado pelo confronto das despesas de pessoal com a receita corrente líquida dos doze últimos meses, ou seja, o percentual da receita corrente líquida utilizado com as despesas de pessoal. Dessa feita, a apuração desse gasto relaciona sempre duas variáveis fazendárias: a despesa de pessoal de cada Poder e a receita corrente líquida de todo o ente federado (município), considerando sempre os doze meses anteriores. Outrossim, não se pode deixar de observar o limite de gastos com pessoal disposto no artigo 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal que assim menciona: 2

3 Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes percentuais: (...) III - na esfera municipal: a) 6% (seis por cento) para o Legislativo, incluído o Tribunal de Contas do Município, quando houver; b) 54% (cinquenta e quatro por cento) para o Executivo. Em alguns casos o aumento das despesas com pessoal nos 180 dias que antecedem o final do mandato será considerado lícito, senão vejamos: Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma: "Assim, nada impede que os atos de investidura sejam praticados ou vantagens pecuniárias sejam outorgadas, desde que haja aumento da receita que permita manter o órgão ou Poder no limite estabelecido no art. 20 ou desde que o aumento da despesa seja compensado com ato de vacância ou outras formas de diminuição da despesa com pessoal 1 Também, em período ainda maior ao concedido à vedação acima exposta, a Lei Complementar nº 101/2000: Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro 1 Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal. São Paulo: Saraiva, 2001, p

4 dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do exercício. O artigo supra impede a aquisição de obrigação de despesa nos dois últimos quadrimestres do mandato, ou seja, nos últimos oito meses do mandato, que não possa ser cumprida integralmente dentro dele ou com parcelas vincendas no exercício seguinte sem suficiente disponibilidade de caixa. Nesse norte não se pode inscrever despesas em restos a pagar sem a manutenção da disponibilidade de caixa para quitá-las. Portanto no período compreendido entre maio a dezembro do presente ano, qualquer obrigação de despesa contraída pelas Prefeituras ou Câmara Municipal deverá ser saldada dentro desses oito meses ou, em não sendo paga, ensejando a inscrição em restos a pagar, deverá o gestor, deixar disponibilidade de caixa suficiente para salda-la no exercício seguinte. Segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo a obrigação de despesa ocorre no momento em que a Administração Pública firma um contrato, toma um empréstimo, parcela uma dívida, assina um convênio, ou ainda, em função de mandamentos de leis (Constituições, Leis Orgânicas Municipais, Leis Ordinárias) e regulamentos que devem ser cumpridos. Na obra Lei De Responsabilidade Fiscal 2, Flávio C. de Toledo Júnior e Sérgio Ciquera Rossi, esse último Secretário Diretor Geral do Tribunal de Contas de nosso Estado citam: 2 Flavio C. de Toledo Júnior, Sérgio Ciquera Rossi, Lei De Responsabilidade Fiscal, 3º.Ed., Ndj Ltda, São Paulo, P

5 Tal dispositivo, em suma, prescreve dois comandos: entre maio e dezembro do último ano do mandato, os gastos compromissados, e vencidos, serão pagos nesse período; nesse mesmo período de oito meses, os gastos compromissados, mas não vencidos, precisarão de amparo de caixa em 31 de dezembro. Logicamente que, ao se referir a parcelas a serem pagas no exercício seguinte, o legislador fiscal alcançou os restos a Pagar aludidos no art. 36 da Lei n. º Significa dizer que o Chefe do Poder poderá contrair despesas cujas parcelas vençam no exercício seguinte, desde que pague as parcelas de bens ou serviços entregues ou prestados no próprio exercício ou deixe recursos financeiros para pagá-los no próximo exercício, observando-se, também as disposições do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias, e da Lei Orçamentária Anual. Para o descumprimento dessa ordem o Código Penal prevê: Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos." Por todo exposto, para que não incorram em crime de responsabilidade fiscal, bem como não tenhas suas contas reprovadas, é necessário que os Prefeitos e Presidentes de Câmara cujo mandato está se encerrando nesse exercício observem atentamente referidas vedações. 5

6 Autora: Geni Tebet Advogada (OAB/SP ). Graduada em Direito pela Universidade de Sorocaba. Especialista em Recursos Humanos. Atua há 12 anos em consultoria aos Órgãos de Administração Pública Municipais, atualmente é membro do corpo jurídico e do setor de Contabilidade do Grupo Confiatta. 6