NÚCLEO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA DA COMARCA DE TATUÍ POLO IRRADIADOR

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1 NÚCLEO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA DA COMARCA DE TATUÍ POLO IRRADIADOR

2 JUSTIÇA RESTAURATIVA NÚCLEO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA DA COMARCA DE TATUÍ POLO IRRADIADOR Em meados de 2012, o Juiz de Direito Marcelo Nalesso Salmaso foi convidado a participar do Curso de Capacitação em Justiça Restaurativa, promovido pela Coordenadoria da Infância e da Juventude do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ministrado pela Professora Mônica Mumme na Capital do Estado de São Paulo. Na oportunidade, o Juiz convidou para participar de referido curso a Promotora de Justiça da Infância e da Juventude, Alessandra Aparecida Guimarães Koga, as Assistentes Sociais do Fórum de Tatuí Ana Aparecida Camargo e Maria Florídes de Oliveira Lopes Aguiar, a Escrevente de Sala Sandra Helena Adum, bem como, os Professores da Faculdade de Tecnologia FATEC de Tatuí Luís Antonio Galhego Fernandes e Maria Otília Tomazella. O Curso de Capacitação em Justiça Restaurativa, que contou com dois encontros mensais, às sextas-feiras, ao longo de seis meses, findou-se em março de Nesse ínterim, o Juiz Marcelo Salmaso passou a integrar a Coordenadoria da Infância e da Juventude do ETJSP e o Grupo Gestor da Justiça Restaurativa. Dentro do Projeto de Implementação e Expansão da Justiça Restaurativa no Estado de São Paulo, elaborado pelo Grupo Gestor, o Juiz Marcelo Salmaso criou o Núcleo Gestor da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí, como um Polo Irradiador Regional, para fins não só da implementação da Justiça Restaurativa em Tatuí, mas, também, nas cidades e comarcas da região. Nesse primeiro momento, tal Núcleo, coordenado pelo Juiz Marcelo Salmaso, restou composto pela equipe capacitada, acima mencionada.

3 A inauguração da Justiça Restaurativa na Comarca de Tatuí, bem como, do Núcleo Gestor, ocorreu em 25 de março de 2013, e contou com a seguinte programação: 1) Café Filosófico sobre o tema Justiça Restaurativa, às 10 horas, no Auditório da Faculdade de Tecnologia de Tatuí Prof. Wilson Roberto Ribeiro de Camargo FATEC de Tatuí; 2) Apresentação do Projeto de Justiça Restaurativa aos Diretores, Coordenadores e Professores Mediadores das Escolas do Município de Tatuí, às 15 horas, no Plenário do Júri do Fórum da Comarca de Tatuí, na Avenida Virgílio Montezzo Filho, nº 2009, Bairro Nova Tatuí; 3) Inauguração da Sala da Justiça Restaurativa, no 2º andar do Fórum da Comarca de Tatuí, logo após a reunião acima delineada. O evento contou com a cobertura da imprensa local. Confira-se: Em seguida, no início do ano de 2013, a Secretaria de Estado da Educação, por meio da Direção Regional de Ensino de Itapetininga, promoveu Curso de Capacitação em Justiça Restaurativa para Professores-Mediadores de toda a região, ministrado pela Professora Mônica Mumme, o que contou com a participação do Juiz Marcelo Salmaso, como membro da Coordenadoria da Infância e da Juventude do ETJSP e Coordenador Núcleo da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí. Confira-se: A Professora Coordenadora da Escola Estadual Barão de Suruí, de Tatuí, Kátia Jerônimo Leite, bem como, a Assistente Social Carla Maria Soares Dias Lazalasilva, participaram de referido curso e, em seguida, passaram a integrar o Núcleo Gestor da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí. A participação de uma Professora mostrou-se como de fundamental importância para a articulação do Núcleo com a Educação e as Escolas.

4 De acordo com o plano estratégico traçado, num primeiro momento, o Núcleo entendeu por bem trazer, para os processos circulares, realizados na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum de Tatuí, os conflitos entre jovens, em trâmite perante a Vara da Infância e da Juventude ou remetidos, por meio de relatos, pelas escolas, mas que, de alguma forma, envolvessem a comunidade escolar, como, por exemplo, brigas entre alunos no interior ou nas imediações da escola, dano ao patrimônio da escola, dentre outros. Tudo para fins de envolver nos processos circulares a comunidade escolar, de forma a que os acordos e a tomada de consciência promovidos nos círculos pudessem fazer emergir uma verdadeira mudança na convivência no âmbito da instituição de ensino, pautada pela escuta interessada e amorosa, pela compreensão e pelo atendimento das necessidades, pela assunção das responsabilidades individuais e coletivas, bem como, pela cultura da paz. Nestes termos, o Juiz Marcelo Salmaso realizou reuniões individualizadas, com os representantes de cada uma das escolas de Tatuí, municipais e estaduais, que atuam no ensino fundamental II e médio, reuniões estas com uma uma hora duração para cada escola, ocorridas na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum da Comarca de Tatuí, nas quais procurou compreender as necessidades das escolas para a construção de um ambiente menos conflitivo, bem como, ainda, estabelecer a importante aliança com a Educação e traçar fluxos. Concomitantemente, o Juiz Marcelo Salmaso deu início à implementação da Rede de Atendimento de Direitos para a Justiça Restaurativa, reunindo todos os projetos, públicos ou privados, voltados aos jovens, ligados às diversas áreas, como saúde, artes, esporte, assistência social, orientação familiar e educação, passando a realizar reuniões periódicas com seus representantes, de forma a que os trabalhos individuais passassem a efetivamente atuar em rede, tanto nos processos circulares quanto de forma autônoma e preventiva. A partir das comunicações de conflitos provenientes das escolas ou, também, dos conflitos judicializados por meio dos processos em trâmite perante a Vara da Infância e da Juventude, os processos circulares tiveram início. As sensibilizações de ofensor e vítima, bem como, dos respectivos familiares, vêm sendo feita pelos Professores, em especial, pelo Professor-Mediador, da escola atingida pela transgressão.

5 Até o presente momento, ninguém se recusou a participar. Em referidas visitas, às vezes, nas residências dos alunos, o Professor também busca aferir as necessidades e os desejos dos jovens e de seus familiares, seguindo um roteiro previamente elaborado pelo Núcleo, o que é fundamental para a posterior composição do círculo, mormente no que tange às entidades da Rede. Os círculos são coordenados pelos facilitadores, no caso, as pessoas acima delineadas, previamente capacitadas, e deles também participam, como dito, ofensor, vítima, respectivos familiares, membros da comunidade direta ou indiretamente afetada pelo conflito, e, ainda, as entidades da Rede que, com seus projetos, podem atender às necessidades e sonhos dos jovens e de suas famílias, garantindo suporte para um novo caminho. Até o presente momento, dado o número reduzido de facilitadores capacitados, que, ademais, ainda têm que dar conta de seus sobrecarregados afazeres laborais, foram realizados onze círculos e respectivos pós-círculos. Pode-se dizer que os resultados dos processos circulares foram mais do que satisfatórios, pois houve o reconhecimento do erro por parte dos envolvidos, a assunção das responsabilidades individuais e coletivas para que o problema não volte a ocorrer, bem como, a participação da comunidade e das entidades da Rede para dar suporte aos acordos estabelecidos para fins de reparação dos danos causados à vítima e à comunidade, bem como, para a tomada de um novo rumo, afastado da violência e da transgressão. No dia 17 de dezembro de 2013, às 14 horas, no Fórum de Tatuí, será realizado o evento de Apresentação da Justiça Restaurativa para algumas pessoas e representantes de entidades previamente convidados, num total de quarenta a cinquenta ouvintes, para fins de apresentar a Justiça Restaurativa e sensibilizar sobre ela, bem como, para passar orientações sobre alguns pontos específicos, como o funcionamento dos círculos. O objetivo é que referidos convidados, no futuro, participem dos círculos, passando, com o tempo, a atuar como cofacilitadores e facilitadores, de forma a ampliar a equipe e possibilitar a realização de um maior número de processos circulares. Por outro lado, visa-se também a uma participação mais qualificada dos integrantes das entidades da Rede, a partir da compreensão, por estes, das etapas, dos elementos e dos objetivos do círculo.

6 No plano estratégico elaborado pelo Núcleo Gestor da Justiça Restaurativa de Tatuí, serão realizados círculos, como vem sendo feito, na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum de Tatuí, pela equipe do Núcleo, com casos advindos de cada uma das escolas. Assim, os Professores, em especial, os Mediadores, ao participarem do círculo, com os facilitadores da equipe do Núcleo, ganharão segurança para, depois, efetivarem os processos circulares nas escolas. Desta feita, caso venha para a Justiça um segundo conflito proveniente de escola que já participou de círculo na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum, a instituição de ensino será incentiva a realizar o processo circular no próprio ambiente escolar, com a coordenação do Professor-Mediador na qualidade de facilitador, tudo com o apoio do Núcleo da Justiça Restaurativa de Tatuí, inclusive com reuniões prévias e participação de um membro da equipe, no círculo, como cofacilitador. Quando as escolas já estiverem desenvolvendo processos circulares no ambiente escolar, com certo fluxo e frequência, adquirindo a equipe do Núcleo mais experiência e contando este com uma Rede mais fortalecida e harmoniosa, será possível avançar para conflitos mais complexos, como jovens envolvidos com entorpecentes e narcotráfico. O Núcleo da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí também articula e/ou apoia projetos voltados aos ideais da Justiça Restaurativa, como o Go Graffiti Art, idealizado e realizado pela Escola Estadual Deócles Vieira de Camargo, voltado ao atendimento das necessidades dos alunos por meio da arte conhecida como grafite ( oficinas de Hip Hop que acontecerão em praça do Município na qual existe grande aglomeração de jovens, muitos deles consumindo bebidas alcoólicas e entorpecentes, bem como, aulas de música ministradas por alunos da Orquestra de Metais Lyra Tatuí na própria grade curricular da Escola Estadual Barão de Suruí, para musicalização dos alunos. O Juiz Marcelo Salmaso também está articulando a implementação da Justiça Restaurativa em Itapetininga e Tietê, juntamente com a Educação Estadual e Municipal, bem como, com o Poder Judiciário. Abaixo, segue o relato do primeiro processo circular realizado no âmbito do Núcleo da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí Polo Irradiador, ocorrido em 04 de junho de 2013, das 10 horas às 13,30 horas, na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum de Tatuí:

7 As alunas C. e M., ambas da Escola Estadual Barão de Suruí, entraram em conflito a partir de meados de Assim, os representantes legais de C. registraram ocorrência na Delegacia de Polícia, narrando que M., após o conflito, passou a ameaçar e amedrontar C. A situação chegou ao conhecimento do Núcleo da Justiça Restaurativa de Tatuí por meio do Boletim de Ocorrência e por comunicação advinda da Direção da escola em que estudavam as alunas. Após reuniões do Núcleo Gestor da Justiça Restaurativa de Tatuí, entendeu-se por bem agendar o círculo para 04 de junho de 2013, às 10 h., na Sala da Justiça Restaurativa do Fórum de Tatuí. As conversas de sensibilização das jovens e das respectivas famílias foram realizadas, inclusive com visitas residenciais, pela Professora-Coordenadora Kátia Leite e pelo Professor-Mediador Francisco, ambos da Escola Barão de Suruí, para fins de sensibilização e esclarecimento das famílias quanto à proposta da Justiça Restaurativa, a fim de que estas aceitassem participar de forma voluntária. Ademais, em referidas conversas prévias, como sempre acontece, procurou-se identificar as necessidades e anseios das jovens e demais integrantes da família, tudo para fins de posterior composição do círculo, que deve contar com representantes de instituições, públicas ou privadas, que possam atender a tais necessidades e dar suporte a um novo caminho eventualmente querido e proposto pelas jovens em conflito. O círculo teve, como facilitadoras, Mônica Mumme e Maria Florídes. Participaram M. e sua mãe, C. com seu pai e sua mãe, o Professor- Mediador Francisco, a Professora-Coordenadora Kátia, a Professora Eunice, todos da Escola Barão de Suruí, e, ainda, Ivani, integrante do Grupo Amor Exigente, Fabrício, representando a Direção Regional de Ensino de Itapetininga, o Professor Laércio, da Escola Deócles, e Maria Otília, representando a Faculdade de Tecnologia - FATEC. O processo circular durou aproximadamente 3 horas e meia, contando com a proteção da Sala da Justiça Restaurativa, para não houvesse interrupção externa, mantendo-se o espaço seguro para conversação e para que as pessoas pudessem expressar os sentimentos mais profundos. Tomando em conta o sigilo que acoberta o círculo, as falas não foram relatadas a este Juiz coordenador, que, também, não participa dos círculos para que as pessoas não se sintam inibidas.

8 Ao final, após o reconhecimento do erro por parte de ambas as jovens, bem como, das responsabilidades para a tomada de um novo caminho, pautado pelo bem e pela paz, M. comprometeu-se a não mais mandar mensagens a C., tampouco a passar em frente ao local de trabalho desta. Ambas as estudantes se comprometeram a desenvolver e participar de um projeto, na escola, voltado ao cultivo do respeito entre as pessoas. A Professora Kátia ficou responsável pelo apoio à implementação e execução do projeto, que deveria envolver, também, os demais alunos do 3º ano do ensino médio, no que contaria com o auxílio do Amor Exigente, da Direção Regional de Ensino e da FATEC de Tatuí. O círculo verificaria a possibilidade de realizar um outro círculo entre as mães das garotas, que também entraram em conflito em razão do conflito entre as filhas, havendo, inclusive, registro de Boletim de Ocorrência. O pós-círculo, para verificação do cumprimento dos acordos, foi marcado para 15 de agosto de Posteriormente, este Juiz participou da abertura da reunião, realizada na Escola Barão de Suruí, para a implementação do projeto, mas não ficou para o restante da reunião, a fim de não conhecer o conteúdo da conversa, para não quebrar o sigilo do círculo. Daí surgiu o Projeto Amor ao Próximo, com as garotas C. e M., bem como, outros alunos do 3º ano do ensino médio, que tem duas vertentes, a interna, na qual os alunos do projeto auxiliam os demais alunos no horário do recreio, mormente quando há conflitos, e, ainda, recolhem os pratos da merenda para ajudar a cozinheira e têm uma pauta com cada professor, para saber a necessidade destes e procurar ajudá-los. Neste âmbito, a aluna M., ao ver um conflito no recreio, chamou os alunos contendores, outros alunos, e promoveu um "círculo", usando inclusive o bastão da fala, de forma a ajuda-los a resolver o problema e para que não ocorressem agressões. Na vertente externa, os alunos do projeto arrecadaram mantimentos e foram conhecer entidades beneficentes do Município, para doar os bens, de forma a tomar contato com a triste situação de muitas pessoas assistidas por tais entidades. No pós-círculo, verificou-se que os acordos foram cumpridos e que a situação entre as garotas estava resolvida, inclusive no sentido de que estas tomassem um novo caminho, voltado ao bem e à paz.

9 O Projeto Amor ao Próximo, na escola, teve o condão de irradiar ondas e obstar potenciais conflitos no ambiente escolar. Infelizmente, as mães não quiseram participar de um outro círculo para fins de tratar do conflito entre elas. O pai de uma das garotas chegou a dizer que, no tempo dele de adolescência, havia muitas brigas na escola, e, se tivesse, naquela época, um procedimento como esse do círculo, o mundo não estaria como está. Eram estas as informações a prestar, colocando-me à inteira disposição para o que se fizer necessário. Tatuí, 16 de dezembro de 2013 MARCELO NALESSO SALMASO Juiz de Direito Membro da Coordenadoria da Infância e Juventude do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Coordenador do Núcleo da Justiça Restaurativa da Comarca de Tatuí