RELATÓRIO DE VIVÊNCIA APODI-RN
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- Nina Mangueira Neves
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1 RELATÓRIO DE VIVÊNCIA APODI-RN Natal-RN Janeiro, 2015
2 Vivente: Thiago da Silva Bezerra Facilitadores: Sidney Rafael Oliveira e Raissa Amorim Data da vivência: 12/01/ /01/2015 Cidade Selecionada: Apodi-RN Síntese do município: Apodi é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Norte, localizado na região da Chapada do Apodi, na microrregião da Chapada do Apodi, na mesorregião do Oeste Potiguar e no Polo Costa Branca. De acordo com a estimativa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2014, sua população é de habitantes. Área territorial de km². Foi emancipado de Portalegre através da Resolução do Conselho Geral da Província do Rio Grande. Reflexão da vivência: O estágio de vivência foi de suma importância para todos que ali estavam presentes, não somente pelas ricas discussões diárias, mas também, pelas visitas nas unidades de saúde, pelas conversas com os profissionais e usuários, pelas situações inusitadas que deixaram os nossos dias mais ricos de conhecimento. Foram dias que respiramos SUS e eu me orgulho de ter tido fôlego para ter participado e experimentado novas oportunidades. Acredito que para uma boa formação de qualquer estudante, é fundamental o seu envolvimento com atividades extracurriculares. O Aluno que permanece em sua zona de conforto na sala de aula apenas, sai com um déficit que possivelmente o mercado de trabalho não suprirá. Portanto, é plausível projetos e iniciativas como o VER-SUS, à medida que nos capacita e nos fornece uma visão crítica do sistema de saúde. A Viagem: A viagem aconteceu no dia 12 de janeiro com partida às 12:45 da manhã com destino à quatro cidades: Afonso Bezerra, Apodi, Rodolfo Fernandes e Jardim do seridó, nessa sequência, ou seja, fomos a segunda cidade a chegar no destino planejado. Às 20:30 do mesmo dia, 12 estudantes de diversas áreas da saúde chegaram na pousada Portal da Chapada para desfrutar da vivência. Obs: Para fins de organização, este relatório está dividido por tópico.
3 Equipe Fogo Viagem com outras equipes ATENÇÃO BÁSICA: Atenção Básica de Apodi é constituida por 3 UBS s na zona urbana e 6 UBS s na Zona Rural. Algumas unidades não fazem cobertura total ao município devido ao insuficiente número de servidores ou de contratados. Diante dessa constatação, observou-se o baixo número de ACS em algumas equipes da Estratégia, sendo assim, não compatível com o que preconiza a Política Nacional da Atenção Básica: 750 pessoas por Agente Comunitário de Saúde. Além disso, poucos são os profissionais da assistência, principalmente os médicos, o que resulta na sobrecarrega de trabalho fragilizando as condições de trabalho e a relação médico-paciente. Um fato relevante encontrado em todas a UBS s, são os enfermeiros que fazem papel de gerente da unidade, tendo como atribuição, muitas vezes, funções administrativas e financeiras. Isso de um ponto de vista é ruim, pois os mesmos, comumente, não possuem formação específica na área de finança, contabilidade e, sobretudo, na administração de Unidade de Saúde. Na atenção básica, também, observou-se a presença de Médicos Cubanos com o advento do MAIS MÉDICOS. Aparentemente, estes médicos vieram a fortalecer a Estratégia de Saúde da Família do município na medida em que estão suprindo o déficit de médicos brasileiros no interior do estado. Todavia, há de se questionar acerca do modo como esses profissionais estão exercendo a Medicina em terras brasileiras, pois não há se quer a revalidação do diploma destes profissionais estrangeiros. Logo, vem-se a discussão que não é recente: a formação da medicina em cuba atende integralmente as demandas brasileiras? Na minha percepção, não. Porque in loco, fomos informados que
4 na cidade de Apodi, alguns Médicos Cubanos ainda encaminham pacientes, que merecem cuidados na atenção básica, para a média e alta complexidade, aumentado ainda mais a superlotação destas sofríveis Unidades hospitalares. É inadmissível que as três esferas governamentais não ponham em práticas políticas de reestrutuação do sistema de saúde. A sociedade urge por políticas de valorização das condições de trabalho de todos os profissionais de saúde, para que nenhum deles hesite em deixar o interior. Diante de todos esses entraves, também me questiono se a Política Nacional de Humanização está sendo exercida. Na verdade, vergonhosamente, estamos muito aquém do que deveríamos oferecer aos usuários do SUS. Na UBS Santa Rosa (Zona Rural) MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE: A Média e Alta complexidade no municipio de Apodi tem um papel tão importante quanto na atenção básica. Pois são nos hospitais que se tratam as doenças, e se estas unidades de pronto atendimento não estiverem em interação com as unidades básicas, não será possível um efetivo sistema de referencia e contra referencia, principalmente quando o usuário precisar voltar para o posto de saúde a fim de continuar seu tratamento. Nesse sentido, visitamos o Hospital Regional Hélio Morais Marinho que atende aos municípios de Apodi, Felipe Guerra, Severiano Melo, Rodolfo Fernandes, Itaú e algumas cidades do Ceará. Sua demanda está em torno de 200 pacientes ao dia. Os principais procedimentos oferecidos pelo hospital são os atendimentos aos casos de urgência e emergência, ginecologia, clínica cirúrgica, pediatria, ambulatório, exames laboratoriais, raios X e ultra-sonografia. Esse Hospital
5 apesar de ser do Estado, é conveniado com a prefeitura na contratação de médicos. Muitos destes, também atendem nas UBS s. Com relação ao Centro de Especialidades Odontológica(CEO) que são Clínicas Especializadas ou Ambulatórios de Especialidades, em Apodi verificou-se ser um ponto positivo no serviço e na garantia de um atendimento como preconiza a legislação do SUS. Foi notório também, que os Centros de especialidades Odontológicas estão preparados para oferecer à população, no mínimo, os seguintes serviços como: diagnóstico bucal, com ênfase no diagnóstico e detecção do câncer de boca; Periodontia especializada; Cirurgia oral menor dos tecidos moles e duros; Endodontia e Atendimento a portadores de necessidades especiais. Todavia, observa-se que o CEO não trabalha em regime de plantão 24h, o que poderia ser feito para aumentar o acesso à população. DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE: Numa cidade como Apodi foi possível enxergar alguns dos vários determinantes do processo saúde doença da população: o Meio Ambiente, a religião, a fé, a economia, a infraestrutura, o lazer, as artes, a cultura, o esporte, a educação e a segurança. Com relação ao tráfico de drogas e suas negativas consequências, Apodi é uma cidade que não difere das demais. A violência gerada pelo tráfico de drogas é uma realidade constante. O constante casos de assaltos, furtos e roubos a bancos, só reforça o problema que hoje é considerados por muitos teóricos como um problema de saúde pública. Foi verificado que em Apodi há uma localidade onde esses crimes acontecem em demasia, o chamado baixa do caíque. Verifiquei in loco e a comunidade sofre com a falta de espaços de lazer, com a falta da segurança, da iluminação pública, tudo isso contribuindo ainda mais para a prática criminosa da violência. Até mesmo a própria UBS s é vitima de furtos, tendo que não utilizar equipamentos de TV,DVD,ventilador, justamente pelos constantes furtos na região. Lamentavelmente, percebeu-se uma falta de políticas sociais de prevenção e combate ao uso de drogas. Esse assunto deve ser tratado de forma intersetorial, logo, as políticas também deverão seguir esse rumo.
6 A falta de saneamento básico é outro determinante que deve ser levado em consideração. Nos dias atuais, sabe-se que esse agravante pode ocasionar as seguintes doenças: amebíase, ancilostomíase, ascaridíase, cisticercose, cólera, dengue, diarréia, desinterias, elefantíase, esquistossomose, febre amarela, febre paratifóide, febre tifóide, giardíase, hepatite, infecções na pele e nos olhos, leptospirose, malária, poliomielite, teníase e tricuríase. Felizmente, a prefeitura já está com projeto de sanear 100% da cidade nos próximos meses, torcer para que de fato isso se concretize. Procuramos conhecer também um curandeiro na cidade, fui recebido bem por ele que me contou um pouco de seu trabalho espiritual na comunidade. Evidentemente, ficou claro que a fé dele é superior a qualquer prática médica e muitos depositam na fé a cura desejada. Seu Nanão, curador da cidade REDE DE SAÚDE DE APODI: A rede de saúde (UBS s, maternidade, hospital, CEO e etc.) de Apodi inserida na segunda região de saúde no estado do RN deveria se trabalhar de forma mais integrada. Muitas vezes o profissional que trabalha na UBS s não se sente participante de uma rede de saúde a qual é subordinado a uma secretaria do nível central. Foi relatada na vivência que as enfermeiras de uma determinada unidade de saúde com ESF ainda se sente no CESP ( Cetro de Especialidades, antiga UBS), tudo isso reflete a dificuldade de compreensão que muitos profissionais tem de entender a importância de uma estratégia de saúde da família e de uma unidade básica. Ainda é mais agravante a
7 desinformação dos usuários com relação a que instituição procurar para resolver seus problemas de saúde. Demanda de Unidade Básica de Saúde sendo procurada no Hospital Regional Héio Morais marinho, e isso num período de superlotação dos hospitais públicos é inadmissível. É preciso se fazer um trabalho de conscientização com a população com relação as atribuições da atenção básica, média e alta complexidade, de modo a favorecer a resolutividade dos atendimentos sem precarizar os serviços. Com relação a regionalização, percebi que em Apodi não há muito problema com relação às famílias e o acesso aos serviços, exceto os que moram mais distantes, na zona rural, que dependem de transporte para chegar na zona urbana. GESTÃO: A Gestão de Saúde de Apodi assim como em outras cidades menores, não possui ferramentas que auxiliem no diagnóstico epidemiológico que facilitem seus trabalhos de decisão. Na verdade há uma precarização dos sistemas de vigilância. Nesse sentido, faltam profissionais para trabalhar neste serviço e que ainda sejam capacitados para lhe dar com a epidemiologia. Concomitantemente a isso, é a forte ligação da política partidária com a saúde fruto de um fenômeno histórico social. Muitas ações e projetos não são desenvolvidos e executados devido a interesses políticos que se sobrepõe aos interesses coletivos. Em Apodi, pela fala de alguns profissionais, usuários e população no geral isso ainda acontece. Mesmo diante do exposto, a equipe gestora de saúde do município me transpareceu estar bem coesa e integrada com os problemas de saúde do município, talvez o que falta, em minha opinião, ainda é a governabilidade para resolver todos os problemas. Pois muitas vezes somente o executivo é quem tem poder para realizá-los.
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