Introdução. (ASM/SES-RJ) em parceria com o Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas de Saúde Mental do IPUB/UFRJ (NUPPSAM).
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1 TÍTULO: PERFIL PRELIMINAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA O ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES AUTORES: Maria Cristina Ventura Couto 1 ; Maria Paula Cerqueira Gomes 2 ; Daniely Silva de Viveiros INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ÁREA TEMÁTICA: Saúde Introdução Este trabalho visa apresentar os resultados obtidos num levantamento preliminar 3, realizado no âmbito da gestão pública de saúde mental no Estado do Rio de Janeiro, que buscou traçar o perfil estadual em relação ao atendimento da população infanto-juvenil, tomando-o como base para a reorientação das ações públicas dirigidas a este segmento e para a implantação de diretrizes políticas e assistenciais conseqüentes e eficazes na área da saúde mental. Sabe-se que o estabelecimento de políticas públicas exige que se conheça a realidade na qual se quer intervir; as reais necessidades da clientela que se quer assistir e a situação atual dos serviços a ela destinados o estado da arte da assistência (GOMES, 1999). Caso não levem em consideração estas etapas, as proposições políticas correm o risco de serem inócuas ou meramente oportunistas, esvaziando seu potencial transformador. Em relação à população de crianças e adolescentes não havia no campo da saúde mental qualquer estudo indicativo que pudesse nortear as ações públicas. A oferta de serviços na área pública para este segmento parecia ficar sujeita a iniciativas pontuais, pulverizada em serviços isolados entre si. Os critérios utilizados na montagem dos serviços 1 Psicanalista, membro técnico da Assessoria de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro; Coordenadora do Fórum Inter-institucional para o Atendimento em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes da SES/RJ; pesquisadora do Núcleo de Políticas Públicas em Saúde Mental NUPPSAM Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço eletrônico: crisventura@alternex.com.br 2 Coordenadora de Saúde Mental do Estado do Rio de Janeiro; Professora adjunta do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal/Faculdade de Medicina Universidade Federal do Rio de Janeiro; pesquisadora do Núcleo de Políticas Públicas em Saúde Mental NUPPSAM Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço eletrônico: mpcerqueira@ipub.ufrj.br 3 Levantamento realizado em 2001 pela Assessoria de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (ASM/SES-RJ) em parceria com o Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas de Saúde Mental do IPUB/UFRJ (NUPPSAM).
2 não obedeciam a parâmetros de racionalidade, nem encontravam-se articulados a uma direção técnico-ético-política que justificasse sua oferta no contexto público. Preocupada em não reproduzir esta lógica e tomando como um de seus eixos principais de trabalho o estabelecimento de diretrizes políticas capazes de orientar a assistência prestada no Estado do Rio a crianças e adolescentes portadores de transtornos psíquicos, a ASM/SES-RJ realizou o estudo cujos resultados serão apresentados a seguir. 1. Objetivos do Projeto a) Traçar um diagnóstico preliminar do atendimento em saúde mental de crianças e adolescentes no Estado do Rio de Janeiro b) Estabelecer diretrizes básicas para a melhoria da qualidade da assistência na área da saúde mental c) Propor reorientações político-assistenciais a todos os municípios do Estado do Rio 2. Aspectos Metodológicos O presente levantamento foi realizado através da montagem de um questionário semi-dirigido, respondido pelas coordenações municipais de saúde mental dos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Findo o prazo estabelecido para retorno das respostas à coordenação estadual de saúde mental, uma equipe formada pela coordenadora do projeto e mais 3 estagiários de psicologia 4 procedeu a uma primeira análise do material, indicando a necessidade de entrevistas com os mesmos coordenadores municipais de saúde mental para dirimir dúvidas, completar informações deixadas em aberto e concluir a etapa de coleta de dados. Os dados foram coletados no período de fevereiro à agosto de Dos 92 municípios existentes no Estado, 72 prestaram informações consistentes, constituindo-se como o universo deste estudo. Os dados coletados foram analisados e tabulados a partir do estabelecimento de eixos de análise, tais como: alcance do perfil; indicativo de prevalência, por município; 4 Coordenação: Maria Cristina Ventura Couto. Estagiários: Mariana Fiore, Marina Tanosso e Rodrigo Moraes
3 territorialidade dos atendimentos; natureza dos dispositivos utilizados para os atendimentos e tipo de recursos utilizados no campo da saúde mental para cobertura assistencial. 3. Resultados Obtidos Constatou-se que grande parte da assistência à criança e ao adolescente no Estado do Rio é realizada por instituições filantrópicas, recurso muitas vezes exclusivo em algumas cidades do Estado. Esta destinação é marcante principalmente para os casos diagnosticados como autistas e psicóticos e para os portadores de deficiência mental. No caso de autismo e psicose, em 47,2% dos municípios, ou seja em 46 cidades do Estado, é a rede filantrópica, basicamente as APAE e Pestalozzi, a responsável pelo tratamento. No caso de portadores de deficiência mental, 75% dos municípios (em 54 cidades) recorrem a rede filantrópica para o cuidado dos mesmos. Vale ressaltar que na extensa maioria dos municípios, o SUS local não tem estabelecido um convênio formal com estas entidades, impedindo com isto não só a responsabilização do poder público para com a assistência de seus munícipes como também o acompanhamento sistemático do trabalho que é feito em cada instituição, a construção de dados epidemiológicos etc. Entretanto, quando a questão da problemática da criança ou adolescente está relacionada a distúrbios de aprendizagem ou de comportamento a relação de utilização dos recursos se inverte. Neste caso, em 73,6% dos municípios (53 deles), o dispositivo privilegiado é o ambulatório público de saúde mental, ficando a rede filantrópica em segunda escolha (em apenas 2 municípios do Estado a rede filantrópica é utilizada para o acompanhamento destes casos). Vale ressaltar que um dado alarmante depreendido deste levantamento é o fato de que em 47 municípios, ou seja 65,35%, os ambulatórios de saúde mental tem como prevalência de seus atendimentos os chamados distúrbios de aprendizagem ou fracasso escolar e os distúrbios de comportamento. Os casos de autismo e psicose não recebem pontuação nas estimativas de prevalência destes ambulatórios, estando, como já apontado acima, inseridos nas APAE e Pestalozzi, instituições vocacionadas para o cuidado de pessoas portadoras de deficiência mental e não para problemáticas de ordem psiquiátrica.
4 Uma análise mais aprofundada sobre esta inversão na utilização de recursos assistenciais não cabe no âmbito deste estudo. Porém, de forma genérica, podemos afirmar que o campo público da saúde mental, impulsionado pelo Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira desde final da década de 70, vem dirigindo seus esforços para o enfrentamento das questões colocadas pela população adulta submetida aos descaminhos do asilamento psiquiátrico. Somente agora, na III Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em dezembro de 2002, os problemas a serem enfrentados para o atendimento responsável de crianças e adolescentes portadores de transtornos psíquicos foram efetivamente discutidos, tendo contribuído para tanto o estudo ora apresentado. Outro ponto relevante a ser destacado é o fato de que na ocasião deste levantamento preliminar, havia no Estado do Rio aproximadamente 832 crianças e adolescentes vivendo em abrigos para deficientes, submetidos à lógica mortificante da institucionalização e excluídos do sistema formal de saúde. Construídos para cumprirem uma função social de proteção e cuidado, esses abrigos acabaram se constituindo em instrumentos de exclusão, reproduzindo um modelo que, se francamente criticável, tem se mostrado tenaz e resistente a sua desconstrução. Sua vigência e total hegemonia como aparato assistencial, recobrindo grande parte da destinação atual dos recursos desta área, vem exigindo de todos uma profunda reflexão e conclamando os agentes transformadores do campo da saúde mental a construir ações eficazes de suporte à desinstitucionalização de crianças e adolescentes. Acrescente-se a isto que há no Estado do Rio um único hospital psiquiátrico público 5 para internação de crianças e adolescentes, situado na cidade do Rio de Janeiro. Desta forma, até bem pouco tempo, as internações psiquiátricas da população infantojuvenil eram determinadas por uma inevitável migração, distanciamento dos laços familiares e culturais e sem qualquer acompanhamento ou mesmo ciência dos gestores públicos municipais de saúde mental. Um estudo do perfil das internações neste hospital demonstrou que 53% delas caracterizam-se como reinternações, oriundas de diversos municípios, quer do interior do Estado quer da região metropolitana; sendo 62% procedentes da própria residência do paciente. Ou seja, para muitas famílias o único recurso conhecido e utilizável nos casos de
5 tratamento psiquiátrico é a internação hospitalar. Os próprios coordenadores de saúde mental dos municípios desconheciam esta demanda na ocasião do levantamento ora apresentado. Outro aspecto de relevância relaciona-se ao fato de que em 61,1% dos municípios as equipes de saúde mental não tem formação para o atendimento da clientela infanto-juvenil. O que quer dizer também que não há equipes específicas para o tratamento de crianças e adolescentes em 44 municípios. Enfrentar a transformação do atual estado da arte da assistência em saúde mental requer também o enfrentamento da questão da formação dos trabalhadores neste campo, constituindo-se como um desafio inadiável para estruturação de uma rede de cuidados. 5. Desdobramentos: Além da questão já apontada acerca da imprescindível formação de recursos humanos para atuação na área da saúde mental, urgem no Estado do Rio ações efetivas para ampliação da cobertura assistencial destinada a crianças e adolescentes na área pública, revisão e formalização das parcerias com as entidades filantrópicas, incluindo-as nas supervisões e monitoramento do trabalho realizado a partir das diretrizes políticoassistenciais, e a construção de indicadores publicamente pactuados, com vistas a avaliação periódica das ações realizadas tanto no que diz respeito aos serviços quanto a responsabilidade da gestão pública nesta área. 4. Referências Bibliográficas 5 Trata-se do Hospital Vicente Rezende, localizado no complexo do Instituto Municipal Nise da Silveira, no bairro do Engenho de Dentro/RJ.
6 1) BOLETIM Criança-Clínica-Cidadania, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, abr ) GOMES, Maria Paula Cerqueira. Análise do Impacto da Política de Saúde Mental do Estado do Rio de Janeiro, 20 p., Mimeografado.
Introdução. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço eletrônico: danielyviveiros@hotmail.com
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