PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante MARCELO NASCENTES PIRES sendo agravado CREMO EMPREENDIMENTOS S/A. ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO DOS SANTOS (Presidente) e GIL COELHO. São Paulo, 14 de julho de RÔMOLO RUSSO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 11ª Câmara de Direito Privado Agravo de Instrumento nº Comarca: São Paulo Ação: Execução de Título Extrajudicial Agravante: Marcelo Nascentes Pires Agravado: Cremo Empreendimentos S/A Voto nº Execução título extrajudicial. que tramita em São Paulo. Nomeação de perito da Capital. Objeto da avaliação situado em Curitiba. Assunção das custas de transporte, alimentação e estada pela agravada. Violação aos artigos 200 e 658 do Código de Processo Civil. A atividade executiva do Juiz não deve superar os limites territoriais da Comarca na qual exerce sua jurisdição. A providência de vanguarda é capaz de ferir o princípio do juiz natural e retirar do Tribunal de Justiça do Paraná a competência para conhecer e decidir as eventuais controvérsias sobre a prova pericial não deprecada. Agravo provido "A incidência do princípio da economicidade não autoriza a supressão da competência executiva que está atrelada a outro Juízo, nem tampouco permite que a atividade executiva do Juiz que preside a execução possa expandir-se fora dos limites de sua competência territorial atrelada a Comarca de sua judicatura". Relatório Cremo Empreendimentos S/A, ora agravada, ajuizou execução de título extrajudicial no valor de R$ ,07 em 25/10/2001, em face de Marcelo Nascentes Pires, ora agravante, na qual houve a penhora de quotas da Rede Fênix de Comunicação Ltda. A r. decisão agravada designou perito desta capital para a avaliação das quotas Rede Fênix de Comunicação Ltda. com sede em Curitiba (fls. 46). Aduz o agravante que a referida designação afronta aos artigos 200, 620 e 658 do Código de Agravo de Instrumento nº São Paulo - npm 2/5

3 Processo Civil. Pede o provimento do agravo para que seja determinada a realização de perícia por meio de carta precatória. suspensivo (61/62) Agravo recebido com efeito Contra-razões às fls. 67/73, nas quais a agravada afirma que a designação de perito de confiança pelo Juízo a quo é medida que visa dar maior celeridade ao processo, e declara a assunção das despesas de deslocamento, alimentação e estadia do perito, renunciando ao direito de creditar-se deste valor ao final da ação. Voto Trata-se de agravo de instrumento em execução por quantia certa fundada em título extrajudicial tirado contra r. decisão que nomeou avaliador para a avaliação de quotas de empresa localizada em Curitiba-PR. Respeitado o entendimento do MM. Juiz de primeiro grau, a r. decisão não pode ser mantida. ao dispor: O Código de Processo Civil é claro Art Se o devedor não tiver bens no foro da causa, far-se-á a execução por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienandose os bens no foro da situação (art. 747). Art Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens. Nessa linha, não era possível a Agravo de Instrumento nº São Paulo - npm 3/5

4 solução dada, ainda que imbuída da melhor das intenções, visando à celeridade do feito, que infelizmente já se arrasta há anos. Tal motivo, ainda que relevante, não pode atropelar a letra da lei. É, aliás, da tradição do nosso direito processual que a atividade executiva do juiz deve ficar limitada à sua circunscrição judiciária. Por essa lente, nem mesmo o simples fato de a exeqüente se propor a adiantar e arcar mesmo com as despesas da referida avaliação pode, por si só, justificar a alteração da competência para a execução, porque não são apenas esses custos que estão em jogo. Ao contrário, o que se põe é a própria competência executiva, com as implicações e decorrências que lhe são próprias. Por fim, quem tem o direito de nomear perito de sua confiança é o Juízo a que estão afetos os atos a serem praticados, notadamente porquanto nele é que se firma competência do Juízo Deprecante para os questionamentos em torno da higidez da prova, o que deságua, se mantida a r.decisão hostilizada, em reflexa lesão ao princípio do juiz natural, retirando-se, assim, a competência jurisdicional do Tribunal de Justiça do Paraná para conhecer e decidir das eventuais controvérsias sobre a prova pericial não deprecada. Por último marque-se que o artigo 200 do CPC é categórico no uso do verbo transitivo direto realizar (realizar-se), bem como o artigo 658 do CPC é cogente no comando do verbo transitivo direto fazer (far-se-á), o que desfalca a plausibilidade de exegese diversa, mormente porquê não se tratam de normas processuais dispositivas Por esses fundamentos, pelo meu voto dou provimento ao recurso para reformar a r. decisão, devendo o Juízo a quo deprecar a avaliação do bem penhorado, tal qual determina a lei em vigor. Agravo de Instrumento nº São Paulo - npm 4/5

5 RÔMOLO RUSSO Relator Agravo de Instrumento nº São Paulo - npm 5/5