Como se desenvolve o trabalho filosófico? Como constrói o filósofo esses argumentos?
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- Ana Laura Amaral Philippi
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1 O que é filosofia? A filosofia é uma atividade interrogativa (dimensão teórica) que tenta responder a problemas e questões que nos são comuns, discutindo-os e analisando-os. Questões como O que é o conhecimento?, O que é a arte?, Será que Deus existe, Qual o melhor regime político?, O que é uma ação correta?. A filosofia também é uma atitude crítica e reflexiva perante a vida e o mundo (dimensão prática) Como se desenvolve o trabalho filosófico? O trabalho filosófico desenvolve-se através de argumentos, o mais claros e rigorosos possível. É através dos argumentos que o filósofo fundamenta, justifica e clarifica as suas teorias. O trabalho filosófico é assim uma trefa de interpretação, formulação e avaliação de argumentos. Como constrói o filósofo esses argumentos? Recorrendo a instrumentos lógicos e linguísticos que estão subjacentes ao discurso em geral e ao discurso filosófico em particular: conceito, juízo e raciocínio Como se articulam na filosofia os problemas, com as teorias e argumentos? Os problemas, como objeto da filosofia, são sempre o ponto de partida inicial da prática da filosofia. As teorias filosóficas são as respostas dadas a esses problemas com base no método filosófico da reflexão crítica. Os argumentos são as razões dadas para defender as teorias que respondem aos problemas
2 Se há vários problemas filosóficos há várias disciplinas filosóficas. Quais? (apenas coloquei as disciplina abordadas no 10º ano Disciplina Objeto de estudo Questões abordadas Filosofia da Ação Reflete-se sobre a ação humana. Tem como objetivo a análise e compreensão do agir humano. O que são ações? É o livre-arbítrio compatível com o determinismo? Axiologia Ética ou Moral Análise e compreensão da experiência valorativa. Partindo da experiência da vida em sociedade, é uma disciplina filosófica onde se reflete sobre determinado tipo de regras que devem orientar a ação humana. O que são valores? Há valores objetivos ou são os valores subjetivos? Como devemos agir? Porque razão devemos agir de forma moral? Haverá padrões morais universais ou todas as normas morais são relativas? Filosofia Política Reflete sobre o direito e a política. Como deveremos viver em sociedade? Será o estado necessário? O que legitima a autoridade o Estado? Como é possível uma sociedade justa? Estética ou Filosofia da Arte Filosofia da Religião Reflete sobre a dimensão estética da experiência humana. Tem como objetivo a compreensão da arte como uma das dimensões da ação humana. Reflete sobre a dimensão religiosa da experiência humana. Tem como objetivo compreender de que forma a experiência religiosa é significativa na ação humana. O que é a arte? O que distingue uma obra de arte? Por que razão damos valor à arte? Como se deve avaliar uma obra de arte? Serão as crenças religiosas passíveis de discussão racional? Será que Deus existe? É possível justificar racionalmente a existência de Deus? Lógica Estuda a argumentação válida (lógica) O que distingue validade de verdade? O que é um bom argumento? Como se distingue a indução da dedução? Que erros de raciocínio podemos cometer? Metafísica e Ontologia Reflete sobre a realidade, a verdade e o sentido da existência. Que tipo de entidades há? Tem a existência sentido? Como encontrar o sentido da existência se somos finitos?
3 A filosofia apresenta duas dimensões nas quais faz sentir os seus efeitos. Quais são? Uma dimensão teórica, relacionada com: o A procura do conhecer a essência da realidade o A procura de uma visão integradora do real o Uma reflexão sobre os problemas/saberes por suscitados ela realidade. o Questionamento das nossas crenças fundamentais. o A procura dos fundamentos dessas crenças apreciando a sua racionalidade. Uma dimensão prática, relacionada com: o Sermos autónomos e agir de forma responsável o O saber intervir a nível social e político o O saber argumentar a favor das nossas ideias e avaliar criticamente as dos outros Qual era o método socrático? Sócrates defendia que o método da filosofia para descobrir a verdade fosse o diálogo crítico. Nesse diálogo Sócrates levava os seus interlocutores a realizarem uma análise conceptual das suas crenças acerca de conceitos básicos, procurando uma definição verdadeira dos mesmos. A defesa e refutação dessas definições era feita com base em argumentos em que se procuravam exceções às definições dadas. Esse diálogo dividia-se em duas fases/momentos: o A ironia: durante a qual se leva o interlocutor a reconhecer a sua ignorância e a prepará-lo para a descoberta da verdade. o A maiêutica: durante a qual se leva, pelo diálogo, o interlocutor a descobrir a verdade por si mesmo
4 Como se caraterizam os problemas filosóficos? São gerais e abstratos, isto é, são problemas englobantes que ultrapassam os limites espácio-temporais São conceptuais, isto é, são problemas teóricos acerca do sentido e do valor de determinadas realidades (conhecimento, ação, religião) São problemas quem, em princípio interessam a toda a humanidade, na medida em que dizem a respeito a questões existenciais (questões sobre o sentido da existência) Não podem ser respondidos pela observação ou experiência, isto é, só podem ser respondidos pelo pensamento, através da análise conceptual e da argumentação racional Se a filosofia é uma disciplina conceptual cujos problemas só podem ser resolvidos recorrendo ao pensamento, então as informações empíricas não servem para nada em filosofia? É verdade que os factos empíricos não são decisivos na resolução desses problemas Contudo não é verdade que os dados empíricos não sejam necessárias, porque mesmo não sendo decisivos os filósofos não podem prescindir deles porque: Não só mutas questões filosóficas são levantadas a partir de situações empíricas, sem as quais não seriam levantados. Por exemplo, com o avanço da tecnologia médica podemos prolongar a vida de alguém artificialmente, mas devemos fazê-lo? Os filósofos também não podem discutir questões, por exemplo, sobre a arte, sobre a religião, sobre a vida e a morte, ou sobre o conhecimento científico sem conhecerem essas realidades. Qual o valor ou utilidade da filosofia? A filosofia promove uma atitude crítica, isto é, de não-aceitação passiva das ideias/crenças, qualquer ideia/crença tem de ser sempre bem avaliada nos seus fundamentos (razões) para verificar se é verdadeira ou falsa. A filosofia promove a nossa autonomia/independência mental, isto é, exige que ao criticarmos as ideias exige que pensemos por nós mesmos sobre os assuntos, e que tomemos uma posição fundamentada (apoiada em razões) sobre os mesmos.
5 A filosofia promove nossa autoconfiança/responsabilidade, na medida em que após o exame crítico e autónomo das ideias/crenças estaremos mais confiantes em que as ideias, as nossas ou as alheias, são verdadeiras ou falsas e que merecem ser aceites ou não. Por último a filosofia desenvolve as capacidades argumentativas e comunicativas: em filosofia aprende-se a avaliar e a discutir com rigor e coerência os problemas e argumentos, e a formular os nossos próprios argumentos e a comunicá-los O que é o conceito? É a representação mental abstrata e geral que se aplica a um conjunto de seres que partilham propriedades comuns. A sua importância decorre do facto de possibilitar reunir sob um conjunto de propriedades comuns uma grande número de elementos pertencentes a uma classe. A sua expressão verbal é o termo ou palavra. Com os termos construímos as frases com que expressamos os nossos pensamentos. Que relação existe entre o juízo e a proposição? O juízo corresponde à relação entre conceitos e a proposição que é a sua expressão verbal Que tipo de proposições existem? Categóricas: aquelas em que o predicado é afirmado ou negado em relação ao sujeito de forma incondicional. Exemplo: Todo o homem é mortal. Nenhum homem é mortal Condicionais: aquelas em que é declarado que uma determinada situação acontece na condição de outra ocorrer. Exemplo: Se estudar, estou preparado para o teste.
6 Qual a forma canónica das proposições? Categóricas Quantificador Sujeito Cópula Predicado Condicionais Se Proposição antecedente então Proposição consequente Como negar proposições? Nas proposições categóricas nega-se o quantificador e a cópula: se o quantificador for universal, passa-se a particular e vice-versa. Se a cópula não aparece negada, passa a ser negada e vice-versa. Exemplo: Todo o S é P passa a Algum S não é P Nenhum S é P passa a Algum S é P Nas proposições condicionais, a proposição a seguir à partícula SE, mantém na mesma. A proposição a seguir à partícula ENTÃO, altera-se, se aparece negada passa a afirmada, se aparece afirmada passa a negada. Elimina-se o SE e o ENTÃO é substituído por E ou MAS Exemplo: Se não P, então não Q passa a não P e Q Se P, então não Q passa a P e Q Se P, então Q passa a P e não Q O que é o raciocínio? É uma relação entre juízos ou proposições. É um processo de inferência através do qual se chega a uma ideia (conclusão) através de outras que a justificam (premissas). A sua expressão verbal é o argumento
7 O que é um argumento? É um conjunto de proposições relacionadas entre si de tal modo que umas devem oferecer razões para aceitar uma outra. As proposições que servem de razões designam-se por premissas. À proposição que se pretende defender a partir das premissas chama-se conclusão Qual a forma canónica de um argumento? Premissa Premissa Conclusão Distingue verdade de validade. A validade é uma propriedade dos argumentos, e que se refere à sua forma, isto é ao modo como as proposições estão encadeadas entre si e com a conclusão. A verdade é uma propriedade só das proposições não dos argumentos que se refere ao seu conteúdo, isto é, à correspondência entre o que elas declaram e uma determinada realidade. Distingue argumentos dedutivos de argumentos não dedutivos Argumento dedutivo é aquele em que a verdade das premissas garante a verdade da conclusão desde que seja válido. Este argumento só é válido quando as premissas oferecem um apoio completo à conclusão, de tal modo que é impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão ser falsa Argumento não dedutivo, é aquele em que a verdade das premissas apenas sugere a probabilidade da verdade da conclusão desde que seja válido. As premissas apenas dão um suporte parcial à conclusão, não a garantindo necessariamente. Este argumento só é válido quando é improvável que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Como sabemos se um argumento é válido? Um argumento diz-se válido quando a sua conclusão decorre necessariamente das premissas, ou seja, quando é impossível as premissas serem todas verdadeiras e a conclusão falsa. Um argumento é inválido quando a conclusão não decorre necessariamente das premissas. Nenhum argumento inválido é um bom argumento, mesmo que as suas premissas sejam verdadeiras. O que é um bom (sólido) argumento? É um argumento que além de ser válido tem as premissas todas verdadeiras. Nenhum argumento inválido é bom.
Num caso como no outro, o filosofar apresenta-se como uma actividade que consiste
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