PROCESSO DE TRABALHO DO ENFERMEIRO QUE ATUA EM UNIDADE DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA.
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1 PROCESSO DE TRABALHO DO ENFERMEIRO QUE ATUA EM UNIDADE DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA. Alan Cristian Rodrigues Jorge¹ Ana Claudia Soares de Lima² Romaldo Bomfim Medina Junior³ Thiana Sebben Pasa² O presente trabalho, trata-se de uma pesquisa bibliográfica tendo por base a produção científica sobre o processo de trabalho do enfermeiro que atua em unidade de internação psiquiátrica divulgada, em âmbito nacional, em periódicos de enfermagem, no período de 2006 a Este texto visa identificar quais temáticas do processo de trabalho do enfermeiro têm sido enfocadas nessas publicações e contribuir, assim, para uma análise que auxilie a Enfermagem a refletir sobre os rumos do processo de trabalho do enfermeiro que atua em uma unidade psiquiátrica. Um dos principais marcos para o inicio da transformação do modo de pensar no trabalho em enfermagem foi a Reforma Psiquiátrica. Embora contemporânea da Reforma Sanitária, o processo de Reforma Psiquiátrica brasileira tem uma história própria, inscrita num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. A Reforma Psiquiátrica foi e continua sendo um processo político e social complexo porque é composto de atores, de instituições e de forças de diferentes origens e, que incide em territórios diversos (governo federal, estadual e municipal). A Reforma Psiquiátrica é compreendida como um conjunto de transformações de práticas, de saberes, de valores culturais e sociais. Assim, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, porém é marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios (BRASIL, 2001). Por mais que a Reforma Psiquiátrica no Brasil tenha causado uma revolução no que diz respeito ao modo de ver e compreender o paciente com distúrbios mentais, não parece que as atividades do enfermeiro ao longo das últimas décadas tenham sofrido uma mudança significativa, de direção ou assimilação profunda dos novos preceitos, pregados pela reforma.
2 Sendo assim, vamos expor algumas características do processo de enfermagem na psiquiatria assim como, o que pensam determinados autores sobre o trabalho do enfermeiro nesta área tão importante do cuidado. Antes da reforma psiquiátrica a condição de trabalho nos hospitais psiquiátricos era desoladora. Grande hospital fechado, público ou privado, distante do centro urbano, ou sediado em hospital escola, aproximava a ação de enfermagem da prática carcerária. Tal identificação incluía, de forma geral, a estrutura física opressiva do manicômio, o odor, a cor, o isolamento (SILVA; FONSECA, 2005). Até o início da década de 90, qualquer direito de escolha era negado ao paciente, que incluía a impossibilidade de escolher: o lugar para se tratar, porque não havia oferta substitutiva ao hospital; o profissional responsável pelo seu cuidado, porque essa responsabilidade era prerrogativa médica, desde a admissão à alta hospitalar; co-responsabilizar-se pelo seu tratamento, porque lhe eram negadas informações sobre manejo de medicamento, do tratamento clínico (insulinoterapia, choque elétrico sem anestesia, entre outras terapias biológicas) consentido por parentes e depois compartilhadas com o paciente como a única alternativa disponível o que, diante do veredicto da autoridade médica, nada mais exigia de explicação. Esse era o campo do pleno exercício da psiquiatria clínica, médica e biológica, onde a enfermagem, composta por agentes de nível superior, médio e demais agentes de saúde se acomodavam sob a impotência e conivência com o abuso do saber técnico. Agentes de saúde e pacientes aguardavam a conduta médica, submetidos à autoridade do saber científico, construído e autorizado pelo protocolo de pesquisa, nem sempre compartilhado com a pessoa sem crítica a quem iria "ajudar". As ações de enfermagem resumiam-se basicamente a ações de controle, gerenciadas pelo enfermeiro e executadas pelo técnico ou auxiliar, e sempre dependentes do diagnóstico ou ordem médica e constava de: a) cuidado com a alimentação (monitorar o peso, hidratação e acompanhar a alimentação realizada com colher para evitar que o talher se transformasse em instrumento de ataque); b) cuidado com o sono (vigilância noturna, administração de medicamentos e estratégias para evitar o sono durante o dia); c) cuidados com a higiene (vigilância nos banhos coletivos, troca de roupa hospitalar, conferência e controle de pertences de uso individual
3 para paciente autorizado para portar objetos); d) vigilância a pacientes com atitudes agressivas, suicidas, manipulativas, depressivas, ansiosas, sociopatas, psicopatas, desviadas sexualmente, amorais; e) encaminhamento dos pacientes para o pátio, algumas horas semanais (SILVA; FONSECA, 2005). Num lugar com tais características, o paciente era considerado o depósito de patologias a ser observado, diagnosticado, controlado, documentado e posteriormente oferecido ao saber médico para receber a cura. A ação de enfermagem psiquiátrica, e das demais práticas sociais em saúde, em que pesasse a disponibilidade pessoal ou o agenciamento afetivo intra-equipe estava institucionalmente submetida ao saber e ao poder médico. A indefinição de papéis, a crise de identidade do profissional enfermeiro está presente, não só na especialidade enfermagem psiquiátrica, mas neste espaço ela é gritante, o que acaba resultando em uma sensação de nulidade. A exigência legal da presença do enfermeiro nas unidades psiquiátricas abriu um campo de atuação a este profissional, porém não garantiu sua efetiva inserção naquele espaço. A mudança na lei, não correspondeu a uma mudança na prática (RODRIGUES; SCHNEIDER, 1999). Outro ponto de vista é a falta de um fazer definido, o enfermeiro executa o que lhe parece correto ou o que se aproxima mais das ações que já está acostumado a realizar. Ao transpor para o hospital psiquiátrico as atividades do hospital clínico, o enfermeiro estará se ocupando com as medicações, banhos, curativos, entre outras atividades mais específicas do enfermeiro de hospital geral e vai se distanciando de qualquer interação possível com o paciente (RODRIGUES; SCHINEIDER, 1999). Também o que poderia estar conduzindo a este posicionamento, seria o modelo de atenção à saúde ao qual o enfermeiro se enquadra. Podemos dizer que se trata de um modelo centrado na consulta médica, na psicofarmacologia e nos cuidados com o corpo. Ao acreditamos neste conceito de atenção à saúde, ou estamos fortemente vinculados a ele, e parece que essa é a realidade, então, a nossa prática será bastante centrada na atenção médico-hospitalar e teremos grandes dificuldades de ousar outras alternativas. Este é sem dúvida, um fator a ser considerado. Outro importante fator que contribui para esta questão é a dificuldade de co-responsabilizar-se pela assistência que é freqüentemente
4 observada na prática dos enfermeiros que trabalham em serviços de saúde mental. De uma maneira geral, eles usam como argumento a falta de autonomia, a ingerência do médico na assistência de enfermagem, enfim, a submissão do trabalho de enfermagem ao trabalho médico, mas, ao mesmo tempo, permanecem comodamente nessa situação, ou seja, não participam das decisões do tratamento e, algumas vezes, nem daquelas relacionadas às próprias ações de enfermagem, também não se responsabilizam pelo tratamento. Assim, aliado ao fato de maior valorização salarial do profissional médico, que ocorre freqüentemente nos serviços, reforça-se o seu papel de responsável técnico por todo o tratamento (OLIVEIRA; ALESSI, 2003). Os enfermeiros, portanto, estão demonstrando dificuldades na definição do objeto de trabalho no paradigma da Reforma Psiquiátrica, ou seja, nessa equipe de saúde mental, que define como objeto de intervenção o sujeito-cidadão em suas necessidades psicossociais. Assim, podemos indagar qual é a condição desse profissional em relação a uma assistência cuja orientação é a reinserção social da pessoa com transtornos mentais e o resgate da cidadania desse sujeito, quando ele mesmo não se posiciona na equipe como sujeito-cidadão. Com este estudo, afirmamos que, baseados nas atividades práticas e nos referenciais consultados sobre o tema, que é grande e preocupante a ausência ou consciência do real papel do enfermeiro na área psiquiátrica. Isto acaba acarretando, de certa forma, uma sucessão de distorções, não só no que diz ao profissional enfermeiro, mas também ao trabalho da equipe de enfermagem como um todo, além de interferir, no relacionamento desta com os demais profissionais envolvidos no processo. As causas dessa situação, de acordo com os autores citados, parecem suceder desde a bagagem histórica que o tratamento psiquiátrico no Brasil trouxe para as atividades de enfermagem, passando pela formação acadêmica, instituída nos cursos de graduação, culminando com uma possível acomodação no desempenho de facilitador do trabalho dos outros profissionais ou como gestor da unidade. Há profissionais de saúde mental, contudo, que duvidam que os pacientes crônicos possam responder favoravelmente às técnicas reabilitadoras e viver em sociedade com certo grau de independência (BRESSAN & SCATENA, 2005). Para nós,
5 sustentados ainda nestas escritoras, o cuidar assume características assistenciais: cuidados com a higiene, aparência pessoal, orientar, estimular, ouvir, tocar o paciente, realizar trabalho com familiares, e de supervisão: liderar a equipe de enfermagem e integrar a equipe multidisciplinar. Certamente, o sucesso da assistência de enfermagem depende, para ser efetivo, da integração dessas atividades e cabe a cada profissional a escolha por uma prestação de serviço qualificada ou ter suas tarefas resumidas ao âmbito administrativo e gerencial. 1 Palavras-chave: Enfermagem; saúde mental; organização e gestão do trabalho. ¹ Autor, Acadêmico do 8º semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) ² Autor(a), Acadêmica do 2º semestre do Curso de Enfermagem da UFSM ³ Autor/Relator, Acadêmico do 8 semestre da UFSM. Endereço: João Lenz 217, Bairro Pres.João Goulart; CEP: ; Santa Maria-RS; romaldojunior@hotmail.com
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