Em parceria com: Os desafios dos Sistemas Públicos de Pensões em Portugal
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- Roberto Ramalho Fartaria
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1 Em parceria com: Os desafios dos Sistemas Públicos de Pensões em Portugal 2
2 Nota Introdutória O presente documento resulta de uma parceria entre a Nova Finance Center, Knowledge Center da Nova School of Business and Economics, e a Mii Finanças, empresa especializada em Planeamento Financeiro Individual e Preparação da Reforma (Pensões). O documento tem como objectivo principal elevar, junto da sociedade Portuguesa, a notoriedade da informação básica sobre o regime do Sistema de Pensões em vigor, e dos potenciais impactos dos desequilíbrios existentes deste Sistema. Esperamos dar um contributo para reduzir a diferença entre a percepção generalizada na população e a situação real do Sistema Publico de Pensões em vigor, sendo este desfasamento também visível na população de maior literacia financeira. Esperamos assim contribuir para evitar o extremar de posições entre gerações que, obviamente, dificulta o encontro de uma solução urgente, holística e duradoura, capaz de mobilizar as diferentes gerações e de iniciar o caminho do reequilíbrio do sistema. Este documento utiliza indicadores, estimativas e exemplos, e identifica correlações e implicações criticas, de forma a enquadrar esta problemática numa perspectiva macro. Neste sentido, o documento não desenvolve análises detalhadas, nem recorre a amostragens alargadas e minuciosas, as quais serão certamente importantes numa fase de desenvolvimento de potenciais soluções e sua implementação, mas que não iriam alterar o entendimento global que os leitores poderão reter sobre o actual equilíbrio, ou desequilíbrio, do sistema. De igual modo, também não se considera no documento o impacto das medidas tomadas pelas entidades governamentais nos anos recentes, pois pelo seu carácter temporário geral não acarretam alterações estruturais do sistema. 1
3 Índice O Sistema Público de Pensões em Portugal: Tendência estrutural para se agravar a situação financeira Insuficiência das contribuições face aos benefícios Necessidade urgente de um acordo inter-geracional 2
4 O peso no PIB dos custos com os sistemas públicos de pensões em Portugal tem crescido significativamente Custos da Segurança Social (SS) e Caixa Geral de Aposentações (CGA) como % do PIB 20% 18% 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 10% 7% 0% % 9% Custos Totais (SS + CGA) 19% 14% Custos com Pensões (SS + CGA) Desemprego, Doença e Outras Prestações da SS Fonte: Pordata, Banco de Portugal, Estudo Avaliação Actuarial do Regime de Pensões da CGA de 2013 (Prof. Doutor Jorge Miguel Bravo) 3
5 Até 2030, prevê-se que a despesa com os sistemas públicos de pensões cresça cerca de 2,3% ao ano % da Despesa do Estado Evolução estimada dos custos com pensões na CGA e Segurança Social Segurança Social CGA Fontes: Banco Portugal, Estudo Avaliação Actuarial do Regime de Pensões da CGA de
6 Mil Milhões de Euros ( ) No caso específico da Segurança Social*, as contribuições cobrem já menos de metade dos seus custos Custos da Segurança Social vs. Contribuições para a Segurança Social Contribuições Outras Despesas SS RSI, Assitência Social, Subsídios familiares, etc.. Desemprego e Formação Baixa e Doença 10 5 Pensões O diferencial é coberto por outras rubricas do Orçamento do Estado (ex: emissão de divida, parcelas do IVA) * Doravante trataremos apenas da Segurança que afecta a generalidade dos contribuintes. Entende-se auq a CGA se encontra numa situação pior relativamente à Segurança Social, porém o plano encontra-se fechado a novas adesões. Fonte: Pordata (1992), Banco de Portugal (2002,2012) 5
7 A capacidade do Orçamento de Estado* continuar a pagar deficits crescentes da Segurança Social é cada vez menor PIB per Capita (em USD) Índice de Carga Fiscal (Países da OCDE com PIB/Capita similar, Ano 2011) Evolução da Dívida Pública Portuguesa (Total em % PIB) $ $ $ $ $ $ $ Coreia do Sul Eslováquia Espanha Grécia Israel Rep. Checa Polónia N. Zelandia Estónia Eslovénia Portugal Hungria $ % 28% 31% 34% 37% 40% 140% 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0% 55% 54% 124% 108% Carga Fiscal (Receita de Impostos e Contribuições em % do PIB) A estes indicadores acresce um crescimento praticamente nulo do PIB entre 2003 e 2013 (média de -0.1%/ano contra uma média de 0.8%/ano da Zona Euro) Fonte: Pordata, OCDE, Eurostat * Entende-se que as principais fontes de receita para o OE são as receitas fiscais e aumentos de dívida 6
8 Portugal apresenta fragilidades em indicadores chave para o equilíbrio estrutural de um sistema de pensões Legenda: País UE Despesa em Pensões 1 (%PIB) Crescimento Annual Médio PIB Divida Pública Total em % PIB Número de Empregados por Pensionista, Taxa Natural de Crescimento (por mil) Irlanda 7,1% Suécia 38% Irlanda 2,5 Irlanda 10 Suécia 2,6% Espanha 84% Espanha 2,0 Espanha 11,4% Suécia 11,5% Suécia 1,8 Irlanda 117% Portugal 2, Portugal 123% -0,5% Portugal 1,6 Espanha Portugal 15,0% Irlanda 2-2,9% Suécia 2,3 Espanha 1,8 Portugal -0,5 Notas: 1. Para comparação com outros países utilizou-se a mesma fonte para todos os países (Eurostat) que é diferente das fontes anteriores utilizadas para Portugal. Assim, os valores diferem devido a metodologias diferentes de cada base de dados. 2. Ao contrário de Portugal, a Irlanda teve um forte crescimento económico anterior ao periodo analisado (a Irlanda teve uma média de 1.2%/ano entre contra a média Portuguesa de -0.1%/ano) Fonte: OCDE, Eurostat, FMI 7
9 Portugal apresenta uma tendência negativa em indicadores chave estruturais Rácio Empregados/Reformados Taxa Nat. Crescimento (por mil) Rácio de trabalhadores/reformado e de Natalidade 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 Empregados/Reformados Taxa Natural de Crescimento 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0-0,5-1,0-1,5 1,0-2,0 Fonte: Pordata 8
10 A evolução de indicadores conjunturais tende também a agravar a estabilidade do sistema de pensões em Portugal Crescimento Económico e Desemprego Taxas de Migração 30% 20% Taxa de Desemprego 12% 10% 8% 10% Crescimento Nominal do PIB 0% % 6% 4% 2% 0% -2% -4% Emigração Saldo Migratório Imigração Fonte: Pordata 9
11 Poupança Nacional (em % do PIB) Em Portugal o nível de poupança nacional tem sido negativo, com alguma melhoria nos últimos anos Evolução da Poupança Interna 30% 25% Irlanda 20% 15% 10% 5% 0% -5% -10% Suécia Espanha Portugal -15% Poupança = PIB - Consumo Privado - Consumo do Estado Formação Bruta de Capital Fixo (Investimento) Fonte: Eurostat 10
12 Índice O Sistemas Público de Pensões em Portugal: Tendência estrutural para se agravar a situação financeira Insuficiência das contribuições face aos benefícios Necessidade urgente de um acordo inter-geracional 11
13 Legalmente, 46% das contribuições totais para a Segurança Social são destinadas ao financiamento da Reforma por Idade % do custo total salarial Desagregação da taxa contributiva legal Segurança Social ,75% ,1% 46% ,65% 54% 0 Total* Reforma por idade** Outros Doença, desemprego, invalidez,... Notas: *. Total da soma da contribuição do trabalhador (11%) mais a da entidade patronal (23,75%), que é igual a 34,75% ** De acordo com a desagregação da taxa contributiva legal, o custo total referente à reforma por idade é de 16,1% (Cerca de 46% da taxa contributiva total de 34,75%) Fonte: Mii Finanças; INE; Legislação Portuguesa 12
14 As pensões actuais em pagamento são significativamente superiores às contribuições efectuadas pelos seus beneficiários Exemplo: pensionista com carreira média/administrativa Técnico Legenda: % % do total do salário que deveria ter descontado para ter reforma actual % % do total do salário que descontou Pensão Mensal Valor Actual Valor com base nas contribuições efectuadas 16,1% 38% Pressupostos: - Pensionista com carreira intermédia - Idade de Reforma: 65 Anos - Carreira Contributiva: Completa - Taxa de Inflação: 3% - Taxa de Rendimento do Período Activo: 4% - Taxa de Juro Técnica da Renda Vitalícia: 3% Fonte: Análise Mii Finanças, INE Valor mensal adicional assumido pelo sistema, face ao valor que o pensionista teria direito caso se considerasse apenas o valor das suas contribuições 13
15 O sistema actual de pensões é regressivo, favorecendo as carreiras superiores Legenda: Exemplo: pensionista com carreira superior Quadro Superior % % do total do salário que deveria ter descontado para ter reforma actual % % do total do salário que descontou Pensão Mensal Valor Actual Valor com base nas contribuições efectuadas 16,1% 46% Pressupostos: - Quadro Superior - Idade de Reforma: 65 Anos - Carreira Contributiva: Completa - Taxa de Inflação: 3% - Taxa de Rendimento do Período Activo: 4% - Taxa de Juro Técnica da Renda Vitalícia: 3% Vs no caso anterior de um pensionista com carreira intermédia (Técnico) Fonte: Análise Mii Finanças, INE 14
16 A percepção sobre o nível necessário de poupança individual para a reforma é geralmente muito afastada da realidade Por cada 1000 /mês que se pretenda obter de reforma (Renda Vitalícia) : Poupança mensal necessária Capital necessário à data da reforma (valores à data actual) Reforma aos: 60 anos 65 anos 70 anos mil Idade Actual Idade da Reforma Pressupostos: Taxa de Inflação - 3%; Taxa de Rendimento do Periodo Activo - 4%; Taxa de Juro Técnica da Renda Vitalícia - 3% Fonte: Cálculos e experiência Mii Finanças 15
17 Índice O Sistemas Público de Pensões em Portugal: Tendência estrutural para se agravar a situação financeira Insuficiência das contribuições face aos benefícios Necessidade urgente de um acordo inter-geracional 16
18 A ruptura do sistema de pensões público em Portugal O sistema público de pensões encontra-se em ruptura e estruturalmente com tendência para agravar a sua situação financeira no curto e médio prazo Existe um deficit crescente no sistema; Aumenta a proporção de beneficiários com reformas de maior valor; Aprofundam-se a maioria dos desequilíbrios estruturais existentes (ex: demografia); Sendo um Sistema de Repartição as contribuições não foram acumuladas; A própria base do Sistema (reforma muito superior ao valor das contribuições efectuadas) agrava o desequilíbrio do mesmo. A incapacidade de Portugal continuar a aumentar divida e carga fiscal forçará o país a iniciar o reequilibro do seu sistema de pensões no curto prazo A onda de choque será tanto maior quanto mais tarde se iniciar a reestruturação do sistema. 17
19 O risco de conflito de gerações Os actuais pensionistas sentem-se injustiçados e inseguros: São um dos sectores mais débeis da população; Foram criadas expectativas de valores de reforma ao longo de décadas que promoveram: poupança baixa e a criação de níveis de despesas fixos; A maioria tem a convicção (errada) que a sua reforma corresponde ao valor económico das contribuições que efectuaram durante a carreira; As suas contribuições pagaram despesas com a anterior geração (sistema de repartição) e esperam receber agora idêntica solidariedade. Os actuais contribuintes (em especial os jovens) encontram-se desmobilizados: Pagam parte significativa dos deficits crescentes da Segurança Social (via contribuições, impostos e acumulação de dívida pública) vendo reduzido os seus rendimentos actuais e sem perspectiva futura organizam-se crescentemente sob formas contratuais que minimizam as suas contribuições para o sistema ou imigram. 18
20 A necessidade de um acordo inter-geracional e holístico A reestruturação do sistema de pensões é socialmente complexa A necessidade de informar e mobilizar as diferentes gerações: Aumento da notoriedade pública sobre o custo efectivo de uma pensão e sobre a necessidade da poupança para a reforma (mesmo nas gerações mais jovens); Reconhecimento que todas as gerações têm muito a perder se não houver consenso, especialmente a geração pensionista, e todas vão ter que ceder uma parte. A necessidade de uma estratégia que seja holística e que assegure a coerência entre as diferentes variáveis Que seja politicamente e socialmente abrangente; Que as medidas tomadas movam (directa ou indirectamente) as várias variáveis na direcção correcta; Que gere confiança e mobilize as gerações contribuintes, que proteja as camadas sociais mais frágeis e reduza a incerteza dos pensionistas. 19
21 Os desafios dos Sistemas Públicos de Pensões em Portugal 22
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