OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS NO SETOR PÚBLICO(*)
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- Thereza Domingos Azeredo
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1 OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS NO SETOR PÚBLICO(*) Joilson Oliveira Malta Administrador público e Assistente técnico da Diretoria Legislativa da Câmara Municipal de Salvador Mat.2031 Este artigo tem como objetivo apresentar um trabalho de pesquisa realizado entre os servidores efetivos da Câmara Municipal de Salvador em 2011, acerca da importância dos processos seletivos no contexto da política de gestão de pessoas da instituição. Sabe-se que hoje se fala em gestão de pessoas, e não mais em Recursos Humanos, como fator preponderante à sustentabilidade de qualquer empresa, e o setor público, por incluir também, organizações que acompanham a dinâmica da sociedade moderna, deve estar inserido neste contexto. Atualmente, as organizações estão voltadas para o futuro, e, por conseguinte, preocupadas com o seu destino, estando estreitamente sintonizadas com os desafios da chamada globalização. Faz-se necessário, portanto, ampliar o olhar para o global e não vislumbrar apenas o local, sendo imprescindível atuar com pessoas que têm a preocupação em educar, treinar, motivar e liderar aqueles que trabalham na empresa, com o intuito de propiciar o pleno desenvolvimento de todos os colaboradores para que atendam a contento os clientes e cumpram sua importante função social. Nesse contexto, o conhecimento, que é um grande instrumento relacionado à era da Informação, se delineia como um recurso imprescindível a um crescimento competitivo, embora numa Casa Legislativa, este pré-requisito não esteja na ordem do dia. Assim, o Legislativo deve prover o cumprimento de suas prerrogativas constitucionais conceber legislação e prover fiscalização dos atos do Poder Executivo de forma que atenda à eficiência e à eficácia. No entanto, ao longo de mais de vinte e três anos, a instituição não amplia o seu quadro de servidores efetivos que desenvolvem as chamadas atribuições fins, exclusivas, constitucionalmente, desses trabalhadores. Assim, o crescimento do número de servidores comissionados vem se configurando de uma forma proporcionalmente inversa ao que é observado com o número de servidores de carreira, o que compromete, sobremaneira,
2 aquelas atribuições específicas, mantendo, por conseguinte, a tradicional política clientelista. Nessa prática, onde predominam as indicações políticas e o tráfico de influência, não há dúvida, fica evidenciado que não há uma preocupação com os objetivos da organização. Diante desse quadro, mais do que pertinente a discussão acerca da importância dos processos seletivos dentro das políticas de gestão de pessoas na Câmara Municipal da Cidade do Salvador, para recompor o quadro da instituição. Faz-se necessário uma reflexão acerca da indisposição de se realizar o concurso público referindo à própria sobrevivência da Casa. Com essa prática pode se afirmar que os gestores estão seguindo na contramão no que diz respeito às mudanças organizacionais dos novos tempos. Neste contexto, os vereadores demonstram que não estão preocupados com o destino da instituição, mas sim, com a manutenção dos seus mandatos, sem, contudo, olhar para aqueles que trabalham na instituição com o intuito de propiciar o pleno desenvolvimento de todos os colaboradores para que atendam a contento os clientes internos os próprios vereadores e os clientes externos- a população em geral. Para Chiavenato (1999), tratar as pessoas como recursos organizacionais é um desperdício de talentos e de massa encefálica produtiva. Assim, hoje se fala em gestão de pessoas e não mais em recursos humanos, exatamente para proporcionar essa nova visão das pessoas, não mais como meros funcionários remunerados em função do tempo de disponibilidade à organização, mas como parceiros e colaboradores do negócio da empresa. Nesta linha, para o servidor de carreira, o Legislativo deve prover o cumprimento de suas prerrogativas constitucionais, que é conceber legislação e prover fiscalização dos atos do Poder Executivo, com métodos modernos, transparência, eficiência e eficácia. Vale, por oportuno, abordar outro item valioso ao bom desempenho da organização que passa pela questão tecnológica, o que, necessariamente passa por capacitação e qualificação das pessoas. A Câmara Municipal da Cidade do Salvador necessita instrumentalizar sempre o seu quadro funcional efetivo. Gil (2007) defende o debate do tema gestão de pessoas, com enfoque nos papéis profissionais dos trabalhadores contemporâneos. O autor relata
3 pesquisa feita em uma universidade pública federal brasileira, onde foi investigada a gestão de pessoas e o desenvolvimento dos papéis profissionais. Para realização da pesquisa de campo foi utilizado o método qualitativo e cujo instrumento de coleta de dados foi o questionário semi estruturado. De acordo com a pesquisa, os entrevistados têm uma visão clara de como os aspectos que envolvem a gestão de pessoas, em termos de avaliação de desempenho, treinamento, capacitação, competência, entre outros fatores interferem diretamente na forma de desempenho dos seus papéis organizacionais. Porém, é bom salientar que o quadro de servidores efetivos da Câmara Municipal da Cidade do Salvador, encontra-se bastante reduzido, pela falta de interesse, por parte dos vários gestores que se passaram, em realizar o concurso público para recompor o seu quadro, e ainda, bastante envelhecido, com sua grande maioria prestes a se aposentar, reduzindo ainda mais o seu quadro diminuto. Vale ressaltar ainda, que no ano de 2010, com um novo modelo de administração e, após muitas gestões e reivindicações dos servidores, se consegue o convencimento da necessidade do concurso público, e para tanto, seria também necessário a aprovação de um plano de cargos, carreira e vencimento no sentido de reorganizar a Casa, para que se tornasse possível a admissão dos novos servidores. Durante a realização deste trabalho, as análises evidenciaram que os conceitos fornecidos pelos profissionais entrevistados a respeito da motivação apontaram certo grau de satisfação e motivação, devido exatamente, à aprovação do plano de cargos carreira e vencimentos (PCCV) e a perspectiva da realização do tão esperado concurso público, com previsão para acontecer no primeiro semestre de 2011 e convocação dos classificados no segundo semestre. Com os dados obtidos na pesquisa, ficou claro que os servidores da Câmara Municipal da Cidade do Salvador encontram-se motivados, principalmente pela valorização da carreira funcional por parte da instituição, e com a definição da realização do concurso para recomposição do seu quadro, dentre outros aspectos apontados. Ficou evidenciado que não há, na instituição, uma política de processo seletivo definido com critérios claros, necessitando para tanto, muita
4 mobilização por parte dos servidores, que na maioria das vezes não são ouvidos. O quadro de servidores efetivos consegue o seu merecido reconhecimento, após muitas administrações sem êxito, e visualiza a ampliação do quadro funcional, através do concurso público, para funções específicas, coerentes com as atribuições constitucionais das Casas Legislativas. A motivação é um dos fatores imprescindíveis ao êxito de qualquer organização e determinante do seu sucesso. Mas, se tratando de órgãos públicos, mais do que em qualquer outra instituição, pelo fato de não trabalhar com produtividade, nem almejar lucro, fato que move as empresas particulares, que necessitam sobreviver no mercado, a motivação dos servidores tem relação com a cultura estabelecida e com o clima organizacional. O clima organizacional está diretamente relacionado com o grau de motivação dos seus participantes. Quando há elevada motivação entre os membros, o clima organizacional se eleva e se traduz em relações de satisfação, de animação, de interesse, colaboração, etc. Todavia, quando há baixa motivação entre os membros, seja por frustração ou barreiras à satisfação das necessidades, o clima organizacional tende a baixar, caracterizando-se por estados de depressão, desinteresse, apatia e insatisfação,podendo até chegar a estados de agressividade, típicos de uma situação em que os membros se confrontam, abertamente, com a organização. Observa-se, nesse período, dos dois últimos anos, que o atual gestor, voltou a sua visão para o servidor efetivo (patrimônio da casa), porém, há uma preocupação com o futuro, pois a gestão tende a sofrer solução de continuidade, na mudança de gestão que acontece de dois em dois anos É evidente que, se o servidor se sente valorizado, e até certo ponto, ameaçado pela competição que acredita-se virá com a chegada dos novos selecionados que logo integrarão o quadro e terão os mesmos direitos e deveres, automaticamente ele pode se auto motivar, já que serão chamados e selecionados por critérios de conhecimento e não mais político, ao setor público através de concurso público.
5 A Constituição da República Federativa do Brasil, reza no seu artigo 37, inciso ll, que a investidura em cargo ou emprego público, se dará através aprovação em concurso público, de provas ou de provas e títulos, conforme a complexidade do cargo ou emprego, na forma da lei, com exceção para os cargos comissionados assim declarados em lei. Diante do exposto, ficou evidenciado que é mais do que pertinente a discussão acerca da importância dos processos seletivos dentro da política de gestão de pessoas na Câmara Municipal da Cidade do Salvador, para a recomposição do quadro de carreira da instituição, faz-se necessário também, uma reflexão acerca da indisposição quanto à tomada de decisão de não se realizar o concurso público referindo a própria sobrevivência da Casa. Desta forma, conclui-se que é imprescindível a realização de concurso público na Câmara Municipal da Cidade do Salvador, de uma forma periódica, para recomposição do seu quadro, bem como, a criação de um programa motivacional incluindo o treinamento e reciclagem dos servidores. Vale ressalvar, também, duas áreas importantíssimas para o Poder Público em geral. Uma diz respeito ao Setor de Informática e Tecnologia que, na Câmara Municipal do Salvador, hoje, não conta em todo seu quadro, com nenhum servidor de carreira, contando, apenas, com dois assessores comissionados e toda equipe técnica, terceirizada. Isso traz sérios transtornos quando da mudança de gestão, pois, geralmente muda-se também toda a assessoria e os trabalhadores contratados através de empresa terceirizada. Este setor vem passando por uma série de dificuldades, exatamente por sofrer solução de continuidade, em decorrência da troca constante de gestor, a cada dois anos, pelos motivos já expostos. Um exemplo que pode ser colocado aqui, neste momento, é um trabalho desenvolvido durante alguns anos, em conjunto com os servidores de carreira, no sistema de tramitação e alimentação do portal da Câmara, onde foi desenvolvido, pelo setor de Informática, todo o processo legislativo, e hoje está passando por muitas dificuldades de alimentação, pois o sistema foi modificado pelo gestor seguinte, sem a participação dos servidores envolvidos. Esta situação trouxe muitos transtornos para a instituição, no momento em que o servidor responsável pelas modificações, que já foi desligado do
6 quadro, voltando, o setor, a ser gerido pelo anterior, porém, sem ser feita a devida transição. Os servidores efetivos defendem que a Assessoria de Informática e Tecnologia seja transformada em uma Coordenação composta por servidores concursados, entendendo que, com isso, se evite esse transtorno frequente e seja resolvido o problema definitivamente. A outra, é a Controladoria. Setor igualmente importante para a Administração Pública, mas que, no Poder Legislativo de Salvador, o seu quadro é insuficiente, pois, na instituição não há o cargo de contador nem economista ou administrador/auditor ficando a responsabilidade da fiscalização, orientação, auditoria e outras, para uma só pessoa, que é o próprio Controlador, este, indicado pelo novo gestor a cada dois anos. Acredita-se ser necessário, a elaboração de um novo organograma da Casa, redefinindo o quantitativo necessário ao seu funcionamento, no que diz respeito aos servidores comissionados e efetivos, para o preenchimento das vagas existentes e/ou criadas, para o bom atendimento, tanto aos vereadores, como, à população, com as suas devidas atribuições e funções. A partir daí, deve-se buscar um novo modelo de gestão de pessoas, pois o que se verifica atualmente na Câmara de Salvador é uma grande disparidade entre os servidores comissionados (aqueles designados pelos próprios vereadores para servirem exclusivamente no seu gabinete) que chegam a cerca de 900 trabalhadores, sem a necessidade de concurso, e os servidores efetivos (aqueles encarregados por toda administração da Casa), que para ingressarem no serviço público necessitam, por força de lei, submeterem ao concurso público. Assim sendo, e por fim, pode-se concluir que a formação de equipes nas organizações está correlacionada à gestão de pessoas, pois, como cita Souza (2007), o sucesso dependerá de decifrar os enigmas da liderança. Entende que a moderna gestão de pessoas pode trazer o sucesso e a sustentabilidade à empresa, ficando claro que os desafios das organizações estão relacionados à utilização de tais instrumentos, associados às práticas de aprendizados coletivos e desenvolvimento de equipe, já que traz questões relativas à motivação, estilos de liderança, poder e trabalho em equipe, como essenciais à compreensão das pessoas e a sua gestão. Por outro lado, devem as pessoas,
7 desenvolverem a consciência de si e do mundo gerencial e holístico. O desafio está lançado, e todos gestores e servidores- podem contribuir para a conquista da excelência nos serviços prestados, numa efetiva gestão da qualidade no setor público. (*) Artigo elaborado a partir da monografia de conclusão do curso de pós graduação em Direito Público e Controle Municipal ( Fudacem/ Faculdades Integradas Ipitangas) realizado pelo autor em fevereiro de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 44ª edição, atualizada e ampliada CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas, o novo papel dos recursos humanos nas organizações, Rio de Janeiro, Editora Campos, 18ª tiragem, 1999 GIL, Antonio Carlos. Gestão de Pessoas: enfoque nos papéis profissionais. Capitulo 5, 1ª ed. 7. reimpressão. São Paulo: Atlas, 2007 SOUZA, César. Você é o Líder da sua Vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.
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