CULTIVOS FORA DE ÉPOCA DE ALGODOEIRO SOB SISTEMA DE IRRIGAÇÃO NO ESTADO DE GOIÁS NO ANO DE 2004 (*)

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1 CULTIVOS FORA DE ÉPOCA DE ALGODOEIRO SOB SISTEMA DE IRRIGAÇÃO NO ESTADO DE GOIÁS NO ANO DE 2004 (*) Marcio Antônio de Oliveira e Silva (Fundação GO / marcio@fundacaogo.com.br), José Ednilson Miranda (Embrapa Algodão), Aurélio Ribeiro de Oliveira (Fundação ). RESUMO - Incentivados pelo momento econômico favorável verificado na safra 2002/2003, vários produtores de implantaram no ano de 2004 cultivos em sistema irrigado fora da época recomendada. Este estudo avaliou a evolução destes cultivos semeados em época diferente da recomendada. O controle de pragas, com especial atenção ao bicudo, foi conduzido de maneira satisfatória em 14 das 17 áreas visitadas. O custo de controle do bicudo variou entre 7 e 15% do custo total de produção. Mesmo com o controle efetivo das populações de bicudo, devido à colheita tardia (após 31 de agosto), os poucos indivíduos remanescentes podem ser suficientes para infestar de modo significativo os cultivos subseqüentes. Ocorrências de baixas temperaturas no decorrer do ciclo da cultura ocasionando alongamento do ciclo, atraso na semeadura da cultura subseqüente, alta incidência de Sclerotinia sclerotiorum e chuva na colheita foram aspectos negativos observados nos cultivos sob irrigação fora de época. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, época de semeadura, Anthonomus grandis. OUT-OF-TIME COTTON CROPS UNDER IRRIGATION SYSTEM IN THE GOIÁS STATE IN THE YEAR OF 2004 ABSTRACT - Motivated for the favorable economical moment verified in the 2002/2003 season, several producers from implanted in 2004 out-of-time crops in irrigated system. This study evaluated the evolution of these out-of-time crops. The pest control, with special attention to the boll weevil, was led in a satisfactory way in 14 of the 17 visited areas. The cost of control of the insect varied from 7 to 15% of the total production cost. Even with the effective control of the boll weevil populations, due to the late harvest (after August 31), the few remaining individuals can be enough to infest in a significant way the subsequent crops. Occurrences of low temperatures in elapsing of the crop cycle causing prolongation of the cycle, delay in the sowing of the subsequent crop, high incidence of Sclerotinia sclerotiorum and rain at the harvest time was negative aspects observed in the out-of-time crops. Key words: Gossypium hirsutum, época de semeadura, Anthonomus grandis. INTRODUÇÃO A cultura do algodoeiro em tem apresentado consecutivos aumentos de produtividade e de área, passando de 168 arrobas por hectare de produtividade na safra para 240 arrobas por hectare na safra O Estado experimentou também um aumento na área plantada de 40% no mesmo período (FUNDAÇÃO GO, 2004). Devido à sua relativamente alta produtividade e rentabilidade alcançada nas áreas do Cerrado, no ano de 2004 vários produtores aproveitaram a disponibilidade de equipamentos de irrigação do tipo pivot central para efetuar plantios em época diferenciada daquela regulamentada pela legislação estadual (Instrução Normativa 008/2002), a qual estabelece a semeadura da cultura entre 01 de novembro e 31 de dezembro de cada ano.

2 A falta de um estudo relacionado ao zoneamento climático para o Estado contribui para que tentativas de inclusão da cultura sob pivot central em épocas não recomendadas sejam levadas a termo por produtores em várias localidades do Estado. Entretanto, a definição da época de semeadura e sua regulamentação configuram-se como uma importante medida de controle fitossanitário da cultura, uma vez que limita o período de disponibilidade de substrato para o desenvolvimento de pragas e doenças. A alta incidência de populações de bicudo nas áreas cotonícolas verificada nos últimos anos levou a cadeia produtiva do algodão de a elaborar o Plano Estratégico de Controle do Bicudo, o qual tem como uma de suas premissas a adoção do plantio concentrado. Este estudo avaliou a evolução dos cultivos implantados em época diferente da recomendada. MATERIAL E MÉTODOS Um questionário foi elaborado no qual constavam parâmetros relacionados à localização (propriedade, altitude, área plantada, temperatura durante período de plantio, altura final), fenologia (data de plantio, cultivar, ciclo), produção (expectativa de produção, estimativa de produção, custo de produção) e controle de pragas (zona de infestação, número de aplicações, infestação, observâncias às medidas do Plano de Controle do Bicudo). Estes questionários serviram de base para a avaliação A partir do preenchimento destes questionários com dados coletados junto aos técnicos, produtores, além daqueles coletados in loco através de avaliação visual e estimativas, foram elaborados gráficos e a situação de 17 áreas onde foi plantada a cultura do algodoeiro em sistema irrigado e em época posterior à recomendada no estado de foi discutida. RESULTADOS E DISCUSSÃO A evolução do cultivo de dezessete áreas de diferentes municípios do estado de implantadas com algodão fora de época no ano de 2004 foi acompanhada desde a semeadura até a colheita (Fig. 1). Área (ha) Vianópolis Buriti Panamá Itaberaí Figura 1. Áreas irrigadas por pivot central com plantios de algodoeiro em época não recomendada no estado de, no ano de 2004.

3 De maneira geral, o controle de pragas, com especial atenção ao bicudo, foi efetuado de forma satisfatória, tendo sua infestação suprimida em 14 das 17 áreas visitadas. No entanto, as três áreas onde a infestação foi elevada, com níveis de infestação superiores a 10% de plantas atacadas, corresponderam a cerca de 700 hectares, ou seja, 23% da área total cultivada com algodoeiro sob pivot central em época não recomendada. O custo de controle do bicudo correspondeu a valores entre 7 e 15% do custo total de produção, sendo assim um dos itens que oneraram tal plantio (Fig. 2). Mesmo nas condições em que se efetuou o controle efetivo das populações de bicudo, nas áreas em que a colheita será tardia (após 31 de agosto), os poucos indivíduos remanescentes podem ser suficientes para infestar de modo significativo áreas próximas que onde culturas de algodoeiro serão implantadas no final do ano em sistema de sequeiro. Além disso, a presença constante de refúgios próximos às áreas de plantio, constituídos por matas e aguadas, possibilita condições de abrigo e sobrevivência do inseto até a próxima safra (DEGRANDE, 1991). Quanto menor o período de entressafra, maior a taxa de mortalidade de adultos do bicudo através da ação de inimigos naturais (fungos entomopatogênicos, predadores, parasitóides) e, principalmente, da ação ambiental (baixa umidade e temperaturas adversas) (SANTOS, 1999) Custo produção (R$) Custo de controle de bicudos (R$/ha) Figura 2. Custo de produção (R$/ha) em relação ao custo de controle do bicudo em áreas irrigadas plantadas fora da época recomendada., safra Nas áreas de altitude elevada (acima de 700 m) ficou evidente o efeito negativo de baixas temperaturas ocorridas nos meses de junho e julho (Fig. 3). Um dos fatores ambientais que mais interferem no crescimento e no desenvolvimento é a temperatura, por afetar significativamente a fenologia, a expansão foliar, a alongação dos internós, a produção de biomassa e a partição de assimilados em diferentes partes da planta, sendo a ótima para produção entre 20 e 30 C (REDDY et al., 1991). Noites frias e temperaturas diurnas baixas resultam em crescimento vegetativo com poucos ramos frutíferos (AMORIM NETO et al.,1999). A faixa de temperatura ideal para o desenvolvimento das

4 plantas do algodoeiro varia entre 18 e 30ºC, sendo a temperatura mínima requerida de 14ºC. Entretanto, segundo relatos de técnicos e agricultores, nos meses de maio (final), junho, julho e parte de agosto foram freqüentes temperaturas abaixo de 15ºC, temperaturas críticas para o desenvolvimento vegetal Duração do ciclo Figura 3. Duração do ciclo (dias) de culturas de algodoeiro implantadas em áreas irrigadas por pivot central em diferentes municípios do estado de no ano de De maneira generalizada, cultivos sob pivot central necessitaram de controle rigoroso de doenças, principalmente mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), devido a presença de esporos remanescentes de cultivos anteriores de feijoeiro. Isto implicou no aumento do uso de fungicidas e conseqüente aumento do custo de produção. A ocorrência de chuvas durante a colheita foi outro fator prejudicial em algumas áreas cultivadas fora de época, tendo a colheita sido efetuada entre final de setembro e meados de outubro. O resultado econômico do cultivo fora de época sob condições de irrigação somente foi alcançado em áreas em que a semeadura foi feita no mês de janeiro, à exceção de onde, apesar da semeadura ter sido efetuada no início de março, alta produtividade foi alcançada comparativamente às demais áreas (Fig. 4). Supõe-se que a resposta fenológica da cultura para esta localidade seja semelhante ao verificado nas regiões produtoras de Jussara e arredores.

5 Ita p a ci Itaberaí Panam á Buriti Vianópolis Produtividade mínima Produtividade máxima Figura 4. Produtividade estimada (em arrobas de algodão em caroço/ha) de áreas irrigadas com pivot central., safra CONCLUSÕES 1. De maneira geral, a infestação de bicudos não foi o fator limitante para a viabilização do cultivo do algodoeiro fora da época recomendada em áreas irrigadas por pivot central, uma vez que o controle de pragas foi eficiente para conter as populações do inseto. De qualquer forma, o risco de infestações na safra subseqüente é significativo, uma vez que a disponibilidade de alimento foi prolongada; 2. O plantio do algodoeiro sob pivot central foi afetado por altos índices de mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), devido ao cultivo de feijoeiro, leguminosa que se constitui em hospedeiro potencial do fungo. Este fato implicou em aumento no custo de produção pelo uso mais elevado de fungicidas; 3. Baixas temperaturas ocorridas nos meses de junho e julho resultaram em redução do metabolismo vegetal e atraso no desenvolvimento, alongando o ciclo da cultura. Em decorrência, houve a frustração das expectativas de produtividade e produção e o atraso do plantio da cultura subseqüente; 4. Em função dos problemas verificados, os produtores que plantaram o algodoeiro sob estas condições foram desestimulados, sendo que na safra seguinte não se verificou nenhum caso de plantio fora de época. (*) Trabalho financiado pelo Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão de FIALGO

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM NETO, M. S.; MEDEIROS, J. C.; BELTRÃO, N. E. de M.; FREIRE, E. C.; NOVAES FILHO, M. B.; GOMES, D. C. Zoneamento para a cultura do algodão herbáceo no Nordeste. Campina Grande: Embrapa Algodão, p. (Boletim de Pesquisa, 39). DEGRANDE, P. Bicudo do algodoeiro: Manejo Integrado. Dourados: UFMS p. FUNDAÇÃO GO. Medidas de controle do Bicudo do Algodoeiro em Folder. REDDY, V. R.; REDDY, K. R.; BAKER, D. N. Temperature effect on growth and development of cotton during the fruiting period. Agronomy Journal, v. 83, p , SANTOS, W. J. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. (Ed.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafos, p