A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS IDENTITÁRIOS COMO ALTERNATIVA DE TRABALHO E RENDA EM MIAI DE BAIXO - CORURIPE/AL
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- Denílson Costa Fernandes
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1 A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS IDENTITÁRIOS COMO ALTERNATIVA DE TRABALHO E RENDA EM MIAI DE BAIXO - CORURIPE/AL Rafaela dos Santos 1 (UFS) Paula Yonara S. Hora 2 (UFS) Sonia de Souza M. Menezes 3 (UFS). INTRODUÇAO Este trabalho poderia ser desenvolvido por qualquer ciência que considere o homem como um ser cultural. No campo da geografia, consideraremos a abordagem cultural, uma vez que serão analisadas as experiências e as práticas que caracterizam o espaço vivido de um determinado grupo humano. Como iremos tratar sobre os traços culturais, portanto identitários, que caracterizam os habitantes de um povoado, cabe ressaltar que as discussões que abarcam o conceito de cultura também permeiam as abordagens da geografia cultural quando o utiliza. Com a finalidade de discutir essa questão, Corrêa (2001) apresenta de forma simplificada duas perspectivas geográficas em que podemos tratar esse conceito. Uma é a perspectiva da geografia cultural saueriana que evidencia o conceito de cultura como abrangente, como tendo um papel determinante e ainda como tendo uma evolução específica. Por outro lado, quando analisamos as práticas humanas em determinado espaço usando a perspectiva da geografia cultural renovada, podemos seguir pela vertente que considera o conceito de cultura como sendo restrito ou aquele entendido como um contexto e ainda como tendo uma evolução sincrônica. É certo que não cabe aqui uma discussão sobre as perspectivas que norteiam as temáticas desenvolvidas nesse campo geográfico, mas é interessante ressaltar, pois qualquer que seja ela, é necessário que o termo cultura seja usado criticamente. Assim sendo tomemos esse conceito como um conjunto de práticas, de conhecimento e de valores que cada um 1 Aluna do curso de geografia (licenciatura)/ UFS, pesquisa aplicações de SIG na questão Municipal e participa do Grupo de Estudo sobre Alimentação-GRUPAM. 2 Aluna do curso de geografia (licenciatura)/ UFS, monitora da disciplina de Didática-2011/2. 3 Professora do Departamento de Geografia, coordenadora do Grupo de Estudos sobre Alimentação. 1
2 recebe e adapta a situação evolutiva, seja como uma realidade individual ou social, (CLAVAL 2001). O geógrafo encontra possibilidades para fazer análises que englobam as problemáticas culturais. Como exemplos podemos citar os modos de vestir, falar, a toponímia dos lugares, seus sistemas produtivos dentre outros. Além disso, podemos utilizar as diversas escalas de análise para tais investigações, uma vez que essas questões se referem à significações abstratas e simbólicas isto é, o que conferem à valores individuais e o que marca a coletividade de um grupo. Os estudos que abordam a produção dos alimentos são bastante discutidos no campo das ciências agrárias, no entanto, o saber-fazer carregado de símbolos e significados que permeiam a prática de produzir os alimentos podem ser abordados dentro da perspectiva das ciências humanas incluindo aí a geografia cultural. Tendo por referência as concepções sobre Ciências Humanas em Foucault (2000), de que o comer e o nutrir, como fenômenos humanos, se fundem no amálgama empírico e simbólico da alimentação deste ser único que, distintamente de qualquer outro animal, trabalha na produção, distribuição e consumo da comida, faz dela expressão de sua linguagem e a tem em suas representações. (SILVA ET ALL, 2010 p.4) É partindo desse abrangente campo de estudos que nesse trabalho será apresentado as relações entre as práticas que caracterizam a produção de alimentos identitários como alternativa de trabalho e renda para o sustento de famílias do povoado Miai de Baixo Coruripe/AL. A complexidade é tamanha que mesmo delimitando o recorte espacial e os sujeitos que re(produzem) esse espaço, ainda assim definiremos os elementos que comporão essa análise. A pesquisa de campo realizada com a observação e entrevistas acompanhadas de registros fotográficos caracterizam uma pesquisa empírica com recorte espacial, embasada com um levantamento teórico no campo da geografia cultural. As entrevistas foram direcionadas as guisadeiras e seus familiares, aos fornecedores de matéria-prima e aos consumidores dos produtos em questão. Os questionamentos se deram em torno das variedades das receitas, sobre o saber-fazer das guisadeiras, produção, 2
3 comercialização e renda, origem dos consumidores, tempo aproximado de consumo e posicionamento sobre preços dos produtos. Através de entrevistas feitas in locu com os sujeitos envolvidos no processo de cultivo, colheita e preparação, identificamos essa força da tradição, em falas emocionantes que expressaram um tempo passado. Assim a relação que existe entre a produção dos alimentos como fonte de renda e os traços culturais dos miaienses são evidenciados através a permanência de práticas passadas de geração a geração. As conversas com as guisadeiras foram suficientes para se fazer um recorte temporal para averiguação do processo de aquisição desses materiais relacionadas à elementos identitários que permeiam o saber-fazer as fases que caracterizam o processo de produção e comercialização dos produtos. A partir desse recorte foi possível apontar algumas mudanças referentes a esse processo. O RECORTE ESPACIAL-MIAI DE BAIXO - CORURIPE/ALAGOAS A área estudada chama-se povoado Miaí de Baixo esta localizado a 10º12 54 S e 36º13 14 W a oeste de Greenwich. Faz parte do município de Coruripe que segundo o IBGE, ocupa uma área de 913 Km², 3,48% do território de Alagoas. Está localizado no litoral Sul do Estado, na mesorregião do leste alagoano e microrregião de São Miguel dos Campos. Dista 85 Km da capital, Coruripe limita-se ao norte com os municípios de Teotônio Vilela, São Miguel dos Campos e Junqueiro; ao Sul, Feliz Deserto; a oeste, Penedo e Igreja Nova; e a leste com o Oceano Atlântico. È um município que apresentação concentração de terras e a utilização das mesmas está sob o domínio da produção de cana de açúcar com destaque para três grandes usinas, a Usina Coruripe, a Usina Guaxuma e Cooperativa Pindorama, além das grandes fazendas de coqueirais de criação de gado. Em contraste com as grandes extensões de terras destinadas a monocultura tem-se várias povoações tanto ao longo da costa litorânea como no seu interior. Miai de Baixo que está entre Feliz Deserto e a cidade de Coruripe, sede do município é um deles e está a uma distância aproximada de 13km da sede. Veja na figura abaixo. 3
4 Coruripe Figura 01 Miai de Baixo Fonte: site da prefeitura de Coruripe / dawnload Caracterizado durante muito tempo por casas de taipa, sem energia e água encanada as famílias desse povoado apropriaram-se dos recursos naturais para sobreviverem. Desde o final da década de 1980 esse espaço vem sofrendo varias transformações como a construção da rodovia estadual que liga o povoado a outros núcleos de povoações e a cidades próximas. A energia elétrica e a água encanada provocaram novos hábitos ao cotidiano monótono dos miaienses e as distâncias foram encurtadas como a utilização de transporte que não fosse animais de tração. Como o povoado é composto por famílias de pescadores e agricultores, consideremos apenas as práticas que envolvem o segundo ofício, abordando o cultivo da mandioca e a produção de alimentos derivados do referido produto agrícola. Assim apontaremos quais os traços culturais que envolvem a preparação de bolos, broas, pés de moleque, farinhas, beijus que caracterizam a cultura daquele lugar apesar das transformações que o povoado vem passando. O lugar recria cultura a partir de um cotidiano vivido coletivamente, nas tramas constitutivas das identidades de resistência [...] esse processo baseiase em um saber fazer onde se enquadram crenças, formas de manejo do meio ambiente, tecnologia, ciência da natureza, criação e recriação das estratégias de vida como apontado por Furtado (op.cit) e Maldonado (1993), (SOUZA, 2009 p. 27). 4
5 As transformações que o povoado vem passando, não anula a força da tradição entendida aqui como identidade de um povo. É bem verdade que novos hábitos são incorporados a práticas antigas, pois não devemos considerar os traços culturais isentos das mudanças que ocorrem atualmente. No entanto, é a força do valor identitário sobre a produção dos guisados das mulheres miaienses, uma das proposições argumentativas que explica a permanência de traços culturais diante das transformações tempo-espacial daquele lugar. TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS EM MIAI DE BAIXO A produção de guisados constitui em uma marca identitária do povoado Miai de Baixo, cujo saber-fazer foi repassado por gerações. No processo produtivo é perceptível o envolvimento dos membros familiares, que buscam com a manutenção da tradição arraigada na história da comunidade uma alternativa de sobrevivência diante das transformações ocorridas no espaço geográfico nas últimas décadas. Como ressaltam Canesqui e Garcia (2005): Os produtos tradicionais são aqueles que se constituem e fazem parte da história social de uma determinada cultura, local ou região. Vindos de um longo tempo, através de gerações que os foram produzindo e recriando, esses produtos marcam um processo que reúne relações sociais e familiares, num encontro entre o saber e a experiência; portanto, a produção desses alimentos é, ainda, uma arte construída ao longo do tempo através da tradição familiar (CANESQUI E GARCIA, 2005). Diferentemente dos traços culturais mantido pela comunidade, o lugar passa por diversas transformações que resultará em novas formas de uso e apropriação do espaço, ou seja, de um espaço eminentemente familiar com possessão de terras através de herança, os miaienses se depararam nas últimas décadas com a entrada de grandes produtores de cana de açúcar e coqueirais. As empresas e/ou os latifundiários que investiram no povoado e cercanias utilizaram vários artifícios que resultaram na venda ou no arrendamento de seus pedaços de chão onde plantavam a mandioca, matéria-prima principal para a produção dos guisados. Com essas novas formas de apropriação da terra, tornou-se impossível plantá-las. Logo, para a continuidade da elaboração dos guisados, as mulheres que se ocupam nesse ofício são 5
6 obrigadas a comprar a raiz em outros povoados e até em municípios circunvizinhos como Feliz deserto e Pindorama. Outro ingrediente utilizado na produção dos derivados o coco - também é um indicio de que o povoado passou por essas transformações uma vez que, em anos passados seus nativos possuíam seus próprios sítios de coqueiros e retiravam deles seus frutos para preparar as iguarias. Ultimamente a aquisição dos cocos se dar por meio da compra. Alem de fazendeiros, há um aumento constante da população local, significando dizer que, as propriedades familiares adquiridas por herança são divididas entre filhos e netos que formam suas próprias famílias e com isso as porções de terras destinadas para o plantio de coqueiros quase não existem mais Tais mudanças ocasionaram a redução da taxa de lucro, mas não a disposição das guisadeiras para o oficio. As técnicas de fabricação dos produtos permanecem ainda rudimentares com tecnologia elementar e trabalhos manuais, como o motor movido a roda (manual) que serve para triturar a raiz (figura 2). Os guisados são feitos, em sua maioria, pelas mulheres envolvendo seus saberes e assim, valorizando a produção e a cultura dos alimentos, pois para serem comidos, ou comestíveis, os alimentos precisam ser elegíveis, preferidos, selecionados e preparados ou processados pela culinária, e tudo isso é matéria cultural (CANESQUI e GARCIA, 2005). 6
7 Figura 02 Embora as dificuldades na atividade sejam atenuadas, observamos a continuidade dessa prática cultural e a inserção da população jovem que residem no povoado, sendo comumente denominadas como as novatas ao aderir a referida atividade, como observou uma entrevistada. Nossas mães e avós trabalharam na produção e comercialização dos bolos e tapiocas para sustentar a família, também fazemos o mesmo, principalmente por que existem poucas opções para adquirir renda para sobreviver. Com o dinheiro compramos de tudo, comida, moveis, pagamos as contas e outras coisas mais (E.M.S. Agosto, Miai de Baixo). É notável que os motivos que levam as famílias miaienses ao oficio, sempre foi a necessidade de se ter uma fonte de trabalho renda, igualmente é impossível negar que a influência da cultura não esteja arraigada nessa prática, sobretudo porque as família que hoje se insere nesse contexto são filhas e netas com histórico dos guisados. 7
8 ALTERAÇÕES NO PROCESSO DE PRODUÇAO DOS GUISADOS Com relação aos meios de produção, não só no quesito terra que podemos apontar mudanças, mas também nas casas de farinhas que segundo relatos até a década de 1980 existiam várias e que estas eram coletivas, isto é, em cada núcleo familiar havia uma casa de farinha aonde os parentes usavam para fazer os guisados. Atualmente não encontramos mais essas casas, em substituição, as mulheres utilizam pequenos fornos nos quintais de suas casas e os utensílios usados para a preparação das massas são miniaturas do que compunham uma casa de farinha tradicional, como a prensa que serve para retirar a umidade da mandioca, e a peneira para deixar a massa mais fina. O processo de preparação da matéria prima também passou por mudanças uma vez que houve alterações nos hábitos cotidianos dos miaienses. A água encanada e a energia elétrica foram disponibilizadas para o povoado e a rotina da população foi toda modificada inclusive na forma de preparar os guisados. A mandioca, por exemplo, antes da água encanada era colocada de molho com casca, para ser amolecida em cacimbas ou riachos. Atualmente as mulheres colocam a raiz em galões ou baldes grandes onde estas passam em media três dias para pubar e amolecer. Já a eletricidade trouxe a vantagem de poder conservar as massas da mandioca e da macaxeira. Antigamente a preparação dos produtos era feita após o processo de triturar a raiz ou quando lavava e secava à prensa a massa puba, pois a mesma não se conservava por muitos dias. Exceto quando se queria fazer a farinha azeda, pois para fazê-la é preciso deixar a massa azedar por vários dias. Figura 03 8
9 se referirem às receitas, as senhoras apontaram algumas mudanças na forma de preparo, pois muitos ingredientes foram agregados. Por exemplo, na preparação do pé de moleque, onde a margarina toma lugar de destaque ocupando a importância que antes era do sumo do coco. Todas as entrevistadas citaram em suas falas que suas mães não utilizavam a margarina ou quando isso ocorria, a quantidade era mínima, não sei como, mais minha mãe e minha avó não usavam a margarina, mas os bolos eram deliciosos e molinhos, elas usavam muito sumo do coco e hoje a gente tem que colocar muita margarina para deixar o bolo amarelinho, molinho e gostoso (D. H. Agosto 2011, Miai de Baixo). É como argumenta Ramos (2007 p.15) as praticas alimentares falam do processo de indivíduos, famílias e comunidades revelando como diversos elementos do cotidiano influenciam e são influenciados pela alimentação dentro de um contexto de desenvolvimento próprio de cada local e grupo uma vez que atualmente as influências derivadas da globalização alcançam desde os grandes conglomerados urbanos até as pequenas povoações. 9
10 Outro ingrediente que está presente na receita do bolo de macaxeira que não era utilizado é o queijo mussarela ralado. Sua utilização para tal fim é muito recente, isso por que o próprio produto alimentício não era feito para ser comercializado, mas para o consumo da própria família a base da massa da macaxeira, leite de coco e sal. Atualmente o bolo de macaxeira é um dos produtos mais procurados e o queijo é um dos ingredientes que não pode faltar em sua receita. Um motivo citado para tais modificações nas receitas, foi a acessibilidade dos novos ingredientes, uma vez que as distâncias entre o povoado e a feira da cidade e de estabelecimentos comerciais se encurtaram devido a construção da rodovia BR101 AL no final da década de 1980 como ressalta o entrevistado, antigamente a gente ia pra feira de Coruripe de burro era muito longe e não dava pra trazer muitas coisas só o mais importante e também por que antigamente não se usava essas coisas de hoje não ( R..R.S, Agosto 2011, Miai de Baixo). Todavia a forma de comercialização também foi se alterando. Os produtos eram colocados em sacos de pano e levados em cima do lombo dos burros para as feiras de Coruripe, Pindorama, Piaçabuçu dentre outras. Atualmente as iguarias de mandioca são arrumados em caixas de isopor na pretensão de ser mais higiênico e de conservá-los novos e com a temperatura ideal (quentinhos). A PRODUÇÃO DE GUISADOS COMO IMPORTÂNCIA ECONÔMICA O valor identitário do saber-fazer dos derivados da mandioca com técnicas próprias que caracterizam a cultura dos miaienses caminha paralelamente com a importância econômica que têm para com estas famílias, uma vez que, a finalidade de produzi-los é a comercialização para a geração de renda destinada a subsistência das famílias. Foi evidenciado a partir das entrevistas com os idosos, que até o último quartel do século passado o motivo para tal produção era a complementação de renda para a sobrevivência familiar no caso das mães de família, já as moças trabalhavam nesse oficio com a pretensão de arrecadar verbas para comprar seus enxovais de casamento. Assim como em décadas atrás, atualmente os motivos são bastante semelhantes: comprar mantimentos, 10
11 vestimentas, construir residências, pagar suas dividas, são apenas alguns dos vários destinos da renda adquirida a partir dos guisados do Miai de Baixo. De um universo de dezessete famílias entrevistadas e que fazem parte do processo de produção e comercialização dos guisados, dez atuam diariamente no oficio e dessas, sete fazem os guisados para complementar a renda familiar a mais de 30 anos. E as outras três são núcleos familiares recentes, que casaram há pouco tempo. As outras sete são famílias liderados por mulheres, ex-guisadeiras que deixaram de participar diretamente da produção devido à idade avançada ou por motivo de doenças. A produção era voltada apenas para a tapioca amassada, chamada no povoado e redondeza de má casada, e para o pé de moleque. Atualmente várias receitas estão sendo preparadas para a comercialização como o bolo de macaxeira com e sem queijo, a tapioca dobrada, além disso, outros produtos eram feitos apenas para o consumo da família e hoje também são comercializados como os beijus, as broas e os bolos de puba. Na tabela abaixo estão listados os produtos derivados da mandioca produzidos em Miai de Baixo. Variedade de guisados produzidos - Miai de Baixo - Coruripe/Alagoas, 2011 Bolos Macaxeira Macaxeira com queijo Puba Tapiocas Pé de moleque Beiju Broas Farinhas Má casada (tapioca amassada) Tapioca ripiada Tapioca dobrada Pé de moleque comprido Pé de moleque redondo bolo cagão Beiju grosso Beiju fino chapéu de couro Farinha comum Farinha d água 11
12 Os produtos são vendidos nas feiras das cidades de Coruripe, Feliz Deserto, Piaçabuçu e em Pontal de Coruripe seja em feiras ou a domicilio de porta em porta. Os produtos mais procurados são: a tapioca amassada, o pé de moleque e o bolo de macaxeira com queijo. Os preços variam entre cinqüenta centavos a dois reais a depender do tamanho dos produtos. Todas as guisadeiras vendem as variedades de produtos com exceção das farinhas, e o lucro entre elas não tem muita diferença variando de um a dois salários mínimos mensais, sendo que a produção se dar semanalmente. Como se trata de uma atividade de caráter familiar, a mão de obra se restringe aos membros da família, no entanto há casos como a preparação de farinha por exemplo, que é evidenciado uma coletividade maior, ocorre o denominado mutirão, inerente as comunidades que valorizam os traços culturais. Quanto aos consumidores, estes são fregueses fiéis, consomem os produtos desde longas datas, ou seja, por muitos anos. Em entrevista feita a alguns deles na feira de Coruripe eles demonstraram satisfação tanto no sabor como no preço dos guisados. O número de compradores aumentam a cada ano (A.D.S. Agosto 2011, Miai de Baixo). Tratam-se de sujeitos que incentivam permanência à produção dos alimentos. Como o povoado está localizado no litoral existem algumas casas de veraneio onde em feriados, quando há um número considerável de consumidores, as guisadeiras aproveitam para vender seus produtos a domicilio. CONCLUSÃO Os traços culturais de um povo são evidenciados no falar, vestir, nos hábitos alimentares, nas formas de produzir etc, foi a partir dessa última circunstancia que apontamos as características que permeiam a produção dos guisados no povoado como sendo elementos que compõe a cultura daquela comunidade. A preservação das ferramentas usadas na preparação dos bolos, beijus, broas, pés de moleques dentre outros derivados da mandioca assim como os nomes característicos daquele 12
13 lugar passados de geração a geração dão a estes, titulo de traços culturais, que são tão importantes quanto a produção dos alimentos para o sustento das famílias. Toda a produção é realizada entre família e a renda é utilizada para o sustento da mesma. Nesse contexto, torna-se um importante instrumento de renda e de crescimento da população local. É uma atividade que envolve varias etapas, exigindo que todos os membros participem de forma direta ou indireta da produção, no entanto, as etapas finais isto é, da ralagem da mandioca até a venda dos guisados são feitos pelas mulheres autodenominadas de guisadeiras. As transformações espaciais ocorrida em Miai de Baixo, modificaram os hábitos cotidianos de sua população, mas não o suficiente para descaracterizar o saber-fazer que foi transmitido de geração a geração. E uma forma de não deixa isso acontecer é a apropriação desse saber utilizando-o para adquirir renda. Diante das evidências vistas e ouvidas no povoado Miaí de Baixo sobre as fases de produção dos guisados, conclui-se que esse processo passa por ressignificações no tocante as transformações espaciais ocorridas no lugar como as novas formas de apropriação da terra, o fim das casas de farinha comunitárias e a inserção de novos ingredientes na produção dos derivados. Entretanto, diante das dificuldades as mulheres de Miai de Baixo resistem na atividade de produzir guisados alicerçadas pela demanda do mercado consumidor. REFERÊNCIAS CANESQUI, Ana Maria e GARCIA, Rosa Wanda Diez. Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ, apud CASTRO ET AL. Explorações Geográficas 2 ed. R. de janeiro ed. Berthand Brasil, CLAVAL, Paul. A geografia cultural. 2 ed. Florianopolis: ed. da UFCS, A volta do cultural na geografia. Publicado em CORRÊA, Roberto Lobato. Sobre a geografia cultural. Publicado em RAMOS, Mariana Oliveira. A comida da roça ontem e hoje: um estudo etnográfico dos saberes e práticas alimentares e agricultores de Maquiné (RS). Porto Alegre,
14 SILVA, Juliana Klotz et all. Alimentação e cultura como campo cientifico no Brasil. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, SOUZA, Rosimere Melo. Natureza, Espaço e Cultura em Comunidades Haliêuticas in: Espaço e Cultura, Julho-dezembro, nº26/
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