Você já deve estar se perguntando o que é criatividade e de onde vem.

Transcrição

1 A criatividade A criatividade é somente uma das múltiplas formas de expressão do ser humano, ainda que, talvez, a mais importante, a mais completa e a mais comum. Sim, porque apesar de todo o mito e exclusividade gerados ao redor da capacidade criadora, trata-se de um aspecto sempre presente no cotidiano do homem. Freqüentemente nos queixamos de falta de criatividade, invejando as pessoas criativas, encarando-as como verdadeiros deuses. Tal sentimento não significa manifestação de ausência ou escassez desse bem, mas simplesmente inconsciência de nossos próprios poderes e expressões criadoras. Não se trata de um dom celestial do qual se beneficiam alguns eleitos. É meramente uma característica elementar que nos distingue do resto do reino animal, e desta forma está presente em todos os homens e a todo momento. Lembre-se de você quando era criança. Não lhe parece que você era mais criativo? Com duas latas e um fio, fazia um telefone. Dois prendedores em L, e surgia um revólver. Qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, se transformava num outro elemento. Éramos cavaleiros medievais com a mesma facilidade com que nos tornávamos guerreiros espaciais. Afinal, o que mudou nestes anos? A resposta é simples. Adquirimos o medo de errar, de experimentar, de fazer experiências. Passamos a acreditar que o mundo tem uma única forma, uma única resposta. Em suma, nos acomodamos. Montamos nossos escaninhos e começamos a classificar tudo. Perdemos a poesia. Uma criança livre vê o mundo de maneira metafórica. Quando chove, o céu está chorando, o sol derrete a noite. Seus autolimites são empurrados para longe. Ela ainda não descobriu o que não pode, o que não deve. Isto aprendemos mais tarde e, se não tomarmos cuidado, nunca questionaremos. Você já deve estar se perguntando o que é criatividade e de onde vem. Ela é um tipo de energia, um princípio fundamental da evolução que permeia todo o universo. Nada está parado, tudo está em movimento, até as coisas físicas ao nosso redor são apenas um conjunto de partículas que estão se movimentando a certa velocidade para nos darem a impressão de coisas sólidas. Nós também estamos permeados por esta energia da natureza. 1

2 Usamos esta energia para nos alimentar, mover, trabalhar, brincar, pensar ou, simplesmente, para viver, no sentido básico da palavra. Nós recarregamos nossas baterias não somente através da alimentação calórica, mas também parece existir alguma coisa como um mecanismo circular e de retroalimentação dentro do mesmo sistema energético. De modo que podemos, através do uso adequado de nossa energia, potencializá-la, ou pela aplicação doentia, reduzir de modo dramático o seu nível. Aqui, dois exemplos simples que podem ajudar a explicar este mecanismo: Todos nós vivemos, em alguma fase de nossa vida, momentos de aflição (morte de um ente querido, perda de um namorado, fracasso num exame, entre outros), gerando um efeito enfraquecedor do nosso ânimo. Talvez já houvéssemos experimentado, através de certas atividades ou atitudes, este estado de ânimo, ao ativar recordações, consciente ou inconscientemente, através de fotos, canções, conversas, visitas a determinados lugares, resultando no aumento da fossa e agravamento da sensação de prostração. Podemos até adoecer fisicamente, aumentar o nível de passividade até a apatia e, em casos extremos, provocar nossa própria morte. Quer dizer, usamos nossa energia contra nós mesmos até às últimas conseqüências. O outro extremo acontece freqüentemente em situações de conquista ou de satisfação pessoal, por exemplo, no esporte ou no trabalho. Mesmo depois de desgaste e esforço desproporcionais nos sentimos melhor que antes e com uma motivação enorme para enfrentar de imediato a próxima tarefa. Conseguimos, assim, potencializar nossas energias. O que tudo isto tem a ver com criatividade? Acontece que ela é precisamente um destes estados potencializadores, onde o refluxo de energia produzido por atos criativos é maior que seu desgaste. Sentimo-nos realizados, úteis, com sentido e razão de ser. É um estado que nos apóia, motiva e nos faz sentir contentes e felizes. Desejamos muito isso, sem nos darmos conta de que o possuímos. Falta tão somente despertá-lo. Para tornar um pouco mais claro o caráter da criatividade, poderíamos usar um esquema abstrato, mas muito simples, que nos permita diferenciá-lo de outros modos de ser da expressão humana. 2

3 Basicamente utilizamos nossa energia para conservar e manter nossa realidade, ou para modificá-la. Seria como funcionar somente em duas dimensões: Na maioria dos seres humanos há uma combinação de ambas as setas; em alguns prepondera mais um lado do que outro. O interessante nesta situação é que ela não é estática, pois pode alterar e ser alterada. Fatores externos a nós (a família, o ambiente de trabalho, o sistema educativo) influem sobre a combinação e o comprimento das setas. Mas somos nós mesmos que temos o poder de fazer as mudanças para uma ou outra direção. A nós interessa a seta da mudança, porque é aí que se localiza a criatividade que procura transformar, melhorar, gerar, em suma, criar. Basicamente, mudança significa a interação de dois componentes: proposta e ação. Nesta combinação a proposta fornece uma determinada orientação às ações, dá direção a elas. Ao jogar com estes componentes, podemos identificar quatro estados de expressão humana sobre a mudança. A INÉRCIA estaria em oposição à mudança, uma vez que praticamente não existe ação. Não há procura de um motivo para atuar ou dirigir possíveis atividades, nem impulso para realizar alguma atividade física além do nível de sobrevivência. No estado da IMAGINAÇÃO, nos encontramos desenvolvendo um mundo visionário voltado para dentro, sem que este se mostre externalizado num esforço de realização ativa. O ATIVISMO é alguma coisa como o complemento para a imaginação, por concentrarse no fazer por fazer, prescindindo de uma orientação abstrata suficiente que poderia dar um sentido à quantidade de energia envolvida. A CRIATIVIDADE, por sua vez, representa a conjunção adequada entre proposta e ação. Na sua combinação ideal, consegue um equilíbrio psíquico--físico de bem-estar, livre de frustrações que são vivenciadas nos outros estados pela falta de satisfação pessoal. A visualização num diagrama seria a seguinte: A flecha diagonal representa a relação frutífera e equilibrada entre a energia do ativismo (A) e a energia da imaginação (I), que a partir de certo nível de energia envolvida, entra na área da criatividade (CR). 3

4 Criatividade não se restringe simplesmente à fantasia, mas tem sua contrapartida ativa buscando a realização e compactar o imaginado (o objetivo) num resultado concreto. A criatividade é apresentada como um processo - inclusive bastante sistemático - e, como tal, tem um começo e um fim, bem como uma série de componentes que requer de todos dedicação para conduzir um simples potencial criativo a um resultado concreto. Isso significa que não é suficiente ter uma idéia exuberante ou preocupar-se exclusivamente com técnicas para estimulá-la. É igualmente indispensável ter objetivos claros e saber formulá-los, poder escolher e tomar uma decisão adequada sobre a alternativa a ser seguida, como planejar as atividades correspondentes sem desperdiçar uma boa idéia que apareça durante a realização. E, por último, deve-se saber reconhecer se o resultado gerado é aquele enfocado no início. Com uma certa base teórico-conceitual, poder-se-ia pensar em alguns dos fatores que obstaculizam ou apoiam a ativação deste poder maravilhoso que habita em cada um de nós. Tem muito a ver com a atitude pessoal que adotamos. Pessoas que pensam ser mais criativas agem com mais liberdade e, portanto, com criatividade. Temos uma idéia errônea sobre o ato de criar. Encaramos como um dom, uma habilidade, algo excepcional de poucos privilegiados. Neste caso, a barreira somos nós, nossa autoconfiança, ou melhor dizendo, a carência dela. As pessoas criativas normalmente o são porque acreditam que sejam. Nós tendemos a profetizar aquilo que acreditamos que acontecerá. E se acreditamos, não queremos nos decepcionar, temos que fazer valer a profecia. Tendemos a não dar importância a nossa criatividade. Se você crê que pode encontrar mais de uma resposta para um problema, provavelmente vai encontrá-las. Curiosidade é outra atitude ativadora. As pessoas mais criativas são como uma esponja, absorvem toda a informação disponível. Procuram ver o mundo com outros olhos. Pintamno de azul, verde, vermelho, o esticam, puxam-no e o comprimem. Lêem sobre Simbolismo Arcaico Universal, Biologia Molecular, Física Quântica, Ikebana, Civilização Chinesa, mercado futuro do feijão, contos, bulas de remédio, teses de doutorado, poesia... Nunca se sabe quando uma idéia antiga vai fecundar uma nova. Ou, como diz Lavoisier: Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Ou, com uma distorção criativa:...tudo se copia. E se amplia. E se adapta. Distorce, mexe, remexe. 4

5 Nossa visão e compreensão do que é sucesso e fracasso e de como devemos nos sentir frente a eles tem enorme influência sobre o aproveitamento de nossa criatividade. Quase todo mundo acha que sucesso e fracasso são opostos. Em verdade, a mesma energia que gera um, gera o outro. Desde a infância aprendemos que existem respostas certas e respostas erradas; portanto estamos enfocados em acertar o maior número de vezes possível. Acabamos por aprender que é proibido errar. Estamos condicionados a ver no erro alguma coisa má. Não conseguimos ver nele o potencial de novas idéias. Se você está enfocado somente em produzir respostas certas, provavelmente será incapaz de gerar novas idéias, ou de criticar antigos procedimentos, regras ou métodos. Você correria o risco de estar errado? Sua tendência será de contornar a fase germinativa - geração de idéias. Além disso, os erros servem para mostrar quando se deve mudar de rumo, adotar outra direção. Um empreendedor da área de alta tecnologia diz para sua equipe: Nós somos inovadores, estamos fazendo coisas que ninguém fez. Portanto, vamos errar muito. Meu conselho para vocês: - errem, mas errem depressa. Diferencie erros de ação de erros de omissão. Os últimos são potencialmente mais perigosos que os primeiros. Veja se não está perdendo muitas oportunidades por não estar errando. Uma atitude aberta frente a qualquer tipo de estímulo é outra receita certa para promover sua criatividade. Uma idéia criativa pode surgir em qualquer lugar. Ser estimulada por qualquer fator externo que repercute internamente. Pode ser provocada por uma demissão, por um fora da namorada, por um cartum, pode vir de uma piada imbecil. Pessoas sérias não agem assim. Você foi ensinado a encarar sua vida com seriedade. Constrói barreiras que o preservam do novo. Colocam-lhe viseiras, e você se acostuma a elas. O desenvolvimento da criatividade acontece intencionalmente e é como um músculo: se bem exercitado, deixa-o com saúde e vigor; mas se parado, torna-se flácido. A seguir, serão apresentadas duas listagens que procuram relacionar as barreiras e as atitudes apoiadoras decisivas que incidem sobre a criatividade das pessoas. Convidamos você a examinar estes fatores, descobrindo seu posicionamento frente a eles. Seria o primeiro passo para ter uma visão de seu desempenho criativo. 5