FILOSOFIA. Comentário Geral:
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- Rui Conceição Martins
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1 1 FILOSOFIA Comentário Geral: No processo vestibular de 2010/2011, foram introduzidos dois novos textos, a saber: Rousseau (Discurso sobre e a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens) e o autor francês Merleau- Ponty (Einstein e a Crise da Razão). Somados aos filósofos Platão e Descartes, já avaliados em processos anteriores, fizeram com que a prova de filosofia da 2ª. fase deste ano tomasse um corpo mais teórico em relação à disciplina. A exemplo disso, podemos citar as questões extremamente conceituais propostas nesse processo com as questões 01, 04 e 05. No geral, a prova foi bem elaborada. Os autores são bem tratados, porém, faltaram questões que levassem o aluno a uma reflexão filosófica sobre sua prática e algumas levaram o aluno à mera reprodução de conteúdos. Faltou também o cruzamento de pensamento de autores, sejam convergentes ou divergentes, que poderiam avaliar do aluno a possibilidade de diálogo entre os autores. Cabe aqui comentar também que a orientação feita aos nossos FERAS de fazer a leitura do texto original do autor foi pertinente. Aqueles que buscaram receitas sobre esses autores podem ter enfrentado mais dificuldades. Equipe de professores de Filosofia do Colégio Bom Jesus. QUESTÕES 01 -De acordo com Jean-Jacques Rousseau no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, há duas qualidades que distinguem os homens dos animais no estado de natureza. Quais são elas e como são caracterizadas pelo autor? Para Rousseau, o homem em seu estado de natureza é bom e vive bem em seu meio sempre que se deixar guiar pelos seus instintos, tanto que o próprio autor denomina esse homem hipotético como o Bom Selvagem. A partir desse cenário, como diferenciar o homem do animal. O bom Selvagem é dotado de duas qualidades: a Razão, que é utilizada no processo de escolha livre do homem, não há uma determinação dos instintos sobre o indivíduo e a perfectibilidade, que dá ao homem uma capacidade de adaptação e desenvolvimento de suas habilidades. 02 -Com base na citação abaixo e em outras informações presentes na mesma obra, explique de que modo, para Rousseau, o estado de natureza ajuda a compreender a origem da desigualdade entre os homens. (...) não constitui empreendimento trivial separar o que há de original e de artificial na natureza atual do homem, e conhecer com exatidão um estado que não mais existe, que talvez nunca tenha existido, que provavelmente jamais existirá, e sobre o qual se tem, contudo, a necessidade de alcançar noções exatas para bem julgar de nosso estado presente. Estendi-me desse modo sobre a suposição dessa condição primitiva porque, devendo destruir antigos erros e preconceitos inveterados, achei que devia pulverizá-los até a raiz e mostrar, no quadro do verdadeiro estado de natureza, como a desigualdade, mesmo natural, está longe de ter nesse estado tanta realidade e influência quanto pretendem nossos escritores.
2 2 (ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.) Com o intuito de criticar a teoria determinista de Hobbes que dá ao homem uma condição de maldade natural, Rousseau propõe o Estado de Natureza com o intuito de levar seus leitores a perceber que, por mais que no Estado de Natureza do homem pudesse haver desigualdades (e segundo o autor havia as desigualdades físicas), o indivíduo já estava preparado para lidar com essas diferenças, não causando a si e à dignidade deles qualquer alteração. Já com a existência da propriedade privada, que para Rousseau é o início do processo de desigualdades entre os homens, inicia-se um processo de desigualdade civil ou moral e esta leva o homem a deixar de agir conforme sua natureza, que até então era boa, livre e justa. 03 -A partir do trecho abaixo e de outras informações presentes na mesma obra, explique por que, de acordo com Rousseau, nenhum dos filósofos que examinaram os fundamentos da sociedade antes dele chegou a falar do verdadeiro estado de natureza. Os filósofos que examinaram os fundamentos da sociedade sentiram todos a necessidade de voltar até o estado de natureza, mas nenhum deles chegou até lá. Uns não hesitaram em supor, no homem, nesse estado, a noção do justo e do injusto, sem preocuparem-se com mostrar que ele deveria ter essa noção, nem que ela lhe fosse útil. Outros, falaram do direito natural, que cada um tem, de conservar o que lhe pertence, sem explicar o que entendiam por pertencer. Outros dando inicialmente ao mais forte autoridade sobre o mais fraco, logo fizeram nascer o Governo, sem se lembrarem do tempo que deveria decorrer antes que pudesse existir entre os homens o sentido das palavras autoridade e governo. (ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.) Ao criar as características do Estado Natural e do Bom Selvagem, Rousseau consegue estabelecer uma comparação válida em ter o homem civil e o homem natural. Aliás, as diferenças apresentadas pelo autor são verificáveis. Para Rousseau, os outros autores nada mais faziam que pressuposições, sem buscar, de fato, o que era esse Estado Natural do homem, por isso as respostas apressadas, como exemplo, a frase de Hobbes: o homem é o lobo do homem. Talvez Rousseau considerasse a afirmação de Hobbes, se esta fosse uma premissa referente apenas ao homem civil.
3 3 04 -Platão inicia o capítulo 5 do Livro X de A República afirmando que a imitação está a três graus de afastamento da verdade. Que razões ele alega para sustentar essa afirmação? (PLATÃO. A República. Trad. Bento Prado Jr. São Paulo: Martins Fontes, 2006). Para Platão, toda arte é um processo de mímesis, ou seja, imitação. A imitação para Platão vai ser sempre uma imitação do concreto e nunca da ideia verdadeira e essencial das coisas. Em seu texto, ele utiliza o exemplo do marceneiro e do pintor para evidenciar o seu posicionamento acerca da arte mimética. Para Platão, o marceneiro faz uma cama que é imitação da ideia essencial, verdadeira e absoluta de uma cama. O pintor seria aquele que através de sua pintura iria representar não a ideia de uma cama, mas uma representação da cama construída pelo marceneiro que é uma representação da ideia. Logo, a arte estaria no terceiro grau de afastamento da verdade. 05 -Nos capítulos 9 e 10 do Livro X de A República, Platão sustenta que nossa alma é imortal e jamais perece. Exponha sucintamente a argumentação que ele usa nesse trecho de A República para justificar sua afirmação. (PLATÃO. A República. Trad. Bento Prado Jr. São Paulo: Martins Fontes, 2006). Platão faz uma comparação do corpo e da alma em sua obra, aproximando os efeitos do vício para a alma com os efeitos da doença para o corpo. Se de alguma forma o corpo se deteriora com o vício, a alma, mesmo sendo atingida pelo vício, consegue subsistir e, num processo constante de melhoramento racional no decorrer de sua história. O autor exemplifica essa imortalidade da alma com a colocação do mito do ER que, ao ser julgado por seus bons ou maus atos, volta à sua terra com o propósito de revelar aos seus quais são as consequências de uma boa ou má alma. 06 -Por que Descartes escreve o Discurso do Método utilizando a primeira pessoa do singular? Identifique, no conteúdo da obra, pelo menos uma razão que possa explicar essa característica do discurso filosófico cartesiano. Descartes afirmava: Portanto, meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha. O livro Discurso do Método é um relato da experiência do próprio autor. Ao escrever em primeira pessoa, Descartes quer demonstrar que ele consegue fazer o que se propõe ou o que sua teoria filosófica propõe. Não somente uma instrução ou um conjunto de regras que serve para a normatização do processo do conhecimento, mas uma prática individual possível nesse processo do conhecimento. 07 -Considere o trecho do Discurso do Método citado abaixo e, com base nele, exponha as razões alegadas por Descartes para concluir que a alma é [ ] inteiramente distinta do corpo. Depois, examinando atentamente o que eu era e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, seguiase mui evidente e mui certamente que eu existia; ao passo que, se apenas houvesse cessado de pensar, embora tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não teria qualquer razão de crer que eu tivesse existido; compreendi por aí que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar nem depende de qualquer coisa material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é mais
4 4 fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o que é. (Discurso do método, Quarta parte) Ao partir do pressuposto de que tudo o que é verdadeiro deve ser algo claro e evidente e levando em consideração que os sentidos nos enganam, Descartes só considera como sendo verdadeiras as suas conclusões racionais/científicas. 08 -Considere as afirmações sobre o propósito do conhecimento científico feitas por Descartes na passagem do Discurso do método citada a seguir. Com base nessa e em outras passagens da obra, identifique e explique a relação entre o homem e a natureza proposta por Descartes. [ ] é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida e, em vez dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas, se pode encontrar uma outra, prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus, e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente quanto conhecemos os diversos misteres de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores da natureza. A partir da concepção cartesiana que identifica o homem como portador do conhecimento e dos significados das coisas, Descartes afirma que basta ao indivíduo intuir essa essência e automaticamente esse indivíduo se torna senhor e possuidor da natureza, pois é o homem racional quem diz o que as coisas são e a elas dá sentido. Leia os textos abaixo para responder as questões 09 e 10. Em Einstein e a crise da razão, Merleau-Ponty cita Einstein: Acredito num mundo em si, mundo regido por leis que busco apreender de uma maneira selvagemente especulativa. Merleau-Ponty complementa: Mas justamente esse encontro entre especulação e real, entre nossa imagem do mundo e o mundo, que ele denomina algumas vezes harmonia preestabelecida, ele não ousa fundá-la [...] [Ele] descreve a racionalidade como um mistério [...] A coisa menos compreensível do mundo, ele dizia, é que o mundo seja compreensível. (Merleau-Ponty, Einstein e a crise da razão, in Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.) Com base nas citações acima e em outras informações presentes na mesma obra, responda e justifique: 09 -O que Einstein define como mistério? Ao utilizar a afirmação Acredito num mundo em si, mundo regido por leis que busco apreender de uma maneira selvagemente especulativa, Einstein discorda do posicionamento cartesiano de mundo, que concebe que o homem, através da sua razão, é detentor do significado do mundo e das coisas e apresenta um mundo aberto às interpretações, um mundo que, aberto às percepções de cada indivíduo a partir da sua corporeidade, pode ser de várias formas, mas ao mesmo tempo um mundo só. Por isso Einstein conclui: A coisa menos compreensível do mundo, ele dizia, é que o mundo seja compreensível, esse é seu mistério.
5 5 10 -O que distingue as posições de Merleau-Ponty e de Einstein? Merleau-Ponty, ao nominar seu texto como Einstein e a crise da razão, quer levantar um problema em relação ao racionalismo. Para o autor, o racionalismo não consegue determinar o todo das coisas em si. Para Merleau-Ponty, o mundo, além de ser um mistério, é um mundo aberto às percepções de cada indivíduo a partir da sua corporeidade. Este mundo pode ser de várias formas, mas ao mesmo tempo estaremos nos referindo a um mundo só. Para Einstein, essa possibilidade é invalidada.
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