ARQUIVAMENTO COM REMESSA

Transcrição

1 PROEJ Nº ARQUIVAMENTO COM REMESSA Trata-se procedimento preparatório de inquérito civil instaurado nesta Promotoria Especializada, de ofício, visando apurar suposto ato de improbidade administrativa face a ordem de serviço nº 01/2016 emanada do Comandante da CPTUR objetivando a realização de policiamento no evento enlace matrimonial, ocorrido no dia 09 de janeiro do corrente ano, nesta capital. Diante da necessidade de instruir o presente procedimento, expediu-se notificação do Comandante da CPTUR Jorge Cirilo Santos de Sobral para prestar esclarecimentos, por escrito, acerca da ordem de serviço, bem como, requisitou-se a instauração do competente procedimento administrativo disciplinar em desfavor do militar, através da Promotoria de Justiça Militar, conforme expediente de fls. 13. Em atenção a notificação expedida, o Comandante da CPTUR Jorge Cirilo Santos de Sobral prestou esclarecimentos, informando que em nenhum momento houve deslocamento de policiamento exclusivamente para atender o evento enlace matrimonial. Ponderou também que havia apenas uma viatura para atuar em todo o Bairro Coroa do Meio e que no dia do ocorrido, qual seja, aconteceriam duas festas de grandes proporções no perímetro externo das ruas Heriberto Rezende de Gois e Urbano Neto. Informou ainda que em nenhum momento foi dada ordem aos policiais para adentrar na festa ou fazer policiamento privado, fazendo tão somente o policiamento periférico. Acrescentou, afirmando que não houve prejuízo as ocorrências do CIOSP, uma vez que só foram registrados cinco acionamentos na referida noite, sendo que foram dois acidentes de trânsito que foram atendidos pela CPTRAN e as

2 outras três foram cobertadas pela CPTUR, informações essas conforme documentos de fls.26. Esclareceu também que em razão da presença de muitos policiais militares de diversos graus terem sido convidados para o referido evento, inclusive o Comandante Geral da PMSE, fato esse que exige certos cuidados, foi redimensionado o policiamento para aquela localidade em seu âmbito externo e logradouros adjacentes. Ressalte-se que, não obstante tenha sido expedida notificação para oitiva do SGT Cardoso, o Comando-Geral da PMSE informou que não tinha como identificar o referido policial, uma vez que possuía no seu banco de dados inúmeros policiais como o mesmo nome, ocasião em que solicitou a apresentação de dados complementares e que após a juntada de novos documentos, entendeu-se desnecessária a oitiva do referido policial. (fl. 30). Dando prosseguimento ao feito, notificou-se o Coronel Chaves para que apresentasse cópia do contrato firmando com a empresa de segurança privada que prestou serviços ao evento, bem como oficiou-se ao Comando-Geral da PMSE para que identificasse a viatura da Área Tubarão 07, 2º turno que supostamente realizou policiamento no dia do matrimônio em comento. (fl. 32). Em resposta, o Coronel Chaves apresentou o contrato de prestação de serviço com a empresa M&G Eventos Ltda, onde consta a contratação de 04 (quatro) seguranças para dentro do salão e estacionamento. (fls. 34/35). De igual forma, por meio do ofício nº 102/2016 o Comando-Geral da PMSE informou que o prefixo da viatura da Área Tubarão 07 é M01504 com apoio das viaturas Tub 01 e 02, bem como que os policiais que estavam de serviço no dia do referido evento foram os seguintes: 2º Sgt Márcio Ricardo Cardozo dos Santos, CPF: e Sd Júnior Inocêncio Silva, CPF:

3 Dando prosseguimento as diligências para instrução do feito, oficiou-se ao Comando-Geral da PMSE, solicitando informações acerca da conclusão do PAD (procedimento administrativo disciplinar) instaurado para apurar possíveis irregularidades ocorridas no supracitado evento. Por sua vez, o procedimento administrativo instaurado relatou que foi confeccionada uma ordem de serviço no dia 08/01/2016 pela CPTUR para que a guarnição realizasse o policiamento visando coibir roubos e furtos a veículos nas imediações do bairro Coroa do Meio, apenas colocando a Rua Heriberto Rezende Góis, rua essa onde se localiza o salão de festa STYLUS para fazer Pontos Bases PB's e que por um erro formal na escala de serviço foi citado com prejuízo ao serviço, quando na verdade era para constar para a guarnição fazer rondas e PB's no local do evento sem prejuízo para o serviço. Ademais, a própria instituição reconheceu a legitimidade do emprego da viatura, conforme declarações prestadas ao site Infonet pelo Tenente Coronel William Vasconcelos que afirmou que a viatura avistada nas imediações do salão de festa onde ocorria a celebração do casamento estava desempenhando uma atividade rotineira, realizando rondas e, coincidentemente teria feito uma breve parada de vinte minutos nas proximidades, ressaltando que se tratou de uma atuação de rotina para garantir a segurança de toda a comunidade e não especificamente à aludida festa, além do que serviu para evitar arrombamento dos veículos e roubos das armas dos PM's convidados que estavam no interior dos carros estacionados nas ruas. Por fim, concluiu que não houve a prática de transgressão disciplinar por parte do Comandante da CPTUR. Eis em síntese, o que importa relatar.

4 O procedimento em testilha, foi instaurado objetivando verificar se houve a prática de ato de improbidade administrativa por parte do Comandante da CPTUR Jorge Cirilo Santos de Sobral. De início, ressalte-se que ato de improbidade administrativa em sentido amplo se configura quando ocorre o desvirtuamento da função pública, ou seja, a prática por parte do agente público de conduta que não é compatível com os parâmetros e as exigências do exercício da função pública. No caso em análise, apura-se a prática de ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei 8.429/92, qual seja, aquele que atenta contra os princípios da Administração Pública. Vejamos: Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: (...) II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; Com efeito, para configuração dos atos de improbidade administrativa que atentem contra os Princípios da Administração Pública, indispensável a existência do dolo, ainda que genérico, na conduta do agente. Consoante entendimento pacífico da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é necessária a existência do elemento subjetivo do dolo para caracterização da improbidade administrativa no tocante à tipificação das condutas descritas nos artigos 9º e 11, porquanto os atos previstos no art. 11 prescindem da comprovação de prejuízo aos cofres públicos.

5 Os atos de improbidade só são punidos a título de dolo, indagando-se da boa ou má-fé do agente, nas hipóteses dos artigos 9º e 11º da Lei 8.429/92 (REsp /ES, Rel Min. Eliana Calmon, DJ ). Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça, no REsp SP de relatoria do Ministro Luiz Fux, firmou entendimento de que imprescindível e necessária é a prova da má-fé para caracterização do ato de improbidade administrativa, conquanto tranquilizadora a decisão a consolidar a tendência de amenizar a interpretação rigorosa dada à Lei 8.429/92. De acordo com o entendimento exarado, conclui-se que para a caracterização do ato de improbidade administrativa que ofenda aos princípios da Administração Pública, faz-se necessário a comprovação do elemento volitivo, do dolo na conduta investigada. Nesse sentido, para a configuração do ato de improbidade ora em exame, há necessidade de haver o preenchimento dos seguintes requisitos: (a) conduta ilícita; (b) improbidade do ato, configurada pela tipicidade do comportamento, ajustado no art. 11 da LIA; (c) elemento volitivo, consubstanciado no dolo específico de cometer a ilicitude. Não se pode então in casu, reconhecer uma violação dolosa aos princípios regentes da Administração, haja vista os fatos terem sido devidamente esclarecidos e comprovados pelo Comandante da CPTUR, uma vez que determinou que a guarnição realizasse o policiamento visando coibir roubos e furtos a veículos nas imediações do bairro Coroa do Meio e apenas colocou a Rua Heriberto Rezende Gois, onde se localizava o salão de festa Stylus para fazer Pontos Base PB's e que por um erro formal na escala de serviço constou a expressão com prejuízo do serviço, quando deveria constar sem prejuízo do serviço, haja vista ter utilizado um arquivo já confeccionado e ter esquecido de proceder com as devidas alterações.

6 Ademais, insta salientar que a própria PMSE reconheceu a legitimidade do emprego da viatura segundo as declarações do Ten Coronel William Vasconcelos, no site da infonet, aduzindo que: ( ) a viatura avistada nas imediações do salão de festas onde ocorria a celebração do casamento do Coronel Chaves estava realizando rondas e coincidentemente fez uma breve parada nas proximidades, ressaltando que se tratou de uma atuação de rotina para garantir a segurança de toda a comunidade e não especificamente da referida festa, servindo também para evitar arrombamento de veículos e roubo das armas dos PM'S convidados ( ), declarações de fls. 77. Além disso, não houve prejuízo ao atendimento das ocorrências oriundas do CIOSP, salientando que foram apenas registrados na referida noite, 05 acionamentos, sendo dois atendidos pela CPTRAN, por se tratarem de acidentes de trânsito e os demais pela própria CPTUR. Impende registrar ainda que o procedimento administrativo disciplinar instaurado pela CPMC, em atendimento à requisição da Promotoria Militar, não restou comprovada a prática de transgressão disciplinar, conforme relatório de fls. 75/77. Desse modo, diante dos elementos coadunados aos autos, não restou caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa capaz de atentar contra os princípios da Administração Pública na atuação do Comandante da CPTUR, tornandose despicienda a continuidade desse procedimento, bem como a realização de outras diligências. Diante do exposto, tendo em vista a esfera de atribuições do Ministério Público Estadual, através da 3ª Promotoria de Justiça especializada no Controle Externo da Atividade Policial e Questões Agrárias, que por sua vez não vislumbrou fatos típicos merecedores de maiores apreciações, não subsistindo portanto razões para a deflagração de qualquer demanda judicial, entendo por PROMOVER O ARQUIVAMENTO COM REMESSA AO CONSELHO SUPERIOR do

7 Procedimento Preparatório de Inquérito Civil nº , nos termos do art.37, da Resolução nº 002/ 2008 CPJ. Sendo o caso de aplicação do artigo 9º, 1º, da LACP, encaminhem-se os autos ao Egrégio Conselho Superior do Ministério Público. Registre-se tudo no PROEJ, comunicações necessárias. Após, arquivese. Aracaju/SE, 18 de abril de JARBAS ADELINO SANTOS JÚNIOR Promotor de Justiça