DESPACHO n. º 076 / 2008 / 4º OTC - PRPE - MPF

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Luna de Oliveira Branco
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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO DESPACHO n. º 076 / 2008 / 4º OTC - PRPE - MPF Ref. Procedimento Administrativo / Relatório Trata-se de representação anônima que atribui improbidade administrativa a servidor da UFPE enviada ao Ministério Público do Trabalho. Segundo o noticiante: Existe um convênio do PROMATA com a UFPE que coordena este projeto: salários injustificadamente atrasados, pois sabemos que o dinheiro já estava liberado desde o início do projeto. Os trabalhadores podem ser prejudicados por trâmites burocráticos? Isto é legítimo? Sei que embora não haja vínculo empregatício, apesar de haver relação de trabalho, penso que existe todo um esquema na UFPE de desvio de dinheiro público. O professor João Francisco, (coordenador do NUPEP e do atual PROMATA) por exemplo, coagia os coordenadores do projeto Alfabetização Solidária a entregar metade da bolsa, destinadas para eles, no valor de R$ 600,00 para o próprio bolso. Como eu não trabalhei neste projeto, sei que ele continua fazendo funcionários assinar recibos para ele ficar com o dinheiro. No que se refere ao atraso no pagamento dos salários a competência para apuração é do Ministério Público do Trabalho. Contudo, a competência para investigar a improbidade administrativa que teria sido praticada pelo Sr. João Francisco é do Ministério Público Federal. Desse modo, o Exmo. Procurador do Trabalho encaminhou cópia dos autos a este MPF. Além do presente Procedimento Administrativo, foram instauradas as Peças de Informação nº 1

Segundo o noticiante: Existe um convênio do PROMATA com a UFPE que coordena este projeto: salários injustificadamente atrasados, pois sabemos que o dinheiro já estava liberado desde o início do

2 / distribuída ao 7º Ofício Criminal, em face do qual foi requisitada instauração de Inquérito Policial. Com o fito de instruir o presente Procedimento Administrativo, foi requerido ao MPT através do Ofício nº 129/2006 4º OTC/PRPE/MPF (fl. 17) cópia de declaração prestada pelo sr. João Francisco de Souza ao Ministério Público do Trabalho em Em resposta, o Exmo. Procurador do Trabalho Fábio André de Farias, através do Ofício CODIN/FAF/MPT 6ª Região nº 0030/2007 de , enviou cópias dos seguintes documentos: 1.Declaração prestada pelo sr. João Francisco de Souza, professor da Universidade Federal de Pernambuco (fls. 31/32); 2.Termo do Convênio nº 001/2003 firmado entre o Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Planejamento e a Universidade Federal de Pernambuco, para implementação do projeto de alfabetização de jovens e adultos, no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco PROMATA (fls. 33/39); 3.A relação de nomes e endereços do monitores e educadores de apoio envolvidos na execução do PROMATA Projeto Educação fornecido pelo Instituto de Planejamento e Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico e Científico IPAD (fls. 43/82). O sr. João Francisco de Souza - apontado como agente público ímprobo prestou declaração ao Ministério Público do Trabalho (fls. 31/32) em que afirmou: que o PROMATA é um programa do governo estadual para desenvolver projetos na região de plantio da cana de açúcar; que o programa de alfabetização solidária foi desenvolvido durante o governo do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso; que quando terminou este governo, o programa foi transformado numa OSCIP; que professores da UFPE participavam do alfabetização solidária; que deste programa participou a UFPE diretamente indicando professores; que a UFPE tem convênio com o governo do estado para capacitação, acompanhamento e avaliação pedagógicos do projetos de alfabetização de jovens e adultos do PROMATA; que são os professores vinculados ao NUPEP que executam essas 2

João Francisco de Souza ao Ministério Público do Trabalho em 11.07.2006. Em resposta, o Exmo.

3 atividades em nome da UFPE; que a execução financeira deste programa é realizada pela FADE; que o programa é executado por meio de convênio das prefeituras da zona da cana, do governo do estado, do IPAD e da FADE/UFPE; que o governo do estado fez o projeto, faz o gerenciamento geral e aporta os recursos necessários; que as prefeituras entram com o espaço físico, merendas e infraestrutura; que o IPAD contrata e seleciona dez professores e um coordenador por município; que são quarenta e três municípios; que a FADE se encarrega do pagamento do pro labore dos professores universitários envolvidos e da equipe pedagógica; que a equipe pedagógica é composta por graduados da área de pedagogia e cursos de licenciatura diversos; que estes profissionais não têm vínculo com a UFPE, excetuando-se os de eventualmente de serem alunos; que este programa inicialmente durou dez meses, sendo prorrogado por mais dez; que o programa iniciou em 2004 e encerrou-se em 2006; que atualmente está encerrado o programa; que é o IPAD que detém a informação dos nomes e qualificações dos profissionais que atuam nos municípios; que o NUPEP possui apenas as informações dos professores da UFPE e da equipe pedagógica; que o salário dos alfabetizadores dos municípios são pagos pelo IPAD; que a atividade desempenhada é um serviço de extensão da UFPE; que neste programa foram alfabetizados cerca de vinte mil pessoas. 2. Das razões irregularidades: Na representação há referência a três 1.Atraso no pagamento dos salários dos trabalhadores do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco PROMATA Projeto Educação; 2.Desvio de dinheiro público na UFPE; 3.Coação do servidor João Francisco para que os coordenadores do Programa Alfabetização Solidária lhe entregasse metade da bolsa percebida. Como dito anteriormente, cabe a este Ministério Público Federal a investigação apenas dos itens 2 e 3. De antemão, observo que a representação como um todo é bastante vaga e não aponta indícios precisos de irregularidades, apenas o faz de modo genérico, sem indicar os fatos que levaram a esta conclusão e mesmo sem demonstrar certeza do que se afirma. 3

IPAD contrata e seleciona dez professores e um coordenador por município; que são quarenta e três municípios; que a FADE se encarrega do pagamento do pro labore dos professores universitários

4 É de se notar também que se trata de representação anônima, o que impede a ouvida do noticiante a fim de obter informações mais precisas acerca das irregularidades apontadas. Ademais, no que se refere ao item 2 Desvio de dinheiro público na UFPE - o que há na representação é apenas uma ilação, uma opinião. As palavras do noticiante são: penso que existe todo um esquema na UFPE de desvio de dinheiro público. Não há nada que indique a verossimilhança desta afirmação. Como se observa, para apurar esta vaga notícia de irregularidade seria preciso realizar uma verdadeira devassa na Universidade Federal de Pernambuco, pois que este esquema de desvio de dinheiro pode se dar em relação a qualquer despesa ou convênio, dado que a representação de modo algum especifica como se dá este desvio de dinheiro ou indica um fato exemplificativo. No que se refere à irregularidade 3 Coação do servidor João Francisco para que os coordenadores do Programa Alfabetização Solidária lhe entregasse metade da bolsa percebida - entendo, também, que carece a representação de elementos mínimos lastreadores da investigação. Em que pese haja apontamento de fato concreto e determinação do agente ímprobo, noto que o noticiante demonstra incerteza do que afirma, pois teria obtido a informação da irregularidade por terceiros: O professor João Francisco, (coordenador do NUPEP e do atual PROMATA) por exemplo, coagia os coordenadores do projeto Alfabetização Solidária a entregar metade da bolsa, destinadas para eles, no valor de R$ 600,00 para o próprio bolso. Como eu não trabalhei neste projeto, sei que ele continua fazendo funcionários assinar recibos para ele ficar com o dinheiro. Como se observa, o noticiante se refere a fato pretérito pois o Programa Alfabetização Solidária, à época, já acabara do qual teve notícia por terceiros, posto que não trabalhou no programa referido. Ademais, o noticiante não aponta os nomes das pessoas que teriam sido coagidas pelo servidor e, em face do anonimato, torna-se impossível a adoção de medidas tendentes a colher junto a ele as informações necessárias ao 4

As palavras do noticiante são: penso que existe todo um esquema na UFPE de desvio de dinheiro público. Não há nada que indique a verossimilhança desta afirmação.

5 encaminhamento deste Procedimento Administrativo. Pelo teor da representação, parece-me que o noticiante estava indignado com o atraso dos salários do PROMATA e ao representar ao MPT tinha por objetivo tão somente a regularização do pagamento. Desse modo, entendo que as demais irregularidades apontadas são imprecisas por terem sido expostas de maneira leviana, mais preocupada em acusar e demonstrar a insatisfação do que dar início a uma séria investigação acerca de possível improbidade. O trecho abaixo demonstra o dito: Estou indignada com a UFPE, caso ela esteja realmente conivente com esse ladrão. Espero que o Ministério Público do Trabalho investigue essas denúncias, para que ele (joão Francisco) seja afastado daquele órgão que coordena. (parênteses nosso) Desse modo, entendo que não há elementos que justifiquem uma investigação. De modo que seria descaso com o patrimônio público direcionar esforços materiais e humanos para apurar assertiva tão carente de elementos. Diante do exposto, decido pelo ARQUIVAMENTO do presente procedimento administrativo, determinando à SOTC: 1. informe ao Ministério Público do Trabalho sobre a presente decisão; 2. remeta os autos à 1.ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para fins de homologação e 3. publique a presente decisão no sítio da Procuradoria da República no Estado de Pernambuco na internet. Recife, 25 de julho de Marcelo Mesquita Monte Procurador da República 5

Desse modo, entendo que as demais irregularidades apontadas são imprecisas por terem sido expostas de maneira leviana, mais preocupada em acusar e demonstrar a insatisfação do que dar início a uma

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