Atividade educativa como ferramenta de estratégia de orientação para prevenção de quedas no banheiro em idosos: relato de experiência profissional

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1 9 Atividade educativa como ferramenta de estratégia de orientação para prevenção de quedas no banheiro em idosos: relato de experiência profissional Gláucia Costa DEGANI 1 Resumo: Este trabalho objetivou refletir sobre o uso da atividade educativa pelo profissional enfermeiro como ferramenta de estratégia de orientação para a prevenção de quedas no banheiro para um grupo de idosos. Tratou-se de um estudo descritivo sobre a experiência de aplicação de uma atividade educativa realizada em um Centro de Atenção à Saúde do Idoso de um município do interior paulista, para grupos de idosos. A proposta foi para que, a partir de seu conhecimento prévio, os idosos identificassem com um xis objetos nas imagens em que considerassem risco e circulassem aqueles que considerassem como medida de segurança para quedas no banheiro. Os idosos foram informados dos objetivos da atividade e cada objeto foi interpretado para o grupo. A experiência profissional com a atividade educativa possibilitou a troca de conhecimentos entre idosos e tornou a orientação mais prazerosa. Palavras-chave: Educação em Saúde. Acidentes por Quedas. Idoso. Papel do Profissional de Enfermagem. 1 Gláucia Costa DEGANI. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Enfermagem pela mesma instituição. Enfermeira do Centro de Atenção à Saúde do Idoso de Batatais. Docente do Claretiano Centro Universitário. <glau_degani@yahoo.com.br>.

2 10 Educational activity as a guidance strategy tool for preventing the elderly to fall in bathrooms: work experience report Gláucia Costa DEGANI Abstract: This work aimed at reflecting on the use of the educational activity by nursing professionals as a guidance strategy tool for preventing falls in bathrooms for a group of elderly. This was a descriptive study of the experience of implementing an educational activity conducted in a care center for the elderly health in a municipality located in the countryside of São Paulo, to groups of seniors. The proposal was that, from their previous knowledge, the elderly would mark with an x objects in images that they considered as a risk and circulate those they considered as a safety measure for falls in bathrooms. The elderly were informed about the objectives of the activity, and each object was interpreted for the group. The professional experience with the educational activity enabled the exchange of knowledge between the elderly, as well as a more enjoyable guidance. Keywords: Health Education. Accidents due to falls. Elderly. The Nursing Professional s Role.

3 11 1. INTRODUÇÃO É notório e inegável que a população mundial esteja envelhecendo, fato esse explicado pelas rápidas transformações no panorama etário e nos padrões de saúde e doença. Entende-se, com isso, que a população brasileira vem experimentando um declínio significativo na mortalidade e na fecundidade gerais com aumento na expectativa de vida. Ao mesmo tempo, verifica- -se que progressivamente as posições antes ocupadas pelas doenças infecciosas estão sendo substituídas por aquelas crônicas, modificando as necessidades de saúde da população (WONG; CARVALHO, 2006). O então envelhecimento populacional é comprovado ao ser analisado os dados censitários, os quais revelam que no ano de 2010 a população residente no Brasil era superior a 190 milhões e, destes, mais de 20 milhões eram pessoas com 60 anos ou mais (idosos), correspondendo a 10,5% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTÁTISTICA IBGE, 2011). Para 2050, estima-se que aqueles com 65 anos ou mais alcancem 20,0% em relação à população geral, valores superiores àqueles encontrados em países desenvolvidos (WONG; CARVALHO, 2006). Nesta perspectiva, os dados refletem a magnitude na demanda das necessidades de saúde dessa parcela populacional em tão curto prazo. Tais necessidades englobam o controle das doenças crônicas, a manutenção do estado funcional do idoso e a prevenção de eventos externos, tais como acidentes de trânsito, quedas, queimaduras, ferimentos, entre outros. As quedas representam o evento externo mais frequente e temido entre os idosos. Pode ser acidental ou provocado, e suas repercussões vão desde o medo de outras quedas até provocar estados mórbidos e motivar institucionalizações (BRASIL, 2006). São diversos os fatores que podem levar o idoso a cair e alguns são decorrentes de fatores inerentes ao processo de envelhecimento, tais como a diminuição da acuidade visual, equilíbrio diminuído e fraquezas, enquanto outros podem estar relacionados a comportamentos e ao meio ambiente. O domicílio

4 12 constitui-se no ambiente em que as quedas são mais frequentes para idosos, e, neste contexto, destaca-se o banheiro como o local com mais elementos que oferecem risco de quedas devido à presença de piso escorregadio, tapetes soltos e derrapantes e má iluminação (BRASIL, 2006). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), as medidas práticas para minimizar a ocorrência de quedas e suas consequências entre as pessoas idosas são: a utilização de dispositivos de auxílio à marcha, a utilização criteriosa de medicamentos, a adaptação do meio ambiente e a educação para o autocuidado. O enfoque na educação para o autocuidado dos idosos pode ser um dos caminhos que contribuam para que eles se cuidem melhor e conduzam suas vidas positivamente. Com isso, os benefícios práticos consistem na preservação da autonomia e na manutenção da independência no maior grau possível (CELICH; BORDIN, 2008). Assis e Silveira (2002), ao abordarem a ação educativa em saúde com idosos, referem-se que a saúde e a educação estão intimamente relacionadas, e, para que os indivíduos possam se conscientizar e melhorar sua qualidade de vida e seu envelhecer, apenas informar não é o suficiente. As ações educativas em saúde emergem como um meio para romper com essa barreira, buscando, a partir do encontro afetivo entre agentes educativos e idosos, recuperar o direito à informação, ao debate crítico sobre aspectos gerais de saúde e sobre prevenção e controle de doenças e agravos, reforçar a autoestima e valorizar sua história de vida, suas percepções sobre a velhice e seus direitos; preservar sua autonomia e o papel de sujeito políticos na construção da dignidade do envelhecer. Ao se investir em ações de cuidado, prevenção e controle de doenças crônicas, os idosos têm a oportunidade de perceber o processo de envelhecimento com positividade. Assim, pensa-se que os jogos e atividades educativas se apresentam como uma possibilidade de proporcionar aprendizado mais prazeroso, no qual o educador em saúde seja um facilitador e os conhecimentos prévios do indivíduo sejam valorizados. Como resultado, o aprendizado pode ser capaz de contribuir para a melhoria da condição de saúde do

5 indivíduo (CELICH; BORDIN, 2008). Acresce-se também a possibilidade da mudança de comportamento de forma voluntária como consequência natural da assimilação e aplicação do conteúdo interagido, como no caso, realizando pequenas modificações no ambiente e adequando-o para evitar quedas. Este estudo objetivou refletir sobre o uso da atividade educativa pelo profissional enfermeiro como ferramenta de estratégia de orientação para a prevenção de quedas no banheiro para um grupo de idosos. 2. MÉTODOS Tratou-se de um estudo descritivo sobre a experiência de aplicação de uma atividade educativa realizada em um Centro de Atenção à Saúde do Idoso CASI de um município do interior paulista. O CASI é um programa com parceira público-privada (Prefeitura Municipal de Batatais e Claretiano Centro Universitário de Batatais), fundamentado nos princípios básicos relativos à saúde dos idosos. Tem a finalidade a promoção do envelhecimento saudável, com a manutenção da capacidade funcional, assistência e intervenção nas necessidades de saúde do idoso, bem como o desenvolvimento de estudos na área do conhecimento (FLAUZINO et al., 2012). Para participar do CASI, a pessoa deve ter 60 anos ou mais, de ambos os sexos, ter o encaminhamento médico de uma Unidade Básica de Saúde, ser morador da cidade, não possuir déficit cognitivo, auditivo, visual e físico severos. Para avaliação dos déficits, é realizada a triagem dos idosos por meio da avaliação multidimensional pelos profissionais atuantes no local, que contempla itens sociofamiliares, Teste de Alcance Funcional, Lawton-Brody e Mini -exame do Estado Mental. Os idosos que não contemplarem esses critérios são agendados para um retorno imediato e encaminhados a um serviço terapêutico individual público ou privado (FLAUZINO et al., 2012). 13

6 14 Os usuários inseridos no programa são distribuídos aleatoriamente em grupos compostos por no máximo 30 idosos, totalizando oito grupos. As atividades da equipe multiprofissional são na frequência de duas vezes por semana, com duração de aproximadamente uma hora cada atividade. Atualmente, o programa é formado por equipe multiprofissional composta por enfermeiro, nutricionista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, educador físico e a gestora. O papel do enfermeiro no CASI é zelar pelos cuidados e manutenção da saúde dos idosos, prestando orientações para prevenção de complicações das doenças crônicas e eventos externos, controle pressórico e glicêmico mensal, preservando a qualidade de vida e independência dos usuários. A escolha pelo tema prevenção de quedas em idosos motivou-se pela elevada prevalência das quedas em domicílio e sua repercussão, além de se considerar o local de estudo propício para abordar temas de promoção à saúde e prevenção de agravos. A elaboração da atividade deu-se pela autora e enfermeira do CASI, baseada no conhecimento prévio da profissional e embasado em bibliografia sobre prevenção de quedas em idosos. A atividade foi aplicada aos idosos que frequentavam o CASI, durante os atendimentos da Enfermagem. 3. RESULTADOS A atividade educativa proposta para orientação e prevenção das quedas no banheiro em idosos constou-se de duas imagens extraídas de páginas eletrônicas, as quais foram ampliadas e entregues na mesma folha para cada um dos participantes idosos, conforme grupos do CASI, melhor visualizada na Figura 1:

7 Figura 1. Imagens selecionadas e extraídas de páginas eletrônicas para realização da atividade educativa, Batatais, Fonte: Smartkids (2014).

8 16 Fonte: Interesse Público Coletivo (2014). A proposta foi para que, a partir de seu conhecimento prévio, os idosos identificassem com um xis os objetos nas imagens em que considerassem risco e circulassem aqueles que considerassem como medida de segurança para quedas no banheiro. Na Figura 2, observam-se os fatores de risco e de segurança, respectivamente, considerados pela autora:

9 Figura 2. Imagens selecionadas e extraídas de páginas eletrônicas para realização da atividade educativa, segundo critérios de risco e medida de segurança para quedas no banheiro, Batatais,

10 18 Foram considerados riscos o piso escorregadio, o tapete, o patinho (simbolizando objetos desorganizados), o tapete próximo ao vaso sanitário, a banheira, a lâmpada (simbolizando a iluminação) e a loção para banho distante do alcance. E medidas de segurança as barras de apoio, o piso antiderrapante, a facilidade da proximidade da toalha com o usuário e a lâmpada. Para a realização da atividade foi definido o período de 15 minutos para que os idosos discutissem entre si e respondessem. Os idosos foram informados dos objetivos da atividade e cada objeto foi interpretado para o grupo. Após o prazo, procederam aos esclarecimentos de cada risco e proteção. Foi possível verificar que o prazo foi suficiente para as respostas e as experiências vivenciadas pelos idosos foram compartilhadas. Além disso, observou-se que nem todos tinham o conhecimento dos equipamentos de segurança para quedas no banheiro e demonstraram interesse em adquirir os equipamentos para evitá -las. 4. DISCUSSÃO Como já mencionado anteriormente, as quedas correspondem a eventos externos que ameaçam a qualidade de vida dos idosos, e o agravante encontra-se no ambiente em que os idosos passam a maior parte do tempo, ou seja, o domicílio. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) alerta para alguns dos riscos domésticos para quedas em idosos como a presença de tapetes em superfícies lisas, carpetes soltos ou com dobras, bordas de tapetes dobrados, pisos escorregadios, ambientes desorganizados ou objetos deixados no chão, uso de chinelos, sapatos mal ajustados ou com solado escorregadio, má iluminação, vasos sanitários muito baixos e lixos em locais inapropriados. Como medidas de segurança, a colocação de pisos antiderrapantes e barras de apoio nos banheiros, o não uso de banheiras e o uso do banho na posição sentada podem minimizar as consequências de uma queda. A maior parte dos riscos e medidas de segurança mencionada foi contemplada nas duas imagens selecionadas no ambiente domiciliar e no

11 banheiro, com o propósito de chamar a atenção dos idosos para eles mesmos. Uma revisão da literatura brasileira sobre fatores extrínsecos associados às quedas em idosos realizada por Messias e Neves (2009) identificaram as mesmas causas e incluem, ainda, que as atitudes de risco estão presentes em atos rotineiros, a exemplo de fazer uso de cadeiras para alcançar armários altos. A identificação dos fatores de riscos significativos causadores de quedas é uma importante etapa no sentido de estabelecer estratégias de prevenção. As intervenções devem auxiliar os idosos a compreender e reduzir a probabilidade de queda, a fim de que o ambiente ofereça segurança e não risco (MESSIAS; NEVES, 2009). A respeito da atividade grupal, Assis e Silveira (2002) elucidam que se trata de um meio de aprendizagem capaz de gerar mudanças rápidas e eficientes. A dinâmica grupal permite que os participantes se deparem com muitas formas de viver uma mesma situação, possibilitando um conhecimento amplo e aumentando a experiência de cada componente. Associado à atividade grupal, o método da atividade educativa proposta por meio de uma brincadeira é uma dinâmica relativamente nova, bem aplicada com crianças, mas ainda pouco utilizada na educação em saúde para idosos. Durante a brincadeira, a pessoa usa a criatividade, pode exercitar sua personalidade e reconhecerse enquanto corresponsável por sua saúde (CELICH; BORDIN, 2008). Há que de ressaltar que este trabalho não objetivou demonstrar os efeitos da atividade educativa na transformação do ambiente domiciliar de idosos na prevenção das quedas e tampouco avaliar se as medidas foram eficazes, mas sim descrever e refletir sobre um método de orientação de prevenção de quedas no banheiro para idosos, a fim de atuar como incentivo para os profissionais que pretendem realizar educação em saúde. Entretanto, foi possível observar, durante a aplicação da atividade, a inquietação que as imagens de risco provocaram nos idosos, uma vez que alguns objetos eram 19

12 20 rotineiramente encontrados no banheiro e antes passaram despercebidos por eles. O que se conseguiu constatar neste trabalho foi que as atividades educativas por meio de recursos lúdicos são instrumentos que auxiliam o enfermeiro no desenvolvimento de seu papel como educador em saúde, ultrapassando os métodos tradicionais de transmissão de informações para aquele em que o conhecimento é construído a partir do compartilhamento dos saberes. Nesse sentido, faz-se necessário partilhar das ideias de Celich e Bordin (2008, p. 127) ao afirmarem que: [...] é animador perceber que a visão da enfermagem vem cotidianamente modificando e ampliando seus espaços de atuação, sempre centrada no cliente como foco de cuidado. Assim, a busca para que a atuação desse profissional seja um facilitador do processo de aprendizagem dos idosos deve ser contínua e perseverante, no sentido do reconhecimento pelo enfermeiro de que as mudanças significativas no comportamento dos indivíduos não são tão simples como parecem. Espera-se que o estudo venha contribuir para que outros profissionais façam uso de métodos prazerosos de educação em saúde, nos quais o idoso seja o agente do processo. 5. CONCLUSÃO Ao término deste trabalho se conclui que métodos de ensino que visam à educação em saúde e prevenção das quedas no banheiro em idosos podem ser prazerosos na medida em que são usadas como alternativas ao método tradicional de repasse de informações. A criatividade na elaboração das atividades pelo enfermeiro pode aproximar o idoso do profissional e proporcionar mudanças no dia a dia, bem como no ambiente domiciliar, reduzindo as chances de quedas e suas consequências. Outros profissionais das diversas áreas da saúde devem ter conhecimento das formas de educação por brincadeiras e adequar

13 esse tipo de educação em sua realidade de trabalho. O trabalho em grupos facilita essa ação e permite o compartilhamento de saberes. Sugere-se que estudos que avaliem o efeito do conhecimento por meio das atividades educativas e a modificação dos fatores de riscos no ambiente domiciliar para quedas no banheiro em idosos sejam realizados, a fim de comprovar sua aplicabilidade. REFERÊNCIAS ASSIS, M.; SILVEIRA, T. M. Ação educativa em saúde com idosos. In: ASSIS, M. Promoção da saúde e envelhecimento: orientações para o desenvolvimento de ações educativas com idosos. Rio de Janeiro CRDE Un. ATI: UERJ, BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde, CELICH, K. L. S.; BORDIN, A. Educar para o autocuidado na terceira idade: uma proposta lúdica. RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p , jan./jun., FLAUZINO, E. et al. Centro de Atenção à Saúde do Idoso (CASI): prevenção e promoção de saúde na terceira idade no município de Batatais (SP). Saúde Revista Científica do Centro Universitário Claretiano, v. 1, n. 1, p , INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios, resultados do universo. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Rio de Janeiro, INTERESSE PÚBLICO COLETIVO. Disponível em: < interessepublicocoletivodanielevalim1sem2011.wordpress.com/2011/06/>. Acesso em: 24 abr MESSIAS, M. G.; NEVES, R. F. A influência de fatores comportamentais e ambientais domésticos nas quedas em idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 12, n. 2, p , SMARTKIDS. Disponível em: < Acesso em: 20 abr WONG, L. L. R.; CARVALHO, J. A. O rápido processo de envelhecimento populacional do Brasil: sérios desafios para as políticas públicas. Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-26,

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